sexta-feira, janeiro 03, 2025

Voluntário brasileiro que defende Ucrânia nas fileiras das FAU

Foto: Edimilson Maurício Santana
A história do Edimilson Maurício Santana, o «Cobra», o voluntário brasileiro que serve na infantaria de ataque nas Forças Armadas da Ucrânia e que pretende ficar na Ucrânia até o fim da guerra. 

por: Anastácia Lupashku, «Suspilne», Chernivtsi (tradução portuguesa @Universo Ucraniano) 

Maurício Santana tem 27 anos, oito dos quais serviu como sargento no Brasil. Quando a invasão russa em grande escala começou, ele se juntou às FAU. Fê-lo apesar do Brasil ter assumido uma posição neutra na guerra russo-ucraniana. 

Mauricio foi transferido da 124ª Brigada para a Legião Internacional para combater como atacante. Ficou ferido nos combates nos arredores de Chasiv Yar, passando pelo tratamento médico na região ucraniana de Bucovyna. Mais sobre o percurso de Maurício nesta guerra nas suas próprias palavras. 

«Eu queria aproximar-me dos ucranianos»

Eu nasci e fui criado no Brasil. Quando decidi conectar a minha vida ao exército, tinha apenas 16 anos. Eu ainda era jovem na altura, mas o mundo militar fascinava-me verdadeiramente e decidi que queria fazê-lo. Servi como sargento nas Forças Armadas Brasileiras durante oito anos. E decidi vir para a Ucrânia. 

Eu sabia da guerra na Ucrânia mesmo antes da invasão em grande escala da Ucrânia pela rússia. Soube do conflito entre estes países vários anos antes de se tornar generalizado. Então, assim que começou, foi notícia em todo o mundo, toda a gente sabia e falava sobre isso. Foi por isso que quis ajudar Ucrânia nesta guerra e tornar-me mais próximo dela. No segundo lugar, quis experimentar como é uma guerra à sério. Nem pensei duas vezes, disse que ia ajudar e que faria tudo o que pudesse. 

«A mamã ainda não sabe que estou aqui»

Tenho uma família muito numerosa — 16 irmãos e irmãs. No início não conseguiam compreender a minha escolha. Até hoje, não contei à minha mãe a verdade de que estou aqui, na Ucrânia. Principalmente porque não lhes contei que estava ferido. Dedois contei aos seus irmãos e irmãs. 

Com a mãe no Brasil Foto: Edmilson Maurício Santana

Alguns dos meus amigos disseram que eu era louco. Alguns perguntam: «Posso ir também?» Mas não recomendo isto a ninguém que tenha emprego e família. A guerra é para aqueles que realmente a vivem, que têm ou querem ter experiência militar, ou que realmente compreendem o que é a guerra. Para aqueles que não têm planos nem perspectivas para o futuro, porque amanhã mesmo pode morrer. 

Muitas pessoas pensam que fui para a guerra porque era o meu sonho. Mas não, considero que é a minha profissão e sinto-me responsável por aquilo que faço. Nunca pensei voltar para o Brasil e deixar tudo. 

Contrato de três anos com as Forças Armadas da Ucrânia 

Vim do Brasil para a Ucrânia num programa especial com os meus cinco amigos. Para tal, era necessário obter permissão do comando. Quando o recebi, comprei bilhetes para a Polónia e de lá vim para a Ucrânia. Já passei por um exame médico e formação aqui. Assinei um contrato de três anos com as Forças Armadas da Ucrânia, mas isso não significa que vou cumprir esse mandato e regressar. Estou aqui até a guerra acabar. 

No início, servi na 124ª Brigada, lutámos na direcção de Kherson. Aí tomei posições quando era necessário defender e proteger-me das trincheiras. Gostei, mas gosto mais de atacar, queria fazer a parte de infantaria de ataque. Por isso, decidi transferir-me para o 3º Batalhão da Legião Internacional. 

Os rapazes e eu servimos na direcção de Donetsk, na zona de Bakhmut. Primeiro, destruímos os inimigos com a ajuda de drones e depois realizamos uma «scan» na zona. Depois, os nossos militares ocupam essas posições. 

Maurício com os seus companheiros da Legião Internacional

O meu comandante é ucraniano, mas fala espanhol, todos os outros são estrangeiros. O nosso batalhão é composto por quase 25 pessoas, mas nunca trabalhámos todos juntos. Partimos em missões, cada uma das quais não pode ter mais de cinco pessoas. 

Como fiquei ferido 

Isto aconteceu em fevereiro de 2024 na vila de Chasiv Yar, distrito de Bakhmut. Eu e os meus dois irmãos, um colombiano e um espanhol, posicionámo-nos e fomos na frente. Os russos já estavam a 200 metros de nós. De alguma forma, os rapazes e eu perdemo-nos. Não conseguia perceber onde estava e então continuei a seguir em frente. 

De repente, os drones começaram a voar e ouvi uma explosão perto de mim. Lembro-me de empurrar o drone para trás e, quando tentei levantar-me, senti que o meu braço estava completamente ferido e partido. Decidi voltar para encontrar os rapazes, mas nesse momento chegou um grupo de brasileiros que andavam atrás de nós todo este tempo e encontraram-me neste estado, estava quase morto, retiraram-me de lá. 

Primeiro, levaram-no para um hospital que ficava a 30 quilómetros de distância. Depois mandaram-me para Kharkiv, onde me prestaram assistência básica. Mais tarde, fui tratado em Lviv e Chernivtsi. 

«Estou preocupado com os meus irmãos e quero voltar» 

Quero muito voltar para a frente, porque os meus irmãos estão lá e compreendo que estão a passar por algo difícil agora. Quero voltar o mais rápido possível, mas os médicos dizem que o meu osso ainda está partido e não cicatrizou. Por isso, será necessário fazer uma cirurgia, colocar algo de titânio no interior para o ligar. Disseram que levaria mais cinco meses para terminar tudo. 

O meu indicativo é «Cobra»

Em 2016, quando era soldado no Brasil, o meu pelotão chamava-se “Cobra” e era um dos melhores pelotões do país. Tivemos muitas e boas missões na luta contra os traficantes nas favelas. Então tomei esse nome como parte de mim, do Brasil.

Bónus


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