Mais
de um século atrás, a imprensa europeia escrevia sobre Olena Stepaniv, a voluntária
ucraniana do exército austro-húngaro da I G.M., historiadora e geógrafa, ela
sobreviveu o GULAG comunista e morreu em Lviv em 1963.
Olena Stepaniv nasceu em 1892 na região
de Lviv, na altura pertencente ao império Austro-Húngaro, filha do pároco da
Igreja Grego-Católica Ucraniana. Na sua juventude foi muito ativa no movimento
de escuteiros ucranianos “Plast”, em 1912 se tornou a estudante da Faculdade de
Filosofia da Universidade de Lviv.
Com
início da I G.M., Olena Stepaniv se voluntariou na unidade de Atiradores
Ucranianos de Sich (Ukrainische Sitschower Schützen | Ukraïnski sichovi
stril’tsi), conhecida historicamente pela sígla de “USS”.
Apesar
de ser oficialmente aceite na USS na qualidade de oficial, a sua vida no exército
não foi facil. «Stepanivna», como era conhecida no meio militar, chegou à ser impedida
de seguir à formação dos Atiradores na cidade de Striy, por ordem do comandante
do comboio/trêm militar, que considerava que as mulheres não deveriam estar no
exército, escreve o jornal ucraniano Den.
Postal austro-húngaro, Viena, janeiro de 1915 | imagem: Den |
Mas
já em janeiro de 1915 a imprensa austro-húngara escrevia exaustivamente sobre
Olena Stepaniv. Vários exércitos europeus da época aceitavam mulheres nas
unidades médicas, mas mulheres combatentes, e com muitíssimas dificuldades,
apareciam apenas nas formações voluntárias, conhecidas como «legiões».
Olena Stepaniv, oficial (porta-bandeira) das USS | Wikipédia |
A
militar, que recebeu a medalha por coragem e conquistou uma posição de
liderança (chegando ao posto de porta-bandeira da sua unidade), tornou-se uma
lenda, sobre qual escrevia a imprensa, as suas fotos foram reproduzidas em folhetos,
em sua honra foram compostas as canções.
Postal ucraniano com imagem da Olena Stepaniv, 1915 | imagem: Den |
Em
maio de 1915, mais de 7.000 militares austro-húngaros foram capturados pelo
exército russo. Entre os 50 oficiais, estava Olena Stepaniv. “A maior sensação
foi causada por uma jovem oficial de uniforme austríaco ... Rosto bonito
puramente eslavo, traços muito juvenis, uma figura feminina bonita, uma fala rápida
em ucraniano. Ela é ucraniana, de 22 anos, aluna de cursos superiores em Lviv, defensora
convicta da independência da nação ucraniana. Para a guerra contra os “moscovitas”
foi pela convicção e não escondeu o seu género”, – escrevia em 31 de julho de
1915 o jornal ucraniano Dilo,
citando a imprensa russa.
foto: S. Mamov |
“Na
foto – a multidão de austríacos capturados por uma de nossas unidades na
batalha do dia 17 de maio [de 1915]. Em primeiro plano – a capturada
moça-oficial, que compartilha o destino deles. Ela é original da Galiza, a
estudante de cursos superiores em Lviv, “mazepista”
por convicção, uma odiadora da
Rússia. Se alistou ao exército austríaco como voluntária”, – assim, a imprensa
russa comentou a captura de Olena Stepanіv.
Dois
meses antes da sua captura, o chefe do estado-maior da 78ª divisão de
infantaria russa já informava as suas chefias superiores: «naquela colina estão
duas companhias de atiradores de sich ucranianos, onde alguns cargos de oficiais
são ocupados por mulheres».
Enviada
para a profundezas do império russo, à cidade de Tachkent (Uzbequistão atual),
Olena Stepaniv recorda como uma vez foi chamada perante oficial da secreta
militar russa, conselheiro secreto Bulinsky, que quando ouviu que “Stepanivna”
é ucraniana, a qualificou imediatamente de “separatista e mazepista”.
Apesar
disso, exército imperial russo tratava Olena Stepaniv com dignidade, na sua qualidade de oficial em funções. No cativeiro russo ela recebia alimentação adequada,
dentro de possibilidades os aposentos separados para dormir, embora também era
vigiada com rigor redobrado. “Stepanivna” também gozava de simpatia por parte dos militares
ucranianos do exército imperial russo. Numa ocasião os pilotos ucranianos lhe
ofereceram uma grande caixa de conservas, explicando que pelo caminho até
Uzbequistão será muito difícil de conseguir os alimentos.
foto: arquivo |
Numa
outra ocasião Olena Stepaniv foi literalmente obrigada à receber ajuda
financeira vinda dos altos oficiais do exército austro-húngaro. No momento em que a sua situação
financeira estava péssima, então o general austro-húngaro Weinsedorf (?),
também aprisionado pelo exército russo, reuniu, entre os oficiais, a soma de 276 rublos e 50 coroas,
que foram entregues, à contragosto, à jovem oficial ucraniana.
Em
1917 chegou a grande troca de prisioneiros, gerida pela Cruz Vermelha da
Suécia. Olena Stepaniv foi uma das contempladas, voltando para a Galiza natal através
da Finlândia, Suécia e Alemanha.
Imprensa austro-húngara noticia a libertação da O. Stepaniv do cativeiro russo imagem: Den |
As
duas fotos abaixo foram tiradas na primavera de 1917 na cidade sueca de Haparanda, na fronteira com
Finlândia. No decorrer da I G.M., a cidade se tornou num centro de troca de
prisioneiros da guerra, entre os países que participaram nas hostilidades. Os
originais das fotos estão arquivados no arquivo histórico do príncipe
Carl (1861-1951).
Fotos da Olena Stepaniv em Haparanda: vijsjkovaistorija |
Após
a queda definitiva da República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR), em 1919–1921 Olena Stepaniv estudou e
foi graduada pela universidade de Viena, desde 1922 foi professora de história
e geografia na escola das Irmãs Basilianas e na Universidade Clandestina Ucraniana
de Lviv, que funcionou entre 1921 à 1925/6.
A campa da Olena Stepaniv no cemitério Lychakiv em Lviv foto: Den |
Apesar
da reocupação soviética da Ucrânia Ocidental em 1944, Olena Stepaniv decide
ficar. “A mãe odiava a ideia da emigração e decidiu ficar em
Lviv", – contou o seu filho, também historiador ucraniano Yaroslav Dashkevych
(1926-2010). Em 1949 Olena Stepaniv, na altura a docente da Universidade de
Lviv, foi presa pelo MGB soviético, acusada de “atividades anti-soviéticas” e
condenada à 10 anos de GULAG. Foi amnistiada em 1956, após a morte de Estaline
e por razões de saúde. No entanto, aos 72 anos já não se sentia apta para
voltar à docência. Morreu em Lviv em 1963 e foi sepultada no cemitério de
Lychakiv.
Bónus
Yana
Zabara é operadora de gestão e reconhecimento da bateria de artilharia de uma
das Brigadas das FAU, que fazem parte do agrupamento operativo tático “Shid” (Leste).
Na
linha da frente desde janeiro de 2015.
Foi
à guerra, acompanhando o seu pai, que foi mobilizado às FAU em agosto de 2014. Passou por uma das unidades voluntárias, depois disso assinou o
contrato com as FAU. Defendeu as localidades Pisky e Krymske, deu cobertura às unidades ucranianas no Aeroporto de
Donetsk (posição
“Murashnyk”, literalmente Formigueiro).
Recentemente foi condecorada pela ordem militar Rainha Olga do III grau.
Glória à Ucrânia!
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