domingo, janeiro 05, 2025

Tortura sexualizada usada pelos ocupantes russos contra os ucranianos de Donbas

Da esquerda para a direita Serhiy Hruzynov, Natalia Vlasova, Victor Shydlovsky
Foto em tribunal russo publicada pelo Media Institute for Human Rights
Os separatistas de Donbas, controlados pela rússia torturaram selvagemente e violaram em grupo a ativista ucraniana Natalia Vlasova, ameaçando enviar uma bomba para matar a sua filha pequena, não ficavam contentes até que ela gritar “alto o suficiente”. 

Depoimento no tribunal russo da Natalia Vlasova, a ativista ucraniana que passou pelo confinamento solitário na cadeia de «Izolyatsiya» em Donetsk em 2019:

«...à noite me levaram para o «Isolyatsia» – era uma prisão secreta do MGB da «república poular de Donetsk», esse lugar era chamado de fábrica da morte, seu chefe era Evdokimov. Em algum momento eu pedi para ser executada, [sob o pretexto da minha tentativa da fuga], mas não – respondeu Evdokimov, eu deveria sofrer. Por muito tempo não soube quem eram [os meus captores] e onde eu estava, para mim eram bandidos implacáveis. Esses bandidos têm uma patologia clara, são sádicos no estrito sentido clínico e literal da palavra, não havia nada sequer próximo de legalidade ali.

Não consigo chamá-los de outra coisa senão maníacos, porque nem toda a pessoa é capaz de sentir prazer em causar dor a uma mulher nua e amarrada e realizar todo tipo de perversões, especialmente sendo oficiais e funcionários de agências [supostamente] governamentais.

Evdokimov pessoalmente serrou meus dentes com uma lima, torceu meus mamilos e tentou enfiar uma garrafa na minha vagina. Deixe-me lembrar-vos: ele é a nossa [alegada] vítima. Enquanto isso, seus comparsas lançaram golpes repentinos, vindos de diferentes lados. Na maioria das vezes, não foram eles que participaram nas torturas, mas sim os funcionários da UBOP [a Unidade anti-banditismo da polícia de Donetsk], que também não eram menos sofisticados na sua crueldade cínica.

Eles me despiram, me amarraram com fita adesiva, lançavam/jogaram água em mim e ligavam a eletricidade. Se eu não gritasse o suficiente, eles aumentavam os choques elétricos e os golpes se tornavam mais violentos. Eles precisavam de uma reação, não entendi isso de imediato, e quando gritei alto o suficiente, ouvia vozes satisfeitas. Um médico também estava presente durante a tortura e, quando perdi a consciência, ele me trouxe de volta à consciência com amônia. Então, durante a próxima tortura, eles nem tiveram tempo de me despir e me colocar nesta mesa de BDSM, quando ele correu para enfiar uma bola de algodão com amônia no meu nariz. É difícil para respirar quando já há falta de oxigênio.

Depois da tortura, eles me acorrentaram em uma [cela minúscula chamada] «copo» com os braços levantados durante a noite; eu não tinha força alguma e era difícil ficar de pé sobre meus calcanhares machucados, me movimentando na ponta dos pés. Eles também me mantinham no porão, onde só era possível sentar e ficar de pé — uma cela/cômodo extremamente pequena/o. Estava incrivelmente frio lá, me gelava até os ossos, me davam água por tempo indeterminado — eu só molhei meus lábios para poder ter água para molhar pelo menos um pouco os locais estratégicos [íntimos], e também durante a menstruação, essa é uma história à parte — obter absorventes higiênicos, ou melhor, usar a camiseta.

Não havia absolutamente nenhuma compreensão de que dia e que horas são, perda de espaço, medo terrível ao som de chaves, porque isso não é um bom presságio.

15 pessoas vieram me violar e, nessa ocasião, até me levaram para o chuveiro. Via de regra, eles estavam em estado de embriaguez alcoólica.

Durante a tortura, quando sua frequência dispara, chega um momento em que um período de indiferença se instala e tudo se torna igual, tanto o que acontece quanto o que vai acontecer depois. Em todo caso, meu destino não está sob o meu controlo/e, meu corpo não me pertencia. O pior é que eles disseram que sabiam em qual creche minha filha estava e que levariam para ela um brinquedo com TNT. Eu não tinha dúvidas de que eles eram capazes de qualquer coisa.

Tendo ultrajado minha natureza, tentando destruir tudo o que havia de humano em mim, o mínimo que podiam fazer era me dar pratos sujos com as sobras, e não tirar o balde de excrementos. Eles me humilharam tanto que é impossível entender como eu aguentei tudo isso. Não causei mal a ninguém e não tinha intenção de fazer isso.

Quanto aos vídeos da Rossiya-1, que são apresentados como evidência, descreverei brevemente um dia de filmagem. Eles me levaram para o escritório, primeiro Zakharov me puxou pelos cabelos, me bateu e abusou de mim de todas as maneiras possíveis, demonstrando o seu poder. Ele furou o meu tímpano, o sangue estava fluindo e o ar estava saindo pelo ouvido. Quando o camaraman entrou, eles não ficaram constrangidos ou parados, e uma orgia completa começou a acontecer. O repórter pediu: “Não precisa [fazer isso], ela é uma menina.” O assistente de Zakharov me cobriu com as mãos, tentando me proteger dos golpes, beijou minha cabeça, disse que com ele ninguém me machucaria, então periodicamente saía correndo e voltava com conhaque para eu beber e me acalmar — eu tinha que filmar, mas não consegui dizer uma única palavra.

Um dia, eles me tiraram do porão, me levaram até o investigador e registraram esse evento significativo em vídeo: o investigador segurava um pedaço de papel atrás da câmera, eu o li, e um advogado estava ao fundo. Ele disse que viria me visitar, mas o investigador respondeu que eu estava em um lugar onde era impossível ir». 

No dia 24 de dezembro de 2024 o Tribunal Militar Distrital Sul da rússia proferiu sentenças de 18 à 22 anos contra três cidadãos ucranianos, incluindo a mãe de uma criança muito pequena, Natalia Vlasova (1981); Serhiy Hruzynov (1974) e Victor Shydlovsky (1972), julgados sob a acusação de «terrorismo» na rússia, embora todos tenham sido presos na Donbas ocupada em 2018-19, enquanto a rússia fingia que os eventos na Donbas eram uma «guerra civil» e que rússia era um mero 'observador' daqueles eventos. A única «prova» para apoiar as alegações da rússia de que os três ucranianos tinham planeado matar Vasyl Yevdokimov «Lenin», uma figura-chave na prisão secreta russa e local de tortura de «Izolyatsia», tenha vindo de «confissões» em vídeo que foram extraídas através de tortura.

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