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“A
Tragédia de um Povo”, de Orlando Figes, agora editado em Portugal, é um dos
estudos clássicos da revolução russa, das suas origens e consequências. O
jornalista José Manuel Fernandes entrevistou o historiador.
A
revolução não aconteceu, como Marx tinha previsto, num país industrializado,
antes na velha Rússia czarista onde 80% da população ainda trabalhava nos
campos. Orlando Figes defende que sem compreender as raízes camponesas das
revoltas que levaram, primeiro, à revolução frustrada de 1905, depois à
revolução de fevereiro de 1917, que afastou o czar Nicolau II do poder, e por
fim à revolução de outubro, não conseguimos perceber o que se passou há 100
anos nas ruas e palácios de Petrogrado, hoje São Petersburgo.
Nesta
história que quis contar como se fosse uma tragédia grega, um drama de todo um
povo, emergem contudo algumas figuras centrais, como Nicolau II, cujo
imobilismo e inépcia permitiram o agudizar de sucessivas crises, e sobretudo
Lenine, que percebeu que podia fazer uma revolução organizando um golpe de
Estado e tomando o poder. “Foi esse o génio de Lenine, é esse o seu modelo de
revolução”, explicou-nos o historiador numa entrevista em que também exploramos
outros mistérios, como o da incapacidade de, em 1917, os socialistas moderados
fazerem frente aos bolcheviques.
Ler a entrevista na íntegra |
Numa
Rússia onde o povo foi educado, gerações atrás de gerações, regimes atrás de
regimes, à passividade, a prevalência atual de um autocrata como Putin também
não surpreende Figes, para quem o erro do Ocidente foi sempre sobrestimar a
força da intelligentsia liberal. Por isso, se este “A Tragédia de um Povo”
termina o seu relato em 1924, com a morte de Lenine, o destino da Rússia mesmo
depois de 1991 continuou a ser, como ele diz, a “tragédia de um povo”.
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mais
LMF:
Publicou “A Tragédia de um Povo” há 20 anos, pouco tempo depois da abertura dos
arquivos soviéticos. Com o que sabemos hoje, com o que já se descobriu nesses
arquivos, mudaria alguma coisa em “A Tragédia de um Povo”?
OF:
Acho que a resposta é: não muito. Não há muito mais sobre este período. Teria
escrito o livro de maneira diferente? Sim, talvez mudasse uma coisa ou duas.
Daria mais ênfase à I Guerra e ao seu impacto na revolução. Daria mais
importância às nacionalidades. Olharia mais profundamente para a Ucrânia e para
o “fator Ucrânia” na revolução. Seria um livro mais empírico do que é. Mas se
há alguma coisa que teria de ser completamente reescrita? Acho que não.
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