União
Soviética perdeu na Afeganistão cerca de 15.000 militares mortos e no mínimo 417 POW. Na realidade o número dos prisioneiros soviéticos é maior, dado que
muitos deles eram dados pelas autoridades soviéticas como “mortos” ou “desaparecidos
em combate”. Entre 70 à 80 deles eram ucranianos (oficialmente Ucrânia reconhece 62 militares como POW ou desaparecidos).
Ihor Bilokurov vestido à civil, nas vésperas do Afeganistão |
Um
deles é Ihor Bilokurov, natural da região ucraniana de Volyn, furriel do
exército soviético, membro de um batalhão pára-quedista de assalto (DShB), tido
como desaparecido em combate desde 9 de abril de 1988. Neste momento as autoridades
ucranianas trabalham na questão do seu retorno à Ucrânia.
Ihor Bilokurov antes de 1988 e a sua mãe Antonina hoje |
Como
contou à agência ucraniana UNIAN,
o deputado do Parlamento da Ucrânia e líder da União dos Veteranos do
Afeganistão, Serhiy Kunitsin, o militar em questão foi capturado em combate em 1988
nos arredores da cidade afegã de Kandagar. Em março de 2018, e por acaso, uma
expedição civil ucraniana ele foi achado no Afeganistão e manifestou o seu
desejo de voltar à Ucrânia.
Ihor Bilokurov em 1988 e em 2018 |
Ao
pedido do Presidente Petró Poroshenko foi criado um grupo de trabalho que está desenvolver
as ações complexas de confirmação da entidade do cidadão (para isso a delegação
ucraniana visitou Afeganistão por quatro vezes) e do seu retorno à Ucrânia.
O
próprio Ihor Bilokurov conta que foi capturado pelos mujahedeenes inconsciente
(ele sofreu a contusão no decorrer do ataque contra a coluna militar soviética)
e por isso não possui grandes memórias do sucedido. Efetivamente, Bilokurov têm
diversas cicatrizes na cabeça, são marcas de espancamento com as coronhas de
armas, muito possivelmente este espancamento poderia levar à perda parcial da
memória (o ex-militar não se lembrava do seu nome ucraniano, apenas dizia que
vem da região de Volyn).
“Mas
quando mais trabalhamos com ele, maior é a certeza que realmente é Ihor Bilokurov”,
– disse Kunitsin. O deputado também explicou que o veterano entregou os seus
cabelos para que Ucrânia faça a análise do ADN. No entanto, ele possui os
sinais particulares, que foram apontadas pela mãe do Ihor Bilokurov, ainda à
espera do filho na Ucrânia.
“Neste
momento Ihor Bilokurov vive numa aldeia, é pai de cinco filhos e dono de
algumas lojas [uma espécie de cantinas]. Ele se esqueceu da língua ucraniana
(embora possivelmente procedeu assim por questões de segurança pessoal), se
expressa em farsi e atualmente participa nas operações militares do governo
afegão contra o movimento Taliban”, – contou o deputado ucraniano que também
disse que Ihor quer visitar Ucrânia e ver a sua mãe Antonina, que após 20 anos
de espera, construiu um túmulo simbólico em memória do filho, na sua aldeia
natal de Nova Glusha na região ucraniana de Volyn.
Antonina junto ao túmulo simbólico do filho |
Neste
momento Ucrânia está tratar as questões da emissão de visto e dos documentos
ucranianos para Ihor Bilokurov, pois juridicamente ele é cidadão da União
Soviética, o país que deixou de existir desde 1991. Para sobreviver, Ihor Bilokurov,
aderiu à fé islâmica, mudou o nome ao Amriddin. Apesar disso, sendo ucraniano
nascido na Ucrânia, o estado ucraniano fará todos os possíveis para levar o
ex-militar à sua terra natal.
O
ex-militar foi achado no Afeganistão por membros de uma expedição ucraniana, que
estava na procura de lençóis de água. Num dos assentamentos eles viram o homem
que foi chamado de “shuravi”, ex-militar do exército soviético. Já ele próprio
contou que foi capturado no Afeganistão, aceitou o Islão e ficou à viver no
país. Mais tarde se soube que se trata de ucraniano Ihor Bilokurov, ele foi
reconhecido pelos moradores da sua aldeia natal de Volyn.
A
região ucraniana de Volyn conta com apenas três militares “desaparecidos em
combate” no Afeganistão: a morte de um deles já foi confirmada, outro desapareceu
numa região localizada longe do Kandagar.
O
caso do Gennady Tsevma
Gennadiy Tsevma “Niqmohamat” |
Ucraniano
Gennady Tsevma, de Amvrosiivka, na região de Donetsk, com apenas 18 anos, na primavera de 1983 foi chamado à cumprir o seu “dever
internacionalista” no Afeganistão e quase imediatamente foi capturado pela
resistência afegã (“bebi, e sai do quartel para ir ver a liturgia islâmica, namaz”,
conta ele com um sorriso triste), passando seis anos no cativeiro, foi forçado aderir ao islão e lutar contra as tropas soviéticas.
Gennadiy Tsevma, o jovem recruta, 1983 |
Gennadiy Tsevma com o seu pai em 1992 no Afeganistão, a 1ª tentativa de voltar |
Se converteu ao islão a adotou o nome de
Niqmohamat; hoje mora em Kunduz com sua esposa e tem quatro filhos (no vídeo em
baixo, Gennadiy Tsevma encontra o seu irmão, que viajou para o Afeganistão, 30
anos depois da separação):
Em
2012 Gennadiy Tsevma finalmente viajou para Ucrânia, onde encontrou a sua irmã, irmão,
tia, ambos os seus pais tinham morrido, sem mais ver o filho, ele viveu
apenas 18 anos na Ucrânia e quase 30 no Afeganistão.
Gennadiy Tsevma “Niqmohamat” com outro POW ucraniano, Olexander Levenets “Ahmet”, natural de Luhansk |
No cemitério local Gennadiy
visitou os túmulos dos seus pais, prometendo à mãe que iria à visitar
anualmente. Em menos de dois anos depois a sua região natal também conheceu a
guerra, Amvrosiivka foi ocupada pelas forças russo-terroristas...
Ver
o filme documental “Último shuravi” (2013):
1 comentário:
Porque a bbc só noticiou esse fato agora em setembro https://www.bbc.com/portuguese/amp/internacional-45473356
Afinal o resultado do exame de DNA confirmou que é ele mesmo?
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