terça-feira, julho 25, 2017

As correntes da contracultura juvenil soviética (12 fotos)

De hippies à metaleiros – passando por punks, motoqueiros e stiliágui – um retrato de como a juventude soviética se opunha à ideologia do regime comunista na URSS.

Stiliágui (décadas de 1940 à 1980)
Representantes do movimento dos ‘stiliágui’ dançam twist em Moscovo em setembro de 1980.
Foto: Valéri Shustov/RIA Novosti
Uma forma própria de contracultura soviética foi incorporada pelos “stiliágui”, cujo movimento nasceu ainda nos anos 1940 e alcançou o auge duas décadas depois, sob o governo de Khruschov e no período conhecido como “Primavera de Khruschov” ou “degelo”. Como indica o nome, os membros do grupo tentavam copiar o estilo ocidental nas suas roupas, utensílios, maneirismos e calão específico que usavam.


Hippies (décadas de 1960 e 1970)
Hippies soviéticos no verão de 1969. Foto: Lev Nosov/RIA Novosti
Depois de a juventude soviética se familiarizar com a cultura ocidental, durante o degelo de Khruschov, muitas outras formas de manifestação da juventude estrangeira penetraram no país, entre elas, a dos hippies.
Os hippies soviéticos eram bem similares aos do resto do mundo, mas, enquanto os hippies norte-americanos se rebelavam contra o consumismo, os soviéticos eram contra o conformismo soviético, (dado que tinham pouca coisa à consumir), de acordo com o autor de “Soviet 'Flower Children'. Hippies and the Youth Counter-Culture in 1970s L'viv”, William Jay Risch.
Os hippies soviéticos também usavam muitas gírias em inglês e eram muito influenciados pelo folclore índio, tibetano, siberiano, hindu... Eles costumavam narrar suas histórias, que intitulavam “telega” (literalmente carroça). Uma compilação interessante delas foi feita por Stepan Pechkin em “1001 Party Telega” (texto).

Motoqueiros (década de 1980)
Motoqueira soviética posa para foto em 1988. Foto: Oleg Porokhovniko/TASS
O movimento dos motoqueiros veio a calhar na União Soviética, onde era muito difícil juntar dinheiro para comprar carros. Mas, como afirma o artista e figura influente da subcultura russo-soviética, galerista de origem ucraniana Alexander Petlura, era uma minoria que podia comprar motos também.


Os motoqueiros eram geralmente donos das motos soviéticos, como “Dnepr” (produzido na Ucrânia) ou “Ural”, ou então checoslovacas como Jawa ou ČZ, muitas vezes eles também eram roqueiros e ouviam a música distribuída na URSS de forma semiclandestina. Para os representantes do movimento era difícil, até mesmo arranjar jaquetas de couro, que não existiam no país. Assim, enquanto alguns tentavam costurar suas próprias, outros usavam couro sintético.

Dançarinos de break (década de 1980)
Dançarino de break-dance no Parque Górki (Moscovo) em janeiro de 1988. Foto: Getty Images
Quando o break ganhou ampla popularidade na contracultura do país, os jovens soviéticos criaram seu próprio estilo, difundindo o uso de sapatilhas/tênis brancos e luvas. Eles também adoravam acessórios diversos, como correntes, braceletes, regatas e logótipos estrangeiros.


Mas, apesar de parecer um look fácil de compor, ele era quase impossível: a maior parte dos sapatilhas/tênis disponíveis no mercado soviético de então eram pretos ou castanhos/marrons. Era muito comum, por isso, que os representantes do movimento do “break” desbotassem seus sapatilhas/tênis em água sanitária.

Metaleiros (década de 1980)
Cena de filme de Inna Tumanian sobre metaleiros soviéticos. Julho de 1988. Foto: S. Ivanov/RIA Novosti
Bandas de heavy metal como Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, Judas Priest e Megadeth eram muito populares entre a juventude rebelde dessa época e os seus LP´s eram proibidos de entrar na URSS.


Os metaleiros sentiram, tal como os motoqueiros, um problema grande ao montar seu look na URSS, já que dificilmente conseguiam jaquetas de couro ou jeans, e tinham que improvisar. Alguns deles, por exemplo, cortavam bolsas para costurar braceletes de couro a partir de seus pedaços.

Os representantes desse movimento na União Soviética o levavam tão a sério que costumavam parar jovens vestidos como metaleiros e fazer um interrogatório, exigindo que eles listassem pelo menos 15 bandas de metal.

Punks (década de 1980)
Punks em Moscou. Foto: Iliá Pitalev/RIA Novosti
Os punks tinham um estilo menos uniforme, que dependia da região soviética em que viviam. Os punks siberianos, por exemplo, usavam braceletes hippies, enquanto os punks de Tallinn (capital da Estónia) eram indistinguíveis de seus pares europeus.

Seu niilismo contrastava com a aparência externa, de moicanos coloridos, piercings, jaquetas e camisetas de bandas, além, claro, de cintos com rebite feitos a mão, escreve Gazetarussa.com.br

Lyubery (década de 1980)
Cena de filme de Pavel Lungin "Luna-Park" (1992) sobre os lyubers
Lyubers (pronunciado como “Lyubery”) foi um grupo juvenil no final da década de 1970 e início da década de 1980 na URSS, formado na cidade de Lyubertsy, um subúrbio de Moscovo. O grupo era conhecido pelo estilo de vida atlético, envolvendo atividades como musculação, boxe, atletismo, e / ou outras formas de desporto.
Os lyubers acatam outros jovens, pertencentes às subculturas ocidentais, Moscovo (?)
O grupo tornou-se ativo na União Soviética durante o período de PerestroikaGlasnost nos meados da década de 1980. O seu objetivo era “limpar” a sociedade soviética das influências de várias subculturas ocidentais que consideravam decadentes e, muitas vezes, atacaram violentamente os jovens, pertencentes à outras subculturas, principalmente em grandes cidades como Moscovo. No entanto, eles seguiam certos princípios, como a luta justa, não atacando mulheres e casais. Os principais inimigos dos lyubers eram hippies, punks e metaleiros, tinham conflitos permanentes com os grupos neonazis russos emergentes. Com a queda da URSS e abertura da sociedade à economia de mercado, muitos lyubers ingressaram nas fileiras do crime organizado.
O cartaz do movimento lyuber
Como uniforme caraterístico o grupo usava camisas brancas, calças largas xadrez, jaquetas de couro ou casacos “Alaska”, os bonés xadrez, gravatas pretas e, por vezes, as insígnias com a face do Lenine. O grupo gozava de um certo apoio da milícia (Ministério do Interior) e das autoridades soviéticas, que o viam com aliados na luta contra a contrcultura juvenil de inspiração ocidental.
Look real de um lyuber: goro de pele, T-shirt "Rambo" com insígnia metálica da juventude
comunista Komsomol, calças xadrez e até bracelete do metaleiro (Sic!) no pulso
O pequeno trecho do filme franco-russo Luna Park (1992), de uma forma hiperbólica (não deve ser entendido à letra) mostra como era o grupo que se auto-intitulava de “limpadores” da sociedade soviética das influências ocidentais. 

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