No
decorrer da II G.M., exército soviético (RKKA) perdeu cerca de 4,5 – 5 milhões
de militares como “desaparecidos em combate”. Calcula-se que até 500.000 destes
soldados e oficiais (cerca de 50 divisões de infantaria) não foram sepultados
até os dias de hoje...
por:
Olga Ivshina, BBC (versão curta do texto)
“Liquidação
dos vestígios”
“Alguns
anos após o fim da “Grande Guerra Patriótica” [como a II G.M. era conhecida na URSS
e na Rússia atual], o Soviete Supremo da URSS decidiu eliminar os vestígios da
guerra. No terreno, nos locais dos combates começaram arar a terra, construir,
plantar florestas. Por um lado, era um passo para restaurar o país devastado
pela guerra, mas, por outro, era a tentativa de esquecer as perdas colossais da
União Soviética”, explica Ilya Prokofiev, funcionário do Centro de Informação e
de Procura “Otechestvo”.
Um
saco de insígnias
Nos
primeiros momentos após o fim da II G.M. as mulheres e crianças arrastavam os
restos mortais dos militares [do RKKA e do Wehrmacht] às valas e buracos mais
próximos, cobrindo os com a terra. Algumas pessoas tentavam marcar estes
lugares, mas os seus esforços foram logo eliminados pelas autoridades
soviéticas.
Após
o decreto do governo soviético sobre a eliminação de vestígios de guerra, os campos
de batalha foram usados para a safra, modificados pelos sistemas de irrigação. Na
região de Novgorod, no local dos combates mais pesados foi construída uma linha
de energia elétrica. Nas outras partes do território, onde, segundo os
relatórios de combate, morreram milhares de soldados e oficiais, foram
plantados os pinheiros. O arado constantemente chocava e arrancava da terra os
obuses não detonados e os restos mortais dos militares mortos, mas o trabalho
não parava.
O
vovô Ivan na década de 1960 era um tratorista na região de Leninegrado. Conta
que o seu vizinho, Mikhalych, sempre recolhia os medalhões dos militares
soviéticos caídos, que morreram tentando romper o cerco do Leninegrado. Um dia
ele entregou um capacete inteiro destes medalhões ao Comissariado militar
local. Em 1995, no decorrer das obras de restauração do edifício do Comissariado,
num dos seus cofres foi achado um grande pacote com estes medalhões...
A cruz, feita de um pedaço de ferro por um militar soviético em 1941-42 A contabilidade típica, dos 4.232 militares achados, apenas 163 foram identificados |
Em
1941, o marechal soviético Semyon Timoshenko emitiu a Ordem № 138 que aprovou o
“Regulamento de controlo pessoal das perdas e do enterro do pessoal falecido do
Exército Vermelho em tempo de guerra”. O regulamento introduzia os medalhões
individuais aos soldados e oficiais soviéticos. Nos pergaminhos enrolados
deveria estar escrito o seu nome completo, posto militar, ano e local de
nascimento, endereço da família. No entanto, no RKKA estes medalhões eram
conhecidos como “suicidas”, e os militares tinham medo de os colocar. Como
resultado, hoje, em cada 100 restos mortais de militares soviéticos achados,
apenas um possui este medalhão em condições de ser identificado [fonte].
Crânios
e dias de trabalho
Após
a II G.M., o enterro dos restos mortais dos militares foi feito, principalmente,
pela população civil local. Mas as vezes, os regulamentos e instruções emitidos
em Moscovo eram executados de uma maneira peculiar.
“Recebemos
na aldeia a ordem de procurar pelos restos mortais. O
chefe da junta de freguesia local disse que irá contar os crânios. Então fomos [ao
bosque] e pegamos um saco de caveiras, tudo estava à superfície. Dependendo do
número de crânios trazidos, foram contabilizados tantos dias de trabalho, e por
cada dia de trabalho recebemos ou um dia de folga, ou a comida ou algum copeque.
Eles são mortos, de qualquer maneira, e nos tivemos que alimentar as famílias”,
– conta o camponês russo Mikhail Smirnov da aldeia de Pogostie (territórios que
testemunharam umas das piores perdas dos efetivos do RKKA, no decorrer da ofensiva de Lyuban,
no fim de 1941 início de 1942).
As
florestas, ao contrário dos campos aráveis, praticamente nunca foram desminadas,
por isso durante muitos anos após a II G.M., o povo local ia para as matas apenas
no caso de uma grande necessidade.
“Quando
a fome estava apertando mesmo, reuníamos umas dez pessoas e íamos na floresta
para procurar a comida dos mortos. Os alemães tinham o pão em conservas. Muito
saboroso. E o [militares soviéticos] também tinham qualquer coisa nas suas mochilas.
Talvez era mau/ruim, mas como então tivemos que sobreviver?” – recorda o
reformado russo Alexander Noskov, que trabalhou nos caminhos-de-ferro nos
arredores de Pogostie.
Os
militares mortos durante muito tempo ajudavam os sobreviventes. Dos mortos, estes
tiravam os seus casacos e jaquetas militares, o pano era usado para costurar as
roupas civis. As armas, medalhas e insígnias achados se escondiam nos sótãos ou
se vendiam. Mais tarde, quando começou a demanda por capacetes e insígnias
alemãs, começaram procurá-las.
Mas
os restos dos antigos proprietários de todas essas coisas continuaram na
floresta.
Placas
lindas
No
final dos anos 1950, começou o programa soviético para expandir os cemitérios
militares. Pretendia-se abrir todas as sepulturas pequenas e nos locais afastados
das localidades, devendo exumar e transferir os restos mortais aos locais memoriais
maiores, que eram mais fáceis de cuidar. Na realidade, muitas vezes isso só se
transformava em ações de reescrever os nomes dos mortos de umas placas para as
outras.
“Anualmente
encontramos túmulos comuns, combatentes são sepultados com as suas coisas
pessoais, com medalhões de identificação, mas nas bases de dados está
mencionado que eles são supostamente enterrados, em locais à dezenas de quilómetros
de distância. Os seus nomes foram esculpidos em belas placas de granito, mas na
verdade os nossos defensores estão deitados em valas e poços sanitários”, conta
Alexander Konoplev, o chefe do Centro de Informação e de Procura “Otechestvo”.
Os voluntários russos à procura dos militares do RKKA, mortos em 1941-42 |
No
caminho para casa, Ilya Prokofiev, que procura por militares desaparecidos há
mais de 25 anos, acende cansadamente o cigatro e diz: “Quando esses meninos iam
para a guerra, diziam-lhes: lutem de forma brava e a Pátria não vos esquecerá.
E onde fica esta Pátria? Quem é ela? Será apenas um punhado de voluntários de busca?”
Bónus
Até o cão não gosta dos separatistas de Donetsk e dos seus amigos terroristas estrangeiros |
O chefe da filial ucraniana da agência federal russa Rossotrudnichestvo após um encontro com ativistas de Sich na baixa de Kyiv... |
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