domingo, fevereiro 10, 2019

A tragédia das adoções forçadas da Alemanha comunista

O Estado da Alemanha socialista (RDA) tinha o hábito de tirar filhos de pais politicamente indesejáveis e entregá-los para adoção. É um aspecto horrível do regime comunista que nunca recebeu a atenção que merece. Isso pode estar mudando agora.

O inquérito da publicação alemã Der Spiegel revela uma das menos conhecidas, mas nem por isso menos horrorosas práticas da República Democrática Alemã, a RDA, a Alemanha socialista que estava do lado de lá do Muro de Berlim. O que aqui se recorda é a prática das autoridades de retirarem os filhos às famílias que davam indicações de serem contra o regime, entregando as crianças para adopção a fiéis e leais comunistas.

Em The Little-Known Tragedy of Forced Adoptions in East Germany a jornalista Annette Großbongardt conta precisamente como “O Estado da Alemanha Oriental tinha o hábito de tirar filhos de pais politicamente indesejáveis e entregá-los para adoção. É um aspecto horrível do regime comunista que nunca recebeu a atenção que merece. Isso pode estar mudando agora”.

Há muitos testemunhos arrepiantes, aqui fica apenas um: “Muitos de nós ficaram doentes e sofreram angústia extrema”, conta Andreas Laake (58). Originalmente de Leipzig, ele foi detido em 1984 pela guarda costeira da RDA, quando tentava fugir para Ocidente, cruzando o Mar Báltico, em um bote de borracha, junto com a sua esposa grávida. Laake diz que reivindicou a sua total responsabilidade e foi colocado na cadeia. Quando sua esposa deu à luz, ele nem sequer foi autorizado a ver a criança e um tribunal simplesmente retirou seus direitos de parentalidade. Sua esposa foi presumivelmente pressionada a dar a criança para adoção. Andreas Laake encontrou seu filho 29 anos depois. Outros pais também foram capazes de rastrear seus filhos – mas muitas vezes não conseguem recuperar o tempo perdido.

“Você não pode voltar o relógio da vida”, diz Laake. “Nós não assistimos nossos filhos crescerem, nós não estávamos lá quando eles começaram a escola, quando eles ganhavam nos desportos, quando eles se apaixonaram pela primeira vez”. Agora, Andreas Laake continua procurando os filhos roubados ajudando os outros. Ele fundou uma organização chamada Stolen Children of the GDR (Crianças roubadas da RDA), que conta com mais de 1,700 membros. “Uma mulher de setenta anos vêm a mim e disse: Sr. Laake, só tenho um único desejo: só quero saber o que aconteceu com a minha criança”.

Uma outra ONG, chamada OvZ-DDR eV foi fundada pela pela Katrin Behr, ela própria, também vítima da adoção forçada. A sua ONG ajuda às vítimas da adoção forçada da RDA à encontrarem as famílias, separadas pela decisão do estado comunista.  
Visitar a página OvZ-DDR eV
Nem sempre as adoções forçadas na RDA visavam apenas os dissidentes. A história de Daniela Lehmann e sua mãe Regine Vaupel dá uma visão clara sobre as práticas cruéis do regime comunista da RDA. Ambos estão procurando por seu irmão e filho René. Regine Vaupel relata que os oficiais do estado permanentemente lhe diziam que ela não era capaz de criar dois filhos porque seu apartamento era muito pequeno e um maior não estava disponível para ela. Ela foi “pedida” para colocar filho René para adoção. Alguns anos depois, ele recebeu a visita dos dois oficiais da secreta comunista Stasi, que a ameaçaram, dizendo que se ela não espiasse uma pessoa por eles indicada, o estado também levaria sua filha Daniela para longe dela.

Ainda em busca um pelo outro

Os casos mais pérfidos foram quando os pais nem sequer sabiam que a sua criança havia sido levada embora, mas foram informados de que seus recém-nascidos tinham morrido. Mais de vinte anos após a unificação alemã, as feridas emocionais da adoção forçada ainda não foram curadas.

Ainda hoje, as crianças e pais estão procurando um pelo outro. Mas isso não é tão fácil quanto deveria ser. O Jugendamt (serviço de proteção à criança) não permite fornecer quaisquer informações sobre crianças ou pais por causa do Datenschutzgründen (por motivos de proteção de dados). Por causa disso, Katrin Behr, que também é vítima de adoção forçada, iniciou um site que ajuda crianças e pais a se encontrarem. No site, as crianças e os pais podem colocar notas com seus nomes e os nomes das pessoas que estão procurando. Até agora, as 562 famílias se reuniram com a ajuda deste site. Mas outras 326 pessoas ainda estão procurando por seus familiares que foram vítimas de adoção comunista forçada (fonte).

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