A reflexão pública do
blogueiro ucraniano do leste da Ucrânia sobre a cruzada em “defesa” dos
falantes da língua russa, anunciada por uma parte mais radical do Partido das Regiões.
Durante o recente encontro
com a deputada do Partido das Regiões, Yelena Bondarenko, em que esteve presente
na qualidade do jornalista, convenci-me do que o nosso povo será mais uma vez “puxado
pela língua”, nas vésperas das eleições legislativas.
Quando a deputada, sem
mais nem menos, começou a falar sobre o “desalojamento da população russófona
da Ucrânia”, eu compreendi que Regiões não terão nenhum programa económico inteligível
e em vez deste, nos espera a palhaçada do costume.
Quando a fotografia do
Vadim Kolesnichenko de camisa
rota na tribuna do Parlamento ucraniano correu a imprensa, eu soube com a surpresa
que este homem arriscou a sua saúde por minha causa. Meteu a cabeça aos socos,
estragou as roupas caras pagas com o dinheirinho modesto do deputado, e tudo
isso, defendendo os meus interesses. Pelo menos ele dizia que sim.
Pois sou eu, o tal
morador russófono de Donbass,
com as raízes étnicas russas, cujos direitos são violados pelos “fascistas”.
Sou o tal descendente do veterano do exército soviético, ferido nos combates da
II G.M., que na opinião da Yelena Bondarenko é desalojado da Ucrânia pelos agentes
da “ucrainização rastejante”. São os meus avôs “que combateram”, logo dois,
como deve ser. Significa que é por mim que os deputados estão prontos à partir
os seus maxilares de porcelana.
Por isso, na pressa de
evitar qualquer derramamento de sangue futuro, danos materiais e possíveis
vítimas entre os deputados, eu me quero dirigir aos defensores da língua russa e
os pedir um pequeno favor.
Senhores, camaradas, peço
vos, não há necessidade de me defender.
Eu, russófono até as
tantas, morador da Ucrânia do Leste, liberto vos dessa missão gloriosa, parem.
Vos sois mal informados, sois equivocados. Palavra de honra, ninguém me proíbe de
falar russo. Eu não sou espião, nem o desertor da Galiza. Sou o maior natural
de Donetsk, do que eu próprio gostaria de ser. Em Donbass nasceram os meus avôs
e as minhas avós, na minha família nunca ninguém falava ucraniano, mas eu quero
lá mandar as vossas iniciativas linguísticas cá para um sítio, pois vocês são
vigaristas e mentirosos.
Eu não preciso a vossa
defesa, pois o maior mal da Ucrânia, do qual eu gostaria de me defender, são
vocês próprios. A luta contra a ucrainização em Donetsk, onde é impossível
encontrar um letreiro em ucraniano, onde a língua ucraniana nas ruas é usada
menos do que árabe, pode ser conduzida ou pelos cretinos absolutos ou pelos paranoicos
irremediáveis. De uns e de outros, na minha convicção profunda, é necessário
manter a distância. E muito menos, nem uns, nem outros, não teriam o meu aval
para me defender no parlamento, por isso vos peço, não defender mais os meus
direitos linguísticos.
Juro, ninguém me oprime
e não desaloja da Ucrânia. Sem problemas eu compreendo a língua ucraniana, ao
mesmo tempo tenho o acesso livre à literatura, música e produção vídeo em
língua russa. Por vezes, tenho a vergonha do meu país, mas isso nada tem a ver com
as línguas.
Passo a vergonha,
quando leio na imprensa estrangeira sobe a corrupção e estupidez dos burocratas
ucranianos. Passo a vergonha quando vejo na TV o presidente que cumpriu dois
termos prisionais. Passo a vergonha quando vejo nos jornais a cara pacóvia do
Vadim Kolesnichenko. Me incomoda a qualidade vergonhosa dos serviços nas
instituições estatais, a inflação e a miséria de infraestrutura das cidades
ucranianas. Fico bastante incomodado com a herança soviética nos nomes das
ruas, estão fora da moda, e eu não quero ver este lixo diariamente, pela mesma
razão do que vocês não vestem os casacos de tweed. E se vocês ficam tão
preocupados com o meu conforto, façam alguma coisa em relação a tudo isso, mas deixem
em paz as questões linguísticas.
Acreditem, eu, cidadão
ucraniano falante da língua russa, absolutamente não estou preocupado com a existência
na Ucrânia da língua ucraniana. Eu, cidadão da Ucrânia falante da língua russa,
estou muito preocupado com as atividades provocatórias do Partido das Regiões. Eu
vos peço, vão para o diabo com as vossas camisas rasgadas. Nos, aqui em Donbass,
podemos mugir na língua das vacas, apenas para que vocês desaparecessem do
parlamento e nunca mais nos recordassem da vossa existência.
Fonte
Bónus
Os deputados do Partido
das Regiões que representam as regiões ocidentais da Ucrânia estão prontos a
fazer a démarche durante a votação do projeto da lei linguístico.
Como explicou o deputado Petró Pisarchuk, ele
pessoalmente não votará pela aprovação da lei. “Considero a aprovação desta lei
como um erro político e por isso não a votarei favoravelmente”, disse
Pisarchuk, que planeia concorrer nas próximas legislativas numa circunscrição
majoritária (listas não partidárias), na região de Lviv, escreve Comments.ua