O
Estado da Alemanha socialista (RDA) tinha o hábito de tirar filhos de pais
politicamente indesejáveis e entregá-los para adoção. É um aspecto horrível do
regime comunista que nunca recebeu a atenção que merece. Isso pode estar
mudando agora.
O
inquérito da publicação alemã Der Spiegel revela uma das menos conhecidas, mas
nem por isso menos horrorosas práticas da República Democrática Alemã, a RDA, a
Alemanha socialista que estava do lado de lá do Muro de Berlim. O que aqui se
recorda é a prática das autoridades de retirarem os filhos às famílias que
davam indicações de serem contra o regime, entregando as crianças para adopção
a fiéis e leais comunistas.
Em
The Little-Known Tragedy of Forced Adoptions
in East Germany a
jornalista Annette Großbongardt conta precisamente como “O Estado da Alemanha
Oriental tinha o hábito de tirar filhos de pais politicamente indesejáveis e
entregá-los para adoção. É um aspecto horrível do regime comunista que nunca
recebeu a atenção que merece. Isso
pode estar mudando agora”.
Há
muitos testemunhos arrepiantes, aqui fica apenas um: “Muitos de nós ficaram
doentes e sofreram angústia extrema”, conta Andreas Laake (58). Originalmente
de Leipzig, ele foi detido em 1984 pela guarda costeira da RDA, quando tentava
fugir para Ocidente, cruzando o Mar Báltico, em um bote de borracha, junto com a
sua esposa grávida. Laake diz que reivindicou a sua total responsabilidade e
foi colocado na cadeia. Quando sua esposa deu à luz, ele nem sequer foi
autorizado a ver a criança e um tribunal simplesmente retirou seus direitos de
parentalidade. Sua esposa foi presumivelmente pressionada a dar a criança para
adoção. Andreas Laake
encontrou seu filho 29 anos depois. Outros pais também
foram capazes de rastrear seus filhos – mas muitas vezes não conseguem
recuperar o tempo perdido.
“Você
não pode voltar o relógio da vida”, diz Laake. “Nós não assistimos nossos
filhos crescerem, nós não estávamos lá quando eles começaram a escola, quando
eles ganhavam nos desportos, quando eles se apaixonaram pela primeira vez”. Agora,
Andreas Laake continua procurando os filhos roubados ajudando os outros. Ele
fundou uma organização chamada Stolen Children of the GDR (Crianças roubadas da
RDA), que conta com mais de 1,700 membros. “Uma mulher de setenta anos vêm a
mim e disse: Sr. Laake, só tenho um único desejo: só quero saber o que
aconteceu com a minha criança”.
Uma
outra ONG, chamada OvZ-DDR eV foi fundada pela
pela Katrin Behr, ela própria, também vítima da adoção forçada. A sua ONG ajuda
às vítimas da adoção forçada da RDA à encontrarem as famílias, separadas pela
decisão do estado comunista.
Visitar a página OvZ-DDR eV |
Nem
sempre as adoções forçadas na RDA visavam apenas os dissidentes. A história de
Daniela Lehmann e sua mãe Regine Vaupel dá uma visão clara sobre as práticas
cruéis do regime comunista da RDA. Ambos estão procurando por seu irmão e filho
René. Regine Vaupel relata que os oficiais do estado permanentemente lhe diziam
que ela não era capaz de criar dois filhos porque seu apartamento era muito
pequeno e um maior não estava disponível para ela. Ela foi “pedida” para
colocar filho René para adoção. Alguns anos depois, ele recebeu a visita dos
dois oficiais da secreta comunista Stasi, que a ameaçaram, dizendo que se ela
não espiasse uma pessoa por eles indicada, o estado também levaria sua filha
Daniela para longe dela.
Ainda
em busca um pelo outro
Os
casos mais pérfidos foram quando os pais nem sequer sabiam que a sua criança
havia sido levada embora, mas foram informados de que seus recém-nascidos
tinham morrido. Mais de vinte anos após a unificação alemã, as feridas
emocionais da adoção forçada ainda não foram curadas.
Ainda
hoje, as crianças e pais estão procurando um pelo outro. Mas isso não é tão
fácil quanto deveria ser. O Jugendamt (serviço de proteção à criança) não
permite fornecer quaisquer informações sobre crianças ou pais por causa do
Datenschutzgründen (por motivos de proteção de dados). Por causa disso, Katrin
Behr, que também é vítima de adoção forçada, iniciou um site que ajuda crianças
e pais a se encontrarem. No site, as crianças e os pais podem colocar notas com
seus nomes e os nomes das pessoas que estão procurando. Até agora, as 562
famílias se reuniram com a ajuda deste site. Mas outras 326 pessoas ainda estão
procurando por seus familiares que foram vítimas de adoção comunista forçada (fonte).
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