O
livro dos jornalistas investigativos Andrei Soldatov e da Irina Borogan “The
Red Web: The Struggle Between Russia’s Digital Dictators and the New Online
Revolutionaries” é dedicado a história do uso das novas tecnologias na URSS e
da paranóia constante do KGB e do PCUS em limitar, ao máximo, o uso deste poder
pelo cidadão, para garantir a pureza ideológica da sociedade soviética.
Capítulo
1 – A
prisão de informação (trechos selecionados)
A
história da criação da primeira copiadora soviética “Máquina copiadora
eletrofotográfica № 1” (com o direito à fábrica em Chisinau na Moldova e
Instituto de Pesquisa em Vílnius na Lituânia), destruída pela ordem do KGB em
1957, por medo de que “as pessoas poderão copiar alguns materiais proibidos”.
A
censura. O regime soviético controlava rigidamente o espaço público. Os jornais
e a televisão eram submetidos a censura prévia pela Direcção-Geral da Protecção
dos Segredos de Estado na Imprensa, conhecida como Glavlit, subordinada ao
Conselho de Ministros. A partir de março de 1961, a Glavlit também foi
encarregada de controlar as comunicações (telex e conversas telefónicas) de
correspondentes estrangeiros em Moscovo.
As antenas da estação soviética de interferências |
Outro
comité governamental, conhecido como Goskomizdat,
censurou ficção e poesia. As rádios estrangeiras estavam bloqueadas e dezenas
de transmissores de interferências estavam posicionados ao longo das fronteiras
soviéticas. Era uma indústria em rápido crescimento. Em 1949 – 350 transmissores
de ondas curtas tentavam interferir nas transmissões de rádios ocidentais. Em
1950 havia 600 deles; em 1955, cerca de 1.000, com 700 outros nos países do
bloco socialista. Todos foram construídos para abafar o que não somou mais de
70 transmissores ocidentais. Em 1986, a União Soviética tinha treze poderosas
estações de interferência de longo alcance e as estações locais de
interferências foram estabelecidas em oitenta e uma cidades, com 1.300
transmissores no total.
A estação soviética de interferências, região de Leninegrado |
O
bloqueio foi interrompido apenas em novembro de 1988 pela ordem do Mikhail
Gorbachov.
Os
aparelhos de rádio produzidos na URSS tinham diversas frequências desabilitadas
(principalmente as ondas curtas). Ser encontrado na posse de um aparelho com as
frequências erradas era uma ofensa potencialmente criminosa. Os rádios
soviéticos deveriam ser registados, a regra foi cancelada apenas em 1962. As
autoridades queriam ser capazes de rastrear qualquer pessoa que copiasse as
informações; por isso KGB exigia que as amostras colhidas de todas as máquinas
de escrever fossem arquivadas no caso de terem de ser identificadas.
A
União Soviética empregava um vasto exército de engenheiros em instalações
secretas de pesquisa militar e de segurança, conhecidas coloquialmente como “caixas
postais”. Esses laboratórios e escritórios eram conhecidos apenas por um número
de caixa postal, como o “NII-56”. Qualquer carta seria endereçada a esse número
de caixa postal, não ao nome real da instalação. Uma das finalidades do sistema
de numeração de código postal era de esconder as instalações secretas dos olhos
curiosos de estrangeiros, que eram proibidos de se deslocar perto deles. Um
certo tipo de vaga “linguagem dupla” tornou-se parte de conversas diárias. Uma
pessoa podia dizer que trabalhava em uma “caixa postal” desenvolvendo um “dispositivo”,
mas seu significado estava imediatamente claro. Desta forma, a população
soviética era cooptada para se tornar a parte do sistema.
A
história da telefonia soviética
Num
sistema assim, o governo fez pouco para encorajar o uso do telefone. Os funcionários
do Ministério das Comunicações adoravam lembrar a declaração de Khrushchov de
que os cidadãos soviéticos não precisavam de telefones particulares porque, ao
contrário dos Estados Unidos, não havia bolsa de valores na União Soviética e,
portanto, não precisavam de tanta informação.
Em
1972, a KGB solicitou ao Conselho de Ministros da URSS a adotação de uma nova
regra proibindo o uso de linhas telefónicas internacionais “de maneira
contrária ao interesse público e à ordem pública da URSS”.
Poucos
meses após os Jogos Olímpicos de 1980, no início de 1981, Gennadiy Kudryavtsev
(1941), o primeiro vice-ministro das Comunicações, foi convocado para os
escritórios do Comité Central do Partido Comunista, onde recebeu a ordem era
reduzir o número de canais telefónicos internacionais de 1600 para apenas cem. “Tínhamos
oitenta e nove canais para os Estados Unidos, e me disseram para reduzir o
número para apenas seis”, conta Kudryavtsev.
Os
primeiros PC na URSS
A
empresa “Computerland USSR”
encomendou cerca de sessenta computadores da IBM na Europa, e Edward Fredkin (1934) teve
amigos no Centro de Computação da Academia de Ciências para fazer conjuntos de
chips que permitiriam que os computadores exibissem caracteres cirílicos na tela.
A empresa de Fredkin recebeu a entrega na Europa, modificou os teclados e telas,
obteve autorização oficial do Departamento de Comércio dos EUA e entregou-os à
Academia de Ciências da URSS. “A barragem estava quebrada”, – recorda Fredkin. “Computerland
URSS” pode ser a única empresa de computadores da história que recebeu e
entregou uma única ordem ... depois disso saiu do negócio!”
Durante
quase toda a sua história, a União Soviética tinha sido uma prisão de
informação. Mas a prisão, como tantos outros edifícios do estado soviético, foi
finalmente quebrada em agosto de 1991. Então a informação finalmente fluiu livremente.
A
Internet na Rússia atual
A
Internet na Rússia ou é uma ferramenta totalitária mais eficiente ou um
dispositivo através do qual o totalitarismo será derrubado. Talvez ambos.
No
oitavo andar de um prédio de aspecto comum, em um distrito residencial do
sudoeste de Moscovo, em uma sala ocupada pelo Serviço Federal de Segurança
(FSB), há uma caixa do tamanho de um aparelho VHS chamada SORM. A linha de frente do
governo russo na batalha pelo futuro da Internet, o SORM é o dispositivo de
escuta mais intrusivo do mundo, monitorando e-mails, uso da Internet, Skype e
todas as redes sociais.
Mas
para cada hacker subcontratado pelo FSB para interferir nos adversários da
Rússia no exterior – como no caso do ataque massivo de negação de serviço que abalou
toda a Internet na vizinha Estónia – há um ativista que está usando a web para
afastar o poder do Estado em casa.
Andrey Soldatov |
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