Na
URSS sempre foram populares as anedotas que gozavam com a vida soviética. As
histórias falavam da escassez de bens e alimentos, da falta de serviços de
qualidade e das questões políticas. Durante muito tempo uma anedota política
narrada às pessoas erradas e no lugar errado podia significar cadeia e GULAG,
durante a Perestroika as anedotas foram livremente publicadas na imprensa
estatal.
Uma
das melhores piadas sobre a vida na URSS é, sem dúvida, a piada contada pelo
presidente americano Ronald Reagan – que era uma pessoa alegre, amava e
colecionava piadas, inclusive sobre a União Soviética. Essa piada foi contada
por presidente Reagan durante uma das suas intervenções na Virgínia em 1988,
eis a sua versão completa:
“As pessoas na União
Soviética — eu já contei, que eles têm um grande senso de humor, mas além disso
— eles são bastante críticos ao sistema existente. Eu já contei essa, Bill,
você terá que ouvi-la novamente — eu tinha a contado no carro. Não contei ao
Gorbachev.
Convite de compra da viatura Lada 2106, no valor de 7.930 rublos (13,440.60 dólares), União Soviética, Rússia Soviética, 1977 |
Efetivamente,
é uma anedota brutalmente boa ;-)
Uma
anedota soviética intelectual
Inverno.
A União Soviética. Década de 1930. Fome. Frio –30ºC. Um menino pobre e mal
vestido corre, agarrando um molho de galhos para o fogareiro, perseguido por um
varredor/zelador de gorro de pele e uma jaqueta acolchoada.
O
menino corre e reflete: “Não, bem, isso é absolutamente impossível. Eu venho de
uma boa família, eu quero aprender, me desenvolver. Quero, realmente, ser como
o meu escritor favorito Ernest Hemingway – ser valente, forte... Pescar nas
praias de Cuba. E não fugir dos varredores/zeladores desta cidade”.
Cuba.
Calor. Ernest Hemingway, realmente valente e forte, fica na praia e bebe o rum
de gargalo da garrafa, cercado pelas cubanas calientes. Hemingway pensa: “Não,
isso não é a vida. Não há nenhum heroísmo aqui. As pessoas não precisam de
nada, 24 horas por dia é o calor, o cérebro se derrete, as mulheres são gordas.
Se eu pudesse, estaria agora em Paris fresquinho, com o meu amigo André Maurois –
teríamos bebido um bom vinho francês, acendíamos a lareira e conversaríamos a
noite dentro sobre as coisas eternas”.
Paris.
É fresco, está chovendo há uma semana. André Maurois está no seu sótão, bebe a
terceira garrafa de conhaque, duas cortesãs dormem na sua cama. Maurois se
amaldiçoa e diz: “Não, isso definitivamente não é a vida. É uma decadência
qualquer. Simulacro. Quem me daria estar agora em Voronezh frio, eu iria
encontrar o meu amigo, o grande escritor Andrei Platonov,
tomaríamos um quadruplo de verdadeira vodca russa, e imediatamente estaríamos
mais perto da eternidade ... Essa é que a vida”.
Voronezh.
Inverno. Frio. Fome. Andrei Platonov, de gorro e jaqueta acolchoada, corre
atrás de um menino num dos pátios de Voronezh e pensa: “F0da-se! Se eu apanhar o fedelho, eu o mato, com c@ralho!!!!”.
E
você, o nosso querido leitor, que tipo de anedotas conhece sobre a URSS?
Qual delas é a melhor?
1 comentário:
O povo russo era realmente engraçado, e, por meio de anedotas, elucidava, como disse Geoffrey Hosking, as verdades fundamentais da vida soviética. Havia um gênero de piadas, na URSS, intitulado "Questões à Rádio Yerevan", uma rádio fictícia chamada Armênia - com efeito, tratava-se não de uma estação de rádio real, mas de uma criação imaginária -, à qual, supostamente, enviavam-se perguntas, da qual vinham respostas, saturadas sempre de um humor e ironia característicos e, em geral, surpreendentes a povo tão sofrido, enormemente rico. Lá vão exemplos: "Esta é a Rádio Armênia. Nossos ouvintes nos perguntaram: 'Por que nosso governo não está com pressa para levar o homem à Lua?' Nós respondemos: 'E se eles se recusarem a voltar?' Nossos ouvintes perguntaram: 'O que é negócio russo?' Nós respondemos: 'Roubar uma caixa de vodca, vendê-la e depois torrar o dinheiro com bebida.'Nossos ouvintes perguntaram: 'O que é o capitalismo?' Nós respondemos: 'A exploração do homem pelo homem.' Perguntaram: 'E o comunismo?' Respondemos: 'O inverso.'" E este exemplo é emblemático, profundamente revelador da mentalidade revolucionária, não da Rádio Armênia - isto é, do povo russo que fazia essas piadas -, bem entendido, cuja resposta é satírica até o extremo: "Nossos ouvintes perguntaram: 'É possível prever o futuro?' Nós respondemos: 'Sim, isso não é problema: sabemos exatamente como vai ser o futuro. Nosso problema é o passado: este está sempre mudando.'"
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