sábado, fevereiro 16, 2019

As conquistas de Luhansk: a prosperidade da “república” em fotos

Na primavera de 2014, na cidade de Luhansk e com ajuda das forças russas, foi proclamada a “república popular de Luhansk”, a famosa “lnr”. Quase cinco anos depois, a “jovem república” já consegue mostrar ao mundo as suas primeiras conquistas...

Muito recentemente, o principal ideólogo de Putin, Vladislav Surkov, publicou a sua visão programática do “putinismo em curso”, semelhante ao discurso de Hitler em Munique e baseada nos mesmos princípios – nós não precisamos da civilização, há inimigos ao nosso redor, continuaremos fazendo propaganda e a guerra, “nos amem, ou vós mataremos”! O texto também fala de algumas realizações incríveis do putinismo – que consegui criar a chamada “novorossia” – uma espécie de URSS 2.0 estalinista ambientada na década de 1930 – com muita pobreza, propaganda, delação dos vizinhos e conhecidos, ódio mútuo.
Luhansk na primavera de 2014, exortação ortodoxa da invasão russa | @arquivo
Todas as fotos dessa reportagem foram tiradas no inverno de 2018 pelos moradores de Luhansk. Fotografar era extremamente perigoso – a secreta separatista “mgb” funciona à semelhança do NKVD e manda qualquer cidadão suspeito “para a cave”, o acusando de ser um “espião e sabotador ucraniano”. Fotografar a lixeira, sendo visto por algum delator, é suficiente para ser declarado “espião e sabotador”. As repressões em Luhansk são mais severas e rigorosas do que em Donetsk – a dita “lnr” é mais pobre e os orcos locais são muito mais famintos e impiedosos.

A vida na «lnr»

As pessoas em Luhansk ocupada sobrevivem revendendo a roupa de segunda mão comprada na Rússia e os alimentos e medicamentos trazidos da Ucrânia. Para fazer compras na Ucrânia os súbditos da “república” se deslocam até a vila de Stanytsia Luhanska (do lado da Ucrânia livre, junto ao ponto de controlo/e na linha de separação), onde funciona o escritório dos correios “Nova Poshta”, que recebe todo o tipo de encomendas da Ucrânia. Em princípio, é todo o “negócio” que ainda funciona em Luhansk.
Stanytsia Luhanska, ponto de controlo/e na linha de separação, inverno de 2018-19
foto @arquivo
Os salários são pagos em rublos russos. O salário médio é de cerca de 5-7 mil rublos (75 – 100 dólares americanos), o pessoal das limpezas/faxineiros/as recebem 1.200 rublos (18 dólares). Os mercenários afetos às unidades separatistas ganham 15.000 rublos (225 dólares). Vivem razoavelmente bem apenas as chefias da “república popular” e os militares russos – únicas pessoas que fazem compras nos supermercados. Um bom apartamento no centro de Luhansk já se vende por 11.000 dólares [voltando ao nível de preços dos meados da década de 1990]. Os empregos disponíveis aos cidadãos comuns são caixas e guardas de lojas, agentes de carga (carregadores e armazenistas). Os restantes cidadãos se dedicam à venda de alguma coisa nos mercados, na cidade também surgiram imensas lojas que vendem as roupas e calçado da segunda mão.

A propaganda total separatista diz que se ucranianos vencerem, todos os de Luhansk serão mortos, presos e enforcados. Embora ultimamente, a retórica começou a mudar – “nós somos Ucrânia, então Ucrânia deve nos pagar as pensões/reformas, devemos ser ajudados”, etc. Ao mesmo tempo na televisão local se fala constantemente dos acordos incríveis que são celebrados com Abecásia, Crimeia e Transnístria [territórios ocupados da Geórgia, Ucrânia e Moldova], e que “muitos investidores estrangeiros” estão prestes a entrar em Luhansk. A “república” está literalmente à beira de um boom económico!

Todas as esferas de influência na “república” são divididas entre os seus dirigentes – um manda na venda de combustível, outro recebe a “taxa de proteção” das lojas, terceiro – controla os mercados, e assim por diante. Luhansk não produz quase nada, a infra-estrutura está se deteriorando e apodrecendo. Mas surgiu o seu próprio “estilo corporativo” – os letreiros às cores da bandeira tricolor russa e os nomes próprios “à russa”, por exemplo, o cinema “Ucrânia” foi rebatizado de “Rus”.

Muitos edifícios e outros estabelecimentos, como antigos restaurantes ou escolas técnicas, foram transformados em quartéis e bases militares, departamentos do “mgb” (NKVD local) e outros semelhantes. Dentro da cidade se criam as vacas. O recolher obrigatório é à partir das 23h00, na realidade, no inverno, às 16 horas, já ninguém se arrisca de sair às ruas.

Estradas, quintais, pátios e ruas

O lixo em Luhansk já não é recolhido há algum tempo, os pátios da cidade se tornaram lixeiras. Os separatistas gritaram em 2014: “Rússia, venha!”, Rússia veio – não com glamour televisivo moscovita, mas em forma de Omsk real.

Pombos rastejam em montes de lixo em decomposição, à procura de algo comestível.

Mais um quintal com contentores à abarrotar de lixo:

As estradas de Luhansk não são limpas, nem são reparadas/consertadas – no meio de uma rua movimentada podemos ver os poços cheios de água.

As ruas centrais da cidade, outrora animada, agora se assemelham a uma cidade fantasma de alguma distopia. Passadeiras/calçadas geadas, montanhas de lixo ao longo da estrada, a quase completa ausência de carros na estrada coberta de neve.

Quiosque, montanhas de uns escombros e uma parede, como se estivesse coberta de escamas de centenas de anúncios: “vendo, vende-se, comprem”.

Mais quintais. A rua central de Luhansk se chamada Sovetskaya (soviética). No fundo – um prédio de escritórios parcialmente abandonados, por cima de contentores de lixo enferrujados está colado o anúncio da compra dos cabelos.

Mais quintais da rua duplamente “soviética”:

Mesmos quintais no centro de Luhansk.

Às vezes, para recolher o lixo é colocado um contentor maior, mas aparentemente – ninguém paga ou zela a sua remoção.

Mais quintais. Estacionamento local e lixeiras.

Um outro pátio da “pequena Suíça”, como chamam os fãs da “lnr” a sua “república popular”:

Transporte público, lojas e prédios habitacionais

O transporte público municipal praticamente desapareceu em Luhansk, se aguentam apenas os miniautocarros/miniônibus – funcionam sem horários fixos, abandonam a rota quando entendem, não chegam aos destinos finais, e assim por diante. Finalmente livres da Ucrânia! O minibus de Luhansk que perdeu a sua roda traseira no meio da estrada:

As entradas dos prédios de habitação. O poema exorta as virtudes do “mundo russo”: “mijo fora de sanita, p'ro c@ralho, não importa”, as tampas de caixas de correio foram quebradas, roubadas e vendidas à sucata.
A poesia do “mundo russo”: “mijo fora de sanita, p'ro c@ralho, não importa
Mais uma entrada. Alguém fez essa inscrição demorada e diligente, mostrando o seu “apreço” pela dita “lnr”:
“lnr [é uma] merda”
Em Luhansk funciona o supermercado Spar [sem a ligação com a cadeia holandesa desde o início de ocupação em 2014]. A variedade pode ser vista na foto à esquerda – algumas sopas secas, temperos e farinha. 
Os moradores comuns não fazem compras no Spar – essa é a prerrogativa dos dirigentes locais, que vivem como a nomenclatura soviética. Na foto à direita – na entrada das “lojas populares”, situadas nos prédios de habitação e outras pequenas instalações. São abertas das 8h00 às 20h00 e prometem pão de boa qualidade diariamente e as “patas de frango”.

Departamento de carne /açougue. Carne de frango picada custa 131 rublos (1,97 dólares) e “patas de frango” custam 36 rublos (0,54 dólares). Há também panquecas congeladas com queijo cottage.

Departamento de laticínios. Há leite (1), manteiga (2) e também muitas maioneses chamados “light”, “de casa de campo” e “de ovos de codornizes” (3).

Doçaria


Álcool

O passatempo popular em Luhansk é o consumo de álcool, principalmente a cerveja barata e vodca falsificada importada da Rússia. Isso permite se abstrair da realidade e não pensar sobre o que está acontecendo. Eles dizem que isso ajuda, especialmente em combinação o consumo das televisão, canais russas e da estação local.

Os locais de depósito de lixo nos bairros residenciais nas manhas:

Em Luhansk funcionam vários locais, chamados de “enchimentos” – onde o cidadão da “república” pode tomar a sua dose de álcool barato. Estes pontos se abrem nos prédios habitacionais e instalações vazias, aparentemente, é mais um negócio rentável de “lnr”.

A janela de um “enchimento” típico. Cliente vem à janela, entrega o dinheiro e recebe a sua dose de álcool.

Foto da recepção de um dos hospitais de Luhansk, onde em janeiro de 2018 foram registadas três comas alcoólicas numa só tarde...

Foto: ativistas | Internet | Texto: Maxim Mirovich

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