A 31 de dezembro de 1994, enquanto os russos ouviam o discurso de Ano Novo do presidente Yeltsin, começaram os combates em Grozny, durante os quais dezenas de milhares de pessoas foram
mortas, principalmente entre os civis que, ao que parecia, estavam a ser «libertados».
Foi nesses dias que se tornou claro: a blitzkrieg lançada por Moscovo/ou tinha-se transformado numa guerra prolongada. A 1ª guerra chetchena (1994-96). A primeira das grandes guerras
travadas pela rússia moderna. As semelhanças externas entre aquela “operação militar especial” e a atual invasão e guerra russa na Ucrânia são óbvias para qualquer
pessoa.
Para o início e contexto do conflito, veja a primeira parte do filme «Especial militar chechena» de Konstantin Goldenzweig no canal de YouTube de «Current Time. Doc»:
A história do Edimilson Maurício Santana, o «Cobra», o voluntário brasileiro que serve na infantaria de ataque nas Forças Armadas da Ucrânia e
que pretende ficar na Ucrânia até o fim da guerra.
Maurício Santana tem 27 anos, oito dos quais serviu como sargento no Brasil. Quando a invasão russa em grande escala começou, ele se juntou às FAU. Fê-lo apesar
do Brasil ter assumido uma posição neutra na guerra russo-ucraniana.
Mauricio foi transferido da 124ª Brigada para a Legião Internacional para combater como atacante. Ficou ferido nos combates nos arredores de Chasiv Yar, passando pelo tratamento
médico na região ucraniana de Bucovyna. Mais sobre o percurso de Maurício nesta guerra nas suas próprias palavras.
«Eu queria aproximar-me dos ucranianos»
Eu nasci e fui criado no Brasil. Quando decidi conectar a minha vida ao exército, tinha apenas 16 anos. Eu ainda era jovem na altura, mas o mundo militar fascinava-me verdadeiramente
e decidi que queria fazê-lo. Servi como sargento nas Forças Armadas Brasileiras durante oito anos. E decidi vir para a Ucrânia.
Eu sabia da guerra na Ucrânia mesmo antes da invasão em grande escala da Ucrânia pela rússia. Soube do conflito entre estes países vários anos antes
de se tornar generalizado. Então, assim que começou, foi notícia em todo o mundo, toda a gente sabia e falava sobre isso. Foi por isso que quis ajudar Ucrânia nesta guerra e tornar-me mais próximo
dela. No segundo lugar, quis experimentar como é uma guerra à sério. Nem pensei duas vezes, disse que ia ajudar e que faria tudo o que pudesse.
«A mamã ainda não sabe que estou aqui»
Tenho uma família muito numerosa — 16 irmãos e irmãs. No início não conseguiam compreender a minha escolha. Até hoje, não contei à
minha mãe a verdade de que estou aqui, na Ucrânia. Principalmente porque não lhes contei que estava ferido. Dedois contei aos seus irmãos e irmãs.
Com a mãe no Brasil Foto: Edmilson Maurício Santana
Alguns dos meus amigos disseram que eu era louco. Alguns perguntam: «Posso ir também?» Mas não recomendo isto a ninguém que tenha emprego e família.
A guerra é para aqueles que realmente a vivem, que têm ou querem ter experiência militar, ou que realmente compreendem o que é a guerra. Para aqueles que não têm planos nem perspectivas
para o futuro, porque amanhã mesmo pode morrer.
Muitas pessoas pensam que fui para a guerra porque era o meu sonho. Mas não, considero que é a minha profissão e sinto-me responsável por aquilo que faço.
Nunca pensei voltar para o Brasil e deixar tudo.
Contrato de três anos com as Forças Armadas da Ucrânia
Vim do Brasil para a Ucrânia num programa especial com os meus cinco amigos. Para tal, era necessário obter permissão do comando. Quando o recebi, comprei bilhetes para
a Polónia e de lá vim para a Ucrânia. Já passei por um exame médico e formação aqui. Assinei um contrato de três anos com as Forças Armadas da Ucrânia, mas
isso não significa que vou cumprir esse mandato e regressar. Estou aqui até a guerra acabar.
No início, servi na 124ª Brigada, lutámos na direcção de Kherson. Aí tomei posições quando era necessário defender e proteger-me
das trincheiras. Gostei, mas gosto mais de atacar, queria fazer a parte de infantaria de ataque. Por isso, decidi transferir-me para o 3º Batalhão da Legião Internacional.
Os rapazes e eu servimos na direcção de Donetsk, na zona de Bakhmut. Primeiro, destruímos os inimigos com a ajuda de drones e depois realizamos uma «scan» na
zona. Depois, os nossos militares ocupam essas posições.
Maurício com os seus companheiros da Legião Internacional
O meu comandante é ucraniano, mas fala espanhol, todos os outros são estrangeiros. O nosso batalhão é composto por quase 25 pessoas, mas nunca trabalhámos
todos juntos. Partimos em missões, cada uma das quais não pode ter mais de cinco pessoas.
Como fiquei ferido
Isto aconteceu em fevereiro de 2024 na vila de Chasiv Yar, distrito de Bakhmut. Eu e os meus dois irmãos, um colombiano e um espanhol, posicionámo-nos e fomos na frente. Os russos
já estavam a 200 metros de nós. De alguma forma, os rapazes e eu perdemo-nos. Não conseguia perceber onde estava e então continuei a seguir em frente.
De repente, os drones começaram a voar e ouvi uma explosão perto de mim. Lembro-me de empurrar o drone para trás e, quando tentei levantar-me, senti que o meu braço
estava completamente ferido e partido. Decidi voltar para encontrar os rapazes, mas nesse momento chegou um grupo de brasileiros que andavam atrás de nós todo este tempo e encontraram-me neste estado, estava
quase morto, retiraram-me de lá.
Primeiro, levaram-no para um hospital que ficava a 30 quilómetros de distância. Depois mandaram-me para Kharkiv, onde me prestaram assistência básica. Mais tarde,
fui tratado em Lviv e Chernivtsi.
«Estou preocupado com os meus irmãos e quero voltar»
Quero muito voltar para a frente, porque os meus irmãos estão lá e compreendo que estão a passar por algo difícil agora. Quero voltar o mais rápido
possível, mas os médicos dizem que o meu osso ainda está partido e não cicatrizou. Por isso, será necessário fazer uma cirurgia, colocar algo de titânio no interior para o ligar.
Disseram que levaria mais cinco meses para terminar tudo.
O meu indicativo é «Cobra»
Em 2016, quando era soldado no Brasil, o meu pelotão chamava-se “Cobra” e era um dos melhores pelotões do país. Tivemos muitas e boas missões na luta
contra os traficantes nas favelas. Então tomei esse nome como parte de mim, do Brasil.
Os gatos e as gatas da pintora e desenhadora ucraniana Iryna Potapenko (residente em Portugal) desejam aos ucranianos e amigos da Ucrânia o 2025 feliz com a vitória da Ucrânia na atual batalha épica
contra o mal.
O analista militar dinamarquês Anders Nielsen aborda a questão de novos ataques híbridos russos no Mar Báltico. O resumo dos seus pontos mais importantes:
• Os russos utilizaram recentemente a âncora do petroleiro Eagle S para cortar as comunicações subaquáticas entre a Finlândia e a Estónia. Este
é já o terceiro caso deste tipo de ações em pouco mais de um ano, sendo que o anterior aconteceu apenas um mês antes do último. São atos de guerra híbrida — ações
hostis que se situam abaixo do limiar da guerra aberta. Os russos estão a travar muitos outros actos de guerra híbrida na Europa — incêndios criminosos, ataques cibernéticos, operações
de informação e psicológicas, houve mesmo uma tentativa de homicídio.
• O objetivo dos russos é intimidar os europeus, fazê-los sentir-se vulneráveis e exigir proteção do Estado. Isto poderia reduzir o apoio
à Ucrânia, uma vez que os recursos militares seriam gastos na protecção da população da UE em vez de serem transferidos para Ucrânia. Os governos ocidentais mantiveram-se deliberadamente
em silêncio sobre estes ataques, impedindo os russos de utilizar o efeito dos media para semear o medo.
• Quanto mais próxima a guerra estiver do congelamento e quanto pior se tornar a situação para os russos, mais intensamente se envolverão em sabotagem na Europa.
As roturas de cabos são provavelmente uma expressão desta intensificação. Em geral, é difícil monitorizar o mar — as pessoas comuns exageram frequentemente o grau de controlo
sobre o mar. Os grandes navios mercantes são relativamente fáceis de seguir, mas os navios mais pequenos, como os iates, passam praticamente despercebidos. Os navios de guerra também não ligam os
transponders e devem ser monitorizados diretamente. As comunicações subaquáticas estendem-se por milhares de quilómetros. Mesmo os países com grandes frotas não conseguem monitorizar
toda a sua infraestrutura.
• Assim, é impossível proteger todas as infraestruturas, sendo necessário tomar outros caminhos: dificultar ao máximo a sabotagem dos russos e também
tornar as consequências mínimas. Para minimizar as consequências, Nielsen aconselha a seguir o exemplo dos ucranianos: são muito bons a reparar infraestruturas danificadas, o que permite que a sociedade
continue a funcionar apesar dos poderosos ataques de mísseis russos.
• Ao mesmo tempo, é muito importante que a Finlândia tenha detido o petroleiro e aberto um processo-crime. Os russos estão a recrutar capitães de navios para
interromper as comunicações, provavelmente prometendo-lhes muito dinheiro por tal sabotagem. Se mostrarmos que, em vez de dinheiro, este capitão pode passar um tempo considerável na prisão,
o número de pessoas dispostas a ganhar dinheiro extra desta forma irá diminuir, complicando a procura de agentes para novas sabotagens.
• De uma forma ou de outra, a guerra híbrida dos russos contra a Europa pode muito bem começar a entrar numa nova fase. E, como resultado, a reacção da Europa
pode mudar para uma resposta mais robusta. E de uma forma ou de outra, precisamos de nos preparar para isso.
O drone russo atingiu edifício no centro histórico da cidade de Kyiv no bairro de Pechersk. Vários apartamentos ficaram destruídos, duas pessoas morreram e mais sete
pessoas, incluindo duas mulheres grávidas, ficaram feridas...
Dr. Ihor Zyma, morto no ataque russo
Ucrânia foi atacada com 111 drones, 63 foram abatidos pelas FAU. Entre os feridos estão homens e mulheres com idades entre os 29 e os 79 anos, a maioria dos quais foi diagnosticada pelos médicos com múltiplos ferimentos de estilhaços.
O drone russo tirou a vida ao conceituado neurocientista ucraniano Dr. Igor Zyma, a sua esposa, bióloga Drª Olesya Sokur e o gato do casal.
União dos Escritores da Ucrânia
Como resultado da queda de destroços de um drone o incêndio deflagrou no telhado de um dos edifícios do Banco Nacional da Ucrânia (NBU). Não houve feridos,
mas as janelas dos pisos superiores ficaram danificadas. Todos os sistemas operacionais e serviços do Banco Nacional estão totalmente funcionais, sem alterações, informa o NBU. O edifício da União dos Escritores da Ucrânia também foi danificado no ataque russo no centro de Kyiv.