terça-feira, fevereiro 19, 2019

Assalto final ao Maydan: a operação paramilitar “Boomerang”

Na noite de 18 de fevereiro de 2014, as unidades da polícia, tropas do Ministério do Interior (VV) e SBU iniciaram o assalto final ao Maydan – começou a operação “Boomerang”. Ação resultou na morte dos 14 defensores do Maydan desarmados e 9 atacantes das forças policiais.

A liderança do assalto foi confiada ao SBU e diretamente ao Chefe do Centro Antiterrorista do SBU, general Totsky.

De acordo com o plano da operação, as unidades do “Berkut”, reforçadas por tropas VV, deveriam demolir as barricadas na avenida Khreshchatyk e na rua Institutska, enquanto o destacamento Alfa da SBU deveria aniquilar a sede da Euromaydan no Edifício dos Sindicatos.
Os manifestantes dispersados deveriam ser atacados e aterrorizados por bandos armados de titushki, contratados por chefões criminosos próximos a Yuri Ivanyushchenko (conhecido como Yura Enakievsky).

O começo da operação foi marcado às 19h00.

A unidade “Alfa” do SBU entrou no Prédio dos Sindicatos pelo telhado e começou o seu ataque à partir de cima para baixo. As unidades do “Berkut” e as tropas do interior atacaram por baixo, reforçadas por dois veículos blindados do tipo BTR e dois canhões de água, o seu alvo era derrube das barricadas em volta do palco usado na Maydan e ao redor do Edifício dos Sindicatos.

Mesmo antes do início da operação “Boomerang”, às 16h00 da tarde do dia 18/02/2014, durante a dispersão da manifestação em Pechersk, nos arredores do parlamento ucraniano, foram mortos ou mortalmente feridos 13 ativistas ucranianos desarmados e mais de 200 cidadãos ficaram gravemente feridos, inclusive como resultado do uso pela polícia de munição de metralha. As autoridades acreditavam que o terror causaria a dispersão de Maydan. Mas isso não aconteceu. Naquele momento todos os participantes da dispersão de Maydan entenderam perfeitamente que este tipo de violência contradiz absolutamente a lei e que as forças da lei e ordem estão violando a legislação ucraniana.
As vítimas do fascismo: a família Kuznetsov
Mas o ataque não se tornou uma operação fácil para as forças de segurança. Apesar do uso dos blindados, os ativistas ucranianos não abandonaram das barricadas. Ambos os veículos blindados pertencentes às tropas VV foram incendiados com uso das garrafas incendiárias. Um dos blindados ardeu no local. Os canhões de água também foram alvejados por armas de fogo dos defensores de Maydan (geralmente caçadeiras legais, que usavam metralha), um deles foi desativado.

A partir das 21 horas, as forças especiais usaram armas de fogo para matar e granadas. Os atacantes disparavam metralha, usavam as granadas de luz e som “Zarya-2”, possivelmente atiraram algumas granadas de fragmentação de uso militar. As forças de segurança disparavam contra os manifestantes desarmados, sem se preocupar com a precisão dos seus tiros.

Deve-se notar que as pessoas nas barricadas estavam praticamente desarmadas, com exceção de pedras e garrafas incendiárias artesanais. Apesar disso, eles defenderam as barricadas no Edifício dos Sindicatos e na Maydan com todas as suas forças.
Maydan foi salvo por aqueles poucos que começaram a atirar nas forças atacantes. Primeiros dois soldados de tropas VV foram abatidos por volta das 17h00 da tarde, quando tentavam atacar as barricadas na avenida Khreschatyk. Mesmo após perder os dois blindados, a polícia ultrapassou a defesa da última barricada e o caminho ao palco central – o centro de controlo/e de Maydan – estava aberto. E aqui tudo foi decidido por apenas alguns resistentes armados e a resiliência massificada da maioria de defensores desarmados. O ataque de “Berkut” e VV foi repelido quando as forças de segurança sofreram perdas e ficaram simplesmente com medo de irem em frente, para não serem atingidos por cartuchos de metralha.
O comandante da unidade “Berkut” foi capturado, vários atacantes pertencentes às forças de segurança ficaram feridos. No total, durante o ataque de Maydan em 18 de fevereiro, 9 policiais e militares das tropas VV foram mortos, mais de 80 ficaram feridos – os defensores de Maydan não pretendiam matar os atacantes. Todos os capturadas receberam ajuda, ninguém dos capturados foi torturado ou morto posteriormente, como o próprio “Berkut” procedia com os manifestantes. Apesar de todas as vítimas e feridos, milhares de pessoas não deixaram Maydan e não pararam a resistência. Inclusivamente a resistência armada.

Queremos recordar os 14 heróis caídos – defensores de Maydan e do Edifício dos Sindicatos (no total, nos dias 18 e 19 de fevereiro de 2014, em Kyiv foram mortos ou mortalmente feridos 30 defensores de Maydan). Nós não temos o direito de os esquecer:
RIP Olexander Plekhanov, 22 anos, estudante de arquitetura
Bondarev Serhiy, 33 anos, programador
Brezdenyuk Valery, 50 anos, dono de um clube de informática
Chernenko Andriy, 35 anos, empregado de oficina
Kapinos Olexander, 29 anos, farmeiro
Klitinsky Olexander, 25 anos, desempregado
Kulchitsky Volodymyr, 64 anos, pensionista/reformado
Maksimov Dmytro, 19 anos, estudante
Orlenko Viktor, 53 anos, operário ferroviário, ex-veterano soviético da guerra no Afeganistão
Paskhalin Yury, 30 anos, lojista
Plekhanov Olexander, 22 anos, estudante de arquitetura
Prokhorsky Vasyl, 33 anos, eletricista
Sidorchuk Yuri, 53, empresário
Shvets Viktor, 58 anos, pensionista/reformado militar
Topiy Volodymyr, 58 anos, motorista

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