domingo, maio 13, 2012

Porque eu odeio a União Soviética


URSS é a cadeia dos povos!

O mentor da reforma económica georgiana, Kakha Bendukidze, conta essa história, pedindo as desculpas aos leitores mais jovens, “que podem achar que a estória, ou pelo menos uma parte dela é um absurdo, mas naquela época a vida era mesmo assim”.

Em 1981, após a pós-graduação eu comecei trabalhar em um lugar a 120 km de Moscovo, na pequena cidade de Pushino, especialmente construída para os cientistas, num dos institutos da Academia de Ciências da URSS.

Trabalhava muito, durante 14 horas por dia. O meu tutor estava contente com o meu trabalho, eu também, parcialmente. Chegava ao serviço após 11 horas, mas ficava até mais tarde a noite, até duas – três de manha.

Depois morreu Brejnev e chegou Andropov.

Andropov começou impor a ordem, começou lutar pela disciplina no Instituto, do tipo que toda a gente deveria chegar às 8h00 de manha. Na primeira vez eu cheguei na hora certa e adormeci no laboratório, no segundo dia cheguei tarde e não me deixaram a entrar, no terceiro dia cheguei quando as pessoas já iam almoçar. Foi ter com o secretário do partido comunista e disse: eu não consigo trabalhar nas manhas, se vocês não gostam, ou acham que eu trabalho pouco, podem dizer, eu vou me embora ou então, me deixem em paz.

Ele pensou um pouco e disse, venha quando quiseres. Provavelmente entendeu, que me castigando, não ia conseguir nada, pois aquilo que eu fazia era importante ao Instituto e talvez por isso não me despediram, pois mesmo antes, eu não tinha um carácter calmo e a língua curta, nas reuniões sempre fazia umas perguntas, não concordava com os chefes e discutia.

Mas ele memorizou a situação.

Um ano depois, nos visitou professor Iain Macintyre, famoso endocrinólogo molecular. Após umas conversas, me propôs trabalhar com ele por alguns anos.

Eu estava muito contente, isso me dava a possibilidade de trabalhar em um outro nível. Os EUA e a Inglaterra eram dois países mais importantes para os biólogos da minha geração. Eu perguntei o meu chefe o que ele achava. Ele disse, sei e apoio, mas tu conheces as regras? As regras eram: antes de trabalhar no Ocidente, se deveria trabalhar num país dito socialista. O meu chefe pediu o amigo dele e me convidaram para trabalhar na Hungria durante um ano.

Para visitar Hungria era necessária a característica do comité (local) do partido comunista. Depois do comité do bairro. Eu cheguei na reunião do comité local do partido, que deveria passar uma caraterística tipificada. Lá deveria estar escrito: politicamente competente, moralmente equilibrado, na vida familiar comedido.

Começaram discutir a minha pessoa, recordaram tudo, e perguntas nas reuniões, e discussões e atrasos. Mas não conseguem situar nada naquela tríade.
      
Na linguagem da burocracia partidária, “politicamente competente” significava que a pessoa leu Lenine e outros canibais e lia os jornais – a quantidade do lixo que eu tinha e tenho na cabeça … eu lhes poderia explicar.

“Moralmente equilibrado”: os escândalos sexuais geralmente se referiam aos casados, não pegava.

“Comedido na vida familiar”: era sobre as bebedeiras, mas eu não bebia na altura.

O que fazer? Uma pessoa teve a ideia, vamos escrever que, digamos, é temperamental. Eu disparei: que bobagem é essa, toda a gente possui algum tipo de temperamento, então podem escrever sobre o meu tipo do temperamento: flegmático, melancólico, sanguíneo ou colérico, ou me descrevem nos termos extravertido – introvertido…

Em algum momento achei que tudo se compôs, começou a discussão. Na época eram populares os livros do Vladimir Levi. Eles o leram e cada um mostrava o seu conhecimento psicológico. Mas eu defendia a minha dama

Após um barulho de meia hora, o mais velho e experiente deles disse: gente, vocês não estão ver, ele nos enlouquece, estamos discutir o que, vamos escrever aquilo que queríamos e fim nisso. Assim escreveram:

Politicamente competente, moralmente equilibrado, na vida familiar comedido. Temperamental.

Ou seja, mesmo assim, não era aquilo que foi necessário. Não podia ir para Hungria, sobre a viagem para Inglaterra nem deveria sonhar…

Um ou dois anos depois, eu estava caminhando no Inverno, numa rua congelada. Do clube ouvi a canção. Eu gostei de sons e parei para escutar. Canção acabava assim:
      
Goodbye, America, ooo,
Onde eu nunca estarei.
Será que escutarei canção,
Que para sempre eu recordarei.

E de repente, eu vi com muita clareza que nunca conseguirei sair da União Soviética, e que alguém escreveu uma canção sobre isso, que “Goodbye, America, ooo, Onde eu nunca estarei...”

Depois eu soube que o grupo se chamava Nautilus Pompilius.

Nunca, de maneira nenhuma…

Naquele dia, eu irreversivelmente odiei a União Soviética…

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