domingo, maio 27, 2018

General do GRU russo “Orion” é o principal responsável do abate do Boeing MH17

O grupo OSINT internacional Bellingcat e a publicação russa The Insider divulgaram os resultados da sua investigação do abate do Boeing-777 do voo MH17. Um dos principais coordenadores dos separatistas, responsável pelo abate do MH17 é o general do GRU russo Oleg “Orion” Ivannikov. Em 2006-2008, sob o nome falso, ele era o “ministro da defesa” da Ossétia do Sul, território ocupado da Geórgia.

Como foi apanhado Oleg Ivannikov 
A foto do Oleg “Orion” Ivannikov mostrada na conferência de imprensa de Bellingcat, 25/05/2018
Créditos: Remko De Waal / EPA / Scanpix / LETA
Em setembro de 2016, a equipa conjunta de investigação internacional (JIT), pediu a ajuda pública para identificar as vozes de duas pessoas. Os dois estavam coordenando a entrega do sistema de mísseis “Buk” aos ditos separatistas. As suas conversações foram interceptadas e gravadas pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) em junho de 2014:
Nas conversas, ambos usavam os seus nomes de código e nomes paternais, que muito provavelmente eram falsos.

Um deles — Nikolay Fedorovich usava o nom de guerre «Delfin» (Golfinho). Em dezembro de 2017, o grupo Bellingcat e a publicação The Insider informaram que conseguiram identificar essa voz: pertencia ao tenente-general do exército russo, Nikolay Tkachev.
O tenente-general do exército russo Nikolay Tkachev no Kremlin
O segundo desconhecido — Andrey Ivanovich, usava o nom de guerre «Orion». Como consegui apurar SBU, era oficial do GRU russo, que segundo as comunicações interceptadas, estava na região de Luhansk e comandava as operações militares dos ditos separatistas. SBU divulgou não apenas as suas conversações, mas também os números de telefones, usados pelos terroristas russos. «Orion» usava o número ucraniano +380634119133.

Mais tarde, Bellingcat e The Insider, encontraram este número numa das listas telefónicas, gravado sob o mesmo nome de código — “Oreon”. Era um número anónimo pré-pago da operadora ucraniana de telefonia móvel life:). Na conferência de imprensa no dia 25 de maio de 2018, Bellingcat explicou que um jornalista ucraniano consegui aceder à base de dados da life:) e achou nela quatro números russos, que se comunicavam com «Orion».

Um destes números, da operadora russa de telefonia móvel “Megafon”, pertencia ao oficial do GRU russo, Oleg Vladimirovich Ivannikov. O número estava registado em várias listas telefónicas, numa delas como pertencente ao Ivannikov, na outra como pertencente ao «Andrey Ivanovich GRU do Husky». O grupo «Husky» — se posiciona(va) como um grupo de sabotagem (DRG) na dita “dnr”.

O mesmo número foi achado numa base de dados hackeada de uma loja online russa. Em 2017, o cliente “Oleg”, efetuou a compra e fez um pedido de entrega dos equipamentos especiais ao endereço «Moscovo, rua Polina Osipenko, № 76». Oficialmente, em Moscovo não existe este endereço, a rua Polina Osipenko é uma rua curta, com os prédios unicamente pares, №№2-22. Mas, a rua é próxima ao complexo predial com o número geral № 76 (e várias letras, A, B, C, etc.), que formalmente se situa na auto-estrada Horoshevskoe № 76, até 2006 era a sede do GRU do Estado-maior do Exército russo.
Usando este mesmo número do telefone móvel, Bellingcat e The Insider acharam o endereço da residência e do telefone fixo do Ivannikov em Moscovo, assim como descobriram que este tem um filho, que vive e trabalha na Suíça. Eles ligaram ao telefone fixo e gravaram a voz do Ivannikov, uma voz muito alta, bastante caraterística, muito “afeminada” e muito semelhante à voz do “Orion”, interceptada pelo SBU em 2014.

Nas bases de dados oficias russas, os investigadores OSINT descobriram os dados do funcionário do Ministério da Defesa da federação russa Oleg Vladimirovich Ivannikov, nascido em 2 de abril de 1967 e residente em Moscovo. Também foram achadas algumas fotos do mesmo.

Quem é Oleg Ivannikov?

Oleg Ivannikov nasceu no seio de uma família do militar soviético na RDA em 1967. Foi formado na Escola Superior Militar da Engenharia Aérea de Kyiv e depois no Instituto de Aviação de Moscovo (na 6ª faculdade de mísseis balísticos). Após disso, durante vários anos (pelo menos até 2003) viveu na cidade russa de Rostov-no-Don.
O general do GRU Oleg Vladimirovich Ivannikov
Em 2004, Ivannikov, usando o nome falso de Andrey Ivanovich Laptev foi enviado para Ossétia do Sul (região ocupada da Geórgia). Na Ossétia, ele encabeçou o comando militar dos separatistas, em 2006-2008 foi designado como o seu “ministro da defesa”. Considera-se que na época Ivannikov “Laptev” estava ligado à residentura do GRU em Tbilissi, desmantelada em 2006, o que levou à prisão na Geórgia de quatro oficiais russos do GRU. Em março de 2008, nas vésperas da guerra russo-georgiana em agosto de 2008, Ivannikov “Laptev” anuncia a sua demissão e se muda para Moscovo.

Em Moscovo, Ivannikov escreveu a sua tese de doutoramento em filosofia (Sic!) sob o tema «Caráter complexo da guerra de informação no Cáucaso: aspectos sócio-filosóficos», defendida na Universidade Federal do Sul em Rostov-no-Don. No texto, Ivannikov cita, de forma abundante, o conspirologista russo de inspiração fascista Alexander Dugin e exorta confrontar à “penetração informativa e cultural do Ocidente” no Cáucaso através de uso de “grupos especiais constituídos por altos funcionários e representantes de serviços especiais (SVR, GRU, FSB, etc.)”.

Possivelmente, ele permanece ligado à situação na Ossétia do Sul, dado que em 2013 visitou este território ocupado, usando o seu nome real.

“Orion” Ivannikov no leste da Ucrânia

Em 2014, Ivannikov é enviado para o leste da Ucrânia. O terrorista russo e ex-“ministro da defesa da dnr”, Igor “Strelkov” Girkin, lembrou mais tarde, que tinha visto Ivannikov na cidade de Sorokyne (ex-Krasnodon), situada praticamente na fronteira ucraniano-russa, onde se localizava o estado-geral da invasão militar russa; outras fontes o viram em Luhansk, junto ao Igor Plotnitsky, que, na altura, era apresentado ao público como “ministro da defesa da lnr”. Desta forma, é possível supor, que em Luhansk, Ivannikov coordenava as ações militares dos ditos “separatistas” daquela região.

Sabe-se que na Ucrânia Ivannikov possuía o poder do comando sobre a EMP grupo Vagner, dando ordens diretos aos seu líder nominal Dmitri Utkin (além do seu envolvimento na Síria, os mercenários russos do grupo Vagner participaram nas atividades terroristas no leste da Ucrânia).

As conversas telefónicas interceptadas pelo SBU indicam que Ivannikov estava coordenar as atividades militares dos ditos “separatistas” no terreno, recebendo, ele próprio, as instruções e ordens, vindos do general Tkachev, que se encontrava, via de regra, na Rússia. Algumas fontes entre os ditos “separatistas” afirmam que Ivannikov foi o lobista principal de nomeação de Igor Plotnitsky como chefe da dita “lnr”.

Desde 2015, Ivannikov deixou o território da Ucrânia; o seu paradeiro atual é desconhecido, informa a página Meduza.

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