Na
União Soviética o gorro (shapka) de inverno era muito mais do que uma simples peça
do vestuário. Simbolizava o estatuto do seu proprietário na sociedade soviética (custando até 2-3 salários mensais) e alvo apetecível dos amigos do alheio. Um destes ladrões era o ex-presidente da Ucrânia, fugitivo na Rússia desde 2014, Viktor Yanukovych...
02.
Nas décadas de 1940-50, na União Soviética não havia grande escolha dos gorros
de inverno, os homens usavam as shapkas de alguma pele barata (coelho, lebre,
gato) e as mulheres tapavam as cabeças com os lenços de materiais naturais, as
fibras sintéticas eram pratiamente inexistentes.
A
foto em cima de 1959 mostra a “moda de inverno” da época, o homem com um gorro simples,
as mulheres com os lenços.
03.
Na década de 1970 entraram na moda os gorros tricotados, “galitos”, apreciados
pelos desportistas, caçadores, ciclistas, alpinistas e jovens. O seu nome “galito” o gorro
ganhou por causa da crista característica, formada devido à forma alongada do
gorro na sua parte superior. Os membros destacados do partido, representantes da
elite estatal e todos aqueles que desejavam ter aparência “séria” evitavam este
tipo de vestiário, usando os gorros de pele.
04.
Os chapéus de pele tinham uma “diferenciação” clara – os cidadãos comuns usavam
o gorro simples da pele “não nobre” (como lebre), os funcionários do partido poderiam usar o chapéu da pele do rato
almiscarado, os oficiais militares e chefes do partido – tinham os chapéus de
pele astracã. Aliás, os gorros de astracã adoravam Brezhnev e Khrushchev:
05. Na era Brezhnev eram populares os chapéus de “rena-jovem”. Eram feitas, de forma bastante bárbara de peles de renas bezerros de seis meses, cuja pele era considerada especialmente quente e ao mesmo tempo leve. Este tipo de shapka era considerado um indicador de claro de status, na sua maioria era usado pela elite do partido comunista e entre os “cidadãos comuns” a podia obter e pagar apenas os diretores e gestores de lojas ou auditores comerciais.
O
exército soviético também tinha os seus chapéus especiais – ushanka (literalmente a orelhuda): os soldados e sargentos tinham os gorros de pele sintética de cor azulada. Esta pele era muito
inferior às propriedades térmicas de pele natural, por isso os chapéus receberam
o nome de “shapka-ushanka de pele de peixe”, eis, em cima, a sua aparência.
06.
Chapéus da pela da
doninha-europeia surgiram na década de 1980, e logo se
tornaram o fetiche da moda, assim como indicador certo para medir o rendimento
do proprietário – o preço de um gorro poderia chegar até 2 ou até 3 salários soviéticos
médios (até 250-350 rublos / 420-593 dólares ao câmbio oficial). Na época também
eram muito apreciados os gorros de pele da raposa cinza – nos finais dos anos 1980
– início dos anos 1990, as peles eram trazidas à URSS da Polónia (em forma do contrabando),
e em seguida, usadas para fazer os gorros, também era bastante popular a versão
feminina gorro / colarinho de paletó do mesmo tipo da pele.
Este
tipo de gorro era guardado como uma peça bem valiosa – muitas vezes numa caixa
de papelão especial, dentro da shapka era colocado um cilindro de papelão, e na
própria caixa colocava-se um pedaço de sabonete perfumado para afastar as
traças (o naftaleno para este fim era demasiadamente malcheiroso). A
peça do vestuário das senhoras da moda daquela época (na foto em cima).
07.
O futuro ex-presidente ucraniano Yanukovych, na década de 1960 se especializava,
inserido numa quadrilha, no roubo de gorros de pele de rato-almiscarado e
renas-fulvo, de maneira muito extravagante – nas casas de banho/banheiros públicas/os. Enquanto
a sua vítima desavisada estava sentada no vaso sanitário, Yanukovych, rapaz
bastante alto, de repente passava as mãos da cabine circunvizinha, arrancava o gorro e fugia correndo. Tal método era considerado bastante seguro para o
ladrão, pois a vítima, na verdade, não via o agressor e não poderia mais tarde
identificá-lo, mais, graças à sua posição sensível não era capaz de perseguir imediatamente o
ladrão.
Na
mesma época, para se defende de ladrões, os cidadãos começaram usar um elástico
– o gorro valioso levava costurado uma faixa elástica, escondida e esticada sob
o queixo, que não permitia aos ladrões arrancar o gorro com muita facilidade. E
ainda existiam os chapéus da “rena-jovem falsos”, que não eram tão
decepcionante a perder, embora visualmente também eram inferiores aos originais.
Nesta foto atrás da vendedora se pode ver um gorro masculino de baixa qualidade
e com a pintura artesanal “à rena-jovem”:
08.
Muitas crianças soviéticas usavam um chapéu de pele de laços com pompons de pele
– eram bem quentes, mas muitas vezes tapavam os olhos ou as orelhas. Os gorros
de malha “galitos” (que podiam custar até 25 rublos ou 42 dólares) foram
populares entre os miúdos na década de 1980, eram bastante densos, quentes e
praticamente à prova de vento. Na imagem de 1989 podemos ver a “moda infantil”de inverno da época:
Foto
@GettyImages | Texto @Maxim
Mirovich
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