sexta-feira, novembro 03, 2017

Orlando Figes descodificando a sua “A Tragédia de um Povo”

Comprar o livro
“A Tragédia de um Povo”, de Orlando Figes, agora editado em Portugal, é um dos estudos clássicos da revolução russa, das suas origens e consequências. O jornalista José Manuel Fernandes entrevistou o historiador.

A revolução não aconteceu, como Marx tinha previsto, num país industrializado, antes na velha Rússia czarista onde 80% da população ainda trabalhava nos campos. Orlando Figes defende que sem compreender as raízes camponesas das revoltas que levaram, primeiro, à revolução frustrada de 1905, depois à revolução de fevereiro de 1917, que afastou o czar Nicolau II do poder, e por fim à revolução de outubro, não conseguimos perceber o que se passou há 100 anos nas ruas e palácios de Petrogrado, hoje São Petersburgo.

Nesta história que quis contar como se fosse uma tragédia grega, um drama de todo um povo, emergem contudo algumas figuras centrais, como Nicolau II, cujo imobilismo e inépcia permitiram o agudizar de sucessivas crises, e sobretudo Lenine, que percebeu que podia fazer uma revolução organizando um golpe de Estado e tomando o poder. “Foi esse o génio de Lenine, é esse o seu modelo de revolução”, explicou-nos o historiador numa entrevista em que também exploramos outros mistérios, como o da incapacidade de, em 1917, os socialistas moderados fazerem frente aos bolcheviques.
Ler a entrevista na íntegra
Numa Rússia onde o povo foi educado, gerações atrás de gerações, regimes atrás de regimes, à passividade, a prevalência atual de um autocrata como Putin também não surpreende Figes, para quem o erro do Ocidente foi sempre sobrestimar a força da intelligentsia liberal. Por isso, se este “A Tragédia de um Povo” termina o seu relato em 1924, com a morte de Lenine, o destino da Rússia mesmo depois de 1991 continuou a ser, como ele diz, a “tragédia de um povo”.


LMF: Publicou “A Tragédia de um Povo” há 20 anos, pouco tempo depois da abertura dos arquivos soviéticos. Com o que sabemos hoje, com o que já se descobriu nesses arquivos, mudaria alguma coisa em “A Tragédia de um Povo”?


OF: Acho que a resposta é: não muito. Não há muito mais sobre este período. Teria escrito o livro de maneira diferente? Sim, talvez mudasse uma coisa ou duas. Daria mais ênfase à I Guerra e ao seu impacto na revolução. Daria mais importância às nacionalidades. Olharia mais profundamente para a Ucrânia e para o “fator Ucrânia” na revolução. Seria um livro mais empírico do que é. Mas se há alguma coisa que teria de ser completamente reescrita? Acho que não.
Ler mais

Sem comentários: