sábado, julho 01, 2017

«Vikings» contra Maduro: Maydan da Venezuela (22 fotos)

Inspirados nos protestos de 2013-2014 na Ucrânia, os jovens manifestantes da Venezuela estão usando escudos como o dos vikings nos combates contra as forças policiais e assistindo empolgados o documentário “Winter on Fire” dedicado à revolta de Kyiv.

por: Victoria Ramirez e Andreina Aponte (Reuters)
Adversários do presidente venezuelano Nicolás Maduro têm realizado exibições públicas do documentário da Netflix, “Winter on Fire”, sobre o confronto de três meses na Ucrânia que levou a 100 mortes e à saída do então presidente Viktor Yanukovich.
Nas manifestações contra o governo da Venezuela, onde mais de 70 pessoas morreram desde abril, jovens têm usado escudos coloridos parecidos com os que foram usados na Praça da Independência de Kyiv.
Os jovens venezuelanos fabricam seus escudos a partir de antenas parabólicas, tampas de bueiros, barris ou qualquer outro pedaço de madeira e metal que consigam encontrar. Alguns apoiadores também fazem e doam escudos.
Alguns manifestantes usam os escudos para formar barreiras ou até mesmo batem neles em uníssono, imitando o grito de guerra dos nórdicos. Os demais bradam em apoio enquanto membros da auto-intitulada “Resistência” enlaçam os braços e andam até as linhas de frente para enfrentar tropas da Guarda Nacional e a polícia.
“Os escudos não seguram as balas, mas eles nos protegem do gás lacrimogéneo, das balas de borracha e das pedras”, diz o estudante de direito de 20 anos, Brian Suárez, que usa uma máscara de gás e carrega um escudo com o desenho de Maduro na mira de um rifle.
Outros escudos carregam citações e imagens da constituição da Venezuela, pinturas e símbolos religiosos, retratos de manifestantes mortos ou palavras de ordem como “SOS!”, “Chega de Ditadura!” ou “Maduro Assassino!”
Enquanto os manifestantes dizem estar lutando contra a tirania nesse país sul-americano produtor de petróleo, Maduro os acusa de estarem tentando provocar um golpe violento com o apoio dos Estados Unidos.
Manuel Melo conta que estava na linha de frente dos protestos, jogando pedras e protegendo outros manifestantes com seu escudo de plástico azul, até que um dia ele foi atingido por um canhão de água. O estudante de design gráfico de 20 anos perdeu um rim com o impacto. Mesmo assim ele quer voltar para as ruas.
“É um papel importante carregar o escudo porque você sabe que tudo que eles jogam vai direto em você”, ele diz, enquanto se recupera em sua casa, em Caracas. “Não estou lá na rua porque gosto, mas sim pelo bem comum”.
O documentário “Winter on Fire”, dirigido pelo realizador russo Evgeny Afineevsky, mostra dezenas de milhares de manifestantes ucranianos enfrentando a neve e golpes de cassetete das tropas de choque para se defenderem atrás de barricadas na Praça de Independência de Kyiv (Maydan). Ele tem sido exibido discretamente em toda a Venezuela, inclusive em livrarias, uma universidade, uma praça pública e uma sala de cinema independente. Após as exibições, são realizadas palestras e debates.
“Quando você vê um ucraniano com lágrimas nos olhos, você se pergunta: 'Espera aí, estou na Ucrânia ou em Cafetal?'”, diz o professor universitário Carlos Delgado, referindo-se a um bairro de classe média alta de Caracas que apoiou com veemência os protestos.
Delgado, 48, participou recentemente de uma exibição e de um debate sobre “Winter on Fire” na Universidade Católica da Venezuela, onde a oposição a Maduro também é forte. 
Muitos também divulgaram pelas mídias sociais. “Esse documentário é imperdível”, afirma a atriz e escritora venezuelana Ana Maria Simon, em sua conta no Instagram. “Todos os venezuelanos deveriam assisti-lo, especialmente aqueles que estão cansados, especialmente aqueles que estão quase perdendo a fé”.
Em ambos os países os manifestantes contestavam presidentes que eles consideravam repressivos, e os confrontos foram ficando cada vez mais violentos. Mas também há muitas diferenças. 
Enquanto os manifestantes da Ucrânia enfrentavam um frio congelante dia e noite, os da Venezuela se dispersam rapidamente quando começa a chover, e voltam para a casa à noite, além de desfrutarem de um ameno clima caribenho.
Os venezuelanos apontam que os gangues de criminosos tornam as ruas perigosas à noite. E com sua economia em colapso, muitas vezes eles sofrem com a falta de remédios, alimentos e outros itens, ao passo que os ucranianos tinham um bom abastecimento.
Hans Wuerich, que ganhou fama ao ficar nu na frente de um carro blindado segurando uma Bíblia em Caracas, diz que “Winter on Fire” o fez pensar que a Resistência da Venezuela precisava ampliar sua estratégia.
“Está na hora de levar os protestos além”, diz o repórter de 27 anos na Praça Altamira, em Caracas, um dos focos das manifestações. “Mas precisamos nos organizar se quisermos tomar as ruas noite e dia, se realmente quisermos chegar a um ponto sem volta”.

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