domingo, julho 02, 2017

A entrevista da mãe do mercenário russo detido na Ucrânia

O jornalista russo Pavel Kanygin, falou com Svetlana Ageeva, a mãe do cabo russo Victor Ageev, capturado recentemente no leste da Ucrânia com as armas nas mãos, mais um entre os milhares de terroristas e mercenários russos, desta atual agressão russa contra o leste ucraniano.  
Svetlana Ageeva é professora de inglês, para ver o jornalista ele viajou cerca de 100 km até a cidade russa de Barnaul, onde vive o seu filho mais velho, Maxim, o irmão do Victor. O encontro se deu no escritório Aleksandr Goncharenko, o famoso na região de Altay defensor dos direitos humanos. Svetlana conta que recentemente ela recebeu a visita do comissário militar da sua cidade, Konstantin Eller que lhe declarou categoricamente o seguinte: Victor não era militar do exército russo contratado, foi para a dita “lnr”, na qualidade do mercenário [ação punível no Código Penak russo com a pena prisional de até 15 anos].

— Svetlana Victorovna, você disse que ele [Victor Ageev] tinha um contrato com o Ministério da Defesa russo. Mas o Ministério nega tudo. Você tem os respetivos papéis?
— Nega sim. Mas eu já nem sei, eu própria. Afinal de contas, ele me dizia: eu vou sob contrato. Enviou [me] via rede social “OK” a digitalização da ordem em que recebeu [a patente] do cabo. Ele estava tão feliz com isso! E eu tinha certeza de que ele está na região de Rostov e serve lá na 22ª unidade. Temos tantas vezes falado ao telefone, ele me enviava as fotos de lá, onde ele está em uniforme militar com três outros rapazes, e eles seguram uma bandeira, e nela estava escrito algo sobre as unidades da federação russa... Bem, talvez era coisa a romântica, os meninos estão à brincar. O comissário [Konstantin Eller], quando vinha, me disse que a bandeira não é verdadeira. Então agora eu não sei o que pensar.
[...] Svetlana Ageeva conta que desde a sua chegada em Rostov, ela falava com filho semanalmente. Um mês depois, Victor até lhe mandou do seu salário 5.000 rublos (84,2 dólares). “Ele disse que para já não pode [mandar] mais. Mas mesmo assim estava feliz... Vitinho me ajuda a pagar o empréstimo, sabe que isso não é me muito fácil” [...]

— Você, em geral, segue ativamente as notícias? Aquilo que está acontecendo na Donbas, por exemplo?
Sim! Gosto muito da política. Sempre assistir nosso famoso Solovyov, Kiselev [os dois propagandistas mais patrioteiros em alinhamento pró-Kremlin], gosto os seus “60 Minutes”. Embora Kiselev de alguma forma não muito bom, mas Solovyov gosto muito. Em geral, eu entendo um pouco, me parece [da política].
— Depois de ver estes programas, quais são os seus pensamentos, que conclusões você tira?
— A conclusão é essa de que a mídia ucraniana e a nossa [russa] trabalham algo assim, apenas para demonizar o outro. Veja. Por que os ucranianos têm tal ódio [aos russos]? Talvez os nossos meios de comunicação também lançam a sujeira sobre os ucranianos mais do que é necessário? Talvez isto acontece de propósito?.. Ou os acordos de Minsk. Em toda parte se ouve constantemente que eles não funcionam, e eu não consigo entender quando irão funcionar! Quem deve tomar os passos para isso? Kiev sozinho ou os nossos também devem? Acho que precisa que ambos os lados devem trabalhar. Esta situação [no sudeste da Ucrânia] está se arrastando. Por outro lado, eu escutei uma barragem de negatividade dirigido à mim e à Rússia dos ucranianos, e era assustador. Ameaças de morte, insultos. Talvez eles foram contratados especificamente para escrever isso? Eu claramente não sei, mas parece-me que os russos não reagem tão fortemente [contra os ucranianos], tão agressivamente e com tanto ódio. Eu mesmo não reajo, de tudo, com ódio contra eles [ucranianos]. Acho que a minha geração de ucranianos também – assim eu acho. É apenas a juventude que cresceu durante estes 25 anos [desde a queda da URSS em 1991], é má. Desde que a política lá [na Ucrânia] era anti-russa, foi isso o que aconteceu. Mais uma vez, eu não vivi lá, apenas tiro as conclusões a partir da mídia, dos programas do Kiselev, Solovyov. De que outra fonte seria? Onde mais se falam de forma tal convincente? Agora eu estou interessado nesta questão, quando me tocou. Eu só quero saber por que eles nos odeiam tanto, então? Ou eles não nos odeiam? Talvez apenas isso seja apresentado a nós assim?
— Você está surpresa com a reação das pessoas pelo facto do seu filho ir participar na guerra num outro país?
— (longa pausa) Eu, apenas, não iria reagir assim, se a tal [invasão] estaria no meu território. Bem, agiria de forma mais inteligente, de alguma forma. Mas eles são jovens, são mais emocionais, maximalistas. Estou confusa. Eu sempre pensei sobre essa guerra na Ucrânia, assisti todos os programas de televisão, e é assim que a vida se virou.

Apelo da Svetlana V. Ageeva ao presidente Putin e aos ministros da Defesa, Shoigu e dos Negócios estrangeiros, Lavrov.

Meu filho, cumprindo o serviço militar regular há um ano, expressou o desejo de trabalhar sob contrato e queria voltar aos mesmos lugares, onde ele serviu o SMO. Ele viajou em março [de 2017], dizendo que iria trabalhar sob contrato. Foi dito a cidade de Bataisk. Ele estava constantemente entrando em contato comigo ao telefone, uma vez por semana, uma vez à cada duas semanas. Eu sabia das suas realizações mais ou menos, porque não podíamos falar por muito tempo — isso era caro.

<…> Victor! E espero sinceramente que a parte ucraniana fará as concessões (Sic!), mostrará a humanidade (Sic!!) e nos permitirá comunicar consigo ao telefone. Ou permitirá lhe transmitir a minha mensagem de vídeo através do jornalista da “Novaya Gazeta”. Pelo menos, eu quero acreditar nisso.
Blogueiro: a mãe do mercenário defende o seu filho com “unhas e dentes”, mas seguramente já recebeu a orientação dos órgãos militares/estatais russos, daí a menções de “já não saber”, “de estar confusa”, de acreditar na “brincadeira dos meninos” com as bandeiras e armas à fingir... Interessantes são duas revelações da Sra. Svetlana: a participação ativa do Victor na guerra russa contra Ucrânia e na morte dos ucranianos na Ucrânia, ajuda a sua mãe à pagar o empréstimo bancário e outro ponto, as suas conversas telefónicas eram caras, por isso eram curtas. Este elemento indica que as conversas, muito provavelmente, eram em roaming, à partir do território da Ucrânia, como tal eram caras, sendo internacionais.
Outro ponto interessante é a maneira como Svetlana lê o seu apelo, como se pode ver nas imagens, ela lê algum texto que fica à esquerda da câmara. Quem é o autor do texto para já é uma incógnita...

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