Inspirados
nos protestos de 2013-2014 na Ucrânia, os jovens manifestantes da Venezuela
estão usando escudos como o dos vikings nos combates contra as forças policiais
e assistindo empolgados o documentário “Winter on Fire” dedicado à revolta de Kyiv.
por:
Victoria Ramirez e Andreina Aponte (Reuters)
Adversários
do presidente venezuelano Nicolás Maduro têm realizado exibições públicas do
documentário da Netflix, “Winter on Fire”, sobre o confronto de três meses na
Ucrânia que levou a 100 mortes e à saída do então presidente Viktor Yanukovich.
Nas manifestações contra o governo da Venezuela, onde mais de 70 pessoas morreram desde abril, jovens têm usado escudos coloridos parecidos com os que foram usados na Praça da Independência de Kyiv.
Nas manifestações contra o governo da Venezuela, onde mais de 70 pessoas morreram desde abril, jovens têm usado escudos coloridos parecidos com os que foram usados na Praça da Independência de Kyiv.
Os
jovens venezuelanos fabricam seus escudos a partir de antenas parabólicas,
tampas de bueiros, barris ou qualquer outro pedaço de madeira e metal que
consigam encontrar. Alguns apoiadores também fazem e doam escudos.
Alguns
manifestantes usam os escudos para formar barreiras ou até mesmo batem neles em
uníssono, imitando o grito de guerra dos nórdicos. Os demais bradam em apoio
enquanto membros da auto-intitulada “Resistência” enlaçam os braços e andam até
as linhas de frente para enfrentar tropas da Guarda Nacional e a polícia.
“Os
escudos não seguram as balas, mas eles nos protegem do gás lacrimogéneo, das
balas de borracha e das pedras”, diz o estudante de direito de 20 anos, Brian
Suárez, que usa uma máscara de gás e carrega um escudo com o desenho de Maduro
na mira de um rifle.
Outros
escudos carregam citações e imagens da constituição da Venezuela, pinturas e
símbolos religiosos, retratos de manifestantes mortos ou palavras de ordem como
“SOS!”, “Chega de Ditadura!” ou “Maduro Assassino!”
Enquanto os manifestantes dizem estar lutando
contra a tirania nesse país sul-americano produtor de petróleo, Maduro os acusa
de estarem tentando provocar um golpe violento com o apoio dos Estados Unidos.
Manuel
Melo conta que estava na linha de frente dos protestos, jogando pedras e
protegendo outros manifestantes com seu escudo de plástico azul, até que um dia
ele foi atingido por um canhão de água. O estudante de design gráfico de 20
anos perdeu um rim com o impacto. Mesmo
assim ele quer voltar para as ruas.
“É
um papel importante carregar o escudo porque você sabe que tudo que eles jogam
vai direto em você”, ele diz, enquanto se recupera em sua casa, em Caracas. “Não
estou lá na rua porque gosto, mas sim pelo bem comum”.
O
documentário “Winter on Fire”, dirigido pelo realizador russo Evgeny
Afineevsky, mostra dezenas de milhares de manifestantes ucranianos enfrentando
a neve e golpes de cassetete das tropas de choque para se defenderem atrás de
barricadas na Praça de Independência de Kyiv (Maydan). Ele
tem sido exibido discretamente em toda a Venezuela, inclusive em livrarias, uma
universidade, uma praça pública e uma sala de cinema independente. Após as
exibições, são realizadas palestras e debates.
“Quando
você vê um ucraniano com lágrimas nos olhos, você se pergunta: 'Espera aí,
estou na Ucrânia ou em Cafetal?'”, diz o professor universitário Carlos
Delgado, referindo-se a um bairro de classe média alta de Caracas que apoiou
com veemência os protestos.
Delgado,
48, participou recentemente de uma exibição e de um debate sobre “Winter on
Fire” na Universidade Católica da Venezuela, onde a oposição a Maduro também é
forte.
Muitos
também divulgaram pelas mídias sociais. “Esse documentário é imperdível”,
afirma a atriz e escritora venezuelana Ana Maria Simon, em sua conta no
Instagram. “Todos os venezuelanos deveriam assisti-lo, especialmente aqueles
que estão cansados, especialmente aqueles que estão quase perdendo a fé”.
Em
ambos os países os manifestantes contestavam presidentes que eles consideravam
repressivos, e os confrontos foram ficando cada vez mais violentos. Mas também
há muitas diferenças.
Enquanto
os manifestantes da Ucrânia enfrentavam um frio congelante dia e noite, os da
Venezuela se dispersam rapidamente quando começa a chover, e voltam para a casa
à noite, além de desfrutarem de um ameno clima caribenho.
Os
venezuelanos apontam que os gangues de criminosos tornam as ruas perigosas à
noite. E com sua economia em colapso, muitas vezes eles sofrem com a falta de
remédios, alimentos e outros itens, ao passo que os ucranianos tinham um bom
abastecimento.
Hans
Wuerich, que ganhou fama ao ficar nu na frente de um carro blindado segurando uma
Bíblia em Caracas, diz que “Winter on Fire” o fez pensar que a Resistência da
Venezuela precisava ampliar sua estratégia.
“Está na hora de levar
os protestos além”, diz o repórter de 27 anos na Praça Altamira, em Caracas, um
dos focos das manifestações. “Mas precisamos nos organizar se quisermos tomar
as ruas noite e dia, se realmente quisermos chegar a um ponto sem volta”.
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