sexta-feira, novembro 11, 2016

Prisioneiros do Estaline e do Hitler: a colaboração entre NKVD e Gestapo

Falando sobre a cooperação entre Alemanha nazi e a URSS comunista é impossível esquecer a entrega pela NKVD dos comunistas, social-democratas e outros antinazis alemães e austríacos diretamente às mãos da Gestapo. O processo decorreu entre 1937 e 1941 e na opinião do historiador austríaco Hans Schafranek envolveu cerca de 650 pessoas.
Descrevendo as cadeias soviéticas de 1939-1940, o funcionário sénior do OGPU-NKVD, Mikhail Shreyder no seu livro “Dentro do NKVD. Anotações do chekista” (1995) contou sobre as relações entre os prisioneiros alemães, comunistas e pró-nazis. Os pró-nazis estavam deliciados com o facto de verem os comunistas alemães presos nas cadeias soviéticas, e regozijavam-se com a ideia de em breve voltar à pátria, como foi-lhes prometido pelos representantes da embaixada alemã em Moscovo. Alguns comunistas alemães souberam que eles também, em breve serão enviados para Alemanha. Os comunistas ficaram apavorados e começaram enviar as cartas ao Estaline, dizendo que preferiam serem fuzilados, a serem levados para Alemanha. Mas acabaram por serem todos deportados – uns para a morte e outros para as torturas.

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Uma destas prisioneiras era Margarete Buber-Neumann (1901-1989), a companheira do membro proeminente do PC alemão Heinz Neumann (fuzilado na URSS em 1937) que deixou o livro de memórias “Als Gefangene bei Stalin und Hitler” (Como prisioneiros em Stalin e Hitler), publicado em inglês sob o título de Under Two Dictators: Prisoner of Stalin and Hitler.
No inverno 1939-40 centenas de prisioneiros alemães, condenados durante o Grande Expurgo às longas penas prisionais, foram levados de prisões e campos de concentração da União Soviética, sob a escolta do NKVD, para a prisão moscovita de Butyrka. Lá, lhes apresentaram uma nova condenação, ordenando a “expulsão imediata do território da União Soviética”. O país do destino destas pessoas foi sabiamente omitido. Os coitados notaram apenas que o comboio dos prisioneiros ia para oeste. Alguns, ainda tinham a esperança secreta de que serão levados à fronteira dos Estados Bálticos, e então libertados. Como poderiam saber eles, saídos dos campos distantes da Sibéria que os Países Bálticos já estavam sob o poder de Estaline?!

Quando o comboio passou Minsk e dirigiu-se para o oeste, aos prisioneiros ficou claro o que irá acontecer. Embora esses comunistas, muitas vezes traídos, depois de tudo o que tinha-lhes acontecido, não tinham mais nenhuma ilusão sobre o sistema soviético, eles consideraram incrível o que deveria acontecer. Mas aconteceu: os emigrantes comunistas, pessoas que arriscaram as suas vidas, fugindo para a União Soviética, foram enviados pelo Estaline de volta ao Hitler. 500 pessoas foram sacrificadas à amizade entre Estaline e Hitler, como uma espécie de presente. Com este ato, Estaline queria provar até que ponto levava à sério essa amizade; com um gesto benevolente ele ofereceu ao Hitler a oportunidade de acertar as contas com os 500 dos seus opositores ferrenhos.

Eu também estava nesse grupo, depois de, em 1938, ficar presa e condenada aos cinco anos de trabalhos forçados. Em 3 de fevereiro de 1940 o meu transporte chegou a cidade de Brest-Litovsky, até a linha de demarcação entre a Polónia, ocupada pela União Soviética e Alemanha. O oficial do NKVD com um grupo de soldados nos levou até a ponte ferroviária sobre o rio Bug. Nós vimos as pessoas andando na nossa direção com os fardamentos da SS. O oficial da SS e o seu colega de NKVD cumprimentaram-se calorosamente. O oficial soviético fez a conferencia dos nomes e ordenou nós a atravessar a ponte.

Então eu ouvi vozes excitadas atrás e vi três homens do nosso grupo pedirem o oficial do NKVD para não os mandar atravessar a ponte. Um deles, chamado Bloch, até 1933 era o editor do jornal comunista alemão. Para ele, o outro lado da ponte significava a morte certa. O mesmo destino era de esperar para um jovem trabalhador alemão que foi condenado à revelia à morte pela Gestapo. Todos os três foram violentamente arrastados sobre a ponte. Então veio o pessoal da Gestapo e assumiu o trabalho do NKVD de Estaline.

...Após seis meses de prisão, Gestapo transferiu Buber-Neumann no campo de concentração feminino de Ravensbrück, da onde ela foi liberada em abril de 1945. Uma vez livre, caminhou para oeste – bem longe das tropas soviéticas que avançavam. Longe daqueles que, de facto, a colocaram no campo de concentração nazi.
Buber-Neumann viveu até quase 89 anos. Ela escreveu vários livros e em 1949 testemunhou em Paris no processo Kravchenko em apoio ao “não retornado” soviético, Victor Kravchenko, acusado pelos comunistas franceses de “fabricação” de informação sobre os campos de concentração soviéticos. Buber-Neumann se tornaria a “anticomunista científica”. No seu livro “Die Flamme erloschene: Schicksale meiner Zeit” (A chama extingue-se: o destino de meu tempo), publicado em 1981, ela provará conclusivamente que o comunismo e o nazismo são a mesma coisa.
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O relato da entrega pela URSS dos comunistas alemães e austríacos à Gestapo na cidade de Brest-Litovsky, também é contado no livro “Ravensbruck” da antropóloga francesa Germaine Tillion, ativista da resistência antinazi, prisioneira em Ravensbrück e “um grande amor da nação francesa”.
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Um outro caso conhecido é do físico Fritz Houtermans, membro do PC alemão desde os meados de 1920 e emigrante na URSS desde 1935. Em dezembro de 1937 foi preso pelo NKVD, na então capital ucraniana, Kharkiv, submetido às torturas, confessando ser “trotskista” e “espião alemão”. Após a sua entrega à Gestapo em maio de 1940, passou cerca de um ano na cadeia de Berlim. Depois foi libertado e trabalhou no programa nuclear alemão. Em 1951, sob pseudónimo de Beck, F. e em co-autoria com Godin, W (Konstantin Shteppa), publicou o livro - denúncia do regime soviético e das repressões comunistas «Russian Purge and the Extraction of Confession» (Purga russa e a extração da confissão). Morreu na Suíça em 1966, considerando-se anticomunista, escreve o blogueiro Grzegorz-b.
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É de notar que Fritz Houtermans emigrou à URSS para trabalhar na Ucrânia Soviética ao convite do Aleksander Weissberg-Cybulski (1901-1964), brilhante físico austríaco de origem polaca judia e membro do PC da Áustria. Preso pelo NKVD em 1 de março de 1937 ele passou três anos nas cadeias soviéticas de Kharkiv, Kyiv e Moscovo. No dia 5 de janeiro foi entregue pela NKVD à Gestapo, sobreviveu a II GM, em 1948 fugiu da Polónia comunista a Suécia e morreu na França,
Em 1951, ele publicou o livro sobre as repressões comunistas e sobre os métodos do OGPU-NKVD, usados durante o Grande Terror (1936-1938), chamado “Conspiracy of Silence”, reeditado nos EUA com o título “The Accused” e na Alemanha «Hexensabbat. Russland im Schmelzetiegel der Sauberungen» (Covém de bruxas. Rússia no cadinho dos expurgos). O livro também foi publicado na França, Checoslováquia, Polónia (1990) e Ucrânia (2010).

1 comentário:

Anónimo disse...

Essas informações são verdadeira explosão de luz, ao negrume das inversões históricas, contadas sobretudo, por militantes esquerdistas em sala de aula.
O fato é que nazismo+comunismo são gêmeos siameses.