No
decorrer da cimeira de G20 em Hamburgo os “antiglobalistas” causaram prejuízos
no valor de cerca de 12 milhões de dólares. Durante Maydan de Kyiv, que chegou
à reunir até 1,5 milhão de pessoas, as lojas e cafés estavam funcionando, mesmo
no epicentro da revolta ucraniana.
Maydan
ucraniano de 2013/2014 nada tem à ver com os acontecimentos de Hamburgo, embora
em ambos os casos existiram os confrontos entre os manifestantes e a polícia,
que provocaram o uso de canhões de água e existência de barricadas em chamas,
mas as razões e objectivos destas acções eram completamente diferentes.
01.
Os “manifestantes” de Hamburgo saíram às ruas sem um propósito claramente
definido. Não existe nenhum “movimento antiglobalização” comum – geralmente este
“movimento” é composto pelo público marginal bastante diverso, desde a esquerda
comunista com os retratos de Che Guevara e Fidel Castro nos seus em t-shirt, aos
assim chamados skinheads da “extrema-direita”, com slogans contra “negros e
migrantes”. Não existe a diferença substancial entre os bandos da rua da “direita”
e da “esquerda” – são unidos pela ideia de protestar contra qualquer governo e
desejo de “se apropriar e dividir”.
Maydan
ucraniano começou e se desenvolveu com os objectivos claramente definidos – o movimento
da Ucrânia em direção à Europa, as mudanças legislativas segundo as normas europeias,
a remoção do poder da ex-nomenklatura soviética. Quase todos os dias na Maydan de
Kyiv decorriam diversos eventos associados aos objetivos declarados – os
delegados de Maydan negociavam com as autoridades e representantes
internacionais, constantemente decorriam diversas ações, e apenas a TV russa
mostrava unicamente “a linha da frente” dos confrontos com a polícia – “vejam,
os hooligans vieram destruir a cidade de Kiev!”
02.
Os manifestantes de Hamburgo, no essencial, são a horda espontânea de elementos
lúmpen, enquanto Maydan já nos primeiros dias da sua existência adquiriu uma
organização clara com fins acima referidos. A espinha dorsal dos manifestantes ucranianos
eram as Centenas de Autodefesa, encabeçadas pelos centuriões e capatazes. Autodefesa
zelava pela defesa da Maydan contra as forças de Yanukovych – polícia “Berkut”,
as tropas do Ministério de Interior e bandos de jovens criminosos conhecidos
como “titushki”, se empenhado na manutenção da ordem dentro da Maydan. Ou seja,
a principal tarefa de Autodefesa era a manutenção de ordem pública e defesa das
tentativas do assalto de Maydan por parte das forças governamentais e não um
qualquer motim urbano.
03.
Manifestantes em Hamburgo começaram partir os vidros e as montras de lojas. Em
Kyiv, na avenida em Khreshchatyk, quase metade da qual foi cercada por
barricadas e pertencia ao movimento Maydan, bem como na rua Hrushevsky, continuaram
à funcionar os cafés e as lojas caras. Mesmo durante os confrontos mais
violentos de manifestantes e tropas leais ao Yanukovych na rua Hrushevsky e no
cruzamento das ruas Instytutska / Shovkovychna – todas as pedras e telhas de
pavimento voavam estritamente contra as forças do Yanukovych, não foi quebrada
uma única janela – isso facilmente poderá ser verificado nos vídeos e fotos
tiradas em Kyiv.
Existiram
apenas um par de casos quando alguém na multidão quebrou alguma montra, mas
esses tipos foram imediatamente detidos pelos próprios manifestantes e entregues
à Autodefesa da Maydan.
04.
Manifestantes em Hamburgo atacavam a polícia sem nenhuma razão e de forma agressiva,
sem resolver nem os objectivos táticos, nem estratégicos, mas simplesmente praticando
o vandalismo.
Os
manifestantes ucranianos não atacavam a polícia primeiro, em muitos vídeos é
possível ouvir as vozes dos centuriões de Maydan e também vindas do palco
central – “ficamos firmes, não provocamos”. Os manifestantes não tinham para
que atacar a polícia – a sua principal tarefa era defender o perímetro da Maydan
e as ruas subjacentes, à fim de permitir aos representantes de Maydan de
negociar, enquanto as forças de Yanukovych estavam constantemente tentar
invadir Maydan e resolver a situação pela força – a absoluta maioria de todos os
confrontos na área de Maydan começou com ataques das forças governamentais contra
os manifestantes.
05.
Os manifestantes de Hamburgo saquearam as lojas e ficaram bêbados. Na Maydan ucraniano
não havia pessoas bêbadas – todos os que que tomavam alguma “pinga” à mais,
eram levados para fora do perímetro da Maydan com as palavras – “tio, vá ficar
sóbrio e volte amanhã”. Na Maydan não bebiam mesmo aqueles que na vida real gostavam
dos copos – as pessoas entendiam a responsabilidade pelo que estava acontecendo
ao seu redor, fortemente enfatizado que Maydan – é o estado da oposição da
sociedade civil contra usurpador soviético e tentavam se comportar de acordo.
Claro, era impossível controlar todo o mundo, mas a espinha dorsal dos
ativistas da Maydan eram assim.
Nas
suas reportagens as TV putinistas procuravam, à todo o custo, os elementos marginais,
tentando os apresentar como “maydanistas”, mas geralmente era coisa bem fraca –
as reportagens sobre “bandidos sem lei e ordem, drogados e cheios de vodca” eram
desmentidas pelas imagens de ações disciplinadas e bem concertadas das Centenas
de Autodefesas da Maydan.
06.
Lúmpen “esquerdista direitista” de Hamburgo nunca poderá ganhar – pois não têm
objetivos claramente definidos, e há apenas programas destrutivos como “se
apropriar e dividir”.
Maydan
ucraniano – ganhou. Em parte, apenas porque demonstrou a imagem de um possível
futuro às pessoas desesperadas, que com os escudos feitos de contraplacado, avançavam
contra as balas dos soldados de Yanukovych. Hoje, Ucrânia – lentamente, com
dificuldades, mas começa se desdobrar na direção do futuro, aprovando e
simplificando as leis relevantes e gradualmente saindo do pântano soviético.
Foto:
Jeff J. Mitchel | Alexander Koerner | Vladimir Shtanko/Anadolu Agency | Texto Maxim Mirovich
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