Uma
organização de defesa dos direitos humanos na Coreia do Norte descobriu diversos
novos campos de concentração no país. E partilhou pormenores sobre os métodos
de tortura que se passam por lá. Veja as fotos de satélite e as ilustrações.
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por:
Marta Leite Ferreira, Observador.pt
Um
novo relatório
do Comité para os Direitos Humanos da Coreia do Norte desvendou a existência de
uma nova rede de campos prisionais até agora desconhecida na Coreia do Norte.
Esta organização teve acesso a 20 novas imagens de satélite de cadeias e
prisões, denominadas pelos prisioneiros que escaparam por “an-jeon-bu”,
controlados pelo Ministério da Segurança do Povo no país. O Comité partilhou as
fotografias
em causa e deu mais pormenores sobre o que se passa lá dentro — desde os
métodos de tortura aos esquemas de trabalho forçado.
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De
acordo com o documento, que tem o título “O Gulag Paralelo”, existem dois tipos
de campos prisionais: o kwan-li-so é uma prisão de longo termo e o kyo-hwa-so é
um campo de reeducação. O primeiro é gerido pelo Departamento de Segurança do
Estado e o segundo pertence ao Ministério da Segurança do Povo. Em ambos, os
prisioneiros são sujeitos a trabalhos forçados e vivem em condições
deploráveis, mas o kwan-li-so é destinado a prisioneiros julgados pelas leis
norte-coreanas e o kyo-hwa-so é um campo para presos políticos onde podem ficar
detidas até três gerações do prisioneiros e onde todos podem ser sujeitos a
tortura.
Ler o relatório em PDF, 142 páginas |
Estas
informações foram cedidas ao Comité, que é atualmente liderado pelo antigo
presidente da Amnistia Internacional nos Estados Unidos, por pessoas que
conseguiram fugir destas prisões para a Coreia do Sul. Segundo elas, há uma
sala com uma vara de metal presa na parede a 60 centímetros do chão onde os
prisioneiros são acorrentados com algemas e colocados quase de cócoras. Depois,
um militar bate-lhes no peito até que vomitem sangue, um método a que os
norte-coreanos chamam “a tortura do pombo”.
Nos
mesmos campos de tortura, a escassez de alimentos leva os prisioneiros a
caçarem ratos e cobras que caminham pelas grades. Essa é uma situação ainda
mais comum nas solitárias, onde os prisioneiros são deixados em celas com um
metro de largura e 1,20 metros de comprimento. Quando morrem, os cadáveres dos
prisioneiros são deixados dentro das celas e os ratos devoram-lhes o corpo.
Estes
relatos já tinham sido confirmados pelo ilustrador Kim Kwang-li, que depois de
escapar fez oito desenhos onde explicou a vida dentro destes campos. Veja as
ilustrações.
As
novas informações vêm complementar os dados recolhidos pela Amnistia
Internacional há cerca de um ano, quando se estimou que houvesse cerca de 120
mil homens, mulheres e crianças nas prisões kwan-li-so, que funcionam como os
campos de concentração nazi [e comunistas] da II Guerra Mundial. Estas prisões — a que os
informadores chamam “os campos de flores de Yodok — são palco de múltiplos
crimes, deste tortura, a fome, trabalhos forçados, violação e assassinatos, mas
a sua existência só é conhecida porque alguns dos prisioneiros conseguem
escapar para a Coreia do Sul.
A
Coreia do Norte continua a negar que estas prisões existam, apesar dos relatos
dos prisioneiros e das imagens de satélite que têm sido divulgadas. De acordo
com a Amnistia Internacional, o número de campos prisionais norte-coreanos
duplicou entre 2010 e 2016 — e estima-se que tenham sido construídas muitas
mais este ano.
Em
dezembro de 2008, o jornalista Blaine Harden do The Washington Post
encontrou-se com um antigo prisioneiro para um almoço em Seul. No livro “A fuga
do campo 14: a dramática jornada de um prisioneiro da Coreia do Norte rumo à liberdade
no Ocidente”, o jornalista descreve como o corpo do homem estava cheio de
queimaduras nas pernas e nas costas. Os dedos do prisioneiro estavam deformados
e os braços estavam curvados por causa do trabalho forçado a que tinha sido
sujeito em criança. Shin, o nome do prisioneiro, tinha nascido no Campo 14 e
culpa a mãe pela infância que teve: de acordo com Blaine Harden, Shin tinha
tanto medo de ser torturado ou de morrer que avisou os guardas de que a mãe
estava a planear fugir. A mãe foi morta, mas Shin foi torturado à mesma.
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Outro relato que chega
desses campos prisionais é o de um antigo funcionário, Lee Young-guk, que se
despediu quando viajou para fora da Coreia do Norte e percebeu quão atroz era o
regime no seu país de origem. Foi preso na China por traição, mas acabou por
fugir. Diz que os militares norte-coreanos matam prisioneiros uma vez por
semana e que todos os outros são obrigados a assistir. Passa-se tanta fome que
os prisioneiros não têm força para manter a cabeça levantada: “Parecem
esqueletos ambulantes”. Enquanto era militar, teve de levar os cadáveres “ainda
com os fluidos a saírem de dentro deles” para os crematórios.
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