Desde 1982 e graças às difíceis negociações ente a URSS, governo comunista afegão,
resistência anti-comunista afegã e Suíça, com a participação do Paquistão, 11 militares
soviéticos foram libertados pelos mujahidines, na condição de ficarem retidos
na Suíça até o fim da guerra no Afeganistão, mas no mínimo por dois anos (8 deles conseguiram permanecer no Ocidente).
1(13).
Os mujahidines afegãos mostram aos jornalistas ocidentais os dois POW
soviéticos: 2º sargento Yuri
Povarnitsin (de 20 anos, natural da região russa de Sverdlovsk, capturado
em junho de 1981 e em 28 maio de 1982 entregue à Suíça) e soldado ucraniano,
operador do blindado Valery Didenko
(de 19 anos, natural da aldeia de Polohy
na Ucrânia), foto tirada em 10/12/1981 no campo de treino da resistência afegã Allah
Jirga (pertencente ao Hezb-e Islami do comandante Gulbuddin Hekmatyar), na província afegã de Zabol.
Foto: Roland Neveu.
2(14).
No campo de treino da resistência afegã Allah Jirga, juntamente com POW
soviéticos M. Yazkuliev (ou Mohammed Kuli-Yazkuliev) e Yuri Povarnitsin (possivelmente
os primeiros POW soviéticos poupados pelos afegãos), está o conselheiro e
lobista americano Andrew Eiva
(lituano de nascimento Andrius Linas Kazimieras Eitavicius), homem que fiz
muito para derrotar as forças soviéticas e também para que sejam poupadas as
vidas dos POW soviéticos. Foto tirada em 24/09/1981. ©www.bernardinai.lt
3(15).
Algumas fontes mencionam o recruta ucraniano Valeriy Didenko como o “primeiro
POW soviético, capturado desde o fim da II G.M.”, o que naturalmente não
corresponde à verdade, pois Valeriy Didenko não foi o primeiro militar
soviético capturado no Afeganistão. Em maio de 1982 ele foi para a Suíça (no âmbito
da troca dos POW supervisionada pela Cruz Vermelha Internacional) e em agosto
de 1984 voltou para União Soviética. Na URSS, em 1985, foi supostamente
condenado aos 10 anos da cadeia, acusado de “traição da pátria”, notícia
desmentida pela agência informativa soviética “Novosti”. De acordo com as
fontes soviéticas, Valeriy Didenko: “nunca foi preso e está morando em Zaporizhia,
onde trabalha como operador de guindaste”, noticiava o jornal
ucraniano-americano The
Ukrainian Weekly. Tendo em conta que os pais do Valeriy Didenko, alegadamente
viviam em Tashkent, no Uzbequistão, e tendo em conta que soviéticos não
mostraram nenhuma foto da sua vida em liberdade, é possível concluir que após retornar
à União Soviética, o soldado ucraniano realmente foi preso e condenado pelas
autoridades soviéticas. Foto: David Kline, publicada recentemente em 13.3.2014 em forbes.com
4(16).
Os primeiros três POW soviéticos, capturados pela resistência afegã chegaram à Suíça
via Paquistão em 28 de maio de 1982. A embaixada soviética em Berna, pela voz do
seu embaixador Vladimir Lavrov (1919 – 2011) exigia que estes militares não tenham
quaisquer contactos com o mundo exterior. Por isso, as autoridades suíças os
colocaram inicialmente num campo de correcção de adultos St. Johannsen na
cidade de Erlach. Depois, os militares foram movidos para a Suíça central, à
herdade de «Frühbünl», onde o exército helvético mantinha a sua própria unidade
de punição. Na herdade, os POW teriam que participar nos trabalhos agrícolas,
oficialmente, eles deveriam contactar apenas com os representantes soviéticos. Apesar
disso, os militares soviéticos regularmente tentavam a fuga, ainda mais, que do
ponto de vista legal (segundo a 3ª Convenção de Genebra sobre o Tratamento dos
Prisioneiros de Guerra de 1949), na Suíça eles não eram POW, mas “as pessoas
temporariamente sob a custódia das autoridades suíças”.
O
2º sargento Yuriy Povarnitsin (que em algumas fontes é tido como natural da Ucrânia),
falava com os jornalistas, chamando a guerra no Afeganistão de «absurdo» e
criticando fortemente as autoridades soviéticas. Apesar das saudades
manifestadas, tudo indica que ele ficou à viver no Afeganistão, o seu destino
posterior é desconhecido (no foto em baixo no meio).
Outro
militar soviético, ucraniano étnico Yuriy Vaschenko (nascido
em 1964 em Kansk na Rússia),
no verão de 1983 conseguiu fugir da Suíça e chegou à submeter o pedido de asilo
político na Alemanha Federal. Apesar do desejo inicial da RFA de o repatriar de
volta à Suíça, o MNE da Alemanha Federal acabou por garantir que o militar não
será deportado da Alemanha contra a sua vontade [fonte].
Sabe-se que em 25 de janeiro de 1989 ele foi condenado, à revelia por um
tribunal regional russo, pela “traição à Pátria”, no entanto o seu processo
acabou por ser encerrado “devido a mudanças da situação” (possivelmente a
amnistia geral decretada na União Soviética pelo seu Soviete Supremo em novembro
de 1989 e extensa à todos crimes cometidos pelos militares soviéticos no
Afeganistão).
De acordo com os
dados da Procuradoria
militar soviética, entre dezembro de 1979 à fevereiro de 1989, os 4.307
soldados e militares do 40º Exército
soviético
na República Democrática do Afeganistão foram
condenados pelo cometimento de diversos crimes. No momento da entrada de amnistia em vigor, mais de 420 ex-militares ainda cumpriam
as suas penas da prisão.
5(17).
Yuriy Povarnitsin e Valery Didenko com outro POW soviético (possivelmente Mohammed
Kuli-Yazkuliev) no campo de treino Allah Jirga, em Zabol. Na Suíça, na
companhia de outros seis POW soviéticos eles passaram pela cadeia militar na cidade
de Zugerberg (1982-84).
As autoridades soviéticas não estavam apressadas em salvar os seus próprios
cidadãos, como escreveu a revista emigrante russa “Posev” № 8, de 1982, no seu
artigo: “GULAG na Suíça?”: «…a imprensa soviética, não informou o seu próprio povo
sobre esses três resgatados do cativeiro afegão: pois a guerra “não existe”»...
6(18). No
dia 28 de maio de 1984, o prisioneiro de guerra, 2º sargento Yuri Povarnitsin, completou
dois anos na sua prisão suíça. Neste dia, a Cruz Vermelha Internacional, de
acordo com o plano traçado pelas autoridades soviéticas, teria que repatriá-lo
à URSS. No entanto, durante sua permanência na Suíça, o militar expressou o seu
firme desejo de permanecer no Ocidente (na foto ainda no Afeganistão aparecer Yuri Povarnitsin e Valeriy Didenko).
7(19).
Yuri Grigorievich Povarnitsin [1962?], 2º sargento, foi chamado à cumprir o seu
“dever internacionalista” da região russa de Sverdlovsk, três meses após chegar
ao Afeganistão, em junho de 1981, foi capturado pelos militantes do Hezb-e
Islami em Charikar (região
em que a resistência afegã atacava constantemente as colunas militares
soviéticas), cerca de 63 km do Cabul.
Nos
dias 24-26 de setembro de 1981 o correspondente da AP fez uma série de fotos
dos POW soviéticos, que estavam em poder do Hezb-e Islami no campo de Allah Jirga,
nas proximidades da fronteira com o Paquistão. Na foto (em cima), por várias vezes publicada na imprensa ocidental, aparece Yuri
Povartnitsin.
8(20).
O POW soviético Gariardi Chariev (na imprensa ocidental grafado como Charief),
de 20 anos (de pé, 4º à esquerda), do Turcomenistão, junto aos guerrilheiros da
resistência afegã em 7 de outubro de 1986 algures na província de Wardak. O
militar foi capturado em 11 de julho de 1986. Foto: PATRICK DAVID/AFP/Getty
Images.
9(21). Os
mujahidines mostram a caderneta da juventude comunista Komsomol do Gariardi Chariev.
O militar foi capturado na ida ao mercado local para comprar as calças jeans,
tão inacessíveis para si e para a geração inteira dos jovens soviéticos. Foto:
PATRICK DAVID/AFP/Getty Images.
10(22).
O POW soviético Gariardi Chariev mostra a sua caderneta de Komsomol. 7 de
outubro de 1986. O seu destino posterior é desconhecido. Foto: PATRICK
DAVID/AFP/Getty Images.
Os POW soviéticos
mantidos na Suíça e no Afeganistão contaram com apoio e solidariedade do escritor
e político russo-britânico Nikolai Tolstoy
(pseudónimo literário do conde Nikolai Dmitrievich Tolstoy-Miloslavsky),
presidente do Comité de salvação dos prisioneiros soviéticos no Afeganistão,
criado no Ocidente em junho de 1983.
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