O
grupo OSINT internacional Bellingcat e a publicação russa The Insider divulgaram
os resultados da sua investigação do abate do Boeing-777 do voo MH17. Um dos
principais coordenadores dos separatistas, responsável pelo abate do MH17 é o general do GRU russo Oleg “Orion” Ivannikov. Em 2006-2008, sob o nome falso, ele
era o “ministro da defesa” da Ossétia do Sul, território ocupado da Geórgia.
Como foi apanhado Oleg Ivannikov
A foto do Oleg “Orion” Ivannikov mostrada na conferência de imprensa de Bellingcat, 25/05/2018 Créditos: Remko De Waal / EPA / Scanpix / LETA |
Em
setembro de 2016, a equipa conjunta de investigação internacional (JIT),
pediu a ajuda pública para identificar as vozes de duas pessoas. Os dois estavam
coordenando a entrega do sistema de mísseis “Buk” aos ditos separatistas. As suas
conversações foram interceptadas e gravadas pelo Serviço de Segurança da
Ucrânia (SBU) em junho de 2014:
Nas
conversas, ambos usavam os seus nomes de código e nomes paternais, que muito
provavelmente eram falsos.
Um
deles — Nikolay Fedorovich usava o
nom de guerre «Delfin» (Golfinho). Em dezembro de 2017, o grupo Bellingcat e a publicação
The Insider informaram
que conseguiram identificar essa voz: pertencia ao tenente-general do
exército russo, Nikolay Tkachev.
O tenente-general do exército russo Nikolay Tkachev no Kremlin |
O
segundo desconhecido — Andrey Ivanovich,
usava o nom de guerre «Orion». Como consegui apurar SBU, era oficial do GRU russo,
que segundo as comunicações interceptadas, estava na região de Luhansk e
comandava as operações militares dos ditos separatistas. SBU
divulgou não apenas as suas conversações, mas também os números de telefones,
usados pelos terroristas russos. «Orion» usava o número ucraniano +380634119133.
Mais
tarde, Bellingcat
e The Insider, encontraram este
número numa das listas telefónicas, gravado sob o mesmo nome de código — “Oreon”.
Era um número anónimo pré-pago da operadora ucraniana de telefonia móvel life:).
Na conferência de imprensa no dia 25 de maio de 2018, Bellingcat explicou que um
jornalista ucraniano consegui aceder à base de dados da life:) e achou nela
quatro números russos, que se comunicavam com «Orion».
Um
destes números, da operadora russa de telefonia móvel “Megafon”, pertencia ao
oficial do GRU russo, Oleg Vladimirovich Ivannikov. O número estava registado em
várias listas telefónicas, numa delas como pertencente ao Ivannikov, na outra
como pertencente ao «Andrey Ivanovich GRU do Husky». O grupo «Husky» — se posiciona(va) como um
grupo de sabotagem (DRG) na dita “dnr”.
O
mesmo número foi achado numa base de dados hackeada de uma loja online russa. Em
2017, o cliente “Oleg”, efetuou a compra e fez um pedido de entrega dos
equipamentos especiais ao endereço «Moscovo, rua Polina Osipenko, № 76». Oficialmente,
em Moscovo não existe este endereço, a rua Polina Osipenko é uma rua curta, com
os prédios unicamente pares, №№2-22. Mas, a rua é próxima ao complexo predial com o
número geral № 76 (e várias letras, A, B, C, etc.), que formalmente se situa na
auto-estrada Horoshevskoe №
76, até 2006 era a sede do GRU do Estado-maior do Exército russo.
Usando este mesmo número do telefone móvel, Bellingcat e The Insider acharam o endereço
da residência e do telefone fixo do Ivannikov em Moscovo, assim como
descobriram que este tem um filho, que vive e trabalha na Suíça. Eles ligaram ao
telefone fixo e gravaram a voz do Ivannikov, uma voz muito alta, bastante caraterística, muito “afeminada” e muito semelhante à voz do “Orion”, interceptada pelo SBU em
2014.
Nas
bases de dados oficias russas, os investigadores OSINT descobriram os dados do funcionário
do Ministério da Defesa da federação russa Oleg Vladimirovich Ivannikov,
nascido em 2 de abril de 1967 e residente em Moscovo. Também foram achadas
algumas fotos do mesmo.
Quem é Oleg Ivannikov?
Oleg
Ivannikov nasceu no seio de uma família do militar soviético na RDA em 1967. Foi
formado na Escola Superior Militar da Engenharia Aérea de Kyiv e depois no
Instituto de Aviação de Moscovo (na 6ª faculdade de mísseis balísticos). Após disso,
durante vários anos (pelo menos até 2003) viveu na cidade russa de Rostov-no-Don.
O general do GRU Oleg Vladimirovich Ivannikov |
Em
2004, Ivannikov, usando o nome falso de Andrey Ivanovich Laptev foi enviado
para Ossétia do Sul (região ocupada da Geórgia). Na Ossétia, ele encabeçou o
comando militar dos separatistas, em 2006-2008 foi designado como o seu
“ministro da defesa”. Considera-se que na época Ivannikov “Laptev” estava ligado
à residentura do GRU em Tbilissi, desmantelada em 2006, o que levou à prisão na
Geórgia de quatro oficiais russos do GRU. Em março de 2008, nas vésperas da guerra
russo-georgiana em agosto
de 2008, Ivannikov “Laptev” anuncia a sua demissão e se muda para Moscovo.
Em
Moscovo, Ivannikov escreveu a sua tese de doutoramento
em filosofia (Sic!) sob o tema «Caráter complexo da guerra de informação no
Cáucaso: aspectos sócio-filosóficos», defendida na Universidade Federal do Sul
em Rostov-no-Don. No texto, Ivannikov cita, de forma abundante, o conspirologista
russo de inspiração fascista Alexander
Dugin e exorta confrontar à “penetração informativa e cultural do Ocidente”
no Cáucaso através de uso de “grupos especiais constituídos por altos
funcionários e representantes de serviços especiais (SVR, GRU, FSB, etc.)”.
Possivelmente,
ele permanece ligado à situação na Ossétia do Sul, dado que em 2013 visitou
este território ocupado, usando o seu nome real.
“Orion” Ivannikov no leste
da Ucrânia
Em
2014, Ivannikov é enviado para o leste da Ucrânia. O terrorista russo e ex-“ministro
da defesa da dnr”, Igor “Strelkov” Girkin, lembrou mais tarde, que tinha visto Ivannikov
na cidade de Sorokyne (ex-Krasnodon), situada praticamente na fronteira ucraniano-russa, onde se localizava o
estado-geral da invasão militar russa; outras fontes o viram em Luhansk, junto
ao Igor Plotnitsky, que, na altura, era apresentado ao público como “ministro
da defesa da lnr”. Desta forma, é possível supor, que em Luhansk, Ivannikov coordenava
as ações militares dos ditos “separatistas” daquela região.
Sabe-se
que na Ucrânia Ivannikov possuía o poder do comando sobre a EMP grupo
Vagner, dando ordens diretos aos seu líder nominal Dmitri Utkin (além do
seu envolvimento na Síria, os mercenários russos do grupo Vagner participaram
nas atividades terroristas no leste da Ucrânia).
As
conversas telefónicas interceptadas pelo SBU indicam que Ivannikov estava coordenar
as atividades militares dos ditos “separatistas” no terreno, recebendo, ele
próprio, as instruções e ordens, vindos do general Tkachev, que se encontrava,
via de regra, na Rússia. Algumas fontes entre os ditos “separatistas” afirmam que
Ivannikov foi o lobista principal de nomeação de Igor Plotnitsky como chefe da dita
“lnr”.
Desde 2015, Ivannikov deixou o território da Ucrânia; o
seu paradeiro atual é desconhecido, informa a página Meduza.
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