Falando
sobre a cooperação entre Alemanha nazi e a URSS comunista é impossível esquecer
a entrega pela NKVD dos comunistas, social-democratas e outros antinazis
alemães e austríacos diretamente às mãos da Gestapo. O processo decorreu entre
1937 e 1941 e na opinião do historiador austríaco Hans Schafranek
envolveu
cerca de 650 pessoas.
Descrevendo
as cadeias soviéticas de 1939-1940, o funcionário sénior do OGPU-NKVD, Mikhail Shreyder
no seu livro “Dentro do NKVD. Anotações do chekista” (1995) contou sobre as relações
entre os prisioneiros alemães, comunistas e pró-nazis. Os pró-nazis estavam deliciados
com o facto de verem os comunistas alemães presos nas cadeias soviéticas, e
regozijavam-se com a ideia de em breve voltar à pátria, como foi-lhes prometido pelos representantes da
embaixada alemã em Moscovo. Alguns comunistas alemães souberam que eles também,
em breve serão enviados para Alemanha. Os comunistas ficaram apavorados e começaram
enviar as cartas ao Estaline, dizendo que preferiam serem fuzilados, a serem
levados para Alemanha. Mas acabaram por serem todos deportados – uns para a
morte e outros para as torturas.
*
* *
Uma
destas prisioneiras era Margarete Buber-Neumann
(1901-1989), a companheira do membro proeminente do PC alemão Heinz Neumann (fuzilado
na URSS em 1937) que deixou o livro de memórias “Als Gefangene bei Stalin und
Hitler” (Como prisioneiros em Stalin e Hitler), publicado em inglês sob o
título de Under
Two Dictators: Prisoner of Stalin and Hitler.
No
inverno 1939-40 centenas de prisioneiros alemães, condenados durante o Grande
Expurgo às longas penas prisionais, foram levados de prisões e campos de
concentração da União Soviética, sob a escolta do NKVD, para a prisão moscovita
de Butyrka. Lá, lhes apresentaram uma nova condenação, ordenando a “expulsão
imediata do território da União Soviética”. O país do destino destas pessoas foi
sabiamente omitido. Os coitados notaram apenas que o comboio dos prisioneiros ia
para oeste. Alguns, ainda tinham a esperança secreta de que serão levados à
fronteira dos Estados Bálticos, e então libertados. Como poderiam saber eles, saídos
dos campos distantes da Sibéria que os Países Bálticos já estavam sob o poder de Estaline?!
Quando
o comboio passou Minsk e dirigiu-se para o oeste, aos prisioneiros ficou claro
o que irá acontecer. Embora esses comunistas, muitas vezes traídos, depois de
tudo o que tinha-lhes acontecido, não tinham mais nenhuma ilusão sobre o sistema
soviético, eles consideraram incrível o que deveria acontecer. Mas aconteceu: os
emigrantes comunistas, pessoas que arriscaram as suas vidas, fugindo para a
União Soviética, foram enviados pelo Estaline de volta ao Hitler. 500 pessoas foram
sacrificadas à amizade entre Estaline e Hitler, como uma espécie de presente. Com
este ato, Estaline queria provar até que ponto levava à sério essa amizade; com
um gesto benevolente ele ofereceu ao Hitler a oportunidade de acertar as contas
com os 500 dos seus opositores ferrenhos.
Eu
também estava nesse grupo, depois de, em 1938, ficar presa e condenada aos cinco
anos de trabalhos forçados. Em 3 de fevereiro de 1940 o meu transporte chegou a
cidade de Brest-Litovsky, até a linha de demarcação entre a Polónia, ocupada
pela União Soviética e Alemanha. O oficial do NKVD com um grupo de soldados nos
levou até a ponte ferroviária sobre o rio Bug. Nós vimos as pessoas andando na
nossa direção com os fardamentos da SS. O oficial da SS e o seu colega de NKVD cumprimentaram-se calorosamente. O oficial soviético fez a conferencia dos
nomes e ordenou nós a atravessar a ponte.
Então
eu ouvi vozes excitadas atrás e vi três homens do nosso grupo pedirem o oficial
do NKVD para não os mandar atravessar a ponte. Um deles, chamado Bloch, até
1933 era o editor do jornal comunista alemão. Para ele, o outro lado da ponte
significava a morte certa. O mesmo destino era de esperar para um jovem trabalhador
alemão que foi condenado à revelia à morte pela Gestapo. Todos os três foram
violentamente arrastados sobre a ponte. Então veio o pessoal da Gestapo e
assumiu o trabalho do NKVD de Estaline.
...Após
seis meses de prisão, Gestapo transferiu Buber-Neumann no campo de concentração
feminino de Ravensbrück, da onde ela foi liberada em abril de 1945. Uma vez
livre, caminhou para oeste – bem longe das tropas soviéticas que avançavam.
Longe daqueles que, de facto, a colocaram no campo de concentração nazi.
Buber-Neumann
viveu até quase 89 anos. Ela escreveu vários livros e em 1949 testemunhou em Paris no
processo
Kravchenko em apoio ao “não retornado” soviético, Victor Kravchenko, acusado
pelos comunistas franceses de “fabricação” de informação sobre os campos de concentração
soviéticos. Buber-Neumann se tornaria a “anticomunista científica”. No seu
livro “Die Flamme erloschene: Schicksale meiner Zeit” (A chama extingue-se: o destino
de meu tempo), publicado em 1981, ela provará conclusivamente que o comunismo e
o nazismo são a mesma coisa.
*
* *
O
relato da entrega pela URSS dos comunistas alemães e austríacos à Gestapo na
cidade de Brest-Litovsky, também é contado no livro “Ravensbruck” da
antropóloga francesa Germaine Tillion,
ativista da resistência antinazi, prisioneira em Ravensbrück e “um grande amor
da nação francesa”.
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Um
outro caso conhecido é do físico Fritz Houtermans,
membro do PC alemão desde os meados de 1920 e emigrante na URSS desde 1935. Em dezembro
de 1937 foi preso pelo NKVD, na então capital ucraniana, Kharkiv, submetido
às torturas, confessando ser “trotskista” e “espião alemão”. Após a sua entrega à Gestapo em maio de 1940, passou cerca de um ano na cadeia de Berlim. Depois foi
libertado e trabalhou no programa nuclear alemão. Em 1951, sob pseudónimo de
Beck, F. e em co-autoria com Godin, W (Konstantin Shteppa),
publicou o livro - denúncia do regime soviético e das repressões comunistas «Russian
Purge and the Extraction of Confession» (Purga russa e a extração da confissão).
Morreu na Suíça em 1966, considerando-se anticomunista, escreve o blogueiro Grzegorz-b.
***
É
de notar que Fritz Houtermans emigrou à URSS para trabalhar na Ucrânia
Soviética ao convite do Aleksander Weissberg-Cybulski
(1901-1964),
brilhante físico austríaco de origem polaca judia e membro do PC da Áustria.
Preso pelo NKVD em 1 de março de 1937 ele passou três anos nas cadeias
soviéticas de Kharkiv, Kyiv e Moscovo. No dia 5 de janeiro foi entregue pela
NKVD à Gestapo, sobreviveu a II GM, em 1948 fugiu da Polónia comunista a Suécia
e morreu na França,
Em
1951, ele publicou o livro sobre as repressões comunistas e sobre os métodos do
OGPU-NKVD, usados durante o Grande Terror (1936-1938), chamado “Conspiracy of
Silence”, reeditado nos EUA com o título “The Accused” e na Alemanha «Hexensabbat.
Russland im Schmelzetiegel der Sauberungen» (Covém de bruxas. Rússia no cadinho
dos expurgos). O livro também foi publicado na França, Checoslováquia, Polónia
(1990) e Ucrânia (2010).
1 comentário:
Essas informações são verdadeira explosão de luz, ao negrume das inversões históricas, contadas sobretudo, por militantes esquerdistas em sala de aula.
O fato é que nazismo+comunismo são gêmeos siameses.
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