sexta-feira, julho 28, 2017

«Arbeit macht frei»: o caso soviético


Na foto estamos a ver os funcionários de um Instituto de Pesquisa Científica (NII) de Moscovo, na triagem de repolho, sujo e podre, numa base horto-frutícola, provavelmente no outono de 1982.
A caso dos NII´s soviéticos é bastante interessante. Os institutos existiam na URSS aos milhares, tinham ligação bastante fraca às indústrias, eram centros de pesquisa fechados em si, as suas criações e pesquisas pouquíssimas vezes foram aproveitadas pela máquina industrial soviética.

Como um dos últimos atavismos soviéticos da “união entre cidade e o campo”, os funcionários destes institutos, algumas vezes por ano, eram enviados, de forma compulsiva, aos kolkhozes para auxiliar na safra ou então, às bases horto-frutícolas, para ajudar na triagem de repolho, batata ou outros leguminoso de baixo valor comercial (portanto nada de bananas ou laranjas) geralmente bastante sujos e já meio podres. Escusado de dizer que este trabalho era pouco apreciado pelos cientistas, mas não podia ser recusado, sob pena de sanções disciplinares. A única maneira de escapar da união kolkhoziana, era através da apresentação do boletim médico ou da deliberação médica, que livrava o seu portador dos trabalhos braçais.
   
Os salários dos funcionários dos NII´s também eram bastante baixos, em média cerca de 150 rublos mensais antes de impostos (254 dólares ao câmbio oficial da época), apenas dois salários mínimos. Como tal, a motivação também era baixa e em cada departamento havia diversos funcionários que nada ou quase nada faziam, enquanto todo o trabalho científico e de pesquisa, por vezes era de responsabilidade de um(a) ou outro(a) trabalhador(a) compulsivo(a).
Crachá do membro da Equipa Popular Voluntária de Defesa da Ordem Pública (DND)



Os restantes funcionários resolviam as palavras cruzadas, trocavam as receitas de doces e salgados, dormiam, se engajavam nas atividades sindicais e de diversas outras associações supostamente cívicas e na realidade estatais, tais como Sociedade Voluntária de Auxílio ao Exército, Aviação e Armada (DOSAAF) ou Equipas Populares Voluntárias de Defesa da Ordem Pública (DND), que patrulhavam as ruas das cidades soviéticas em auxílio da milícia (polícia de segurança pública). Basta dizer que em 1984 na URSS existam 13 milhões (!) de membros dessas unidades “voluntárias”.

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