quinta-feira, maio 31, 2012

A “cruzada” linguística dos “bilinguistas”


A reflexão pública do blogueiro ucraniano do leste da Ucrânia sobre a cruzada em “defesa” dos falantes da língua russa, anunciada por uma parte mais radical do Partido das Regiões.

Durante o recente encontro com a deputada do Partido das Regiões, Yelena Bondarenko, em que esteve presente na qualidade do jornalista, convenci-me do que o nosso povo será mais uma vez “puxado pela língua”, nas vésperas das eleições legislativas.

Quando a deputada, sem mais nem menos, começou a falar sobre o “desalojamento da população russófona da Ucrânia”, eu compreendi que Regiões não terão nenhum programa económico inteligível e em vez deste, nos espera a palhaçada do costume.

Quando a fotografia do Vadim Kolesnichenko de camisa rota na tribuna do Parlamento ucraniano correu a imprensa, eu soube com a surpresa que este homem arriscou a sua saúde por minha causa. Meteu a cabeça aos socos, estragou as roupas caras pagas com o dinheirinho modesto do deputado, e tudo isso, defendendo os meus interesses. Pelo menos ele dizia que sim.

Pois sou eu, o tal morador russófono de Donbass, com as raízes étnicas russas, cujos direitos são violados pelos “fascistas”. Sou o tal descendente do veterano do exército soviético, ferido nos combates da II G.M., que na opinião da Yelena Bondarenko é desalojado da Ucrânia pelos agentes da “ucrainização rastejante”. São os meus avôs “que combateram”, logo dois, como deve ser. Significa que é por mim que os deputados estão prontos à partir os seus maxilares de porcelana.

Por isso, na pressa de evitar qualquer derramamento de sangue futuro, danos materiais e possíveis vítimas entre os deputados, eu me quero dirigir aos defensores da língua russa e os pedir um pequeno favor.

Senhores, camaradas, peço vos, não há necessidade de me defender.

Eu, russófono até as tantas, morador da Ucrânia do Leste, liberto vos dessa missão gloriosa, parem. Vos sois mal informados, sois equivocados. Palavra de honra, ninguém me proíbe de falar russo. Eu não sou espião, nem o desertor da Galiza. Sou o maior natural de Donetsk, do que eu próprio gostaria de ser. Em Donbass nasceram os meus avôs e as minhas avós, na minha família nunca ninguém falava ucraniano, mas eu quero lá mandar as vossas iniciativas linguísticas cá para um sítio, pois vocês são vigaristas e mentirosos.

Eu não preciso a vossa defesa, pois o maior mal da Ucrânia, do qual eu gostaria de me defender, são vocês próprios. A luta contra a ucrainização em Donetsk, onde é impossível encontrar um letreiro em ucraniano, onde a língua ucraniana nas ruas é usada menos do que árabe, pode ser conduzida ou pelos cretinos absolutos ou pelos paranoicos irremediáveis. De uns e de outros, na minha convicção profunda, é necessário manter a distância. E muito menos, nem uns, nem outros, não teriam o meu aval para me defender no parlamento, por isso vos peço, não defender mais os meus direitos linguísticos.

Juro, ninguém me oprime e não desaloja da Ucrânia. Sem problemas eu compreendo a língua ucraniana, ao mesmo tempo tenho o acesso livre à literatura, música e produção vídeo em língua russa. Por vezes, tenho a vergonha do meu país, mas isso nada tem a ver com as línguas.

Passo a vergonha, quando leio na imprensa estrangeira sobe a corrupção e estupidez dos burocratas ucranianos. Passo a vergonha quando vejo na TV o presidente que cumpriu dois termos prisionais. Passo a vergonha quando vejo nos jornais a cara pacóvia do Vadim Kolesnichenko. Me incomoda a qualidade vergonhosa dos serviços nas instituições estatais, a inflação e a miséria de infraestrutura das cidades ucranianas. Fico bastante incomodado com a herança soviética nos nomes das ruas, estão fora da moda, e eu não quero ver este lixo diariamente, pela mesma razão do que vocês não vestem os casacos de tweed. E se vocês ficam tão preocupados com o meu conforto, façam alguma coisa em relação a tudo isso, mas deixem em paz as questões linguísticas.

Acreditem, eu, cidadão ucraniano falante da língua russa, absolutamente não estou preocupado com a existência na Ucrânia da língua ucraniana. Eu, cidadão da Ucrânia falante da língua russa, estou muito preocupado com as atividades provocatórias do Partido das Regiões. Eu vos peço, vão para o diabo com as vossas camisas rasgadas. Nos, aqui em Donbass, podemos mugir na língua das vacas, apenas para que vocês desaparecessem do parlamento e nunca mais nos recordassem da vossa existência.

Fonte

Bónus

Os deputados do Partido das Regiões que representam as regiões ocidentais da Ucrânia estão prontos a fazer a démarche durante a votação do projeto da lei linguístico.

Como explicou o deputado Petró Pisarchuk, ele pessoalmente não votará pela aprovação da lei. “Considero a aprovação desta lei como um erro político e por isso não a votarei favoravelmente”, disse Pisarchuk, que planeia concorrer nas próximas legislativas numa circunscrição majoritária (listas não partidárias), na região de Lviv, escreve Comments.ua

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