domingo, fevereiro 24, 2019

Olena Stepaniv: a primeira mulher oficial da história militar

Mais de um século atrás, a imprensa europeia escrevia sobre Olena Stepaniv, a voluntária ucraniana do exército austro-húngaro da I G.M. Historiadora e geógrafa, ela sobreviveu o GULAG comunista e morreu em Lviv em 1963.

Olena Stepaniv nasceu em 1892 na região de Lviv, na altura pertencente ao império Austro-Húngaro, filha do pároco da Igreja Grego-Católica Ucraniana. Na sua juventude foi muito ativa no movimento de escuteiros ucranianos “Plast”, em 1912 se tornou a estudante da Faculdade de Filosofia da Universidade de Lviv.

Com início da I G.M., Olena Stepaniv se voluntariou na unidade de Atiradores Ucranianos de Sich (Ukrainische Sitschower Schützen | Ukraïnski sichovi stril’tsi), conhecida historicamente pela sígla de “USS”.  

Apesar de ser oficialmente aceite na USS na qualidade de oficial, a sua vida no exército não foi facil. «Stepanivna», como era conhecida no meio militar, chegou à ser impedida de seguir à formação dos Atiradores na cidade de Striy, por ordem do comandante do comboio/trêm militar, que considerava que as mulheres não deveriam estar no exército, escreve o jornal ucraniano Den.
Postal austro-húngaro, Viena, janeiro de 1915 | imagem: Den
Mas já em janeiro de 1915 a imprensa austro-húngara escrevia exaustivamente sobre Olena Stepaniv. Vários exércitos europeus da época aceitavam mulheres nas unidades médicas, mas mulheres combatentes, e com muitíssimas dificuldades, apareciam apenas nas formações voluntárias, conhecidas como «legiões».
Olena Stepaniv, oficial (porta-bandeira) das USS | Wikipédia
A militar, que recebeu a medalha por coragem e conquistou uma posição de liderança (chegando ao posto de porta-bandeira da sua unidade), tornou-se uma lenda, sobre qual escrevia a imprensa, as suas fotos foram reproduzidas em folhetos, em sua honra foram compostas as canções.
Postal ucraniano com imagem da Olena Stepaniv, 1915 | imagem: Den
Em maio de 1915, mais de 7.000 militares austro-húngaros foram capturados pelo exército russo. Entre os 50 oficiais, estava Olena Stepaniv. “A maior sensação foi causada por uma jovem oficial de uniforme austríaco ... Rosto bonito puramente eslavo, traços muito juvenis, uma figura feminina bonita, uma fala rápida em ucraniano. Ela é ucraniana, de 22 anos, aluna de cursos superiores em Lviv, defensora convicta da independência da nação ucraniana. Para a guerra contra os “moscovitas” foi pela convicção e não escondeu o seu género”, – escrevia em 31 de julho de 1915 o jornal ucraniano Dilo, citando a imprensa russa.
foto: S. Mamov
“Na foto – a multidão de austríacos capturados por uma de nossas unidades na batalha do dia 17 de maio [de 1915]. Em primeiro plano – a capturada moça-oficial, que compartilha o destino deles. Ela é original da Galiza, a estudante de cursos superiores em Lviv, “mazepista” por convicção, uma odiadora da Rússia. Se alistou ao exército austríaco como voluntária”, – assim, a imprensa russa comentou a captura de Olena Stepanіv.

Dois meses antes da sua captura, o chefe do estado-maior da 78ª divisão de infantaria russa já informava as suas chefias superiores: «naquela colina estão duas companhias de atiradores de sich ucranianos, onde alguns cargos de oficiais são ocupados por mulheres».

Enviada para a profundezas do império russo, à cidade de Tachkent (Uzbequistão atual), Olena Stepaniv recorda como uma vez foi chamada perante oficial da secreta militar russa, conselheiro secreto Bulinsky, que quando ouviu que “Stepanivna” é ucraniana, a qualificou imediatamente de “separatista e mazepista”.

Apesar disso, exército imperial russo tratava Olena Stepaniv com dignidade, na sua qualidade de oficial em funções. No cativeiro russo ela recebia alimentação adequada, dentro de possibilidades os aposentos separados para dormir, embora também era vigiada com rigor redobrado. “Stepanivna” também gozava de simpatia por parte dos militares ucranianos do exército imperial russo. Numa ocasião os pilotos ucranianos lhe ofereceram uma grande caixa de conservas, explicando que pelo caminho até Uzbequistão será muito difícil de conseguir os alimentos.
foto: arquivo
Numa outra ocasião Olena Stepaniv foi literalmente obrigada à receber ajuda financeira vinda dos altos oficiais do exército austro-húngaro. No momento em que a sua situação financeira estava péssima, então o general austro-húngaro Weinsedorf (?), também aprisionado pelo exército russo, reuniu, entre os oficiais, a soma de 276 rublos e 50 coroas, que foram entregues, à contragosto, à jovem oficial ucraniana.

Em 1917 chegou a grande troca de prisioneiros, gerida pela Cruz Vermelha da Suécia. Olena Stepaniv foi uma das contempladas, voltando para a Galiza natal através da Finlândia, Suécia e Alemanha.
Imprensa austro-húngara noticia a libertação da O. Stepaniv do cativeiro russo
imagem: Den
As duas fotos abaixo foram tiradas na primavera de 1917 na cidade sueca de Haparanda, na fronteira com Finlândia. No decorrer da I G.M., a cidade se tornou num centro de troca de prisioneiros da guerra, entre os países que participaram nas hostilidades. Os originais das fotos estão arquivados no arquivo histórico do príncipe Carl (1861-1951). 
Fotos da Olena Stepaniv em Haparanda: vijsjkovaistorija
Após a queda definitiva da República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR), em 1919–1921 Olena Stepaniv estudou e foi graduada pela universidade de Viena, desde 1922 foi professora de história e geografia na escola das Irmãs Basilianas e na Universidade Clandestina Ucraniana de Lviv, que funcionou entre 1921 à 1925/6.
A campa da Olena Stepaniv no cemitério Lychakiv em Lviv
foto: Den
Apesar da reocupação soviética da Ucrânia Ocidental em 1944, Olena Stepaniv decide ficar. “A mãe odiava a ideia da emigração e decidiu ficar em Lviv", – contou o seu filho, também historiador ucraniano Yaroslav Dashkevych (1926-2010). Em 1949 Olena Stepaniv, na altura a docente da Universidade de Lviv, foi presa pelo MGB soviético, acusada de “atividades anti-soviéticas” e condenada à 10 anos de GULAG. Foi amnistiada em 1956, após a morte de Estaline e por razões de saúde. No entanto, aos 72 anos já não se sentia apta para voltar à docência. Morreu em Lviv em 1963 e foi sepultada no cemitério de Lychakiv.

Bónus

Yana Zabara é operadora de gestão e reconhecimento da bateria de artilharia de uma das Brigadas das FAU, que fazem parte do agrupamento operativo tático “Shid” (Leste).
Na linha da frente desde janeiro de 2015. Foi à guerra, acompanhando o seu pai, que foi mobilizado às FAU em agosto de 2014. Passou por uma das unidades voluntárias, depois disso assinou o contrato com as FAU. Defendeu as localidades Pisky e Krymske, deu cobertura às unidades ucranianas no Aeroporto de Donetsk (posição “Murashnyk”, literalmente Formigueiro).

Recentemente foi condecorada pela ordem militar Rainha Olga do III grau.

Glória à Ucrânia!

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