É sexta-feira antes do Natal e este certo bar de expatriados em Kyiv está lotado de soldados de licença. O ar está pesado com suor e fumaça de cigarro e o som da banda abafa qualquer chance de conversa significativa. A cena remonta à camaradagem da Segunda Guerra Mundial: jovens atléticos ostentando cortes de cabelo militar com bíceps salientes sob camisas justas. Mas há uma reviravolta — a música não é Frank Sinatra, é uma banda latina de cinco integrantes tocando cumbia e, em vez de uísque, a bebida escolhida é a tequila.
por: AUDREY MACALPINE
O sul global responde ao chamado de Zelenskyy
Desde que a invasão em grande escala começou, estrangeiros de todo o mundo responderam ao chamado do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy para lutar pela Ucrânia. Enquanto muitos vêm de aliados mais convencionais do país, como os Estados Unidos e o Reino Unido, um contingente surpreendentemente grande chegou do sul global, particularmente da América do Sul.
Nesta noite em particular, neste bar em particular, membros colombianos da Legião Estrangeira se reúnem para desabafar entre períodos na linha de frente. Para os feriados, em vez de voltar para casa, esses soldados optaram por alugar Air Bnb's e explorar as cidades históricas da Ucrânia, como Kyiv e Lviv. A atmosfera no bar subterrâneo é festiva. Soldados compram bebidas uns para os outros e dão tapinhas nas costas uns dos outros, enquanto as garotas locais gritam de alegria enquanto esses colombianos os giram e os fazem girar pela pista de dança. Cultura — e provavelmente alguns números de telefone — estão sendo trocados. Esses ecos de «festejar como se não houvesse amanhã» geralmente permeia zonas de guerra, onde o amanhã nunca é prometido.
«Muitos de nós viemos por motivos diferentes», diz Jhoe Manuel Almanza, indicativo de chamada Dragon, um soldado colombiano de 30 e poucos anos. “Para mim, era sobre viver uma experiência única e fazer parte de algo maior, fazer parte da história.” Ele explica que a maioria dos colombianos raramente sai do país. “Eu queria ver o mundo, aprender.” Lutar pela Ucrânia deu a Almanza a oportunidade de combinar sua experiência militar com seu desejo de viajar.
Táticas de guerrilha vs. guerra de alta tecnologia
Na Colômbia, o serviço militar é obrigatório para homens de 18 a 50 anos. Os homens normalmente passam de 12 a 24 meses no serviço, embora muitos, como Almanza, optem por ficar mais tempo como carreira. Essa ampla experiência militar torna os colombianos especialmente adequados para ajudar a Ucrânia. No entanto, como Almanza explica, as batalhas que eles enfrentam aqui são bem diferentes. “Na Colômbia, é mais uma luta no estilo guerrilha com recursos limitados”, ele diz. “Na Ucrânia, a luta é muito mais avançada, com artilharia, drones e posições organizadas. Na Colômbia, você pode atacar diretamente, mas aqui, você garante uma posição com artilharia e então avança com cautela.”
Para Almanza, esse estilo de guerra se alinha mais de perto com as visões que o inspiraram a se juntar ao exército quando jovem. «As trincheiras e a guerra posicional me lembram da Segunda Guerra Mundial», ele diz. «Mas o uso de drones e tecnologia moderna fazem a diferença.»
Sacrifício e apoio
Enquanto Almanza está emocionado com sua nova vida na Ucrânia, sua família na Colômbia passou por sua própria montanha-russa emocional. «No começo, eles não concordaram», ele diz. «Minha mãe especialmente não queria que eu fosse por causa dos perigos. Mas, eventualmente, eles me apoiaram à sua maneira. Alguns amigos ajudaram com dinheiro para que eu pudesse fazer a viagem para cá.» Almanza diz que planeja ficar na Ucrânia após a vitória e espera comprar uma casa e se estabelecer.
Ucrânia oferece salários competitivos para soldados estrangeiros que assinam contratos militares. Almanza observa que o salário médio mensal de um soldado da linha de frente é de cerca de 120.000 UAH (cerca de US$ 2.834). Em comparação, ele diz que um soldado colombiano ganha cerca de US$ 350 por mês. «O salário é melhor do que eu poderia ganhar na Colômbia», ele diz. Com seus ganhos, Almanza sustenta sua mãe e sua família alargada em casa.
Lutas ocultas
A vida como um soldado estrangeiro na Ucrânia não é isenta de desafios. «É difícil, mas gratificante», diz Almanza. Por trás do valor estavam as duras realidades da guerra. «Claro, o risco é alto, e eu perdi companheiros», ele admite.
Antes de sua pausa, Almanza sofreu uma lesão na mão que dificultou a operação de sua arma. No início de janeiro, ele viajou para Ternopil para fisioterapia em um dos hospitais militares da Ucrânia — serviços totalmente cobertos pelo governo ucraniano. Esse apoio se estende a todos os soldados, estrangeiros e ucranianos. No infeliz evento de morte, o governo também fornece indenização às famílias dos combatentes estrangeiros mortos.
Carlos Molina, um ex-capitão dos fuzileiros navais dos EUA cuja família é da Colômbia, trabalha há meses para ajudar soldados de língua espanhola na Ucrânia. O maior obstáculo, ele diz, é o idioma. «Os problemas vêm em muitas formas e tamanhos», explica Molina. «Eles ficam frustrados porque, quando têm um problema, não têm com quem conversar.» Enquanto muitos ucranianos falam inglês, poucos falam espanhol. Para soldados que não sabem inglês, a comunicação se torna um desafio significativo. Para lidar com esses desafios, a Legião Estrangeira trouxe instrutores de língua espanhola, uma equipe de suporte de língua espanhola em tempo integral e até criou uma versão em espanhol de seu site.
A ausência de uma embaixada colombiana na Ucrânia complica ainda mais as coisas. Molina conta a história de um soldado ferido que perdeu seu passaporte. Sem uma embaixada colombiana, o soldado deve deixar a Ucrânia para substituí-la. Molina acredita que um escritório centralizado dedicado a soldados estrangeiros poderia resolver muitos desses problemas. «Eles estão perdendo uma ponte, um lugar para onde podem levar seus problemas», diz ele.
Construindo pontes que duram mais que a guerra
Apesar dessas dificuldades, soldados estrangeiros provaram seu valor no campo de batalha. Muitas tropas ucranianas elogiam seus colegas estrangeiros por sua dedicação e perspectivas únicas.
«Voluntários estrangeiros estão aqui porque querem estar aqui», diz Andrii, um soldado da 25ª Brigada Aerotransportada da Ucrânia. A composição diversificada das Forças Armadas da Ucrânia, misturando combatentes ucranianos e estrangeiros, está forjando laços globais que perdurarão além da guerra.
«A Colômbia é uma democracia, e muitos colombianos simpatizam com a Ucrânia por causa do desejo compartilhado de liberdade», diz Almanza. Ele observa que, embora os colombianos frequentemente discordem sobre política interna, há uma admiração generalizada pela luta da Ucrânia pela independência.
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