A
moda de colocar os tapetes nas paredes nasceu exatamente na URSS, tapete era um
símbolo de status social dos seus usuários e até servia de utilidade: garantia o
melhor isolamento de som e tornava as paredes dos apartamentos soviéticos mais
aconchegantes nas épocas frias.
Tapete
no passado soviético
Na
União Soviética antes da II G.M. os tapetes eram um objeto de luxo bastante
raro que só as famílias abastadas podiam ter – nos apartamentos mais simples, as
famílias podiam se permitir à tapeçaria barata e de tamanho pequeno. O uso
massificado de tapetes se deu na década de 1960 – em parte devido às mudanças maciças
dos cidadãos das barracas
estalinistas aos novos apartamentos populares, chamadas khrushchevki.
Devido
à má qualidade da construção dos novos prédios habitacionais em massa, o isolamento
acústico nos khrushchevki deixava muito à desejar, e uma boa maneira de
melhorar o isolamento de som e do calor, era pendurar o tapete na parede. Via
de regra, o tapete estava pendurado naquela parede do apartamento, que era comum
com os vizinhos, mais tarde, os tapetes começavam à ser pendurados em outras
paredes.
Na
URSS o tapete era considerado e realmente era um objeto de luxo. O salário
médio soviético rondava 130-140 rublos (220-237 dólares ao câmbio oficial
soviético da época), enquanto o custo de um tapete decente começava à partir de
150-180 rublos (254-308 dólares). Havia casos em que os cidadãos pagavam por
uns tapetes especialmente cobiçados (não se trata de obras de arte antigas) os
300, 500 e até 800 rublos (508; 847 e 1.356 dólares). Dá para acreditar nisso?
Em
geral, na URSS nas décadas de 1960 e 1970, o tapete era um objeto bastante caro
e sua presença na parede do apartamento atestava a prosperidade dos
proprietários.
Vida
com o tapete ao fundo
Gradualmente,
o uso dos tapetes se tornava cada vez mais generalizado, em substituição dos
tapetes caros, vindos de Turquemenistão, Quirguistão e do Azerbaijão, vieram as
cópias baratas, feitas localmente, nas repúblicas europeias da URSS, muitas
vezes, usando materiais sintéticos. Nos meados da década de 1980, praticamente
cada segunda família soviética possuía um tapete na parede, surgindo uma série
de hábitos quotidianos e as regras associadas ao uso dos tapetes.
|
Almoço de uma família soviética de uma boa classe média-média |
Tapetes
eram pendurados na parede de seguinte modo – primeiro, era necessário perfurar a
parede de betão, e, em seguida, colocar nos furos as cavilhas de madeira caseiros,
e, em seguida, colocar neles os parafusos. Os parafusos na URSS eram feitos de um
aço barato e de má qualidade – por causa disso a chave de fenda frequentemente danificava
a fenda de cruzeta o que tornava toda essa operação muito mais “divertida” ;-) No
próprio tapete eram colocados os ganchos especiais de alumínio, através dos quais
este ficava pendurado sobre os parafusos.
|
Um tapete prestes à ser limpo no Inverno |
Uma
ou duas vezes por ano, os tapetes eram limpos. No inverno, a operação era geralmente feita
sobre a neve (colocando o tapete sobre a neve com a face para baixo), no verão,
muitas vezes as tapetes eram limpos nos pátios de prédios habitacionais – no
quotidiano soviético era bastante habitual ver um homenzinho à levar o tapete enrolado
para o pátio, pendurando-o na barra de exercícios físicos e depois o batendo com
uma força tremenda com um batedor de plástico – muitas vezes próprio para a
operação, o som produzido se espalhava pelo bairro, parecendo com o de
artilharia reativa.
Fim
da época do aconchego tapeceiro
Tapetes
nas paredes sobreviveram, com sucesso, a década de 1990 e só no início do
segundo milénio começaram ser vistos como um objeto fortemente anacrónico. Os
tapetes já não eram encarados como a fonte de aconchego, apenas como objetos
que atraiam a poeira, e já nem sequer serviam como símbolo de status – na
década de 1990 surge uma série de coisas novas (aparelho televisor com VHS, sistemas
de som, consolas de jogos), que representavam o símbolo da prosperidade dos
seus donos muito mais evidentemente do que um simples tapete.
E,
no entanto, os tapetes não se apressaram em ceder as suas posições,
permanecendo pendurados nas paredes de muitos apartamentos. Nos meados da década
de 2000 começou a época da fotografia digital, e Internet ficou repleta de
milhares de retratos e auto-retratos tirados com um tapete ao fundo –
especialmente engraçado era ver as/os jovens de sub-culturas gótica ou
emo, maquiadas “à
Hollywood”, quando no fundo dos seus quartos estavam o tapete, o velho aparador
de pratos, as poltronas soviéticas de pernas tortas e o televisor “Iunost”, fabricado
em 1976.
|
Jovens gangstas russos |
|
Sexy |
|
Estilo gopnik |
|
Emo |
|
Uma patriota sexy |
Quase
imediatamente depois disso o tapete se tornou um meme na Internet cirílica – eram
ridicularizados retratos realmente ridículos com tapetes no fundo, e o próprio tapete
na parede, do símbolo de status e de prosperidade nos anos 1970 se tornou, nos
meados da década de 2000, o símbolo de pobreza. Por volta de mesma época os tapetes
começaram desaparecer dos apartamentos de uma forma maciça, e agora existem apenas nos
apartamentos restaurados ao estilo “velha guarda”, ou (na segunda opção) – em apartamentos
de babuchkas ou mantidos neste estilo soviético decadente.
|
Exemplo de um dos demotivadores, na realidade é Neuschwanstein Castle |
|
Tapetes como fundo dos telemóveis |
|
O jovem patriota russo |
|
Macho com a sua chica |
Fotos: faqindecor.com | kp.by
| doseng.org | 4tololo.ru | Texto: Maxim Mirovich
1 comentário:
Esse habito de colocar tapete sobre o sofa nao eh um costume dos povos eslavos da russia, isso remonta aquelas etnias da parte mais asiatica. Nao se ve isso na Ucrania por exemplo.
Enviar um comentário