Tal como alguns anos
atras, durante a Revolução Laranja, a Ucrânia está novamente no centro da
atenção da imprensa mundial. As perguntas dos jornalistas ocidentais são tipificadas:
estado de saúde da Yulia Tymoshenko, porque ela foi vítima da violência,
boicote do Euro-2012.
por: Vitali Portnikov
Um dos jornais
britânicos com uma certa perplexidade nota que Yanukovych, que gastou centenas
de milhões de dólares para a preparação do campeonato e reconstrução do estádio
Olímpico em Kyiv, onde será realizado o final do campeonato, se arrisca em
ficar sozinho na tribuna VIP. Os políticos e jornalistas ocidentais
absolutamente honestamente não entendem: porque a situação com Tymoshenko foi
levada à violência, ao absurdo, exatamente nas vésperas do campeonato e da Cimeira
dos países da Europa Central, preparada em Kyiv como um dos acontecimentos internacionais
mais importantes do ano. Porque o poder que se deveria preocupar com o
prestígio internacional, pois isso significa o turismo, investimento, dinheiro,
preferiu estreitar a imagem da Ucrânia até a célula prisional na colônia de Kachanivska?
Mas existe a lógica
nestes acontecimentos, é a lógica do próprio processo das transformações
ucranianas. Aqueles que acham que após a subida ao poder, Viktor Yanukovych tenta
transformar a Ucrânia em uma espécie da Rússia do Putin ou da Belarus do
Lukashenka e por isso tão decididamente “limpa” os adversários, estão errados.
Yanukovych não é Lukashenka ou Putin, tal como a Ucrânia não é Rússia ou
Belarus.
Lukashenka começou
criar o seu regime à partir de zero, agora, após as sanções da Europa sabemos
com surpresa que no país existem uns certos “financeiros presidenciais”, quase
oligarcas, mas controlados em absoluto pelo Lukashenka. Belarus é um país do
autoritarismo da nomenclatura, baseado na tradição soviética, e este estado só é
possível criar apenas usufruindo da mentalidade e da economia soviéticas. Putin
chegou ao poder no país onde as posições dos oligarcas eram fortes, e por isso
eles, juntamente com os burocratas próximos, ditavam as regras do jogo. Estes
oligarcas não desapareceram, para se entender com eles e ocupar o seu lugar no
poder, Putin adotou uma série de passos e medidas que determinaram a face da
Rússia como autocracia da oligarquia e da nomenclatura. Assim era a Ucrânia durante
a cadência do Leonid Kuchma e maioritariamente continuava assim sob Viktor
Yuschenko.
Yanukovych tenta
construir no país uma novidade para o espaço pós-soviético, o regime já aprovado
na província de Donetsk, o regime da simbiose entre a criminalidade organizada
e a nomenclatura. Neste regime podem existir os oligarcas e os burocratas, mas
as regras do jogo são diferentes: você já nunca conseguirá entender onde começa
a criminalidade e acaba o estado. A fronteira que é possível sentir na Rússia e
na Belarus, não foi simplesmente ultrapassada, foi aniquilada. Neste sentido,
Ucrânia do Yanukovych é um estado absolutamente novo no espaço pós-soviético e
por isso ninguém compreende as suas regras do jogo.
Porque estas regras não
existem. Existe a vontade da primeira pessoa, que não se baseia nos cálculos,
mas é dominada pelas vontades instantâneas, emoções e visões da vida. Essa
vontade pode ser influenciada pelo velho amigo, filho, anacoreta da Lavra ou do
mosteiro de Afone (dois últimos até mais do que o amigo e filho). Mas essa
influência nunca será baseada nos pensamentos sobre o futuro e nunca será politicamente
viável. Mais, mesmo o dia de hoje será definido não pela realidade, mas pela
visão da realidade. É por isso que quaisquer ações do poder são monstruosamente
deformados e caricatos.
Não faz o sentido de procurar
as razões da transferência forçada da Yulia Tymoshenko da cadeia para hospital
e depois de volta para a prisão – essa foi a vontade superior. Não faz o
sentido de procurar as razões da prisão e da condenação da Tymoshenko, foi a
vontade. Não faz o sentido de procurar a racionalidade na vontade de encarcerar
Tymoshenko exatamente pelos acordos do gás, o que ofendeu Putin, foi a vontade.
Não faz o sentido de procurar a lógica em todos os subsequentes passos do poder
ucraniano, não a haverá.
A lógica dos processos está
na sua falta da lógica. O estado criminal e da nomenclatura não se pode desenvolver
de uma maneira diferente, pois o poder vive pelas suas próprias regras do jogo
e não pela lógica política ou social. Estas regras negam o racional, pois ao contrário
não garantiriam a sobrevivência dos titulares. Estas regras negam a moralidade,
senão se deveria sofrer com a consciência, algo que eles não possuem. Essas
regras negam a estratégia, pois morra você hoje, mas eu amanha.
A Ucrânia hoje é um
local privilegiado para os estudiosos do autoritarismo, que tomou as formas
absolutamente especiais de opereta grotesca, parece que descritas nas velhas
comédias soviéticas, do tipo “Casamento em Malinovka”. Só que os cidadãos do
país não estão ver a piada nisso, pois uma coisa é assistir a opereta na TV e outra
coisa se transformar em convidados e serventes da mesma. Ouvir os discursos do
chefão, pagar as propinas ao seu lugar-tenente e
esperar que o bandido que se tornou o chefe das polícias te defenderá dos
outros bandidos. Nos já aprendemos que a tragédia sempre se repete em forma de
farsa, agora sabemos ainda que farsa sempre se repete em forma da tragédia…
Fonte:
Ver “Casamento em Malinovka”, 92 min
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