Mais
de duas décadas após a queda da URSS, existem pessoas que acreditam que na União
Soviética a “irmã mais velha” alimentava todos as outras repúblicas “desocupadas”. No
entanto, de forma paradoxal, ou não, no lugar de felicidade pela partida das tais
“desocupadas” em 1991, a maior nostalgia pela União Soviética é registada
na atual federação russa.
Quando,
de verdade, ganhava o trabalhador soviético?
Os
fãs da URSS gostam de falar sobre o “caldeirão conjunto”, onde primeiro o
“coletivo” mete as suas coisas e depois a mamãe-quarenta tira as coisas de lá e
as distribui à todos por igual.
Segundo
as estatísticas de ONU (citadas por diversos autores russos, por exemplo AQUI), as repúblicas
soviéticas tiveram os seguintes números do PIB (de maior ao menor):
No
sistema económico moderno, o PIB per capita anual, dividido em 12 meses mostra
o salário médio aproximado de um determinado país (por uma questão de
interesse, podem verificar isso, usando Wikipedia, funciona na maior parte dos
países com um erro não superior aos 20%), e é lógico – pessoa recebe em forma
de renda consoante a sua produção. Mas
na URSS tudo era completamente diferente. Por exemplo, de acordo com a tabela,
o trabalhador médio da Ucrânia deveria receber em 1990 cerca de 1.033 dólares
mensais que à taxa oficial soviética de câmbio do dólar seria equivalente aos
1.751 rublos por mês, valendo muito mais ao câmbio paralelo.
No
entanto, o salário médio na URSS não ultrapassava a quantia de 140-150 rublos mensais
(237-254 dólares). E para onde ia o resto? Na verdade, todo o dinheiro ganho
por uma pessoa era levado pelo Estado comunista. Já isso, inviabiliza todas às
fantasias dos fãs soviéticos de que alguém na URSS “alimentava” outros – não,
os simples operários a camponeses, através do seu dinheiro suado, mantinham o
exorbitante aparelho estatal, que gastava esse dinheiro ao seu belo prazer.
Orçamentos
das repúblicas da União
Depois,
os fãs da URSS tentam provar que a Rússia Soviética supostamente “alimentava todos”,
mostrando a diferença do PIB da RSFSR (17.500 dólares per capita em 1990), e,
por exemplo, do Tajiquistão (5.500 dólares per capita). Alegadamente, uma vez que
na Rússia Soviética as receitas eram maiores – isso significava que esta alimentava
o resto da União.
No
entanto, este raciocínio também está errado. O PIB do Tajiquistão Soviético,
per capita, significa que em 1990, o salário médio na república poderia chegar
aos cerca de 458 dólares por mês – mas os tajiques recebiam os mesmos 140-150
rublos soviéticos. Na verdade, isso significa apenas que a burocracia
soviética, da mesma forma que roubava os tajiques, também roubava aos belarusos,
russos e ucranianos, só que dos tajiques recebia um pouco menos. Mais uma vez,
para todos os alternativamente dotados – em 1990, um tajique médio ganhava com o
seu suor e trabalho cerca de 5.500 dólares por ano, recebendo às mãos alguns poucos
rublos.
Para
onde se drenava o dinheiro?
O
resto do dinheiro ganho ia para a manutenção de um grande número de parasitas
que proliferaram na era soviética, por exemplo, junto às fábricas soviéticas relativamente
bem-sucedidas, em grande abundância existiam centenas e milhares de empresas e
fábricas subsidiadas e simplesmente desnecessárias, cujos funcionários
trabalhavam no princípio descrito por escritor e dissidente soviético Venedikt Yerofeyev no
seu imortal poema Moscou-sur-Vodka
– “Entregamos-lhes duas vezes ao mês as nossas promessas socialistas – eles nos
mensalmente pagam o salário”. O “trabalho” da “equipa socialista” muitas vezes consistia
em que os mesmos trabalhadores ora desenterravam os cabos, em seguida, os enterravam,
sendo pagos por este trabalho, bebendo sem nenhuma esperança de melhorar a sua
vida.
Além
disso, uma incrível quantidade de dinheiro, sem nenhum controlo da sociedade
civil, era gasto em várias aventuras militares, como a guerra no Afeganistão,
bem como no apoio de todos os bandidos armados do 3º mundo – bastava aparecer
algum grupo armado algures no Médio Oriente / Oriente Médio, Ásia, África ou
América Latina que declarasse a luta contra algum governo pró-ocidental – URSS imediatamente
declarava o bando de “combatentes pela paz e socialismo”, após disso enviava
lhes armamento e outra ajuda material.
O
funcionamento de “redistribuição de recursos” na União Soviética funcionava de
seguinte maneira. Imaginem um prédio com 10 apartamentos. De todas as famílias
lá residentes, trabalha apenas você e o seu vizinho, ganhando 1.500 dólares ao
mês. O “camarada comandante” leva todo o seu dinheiro, deixando lhe apenas 100 dólares
ao mês. Os restantes 1.400 dólares são destinados à apoiar o João
alcoólico/alcoólatra do primeiro apartamento, Sérgio, também alcoólico, do
terceiro, uma parte dos fundos é roubada, e os 400 dólares mensalmente vão para
comprar as bebidas para um bando de vizinhos do prédio ao lado, que lutam pelo seu
direito de mijar no vosso elevador, depredar/pichar as paredes e roubar as lâmpadas
do espaço comum.
Já
agora, as paredes de áreas comuns do seu prédio sempre estão sujas e
depredadas/pichadas, e quando você pergunta sobre a reparação do edifício, o
“camarada comandante” levanta um dedo para o céu e começa lhe contar as
estórias da situação internacional [na Palestina, na Síria, no Iraque e na
Líbia].
Presunto
para a ditadura do proletariado
Сomo podemos ver,
não existiu nas repúblicas da União Soviética nenhuma “alimentação de uns aos
outros” – todos os cidadãos soviéticos em toda a União Soviética recebiam muito
menos, pelos seu trabalho, do que mereciam – variava apenas a quantia de fundos
que a burocracia soviética lhes tirava. Mas no tópico de quem é que alimentou à
quem na URSS, há outro aspecto curioso – quem, de fato, produzia na URSS os
alimentos e quem os consumia?
Uma
quantidade absolutamente considerável de alimentos de carne e laticínios era
produzida na URSS pelos Estados Bálticos, Belarus e Ucrânia – nesses países
antes de 1917 (e em algumas partes – até 1939) existia excelente produção
privada local, que fazia bons e excelentes enchidos, salsichas, queijos, queijos
frescos e outros produtos alimentares. Após o golpe bolchevique de 1917, os comunistas
simplesmente nacionalizaram as empresas, expulsaram os seus proprietários
legítimos, continuando lá fabricar alguma coisa – isso aconteceu, por exemplo,
com um certo número de cervejarias, talhos/açougues semi-industriais e fábricas
de produção de manteiga e queijo em Belarus e Ucrânia.
O
mais interessante é que a população local das repúblicas soviéticas
praticamente não via, em venda livre, os produtos das fábricas locais de
processamento de carnes e outros alimentos. Diversos enchidos de carne apareceram
nas lojas apenas em 1991-1992, após a queda da União Soviética, na URSS as
empresas locais produziam tudo isso – mas enviavam ao mítico “centro”.
Literalmente, à 100 quilómetros de Minsk ou Kyiv poderia funcionar uma grande fábrica
de empacotamento de carne – e na cidade, nos talhos, as prateleiras estavam vazias.
Aparentemente, todos os alimentos de qualidade iam diretamente para os “cestos
bonificados” da nomenclatura partidária comunista...
Assim,
toda a União Soviética trabalhava para a nomenclatura soviética – alimentando-a,
calçando-a e vestindo-a, e até patrocinando as suas aventuras políticas
internacionais.
Ilustrações:
Anzhela
Dzherih | Texto Maxim
Mirovich e [Ucrânia em África]
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