No
dia 6 de outubro os duas instituições europeias, na França e na Alemanha, detetaram
a nos céus da Europa a concentração centenas de vezes superior ao normal do ruténio-106
e até apontaram a localização exata da sua fonte – sul dos montes Urais na
Rússia, não descartando, de tudo, as outras regiões russas.
O
aviso foi dado pelo Instituto de Segurança Nuclear e de Radiação da França
(IRSN) e o pelo Escritório Federal alemão de Proteção contra Radiação
(Bundesamt für Strahlenschutz), informa a televisão russa tvrain.ru
O mapa do IRSN, que mostra a concentração do ruténio-106 no ar na Europa no período entre 27 de setembro e 13 de outubro |
As
entidades oficiais russas negaram que são responsáveis pelo acidente, assim, no
dia 11 de outubro a imprensa russa, citando a corporação estatal russa de
energia nuclear «Rosatom» afirmou
que a fonte de contaminação radioativa esteja “num dos países do leste da União
Europeia”.
A chegada do combustível nuclear usado na fábrica Maydak em 19 de setembro de 2017 (a foto foi publicada em 6 de outubro) |
No
entanto, a ativista russa dos direitos humanos, Nadezhda Kutepova, que recentemente
recebeu o asilo político na França após ser acusada de espionagem pelo canal estatal
televisivo russo “Rossiya”, apontou
como a possível fonte de contaminação a fábrica RT-1 “Mayak” de reprocessamento
de combustível nuclear usado, parte da “Rosatom”, localizada na cidade fechada
de Ozersk. Supondo que o incidente poderia ocorrer entre os dias 24-25 de
setembro, pois naquela momento a fábrica recebeu os contentores e combustível de
um novo tipo.
O momento do descarregamento do novo contentor |
O
vice-governador da região de Chelyabinsk, Oleg Klimov, confirmou: “encontramos o ruténio,
sabemos com certeza” e que o seu governo regional realizará a reunião com
especialistas da “Rosatom” e os funcionários da fábrica. “A dose do ruténio é
absolutamente insignificante”, — assegura Klimov, jurando que o seu
aparecimento não está relacionado com o funcionamento de “Mayak” e outras
empresas localizadas na região de Chelyabinsk.
Fábrica "Mayak" na cidade de Ozersk, ex-Chelyabinsk-65, palco do acidente nuclear soviético de setembro de 1957 |
No
entanto, no seu boletim
de setembro de 2017, publicado em 20 de novembro, um outro organismo estatal
russo, Rosgydromet nota que as concentrações mais significativas de ruténio-106
foram encontradas nas aldeias nos arredores da fábrica “Mayak”. Rosgydromet
também reconheceu que, no final de setembro e no início de outubro de 2017, foram
surgindo as condições atmosféricas da transferência ativa de massas de ar e dos
poluentes do território dos Urais do Sul para a região do Mediterrâneo e para o
norte da Europa.
Funcionário da fábrica Maydak | foto @RIAN |
Após
a divulgação do relatório, a Greenpeace Rússia
prometeu enviar a carta ao Ministério Público russo com um pedido de verificação
do possível encobrimento de um acidente nuclear. Segundo os ecologistas, a
liberação de rutênio-106 poderia estar associada à vitrificação do combustível
nuclear usado.
Em
jeito de resposta, no dia 21 de novembro, Rosgydromet assegurou que a
concentração de rutênio-106 não representava uma ameaça para a população.
Quando perguntado se eles procuram a fonte de contaminação, o organismo respondeu:
“Para que procurar quando não há perigo?” No mesmo dia 21 de novembro a
instituição de pesquisa russa “Typhoon”, parte do Rosgydromet, informou da
ocorrência na região russa de Bashkiria da primeira chuva contaminada pelo ruténio-106.
O organismo explicou que a sua presença na atmosfera indica, como regra, uma libertação
acidental [dado que ruténio não se encontra na natureza e é um produto da fissão
de núcleos de urânio e plutónio nos locais onde ocorre uma reação em cadeia –
em reatores de estações de energia nuclear, submarinos, bem como na explosão de
bombas atómicas].
Um dos locais de zona de exclusão radioativa na região de Chelyabinsk, resultado do acidente nuclear de 1957 |
Como
explica o especialista do programa da segurança nuclear e radiológica da União
Socioecológica Internacional, Andrei Ozharovsky, os factos do boletim de Rosgydromet
mostraram que nos meados de outubro “Rosatom” forneceu ao público as informações
incorretas. “O relatório de Rosgydromet diz que, no território da Rússia foi
notado um excesso significativo de ruténio radioativo. [...] Ou seja, com uma
taxa normal de 10 [unidades], foram registadas 1.500. O horror é que ninguém
sabe da onde o isótopo radioativo veio à atmosfera. Este é um radionuclídeo
artificial, não pode aparecer por razões naturais. Talvez tenha havido um
acidente em algum lugar, como costuma acontecer”, diz Ozharovsky. Ao mesmo
tempo, ele observou não é clara a origem do acidente, porque na Rússia existem
várias fábricas envolvidas na produção do ruténio, inclusive nas cidades de Obninsk
e Dimitrovgrad. A fonte também pode ser a fábrica “Mayak”, porque eles
trabalham com o tipo o mais perigoso de resíduos nucleares, o combustível
nuclear gasto, que contém ruténio.
Fotos Maxim Mirovich | Texto htvrain.ru
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