Após
o seu aparecimento na URSS, as canetas esferográficas
foram banidas nas escolas soviéticas, as autoridades escolares viram nelas algo
antipedagógico. Depois vieram as pastas/maletas executivas, chamadas na União
Soviética de “diplomat”, que também foram proibidas, pelo menos aos alunos do primário.
As esferográficas soviéticas, década de 1970-80 |
As
pastas/maletas ficavam de pé ao longo das passagens entre as filas de carteiras
escolares, junto delas. Às vezes caíam. E este som afiado, semelhante a uma
explosão do TNT, assustava as professoras, já assim mesmo nervosas – podiam ter
pensado que tinha começado a guerra. Os estudantes estónios de Tallinn ficaram
indignados e não aceitaram a proibição. Na Rússia soviética, a percentagem de
membros do Komsomol em cada turma, naquela época rondava cerca de 99% dos alunos e na Estónia – não passava de 3%.
Rebeldes silenciosos, em geral. E muito unânimes. A nação entendia tudo sem as palavras.
As pastas/maletas executivas, chamadas na URSS de “diplomat” |
E
então os alunos estónios vieram para casa e contam aos pais – “agora já não
podemos”. E os pais responderam – “bem, o que fazer? As pastas/maletas “diplomat”
são caras, o dinheiro já foi gasto, não podemos lhe comprar uma nova pasta,
filho(a)”. E todos os alunos da Estónia foram para a escola na manha seguinte com
os baldes. Dentro dos baldes – as canetas, lápis, cadernos, livros didáticos. E
naqueles anos antigos, a humanidade ainda não tinha inventado os baldes plásticos
– os baldes eram apenas metálicos. Eles chocalhavam e rangiam terrivelmente.
Como o balde é uma coisa redonda, era inconveniente carregá-lo para a escola.
A imagem apenas ilustrativa @arquivo |
Mas
todo o Tallinn apoiou o protesto dos alunos. Nos autocarros/ônibus, os deixavam
passar para frente, dando-lhes a passagem. E todo o Tallinn retumbava nas manhãs
e às tardes. Em todos os lugares o caso foi discutido. E os proibidores
recuaram. Levantaram a sua proibição. E os alunos da Estónia, tão jovens que
eram, receberam uma experiência inspiradora de uma vitória civil. Essa
experiência não desapareceu – ajudou ao seu país no futuro (original).
Blogueiro:
é de notar que autor do texto é realizador e guionista russo Edward Reznik, nascido em
1960, e como tal, ele recorda a realidade da sua própria juventude, das décadas
de 1960-1970. Os seus críticos, geralmente nasceram 10-20-30 anos depois, e
como tal, se recordam das suas próprias realidades escolares, porventura já
mais liberais, onde menos coisas eram proibidas e mais permitidas.
Algumas
outras proibições, em voga nas escolas soviéticas (décadas 1970-1990):
- As meninas não podiam usar as
fitas coloridas nos cabelos, as fitas deveriam ser apenas de cor preta ou castanha/marrom.
Noutras escolas e localidades, pelo contrário, se exigia que as alunas até
10ª classe obrigatoriamente deveriam usar as fitas brancas e aventais
(Sic!) brancos, por cima do seu fardamento castanho/marrom;
- na escola primária (e as vezes
até na secundária) as meninas eram proibidas de usar brincos e se maquiar,
a todos proibiam usar os relógios de pulso, geralmente os professores diziam:
“amanha, por favor, não leve o seu relógio para escola, se os seus pais
deixam, use o em casa”;
- aos alunos do secundário era
proibido de usar jeans (saias ou calças, mesmo fora de horas letivas) e
cabelo cumprido (aos rapazes) e determinados cortes “adultas” (meninas e
rapazes). A direção de algumas escolas chegava de medir (Sic!) o
cumprimento de cabelo nos rapazes com a régua;
- na primária os alunos podiam
escrever apenas com as esferográfica de cor azul e nunca de cor preta, por
vezes chegava-se à exigir que a tonalidade da cor azul seja igual ao longo
do ano (Sic!), para isso, os professores sugeriam comprar “várias canetas do
mesmo lote”.
- nas matines dançantes (nas discotecas escolares) as meninas eram proibidas de usar qualquer tipo de calças, mesmo se estas faziam parte de um fato/terno feminino.
“Slow” numa discoteca escolar, década de 1980 |
E
naturalmente existiam diversas outras proibições, desiguais em diversas repúblicas,
regiões, cidades, bairros e mesmo entre as escolas. Muitas destas proibições
dependiam quase exclusivamente das vontades locais, dos gostos ou desgostos das representantes dos serviços
estatais de educação, das diretoras de escolas ou responsáveis dos gabinetes pedagógicos.
Em geral, as maiores proibições decorriam no interior soviético e quando mais
ao leste; já as regras mais liberais reinavam nas grandes cidades, nas cidades
portuárias e no ocidente, principalmente nos países bálticos.
Aviso: "A entrada de JEANS ao local dançante é PROIBIDA!" Administração |
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