Desde
os primeiros dias de existência da URSS, as crianças eram requisitados aos
trabalhos pesados e às vezes perigosos (o caso da colheita de algodão), com
agravanto de que trabalhavam “voluntariamente e em nome do partido”
– ou seja, de graça e de forma compulsiva.
O
que contava a propaganda comunista
Oficialmente,
o trabalho infantil foi proibido na União Soviética – pelas disposições legais
dos códigos de trabalho soviéticos de 1918 e de 1922. A “amiga das crianças”, a
viúva oficial do Lenine – Nadezhda Krupskaya constantemente enfatizava o dito progressismo
de legislação laboral soviética – trabalho forçado de crianças, contava ela, só
existe nos países capitalistas como nos Estados Unidos e no Ocidente em geral, que gradualmente está apodrecendo e logo desaparecerá da face da terra.
A menina Katia Novikova conta que tem 15 anos, estuda na 7ª classe e já 4 anos trabalha numa área de 0,2 ha de beterraba industrial (matéria prima de fabricação de açúcar) |
A
propaganda soviética também adorava publicar as histórias dos tempos czaristas,
escritas nas décadas de 1880-1910, que em “detalhes terríveis” contavam a
exploração de crianças na Rússia czarista – os mestres que davam as tapas nas
caras dos ajudantes e negavam lhes a comida. Todas as crianças dessas histórias
trabalhavam de manhã até à noite em quartos baixos, escuros e cheios de fumaça,
e comendo, na melhor das hipóteses uma vez por dia.
Teoricamente,
a URSS era simplesmente campeão — venceu o czarismo terrível e estava se mover na
direção das amanhas cantantes.
A
realidade da URSS pré-II G.M.
Na
realidade, as crianças eram exploradas e bastante – em fazendas coletivas
(kolkhozes), nas empresas ou simplesmente usadas como a mão-de-obra gratuita nos
diversos trabalhos não qualificados. No início da época de estalinismo (final da
década de 1920) isso até era relatado na imprensa soviética, por exemplo, o jornal
“Pravda de Pioneiros” de 1929 costumava à escrever: “O camarada Petrov, que
falou connosco sobre a vida das crianças no kolkhoz nos contou que a jornada
infantil dura 6 horas diárias. Pelo seu trabalho, eles recebem 25 copeques. Os
jovens com idades entre 14 à 17 anos recebem 50 copeques por dia” (à título de exemplo, em 1936-37 um sabonete de 100 gr custava
entre 2.30 rublos e 1,15 rublos; 1 litro de vodca entre 11,75 e 4,75 rublos; 1
kg de pão – 1,7 rublos; 1 kg de carne – 6-7 rublos; 1 kg açúcar – 4,7 rublos).
O
trecho permite saber que as crianças trabalhavam nos kolkhozes 6 horas por dia;
que trabalhavam não apenas os adolescentes de 14-17 anos, mas crianças mais
novas. E outro ponto muito importante – por um trabalho similar, os adultos
recebiam quantias maiores. Então, seguramente, estamos perante a exploração de trabalho
infantil.
Na
época do estalinismo posterior, a propaganda mudou de enfoque, começando a
sugerir que o trabalho infantil é para o benefício das próprias crianças, tudo
é feito exclusivamente voluntariamente e “para o benefício da sociedade”. Criança
trabalhou de graça – recebeu a gratidão socialista e um diploma de mérito de papelão.
É fácil adivinhar o motivo dessa mudança – em vez de viver cada vez melhor, as
pessoas na URSS estavam ficando cada vez pior, e mesmo as crianças foram usadas
no trabalho nas fábricas e empresas.
Fábricas
estalinistas e plantações de algodão
A capa do poema propagandista “Danila Kuzmich” |
Na
maioria das vezes, as crianças eram mandadas aos trabalhos tediosos, trabalhosos
e não qualificados nas fábricas, minas, unidades produtivas – nas minas, os adolescentes
faziam trabalho de estivadores, nas fábricas – trabalhavam nos tornos mecânicos e nas máquinas
de perfuração. O poeta da corte estalinista, Sergei Mikhalkov, escreveu o poema
propagandista “Danila Kuzmich” (1938) – sobre o menino, que dia e noite produzia
as peças, usando uma caixa vazia para chegar aos comandos do torno (que era
alto demais para ele) – isso foi apresentado como uma grande conquista do
poder comunista soviético. O propagandista terminava o seu poema assim: “ao Danila Smirnov e ao
resto – aplausos!”, após disso, seguramente se dirigia à um jantar generoso
no seu espaçoso apartamento estatal.
Mas
provavelmente a pior exploração de crianças era o trabalho árduo e muito
difícil na colheita de algodão, praticado na Ásia Central soviética: no Tajiquistão,
Turcomenistão e Uzbequistão. A norma infantil diária era de 50 à 60 kg de
algodão, para a conseguir as crianças tinham que trabalhar 12 horas por dia. O
seu trabalho era avaliado em alguns tostões, que mesmo assim, na maioria das
vezes eram recebidos pelos chefes de empresas (por exemplo, das escolas) que garantiam
o envio das crianças ao trabalho mandatário.
Além
do trabalho duro em si mesmo, outros perigos esperavam pelas crianças nos
campos de algodão – desidratação, choques térmicos e impacto de agro-químicos,
que na URSS eram usados, de forma muito generosa. Havia casos
de morte de crianças na colheita. Quando um caso destes foi relatado ao 1º
Secretário do PC uzbeque Sharof
Rashidov, este respondeu – “o algodão é uma batalha, e no campo de batalha há baixas!”
O campo de pioneiros "Artek" (Crimeia ocupada), os nossos dias... |
Exploração
de crianças na URSS nas décadas de 1960-1980
A
exploração de crianças nunca parou na URSS, apenas tomou outras formas. Nas
décadas de 1960-1980, as crianças eram enviadas para trabalhar nos kolkhozes,
de forma gratuita, na remoção de ervas daninhas, colheita e triagem de
vegetais. Era um trabalho bastante pesado e sujo, que nem todos adultos suportavam,
e era fácil para uma criança ganhar uma hérnia ou asma. O trabalho nem sequer era
considerado como tal – oficialmente a escola simplesmente “fornecia ao kolkhoz uma ajuda possível”.
Havia
casos em que as crianças eram enviadas às obras de construção civil – para diversos
trabalhos não qualificados. Isso foi chamado de “trabalho socialmente útil e
atividades físicas”. Naturalmente alguém recebia dinheiro pelo trabalho, mas
ninguém pagava às crianças – eram casos mais que habituais.
Ainda
existiam as obrigações como recolha de papel, sucata ou mesmo frascos de
vidro para a reciclagem – a mania de frascos existia nos anos 1960-1970 – quando cada
aluno tinha que trazer para a escola 7-8 frascos de medicamentos, muitas vezes as
crianças despejavam os medicamentos dos pais ou avôs, para conseguir “fechar” o plano,
à fim de cumprir os “padrões da unidade educativa”.
E
por fim, havia assim chamados “sábados comunistas”, em que as crianças eram
forçadas a trabalhar em alguns trabalhos menores sem um grande motivo plausível,
somente para que escola puder informar as autoridades de educação sobre a sua
aderência à essa iniciativa socialista.
Fotos:
arquivo | Texto: Maxim
Mirovich
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