A história kafkiana do fecho da única biblioteca pública ucraniana em toda a Federação Russa.
por: Elena Marinicheva (Moscovo)
Ao saber que a biblioteca (ucraniana) está sob a investigação criminal, liguei para os meus velhos conhecidos Natália Sharina (directora) e Vitali Krikunenko (vice – director) e fui ter com eles. "Elena Vladislávovna, os telefones estão sob escuta, venha para cá, aqui falaremos" – disse-me Natália.
Informo. A biblioteca não está encerrada, mas temporariamente fechada para os leitores (assim foi decidido pelos funcionários em consulta com o Departamento de Cultura).
Ensinada pela directora, eu toquei a campainha e bati na janela. “Eles foram fechados – com autoridade me disse um homem sólido, que estava de passagem, e acrescentou severamente – eles armazenavam e distribuíam a literatura extremista. O rádio acaba de informar.” “É, pá!” – disse eu (espero que todos entenderam por que eu não expliquei ao senhor que não considero que a literatura ucraniana como extremista).
Vocês provavelmente pensaram que a questão está no “nacionalismo ucraniano”, do qual, alegadamente é acusada a biblioteca? Absolutamente não. A razão da primeira visita da polícia era a informação de que os “desconhecidos distribuem na biblioteca os panfletos e livros com títulos que exortam a matança dos chechenos, dagestães e outros não russos” (daqui).
É preciso conhecer os funcionários da biblioteca (mulheres) e um conjunto dos seus leitores (sofisticadas mulheres maduras, bibliófilos e assim por diante) para imaginar todo o delírio dessas afirmações! Apesar disso, a busca, na presença dos sete (!) polícias matulões e duas testemunhas ocorreu no dia 21 de Dezembro.
Na verdade, ninguém procurou pelos “panfletos contra os dagestães”. Os policiais digitaram no catálogo informático as palavras: “UPA”, “nacionalismo”, “Exército Insurgente” e exigiram que lhes sejam entregues os livros onde aparecem estas palavras. Na presença das testemunhas os livros foram embalados e levado para fora. Os quais? Por exemplo, dois exemplares do livro do Abdurakhman Avtorkhanov: “Império de Kremlin: imperialismo soviético”. Engraçado o que aconteceu com o livro do Stetsko “Tvory” (“As Obras” em ucraniano). “Tvory”? Então isso significa “bestas”? Isso ele (diz) sobre nós? – Gritou com raiva o bufo. Claro que “As Obras” também foram apreendidas.
Entre os dias 21 e 25 (de Dezembro) os funcionários corriam de um lado para outro na procura dos advogados, pediam a ajuda no Ministério da Cultura (lá não sabiam de nada, não podiam explicar nada e até hoje não podem), no Conselho Social (que é dirigido pelo poetisa moscovita Larissa Vasilieva – também não sabe de nada e não consegue explicar o sucedido).
No dia 25 os “ricos convidados” voltaram. Desta vez o mandato de busca dizia (citado pela Natália Sharina): “a busca é realizada por causa da inadmissibilidade de ter nas bibliotecas a literatura cientológica.” Acho que não há necessidade de especificar, que ninguém se lembrou do L. Ron Hubbard durante as buscas. Desta vez os bufes levaram os discos rígidos de computadores e os formulários de todos os leitores.
Explico. Na Rússia existe a “Lista federal de materiais extremistas”. A Lista é compilada pelo Ministério da Justiça com base em decisões dos tribunais (e apenas desta maneira!). É claro que nada desta lista se encontrava na biblioteca (o Embaixador da Ucrânia na Rússia Volodymyr Yelchenko disse recentemente: “Não existe nenhuma razão para dizer que na Biblioteca Ucraniana de Moscovo existiam os livros que fazem parte da lista de literatura extremista”).
E será caricato imaginar o contrário! Quer a directora (Sharina), quer o adjunto (Krikunenko) são funcionários muito cuidadosos. Desde a expulsão do (fundador da Biblioteca e vice – chefe da União dos Ucranianos da Rússia) Yuri Kononenko, na biblioteca reina o silêncio: nenhumas exposições sobre Holodomor e outros tópicos “duvidosos.”
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por: Elena Marinicheva (Moscovo)
Ao saber que a biblioteca (ucraniana) está sob a investigação criminal, liguei para os meus velhos conhecidos Natália Sharina (directora) e Vitali Krikunenko (vice – director) e fui ter com eles. "Elena Vladislávovna, os telefones estão sob escuta, venha para cá, aqui falaremos" – disse-me Natália.
Informo. A biblioteca não está encerrada, mas temporariamente fechada para os leitores (assim foi decidido pelos funcionários em consulta com o Departamento de Cultura).
Ensinada pela directora, eu toquei a campainha e bati na janela. “Eles foram fechados – com autoridade me disse um homem sólido, que estava de passagem, e acrescentou severamente – eles armazenavam e distribuíam a literatura extremista. O rádio acaba de informar.” “É, pá!” – disse eu (espero que todos entenderam por que eu não expliquei ao senhor que não considero que a literatura ucraniana como extremista).
Vocês provavelmente pensaram que a questão está no “nacionalismo ucraniano”, do qual, alegadamente é acusada a biblioteca? Absolutamente não. A razão da primeira visita da polícia era a informação de que os “desconhecidos distribuem na biblioteca os panfletos e livros com títulos que exortam a matança dos chechenos, dagestães e outros não russos” (daqui).
É preciso conhecer os funcionários da biblioteca (mulheres) e um conjunto dos seus leitores (sofisticadas mulheres maduras, bibliófilos e assim por diante) para imaginar todo o delírio dessas afirmações! Apesar disso, a busca, na presença dos sete (!) polícias matulões e duas testemunhas ocorreu no dia 21 de Dezembro.
Na verdade, ninguém procurou pelos “panfletos contra os dagestães”. Os policiais digitaram no catálogo informático as palavras: “UPA”, “nacionalismo”, “Exército Insurgente” e exigiram que lhes sejam entregues os livros onde aparecem estas palavras. Na presença das testemunhas os livros foram embalados e levado para fora. Os quais? Por exemplo, dois exemplares do livro do Abdurakhman Avtorkhanov: “Império de Kremlin: imperialismo soviético”. Engraçado o que aconteceu com o livro do Stetsko “Tvory” (“As Obras” em ucraniano). “Tvory”? Então isso significa “bestas”? Isso ele (diz) sobre nós? – Gritou com raiva o bufo. Claro que “As Obras” também foram apreendidas.
Entre os dias 21 e 25 (de Dezembro) os funcionários corriam de um lado para outro na procura dos advogados, pediam a ajuda no Ministério da Cultura (lá não sabiam de nada, não podiam explicar nada e até hoje não podem), no Conselho Social (que é dirigido pelo poetisa moscovita Larissa Vasilieva – também não sabe de nada e não consegue explicar o sucedido).
No dia 25 os “ricos convidados” voltaram. Desta vez o mandato de busca dizia (citado pela Natália Sharina): “a busca é realizada por causa da inadmissibilidade de ter nas bibliotecas a literatura cientológica.” Acho que não há necessidade de especificar, que ninguém se lembrou do L. Ron Hubbard durante as buscas. Desta vez os bufes levaram os discos rígidos de computadores e os formulários de todos os leitores.
Explico. Na Rússia existe a “Lista federal de materiais extremistas”. A Lista é compilada pelo Ministério da Justiça com base em decisões dos tribunais (e apenas desta maneira!). É claro que nada desta lista se encontrava na biblioteca (o Embaixador da Ucrânia na Rússia Volodymyr Yelchenko disse recentemente: “Não existe nenhuma razão para dizer que na Biblioteca Ucraniana de Moscovo existiam os livros que fazem parte da lista de literatura extremista”).
E será caricato imaginar o contrário! Quer a directora (Sharina), quer o adjunto (Krikunenko) são funcionários muito cuidadosos. Desde a expulsão do (fundador da Biblioteca e vice – chefe da União dos Ucranianos da Rússia) Yuri Kononenko, na biblioteca reina o silêncio: nenhumas exposições sobre Holodomor e outros tópicos “duvidosos.”
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Podemos rir? Não é possível por enquanto. Os funcionários da biblioteca são interrogados. É “cozido” um caso criminal… Num instante podem chegar aos leitores. Com sorte, não conseguirão. Com sorte, o senso comum triunfará. Pois deverá ele triunfar em algum lado, em algum caso, pelo menos isso?!
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