O
surgimento do sindicato polaco “Solidarność” (Solidariedade) faz parte de uma
cadeia de eventos históricos, que, sem exagero, representaram a viragem da
história no Leste Europeu e talvez no mundo, derrotando o comunismo na Polónia.
“Solidarność”
surgiu em agosto-setembro de 1980, no estaleiro de Gdańsk (que naquela época
era chamado de “Estaleiro “Lenine”) sob a liderança de Lech Wałęsa, na
altura um simples eletricista. A “Solidarność” surgiu em resposta de uma
oposição de longa data entre a sociedade polaca e o governo comunista e a razão
formal foi a luta pelos direitos dos trabalhadores que perderam os seus
empregos – pelas “actividades de oposição” foi despedida a operadora do
guindaste e ativista do sindicato de origem ucraniana, Anna Walentynowicz.
Os operários também protestavam contra a deterioração das condições de vida – nas
vésperas dos protestos na cantina do estaleiro subiram, vertiginosamente os
preços de refeições.
Muito
provavelmente os operários de Gdańsk, que superaram o medo e saíram aos
protestos em 1980, não faziam a mínima ideia do que a greve da sua empresa se
transformará em um grande movimento social, e se espalhará, consequentemente ao
resto da Polónia, e será um exemplo para os cidadãos de outros países da Europa
do Leste e da URSS. Isso se tornaria claro muito mais tarde, mas no outono de
1980 as coisas poderiam acabar com as mortes dos manifestantes – como já aconteceu
em Gdańsk em 1970.
Desde
a criação da Polónia comunista em 1945, o regime comunista tinha encontrado uma
resistência feroz da sociedade civil polaca. Contra os comunistas se iniciou uma
luta armada, que foi totalmente dominada pelo novo “poder popular” apenas em 1957,
quando, nos arredores de Łomża foi cercada e destruída a última unidade da
guerrilha nacionalista (ex-combatentes da Armia Krajowa / Exército Nacional).
Para
permanecer no poder, o regime comunista usava toques hábeis do nacionalismo
polaco, alegando que apenas sob a liderança dos comunistas, a Polónia retomou ao
seu controlo dos territórios do “grande Reich” alemão, além de que a propaganda
tradicionalmente tentava contar com a “classe operária”. O resultado era
bastante fraco, os trabalhadores polacos eram portadores do constante espírito
patriótico e sentiam a forte influência da Igreja Católica nacional – que
claramente não era amiga dos comunistas. Por sua vez, a propaganda comunista
teve dificuldades de classificar os operários de “vagabundos e artistas,
executando os planos americanos”.
A
luta armada anti-comunista terminou em 1957, mas depois disso (e às vezes
simultaneamente), Polónia viveu uma onda de greves – no verão de 1956 houve
protestos em massa em Poznań, nos anos 1960 decorriam as manif dos estudantes,
e no final de 1970 protestos chegaram ao Gdańsk...
02.
O famoso estaleiro de Gdansk está localizado perto da estação ferroviária da
cidade, chamada de “Gdańsk Principal” e hoje tem essa aparência:
03. Próximo da estação pode ser visto um arranha-céus de 90 metros de altura, que na Polónia comunista abrigava o Instituto de Pesquisa de Construção Naval e o Centro de Engenharia Naval. Os polacos chamavam este edifício de “Zelenjak” por causa dos seus painéis exteriores de cor verde.
04.
Essa é aparência da estação e do Instituto de Pesquisa de Construção Naval à
partir das alturas, ao seu lado estão situados os bairros residenciais comuns
de Gdańsk. Antigamente o murro em torno do estaleiro de Gdańsk ia até ao “Zelenjak”,
e o próprio edifício pertencia às empresas ligadas ao estaleiro.
05.
Agora do antigo murro ficou apenas um fragmento de uma parede de tijolos,
deixada como um sinal de memória em homenagem ao início do movimento de “Solidarność”.
Uma pequena parte do caminho entre “Zelenjak” e entrada ao estaleiro se chama
de “Caminho para liberdade”.
06.
E aqui está a entrada ao famoso estaleiro – agora todo o espaço circundante é transformado
em um museu ao ar livre. Não seria um exagero dizer que aqui, no final do século
XX, se decidia o destino da Polónia e muitos outros países da Europa do Leste:
07.
Fora da Polónia poucos se lembram disso, mas protestos Gdańsk, em 1980, não
foram os únicos nesta praça, pela primeira vez, os trabalhadores de Gdańsk saíram
aos protestos em massa em dezembro de 1970 – os trabalhadores estavam
insatisfeitos com o aumento dos preços de alimentos, bens manufaturados e materiais
de construção na ordem dos 30%. Os representantes dos manifestantes conseguiram
chegar a um certo acordo com as autoridades locais, mas a alta liderança do Partido
Operário Unificado Polaco (PZRP) apostou na supressão violenta de protestos – usando
as forças militares e paramilitares (ZOMO, a unidade treinada
especificamente na supressão de protestos sociais), os carrascos comunistas
abriram fogo, matando 42 operários...
Agora
em memória daqueles trágicos acontecimentos na praça em frente da entrada ao
estaleiro foi erguido um monumento.
08.
Em cinco línguas do monumento estão escritas as palavras: “Monumento aos
trabalhadores caídos do estaleiro de Gdańsk, 1970. Aos caídos em sinal da
memória. Aos no poder em sinal de alerta que nenhum conflito social deve ser
resolvido pela força. Aos concidadãos em sinal de esperança de que o mal pode
ser derrotado”.
O
monumento foi construído antes do fim do comunismo polaco – a criação de um
monumento memorial foi uma das demandas dos trabalhadores que vieram aos
protestos em 1980.
09. Ao lado do memorial foi erguido um monumento de 42 metros de altura, exatamente de acordo com o número de operários mortos. O monumento tem a forma de três crucifixos que estão ligados por três âncoras.
10.
Essa é aparência da praça onde ocorreram todos os protestos. No centro agora está
erguido um monumento, e ligeiramente à sua direita fica situada a entrada
principal do lendário estaleiro de Gdańsk.
11.
Aqui está uma foto do arquivo que pode ser vista na Internet, alguém fotografou
de cima o protesto de 1980, quando na praça se reuniram cerca de 17.000
pessoas. Na foto pode se ver a entrada ao estaleiro, a esquerda da qual existem
alguns edifícios administrativos baixinhos.
12.
A entrada histórica foi deixada inalterada – aqui ficaram as velhas portas e
interiores da Polónia comunista.
13.
As janelinhas serviam para verificar os crachás de todos os trabalhadores que
entravam ao estaleiro:
14.
E aqui ficavam os guardas/zeladores:
15.
Os prédios administrativos, gravadas na imagem de 1980, agora não existem, no
seu lugar foi construído um grande e moderno museu do movimento “Solidarność”:
16.
Dentro, em várias salas os visitantes podem se familiarizar com a história do
movimento e com os principais marcos históricos da história polaca do final do
século XX.
17.
Das paredes aos visitantes olham os trabalhadores que protestam, há também um
monte de fotos antigas do Lech Wałęsa. Os polacos contam que os trabalhadores grevistas
tinham muito medo de irem aos protestos em 1980, ainda eram frescas as memórias
dos operários mortos em 1970. No dia 14 de agosto, no primeiro dia da greve, os
operários estavam se reunindo junto ao portão principal do estaleiro, mas o organizador
da greve, Lech Wałęsa, não vinha por algum motivo. Na multidão surgiram os rumores
de que ele foi preso, os manifestantes começaram a vacilar, quando cerca de 11
horas da manhã, o povo viu Wałęsa correndo desde a entrada, ele saltou por cima
de uma retro-escavadora e gritou ao diretor do estaleiro: “Você se lembra de mim?
Eu era seu empregado, você me despediu em 1976!”
Descobriu-se
que não deixavam Lech Wałęsa à entrar no território do estaleiro, e ele teve
que subir o muro. Quem sabe o que teria sido a história da Polónia, se Wałęsa não
conseguiria, então saltar/pular a cerca/muro.
19.
No centro de exposições podem se ver os itens que os polacos associam aos últimos
anos da Polónia comunista – o raríssimo papel higiénico e balança vermelha de feixe:
20. Vista ao museu das alturas. Se observar o telhado atentamente,
poderá ver que este abriga um pequeno parque verde:
Texto e fotos @Maxim Mirovich
Texto e fotos @Maxim Mirovich
1 comentário:
O seu artigo está bem escrito, pois era o desejo da sociedade polonesa, hungara, ucraniana, etc... de se verem livres de Moscou, porém, devemos fazer nota que Lech Walesa era um agente do Kremlin, e como tal, trabalhava para sabotar os católicos. Aconselho a leitura deste artigo:
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http://www.pliniocorreadeoliveira.info/Gesta_020211.htm
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