O
jornal The
New York Times publicou os trechos dos diários do ex-chefe do Laboratório
antidopagem de Moscovo, Grigory
Rodchenkov. Isso acontece nas vésperas da reunião do Comité Executivo do Comité
Olímpico Internacional (COI), que decidirá a admissão (ou não) da Rússia aos
Jogos Olímpicos de 2018 na Coreia do Sul.
por:
Rebecca R. Ruiz, 28/11, 2017
O
químico russo Grigory Rodchenkov passou anos ajudando os atletas russos a ganharem vantagem ao usarem as substâncias proibidas. Seus diários de 2014 e 2015 descrevem
os seus últimos anos como chefe de laboratório antidoping da Rússia antes de escapar
aos Estados Unidos – fornecem um novo nível de detalhes sobre a fraude
desportiva da Rússia nos últimos Jogos Olímpicos de Inverno [em Sochi] e a
medida em que, o governo russo e as autoridades olímpicas russas estiveram
envolvidas.
Suas
notas, vistas pelo The New York Times e anteriormente não reveladas, falam
sobre uma questão-chave para as autoridades olímpicas [internacionais]: o
envolvimento do estado russo na fraude desportiva maciça. Nos últimos dias,
ficou claro que o Comité Olímpico Internacional está convencido da
autenticidade das notas e que é provável que estas contribuam para a decisão do
grupo de aplicar as penas severas [à Rússia e aos seus atletas].
Funcionários
do COI anunciarão a sua decisão no dia 5 de dezembro. Se eles não banirão a
Rússia por completo dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, na
Coreia do Sul, eles provavelmente manterão todos os emblemas russos fora dos
Jogos: a bandeira russa não será usada nas cerimónias de abertura e de encerramento,
os atletas russos competirão em uniformes neutros e o hino russo não seria tocado.
Tais restrições, disseram autoridades russas, equivaleriam à uma proibição
absoluta, e a Rússia consideraria o boicote das Olimpíadas de 2018.
Juntamente
com as declarações ajuramentadas do Dr. Rodchenkov, os diários detalham
discussões específicas sobre fraudes que ele realizou juntamente com
importantes funcionários, incluindo Vitaly Mutko, o ministro do desporto da
Rússia na época, que agora é vice-primeiro ministro do governo russo; Yuri
Nagornykh, ex-vice-ministro do desporto de Mutko, que também pertencia ao
Comité Olímpico da Rússia; e Irina Rodionova, ex-vice-diretora do centro desportivo
das equipas nacionais da Rússia.
Em
13 de janeiro de 2014, o Dr. Rodchenkov escreveu que o assistente da Sra.
Rodionova, Aleksey Kiushkin, lhe trouxe um coquetel de drogas conhecido entre
os oficiais como “Dushes”, uma mistura de três esteróides anabolizantes com martini.
O Dr. Rodchenkov havia criado essa bebida para os melhores atletas russos que
participaram nas Olimpíadas, e a Sra. Rodionova a preparou e distribuiu entre
os treinadores e atletas.
No
dia 1 de fevereiro de 2014, ele seguiu instruções que o Sr. Nagornykh, o
vice-ministro, lhe havia dado no hotel “Azimut” na noite anterior. O Dr.
Rodchenkov inspecionou o prédio ao lado de seu laboratório, controlado pelo
Serviço Federal de Segurança (FSB). A urina [limpa] chegou a Sochi e foi
armazenada sub-repticiamente lá, mas as amostras não foram classificadas por cada
tipo de desporto ou alfabetizadas por nome de atleta correspondente.
No
dia 3 de fevereiro de 2014, quatro dias antes do início dos JO de Sochi, os
preparativos do Dr. Rodchenkov culminaram com sua apresentação ao Sr. Mutko, o
ministro dos desportos. Numa reunião no escritório do Sr. Mutko na sede do
comité organizador local, o Dr. Rodchenkov entregou ao Sr. Mutko uma cópia da “Lista
Dushes”, enumerando dezenas de atletas olímpicos russos que estavam ingerindo o
coquetel de drogas e tinham que ter a sua urina incriminadora trocada pela urina
limpa, armazenada previamente.
Nessa
reunião, o ministro [Mutko] sugeriu manter o laboratório olímpico [de Sochi] aberto
após os Jogos, como um lugar para experimentar novas fronteiras de doping.
Funcionários
russos sugerem que o Dr. Rodchenkov atuava sozinho na manipulação de mais de
100 amostras incriminadoras de urina em Sochi, um ato que até o momento levou
as autoridades mundiais a [anular e] pedir à Rússia que devolva 11 medalhas
olímpicas.
Dr.
Rodchenkov e seu advogado [Jim Walden do escritório de advocacia Walden, Macht
and Haran] dizem que as notas do diário deixam claro que ele era apenas um peão
num sistema controlado nos mais altos níveis do estado russo. Os documentos
publicados hoje pelo Comité Olímpico Internacional indicam que eles também
aceitam isso.
“Dr.
Rodchenkov dizia a verdade quando ele forneceu explicações sobre o esquema de
encoberta que ele geria”, disseram as autoridades olímpicas na primeira decisão
disciplinar relacionada ao escândalo de doping russo, justificando uma
proibição vitalícia aos 19 atletas russos até agora punidos pelos esquemas de
Sochi.
O
Dr. Rodchenkov disse ao The Times no ano passado que ele apontava os detalhes
de seu trabalho em Moscovo de forma consciente e não usando um computador –
como fazia o seu amigo Nikita Kamayev, ex-chefe da autoridade de antidopagem da
Rússia (RUSADA), que morreu, subitamente,
em 2016. O Dr. Rodchenkov atribuiu a morte súbita do Sr. Kamayev ao anúncio de
que ele estava escrevendo um livro, de que o Dr. Rodchenkov tentou dissuadi-lo.
Ler
o texto completo em inglês.
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