terça-feira, abril 30, 2013

Os filhos do GULAG: alemães na URSS


Em 2011 a realizadora alemã Loretta Walz concluiu o seu filme documental “Im Schatten des Gulag – als Deutsche unter Stalin geboren” (Na sombra do GULAG: os alemães nascidos sob Estaline), dedicado à vida dos alemães que fugindo dos nazis acabaram no inferno comunista.

Os comunistas alemães escolhiam o exílio soviético para evitar as perseguições nazis. Os seus filhos os acompanhavam, ou já nasciam no exílio. Durante as purgas estalinistas dos anos 1930 os adultos eram presos, deportados para GULAG ou fuzilados. Os seus filhos eram enviados aos orfanatos, outros deportados para Sibéria ou Cazaquistão. Vários deles passaram pelos trabalhos forçados e inimizade generalista sentida pelos “estranhos”, que aumentou sobremaneira durante a II Guerra Mundial.

Nos anos 1950 eles voltam à RDA, onde novamente se tornam “estrangeiros”, não falam alemão, são chamados de “russos” e não sentem muito amor pátrio. A própria RDA é governada pela gente que voltou do exílio soviético e tem muitas razões pessoais de ficar calada (e exigir o mesmo dos outros), principalmente sobre os acontecimentos do terror estalinista.

Apenas após a queda do Murro de Berlim em 1989, os “filhos do GULAG” decidem falam. Eles contam as histórias de abandono, do sentimento de distanciamento em relação aos pais ou relações dúbias que os obrigam até hoje habitar nas ideais comunistas dos progenitores.

O filme é baseado nos depoimentos de oito mulheres e homens que tem um ponto em comum: eles passaram a sua meninice e juventude na URSS, os seus pais foram vítimas do estalinismo, foram perseguidos e assassinados pelo regime soviético. Muitos deles até hoje desconhecem o destino dos pais ou o que se passou com eles próprios.

“Na sombra do GULAG” foi gravado na Alemanha e Rússia entre 2006-2009, além dos depoimentos das testemunhas usa vários materiais de arquivo.

Na Rússia o filme será exibido no âmbito do Ano da Alemanha na Rússia e sob apoio do Instituto Histórico da Alemanha e Instituto de Goethe em Moscovo, no dia 30 de abril de 2013, às 18h00 no Museu Estatal da História do GULAG (http://www.gmig.ru). A exibição será seguida do debate em que participará a Loretta Walz e um dos heróis do filme.

Endereço: Moscovo, rua Petrovka № 16, Tel. + 7 495 6217310

Visitem também o Museu virtual do GULAG de São Petersburgo

segunda-feira, abril 29, 2013

Tragédia ucraniana da ação comunista polaca Akcja Wisła

Exército polaco deporta os camponeses ucranianos | reprodução: Wojciech Surdziel / Agencja Gazeta
No dia 28 de abril Ucrânia recorda Akcja Wisła (Operação Vístula), ato de limpeza étnica perpetuado pelo estado comunista polaco contra a população ucraniana que após o fim da II G.M., vivia nos territórios etnicamente ucranianos da República Popular da Polónia.

Antecedentes da operação

Em setembro de 1944, o Comité Polaco de Libertação Nacional (governo comunista de-facto), assinou os acordos com Ucrânia, Belarus e Lituânia soviéticos sobre a “troca” de populações, que permitia transformar as novas fronteiras políticas em fronteiras etnográficas. Nesta base, entre outubro de 1944 e agosto de 1946 cerca de 482 mil ucranianos foram repatriadas da Polónia para Ucrânia e cerca de 788 mil polacos saíram da Ucrânia para a Polónia.

Akcja Wisła (Operação Vístula)
A foto tirada na mesma ocasião e do mesmo ângulo | | reprodução: Wojciech Surdziel / Agencja Gazeta
Não satisfeito com os resultados desta limpeza étnica, em 28 de abril de 1947, o poder comunista polaco lança a Operação Vístula, durante a qual o exército polaco deportou cerca de 140,5 mil ucranianos.

A Operação Vístula era acompanhada pela violência da guerrilha nacionalista polaca (principalmente grupos NSZ e NOW, mas também algumas unidades de Armija Krajowa) contra as populações ucranianas. Apenas o grupo Liberdade e Independência (WiN), saído de AK, se opunha ao terror contra os ucranianos, chegando efetuar as operações militares conjuntas com Exército Insurgente Ucraniano (UPA).

Embora em 1990 a Operação Vístula foi condenada pelo Senado polaco e em 1997 pelo presidente Aleksander Kwasniewski, mesmo nos dias de hoje não existe na sociedade polaca a atmosfera favorável à uma correção mínima dos males infringidos aos ucranianos.


Bónus

Paweł Smoleński [8/03/2017]: pela primeira vez desde 1989, o governo [polonês/polaco] não concedeu subsídios aos ucranianos polacos/poloneses para recordar o aniversário da Ação/Operação Wisła – as deportações do povo ucraniano e [do sub-grupo] lemko.

(como a atual sociedade polaca vê o legado da Operação Wisła, ler mais em polaco/polonês).

Ler mais sobre o tema:

sábado, abril 27, 2013

Cossacos ucranianos em Viena


Na capital austríaca foi inaugurado o monumento aos cossacos ucranianos que participaram na Batalha de Viena de 1683 (situado no 19º distrito da cidade, no parque ao lado da igreja católica ucraniana).

A inauguração do monumento foi pensada para coincidir com os dias de Kyiv em Viena que estavam a decorrer entre 22 e 24 de abril. O monumento foi suportado financeiramente pelo empresário ucraniano que vive e trabalha na Áustria, com ajuda do presidente da câmara municipal vienense, Michael Häupl. Os autores do monumento são dois escultores ucranianos, Volodymyr e Olexiy Chepelyk.

Na abertura do monumento Michael Häupl disse: “Este lugar tornou-se uma pedra basilar do nosso passado comum. Recordamo-nos dele e homenageamo-lo, mas também focamos para o futuro. Estou confiante, Kyiv e Viena têm excelentes perspetivas para o desenvolvimento conjunto e a cooperação mutuamente benéfica”, escreve Tyzhden.ua

No monumento está escrito em alemão e ucraniano: “1683 Dedica-se aos cossacos ucranianos – defensores de Viena”.

A cidade de Viena já tem um outro monumento aos cossacos ucranianos, sito no parque Tuerkenschanzpark no 18º distrito da capital (N 48° 14.166; E 016° 20.016 33U; E 599024; N 5343401).

Os historiadores divergem sobre o número dos cossacos ucranianos a participar na Batalha de Viena, os estudos modernos apontam para o número entre 150 à 3500 militares.

Ler “How Kulchitsky, a Ukrainian, saved Vienna from destruction in 1683”:

sexta-feira, abril 26, 2013

Recordar o Chornobyl


Na noite de 25 para 26 de abril de 1986 aconteceu a avaria na estação nuclear soviética de Chornobyl situada na Ucrânia. Explosão e consequente incêndio destruíram o 4º bloco energético.

Centenas de pessoas morreram durante próximos meses (bombeiros e tripulações de helicópteros que combateram o incêndio), milhares morreram mais tarde (liquidadores da avaria). Milhões de outros foram atingidos, os cemitérios em toda a Ucrânia crescem assustadoramente desde ai, os níveis de cancros subiram vertiginosamente, passarão alguns milhares de anos para que os territórios atingidos fiquem limpos da radiação.

Ler também:

quinta-feira, abril 25, 2013

Revisionismo histórico alemão em curso

A revista polaca Uwazam Rze com Angela Merkel na capa:
“Falsificação da história. Como os alemães fazem de si as vítimas da 2ª Guerra Mundial”.

A mini série alemã, chamada Unsere Mütter, unsere Väter (Nossas mães, nossos pais), recentemente produzida e exibida pelo canal ZDF (custou 14 milhões de Euros), suscitou um vendaval de crítica na Polônia, protestos na blogosfera russa e alguns murmúrios na Ucrânia. O jornalista polaco Piotr Semka, da edição online Do Rzeczy, reflete sobre o tema: até que ponto o novo cinema alemão (a mais globalmente, a nova arte alemã), estão engajados no revisionismo da história. Desculpando ao máximo os próprios alemães e culpando, também ao máximo, outras nações, atropeladas pelo 3º Reich, uns em 1939, outros em 1941.

A série promove a ideia do que os alemães eram bons rapazes e nem sabiam dos crimes. Os maus eram nazis, que ou vieram da Marte, ou foram enviados por um feiticeiro mau. De qualquer maneira, a responsabilidade dos extermínios em massa era dos nazis e de maneira nenhuma dos alemães.

A edição polaca “Super Express” comentou a produção alemã em seguintes termos: “Alemães! Holocausto é a obra das vossas mãos!” O jornalista Sławomir Jastrzębowski resume – alemães tentam exportar a sua vergonha.

Alemanha é uma nação criativa. A sua maior conquista pré-guerra foi a invenção do nazismo. Após o massacre massificado, que eles preparavam durante a 2ª Guerra Mundial para todo o mundo, os alemães, de repente, imaginaram que podem não assumir a responsabilidades pelos crimes contra a humanidade. A culpa é atirada aos nazis, criados por eles próprios, como uma espécie de marcianos.

[…]

E já o maior jornal alemão, Bild, cuspiu aos heróis polacos, escrevendo que os soldados de Armia Krajowa eram antissemitas e desta maneira facilitaram o trabalho dos nazis. Este é um outro ataque abominável dos alemães.

Desta vez, eles pretendem exportar a sua vergonha para Polônia e estão dispostos a compartilhá-lo connosco. Não sonham com isso. Caros jornalistas alemães, não se façam de idiotas.

Leio um material do Bild: “Waren deutsche Soldaten wirklich so grausam?” (Será que realmente os soldados alemãs eram tão cruéis?”). Não, estimados jornalistas alemães, eles não eram cruéis, eram extremamente cruéis, mais cruéis do que os animais, sendo mais organizados que estes.

[…]

O tema é seguido pela publicação polaca “Gazeta Wyborcza”. O jornalista Bartosz Wieliński coloca a pergunta: “Quem explicará aos alemães que Armią Krajową não são SS?

Na semana passada sete milhões de alemães assistiram essa epopeia televisiva. Nela os soldados do Armią Krajową observam o mesmo antissemitismo, tal como membros da SS. Quando os combatentes do AK descobrem que o comboio alemão, por eles capturado, transporta os judeus, dizem: “Eles são melhores mortos, do que vivos” e deixam os coitados entregues à sua sorte. Quando os camponeses polacos perguntam aos do AK se na sua unidade existem judeus, estes respondem-lhe: “Afogamos os judeus como gatos”.

[…]

O mesmo Piotr Semka recorda que o problema começou antes, quando em 2011 a revista Spiegel escreveu que se não fossem os ajudantes conscientes da Europa de Leste, o Holocausto não adquiriria as tais proporções impressionantes.

Ler o artigo original:

Blogueiro

Mas os jornalistas polacos não seriam os mesmos, se na hora de reclamar a brutalidade e injustiça do revisionismo alemão, eles próprios não esquecessem os seus vizinhos ucranianos. Também descritos na mesma série como “antissemitas por opção própria” (contrapondo aos alemães que nem eram nada antissemitas e quando eram, pela omissão, foi pela coerção dos nazis).

Numa das sequências, os jovens soldados alemães, juntamente com os seus oficiais assistem aterrorizados os policiais auxiliares ucranianos “sanguinários”, com as suas faixas azul e amarelas nos braços, fazerem uma batida pelos judeus. Os bons alemães obrigam o polícia ucraniano libertar a menininha judia, tratada por este de maneira extremamente brutal. Diálogo: “São da polícia auxiliar ucraniana… - Lá estão as crianças! Eles não podem matar civis!

Na sequência do mesmo episódio segue o monólogo acusatório: “Vossas ordens obrigam você tomar a parte nessa porcaria ucraniana?” – diz o soldado alemão ao oficial da SS, que justifica a ação do policial ucraniano pelo facto da menina ser judia.

A suprema absurdidade da situação reside no facto do que segundo a série, a ação daquele episódio se desenrolava na cidade russa de Smolensk, escreve ZMI.Donetsk.ua

Ler também:

Ver a apresentação da série no YouTube:

quarta-feira, abril 24, 2013

Quem matou compositor Volodymyr Ivasyuk?


No dia 24 de abril de 1979 saiu da casa o jovem compositor ucraniano Volodymyr Ivasyuk (30), cujas canções eram ouvidos e apreciados por toda a Ucrânia e mesmo União Soviética. Nunca mais ele foi visto com vida…

Dois dias mais tarde os seus pais fizeram a queixa na milícia (polícia) de segurança pública, que quase nada fez para o encontrar. As buscas duraram entre 27 de abril e 11 de maio, quando foi fechado o processo criminal № 239 que tinha título “Processo de buscas pelo facto da morte do compositor V. Ivasyuk”. 

O seu corpo foi encontrado no dia 18 de maio, na mata nos arredores de Lviv. Ao lado acharam a sua pasta vazia (as partituras musicais desapareceram), na mão estava o relógio, nos bolsos permaneciam os trocos. O corpo estava parcialmente sentado, parcialmente de pé, mas retirado da forca, não apresentava os sinais de decomposição, a marca no pescoço era bastante recente.

A esposa do poeta Rostyslav Bratun, Neonila conta como decorreu o reconhecimento do corpo. A casa mortuária estava mal iluminada, a mãe do compositor, Sofia Ivanivna, reconheceu o filho apenas pela marca de apêndice e de um sinal nas costas. A cara do Volodymyr estava toda marcada, não tinha olhos, teve dedos partidos, todo o corpo em nódoas negras. Ignorando tudo isso os investigadores apostaram na versão de “suicídio”, descartando todas as outras.

Apesar de uma enorme popularidade do compositor, o poder comunista estava se opor à sepultação do corpo no cemitério de Lychakivske em Lviv. O seu melhor amigo, Rostyslav Bratun, recebeu o “conselho” de não aparecer na cerimônia do enterro do compositor. Bratun desobedeceu a ordem e discursou na campa do amigo. Em resultado ele foi forçado deixar o cargo do chefe da Direção provincial da União dos Escritores de Lviv, durante longos anos as suas obras não eram publicadas oficialmente.

O enterro do Volodymyr Ivasyuk transformou-se numa manifestação pública, reunindo mais de 10 mil pessoas. O caixão foi levado nas mãos até o cemitério. Simbolicamente, neste mesmo dia, 22 de maio, o corpo do poeta ucraniano Taras Shevchenko foi levado de São Petersburgo à Ucrânia. A campa do compositor foi coberta de flores, que polícia retirou naquele mesmo dia, mas no dia seguinte os cidadãos trouxeram mais. E assim durante um mês. Na cidade de Lviv apareciam os panfletos, colados nas árvores e edifícios, cuja tônica era: “Não enforcarão nos todos! Não nos matarão!

A mãe do compositor, Sofia Ivanivna, pediu ao 1º secretário do partido comunista de Lviv, a permissão de erguer o monumento na campa do filho. Ele expulsou a senhora do seu gabinete. Em breve, a sua campa foi destruída e incendiada, ato de vandalismo repetido algumas vezes.

Do relatório do agente do KGB da URSS «Sokol» (Falcão): «Com as suas alusões Rostyslav Bratun incutiu nos presentes a certeza de que os funcionários da segurança estatal (KGB) poderiam matar Ivasyuk». Do mesmo relatório: «Entre os meios da intelligentsia de Lviv e Kyiv circulam os rumores de que, alegadamente, os funcionários do KGB secretamente levaram Ivasyuk à floresta e o enforcaram».

Vinte dias após o aparecimento do corpo do compositor, os jornais de Lviv publicaram a informação: “Comissão de peritagem médica determinou que a causa da morte do V. M Ivasyuk é o enforcamento auto infringido”. Mas essa deliberação escrita está ausente no processo criminal, o vice-procurador que conduzia a investigação, afirma que a deliberação foi emitida pelo secretário da casa mortuária, que emitiu o laudo da morte. Logo à seguir, do gabinete do mesmo vice-procurador desapareceu o cinto, que na versão dos investigadores foi usado para enforcamento.

A imprensa diretamente subordinada ao partido comunista escreveu: “Ivasyuk estava mentalmente doente. Nos últimos anos, ele experimentou a depressão e a crise criativa”. Também foi publicado documento segundo o qual “Ivasyuk, como doente mental, estava sob a supervisão da Cátedra de Psiquiatria do Instituto de Medicina de Lviv”. Depois do fim da URSS se soube que o documento foi forjado pelo KGB.

Até agora não se sabe onde o compositor estava entre os dias 24 de abril e 18 de maio. Existem os rumores sobre um jovem casal que viu como foi detido Ivasyuk. Os jovens também morreram em circunstâncias não esclarecidas. O pai do compositor recebeu a nota anônima onde se afirmava que Volodymyr Ivasyuk foi levado por uma “Volga” (carros usados pela KGB e polícia). Dois meses antes do seu desaparecimento o compositor foi chamado para KGB, para falar dos honorários que deveria receber pela edição dos seus discos no Canadá e nos EUA. KGB o “persuadia” entregar o dinheiro à “Fundação Soviética da Paz” (uma das estruturas usadas pelo KGB para as suas operações no estrangeiro), à troca da permissão de visitar os EUA. Compositor negou essa troca, não pretendendo deixar Ucrânia.

Quando a morte do Volodymyr Ivasyuk foi conhecida pelo seu amigo e apreciador da obra musical, tenente-general da polícia criminal de Moscovo, Alexey Ekimyan, este tentou desvendar o mistério da morte do amigo. Mas apesar de toda a sua influência no sistema legal soviético, nada conseguiu saber sobre o caso.

Conhecido em toda a Ucrânia já aos 20 anos, autor das canções mais populares, Volodymyr Ivasyuk não estava filiado na União dos Compositores da Ucrânia. As suas músicas eram tocadas nas rádios da Ucrânia e da União Soviética, as suas canções representaram a URSS nos festivais estrangeiros. Nos últimos anos ele estudava a música clássica, mas muitos destes trabalhos desapareceram com a sua morte.

Durante uma década o seu nome estava envolto em silêncio, apenas em 1988 o programa televisivo regional “Chervona ruta” rompeu este tabu, começaram surgir alguns artigos sobre autor desta famosa melodia. O monumento fúnebre do compositor, proibido pelo poder comunista, foi erguido 20 anos após a sua morte, no 50º aniversário de nascimento do Volodymyr Ivasyuk. Desde ai, o monumento já três vezes foi alvo das ações de vandalismo.

As canções do Ivasyuk, apesar da sua morte física, se tornaram o seu monumento imortal, eles são cantados pelos ucranianos até os dias de hoje, escreve Triângulo Ucraniano

Canção do Volodymyr Ivasyuk "Chervona Ruta"

terça-feira, abril 23, 2013

O catering da cultura


Um dos marcos sócio-culturais do atual poder ucraniano é a designação das mulheres bastante jovens, desinibidas, de preferência que usam as minissaias, possuem pernas longas ou seios generosos, para os postos ligados à cultura ou justiça.

Desta vez foi a cidade de Odessa. Tetiana Mytnyk (na foto em cima), nascida em 1981, até recentemente a diretora do restaurante de catering, sem nenhuma experiência em museologia.

O restaurante “Confetti”, onde trabalhou dona Mytnyk se especializava na organização de catering e descanso para as “personalidades privadas mais exigentes, cujos nomes não se podem ser revelados por questões de confidencialidade”. A casa providenciava o “aluguer de iates, salas, vilas”, as suas capacidades neste domínio eram “ilimitadas”.

A Direção da Cultura e Turismo da Administração Estatal Provincial de Odessa, designou a rapariga como vice-chefe do Departamento de Marketing do Museu da Arte Ocidental e Oriental de Odessa (fundado em 1923), com a perspetiva de ocupar o cargo da Diretora do Museu. O diretor anterior viu o seu contrato não prorrogado sem nenhuma explicação formal. A justificação da escolha se baseia na necessidade do museu ganhar o dinheiro mais efetivamente.

O museu, situado no palácio histórico construído em 1856-1858, possui mais de 50.000 peças cerâmicas da Grécia Antiga, datadas dos séculos V-III A.C., diversos recipientes de vidro, produzidos nos séculos I-III D.C. no Império Romano. Várias cópias de obras gregas e romanas, exibidas no museu, foram produzidas na Europa Ocidental nos meados do século XIX.

No departamento da Arte Ocidental do museu são expostas inúmeras pinturas, esculturas e peças de arte decorativa, desde a época de Renascimento (século XV) até o século XX, originárias de Itália, França, Holanda, Alemanha, Áustria, Espanha, Países Nórdicos, entre outros.

Uma das primeiras decisões da nova vice-diretora de Marketing foi a imposição aos funcionários do museu o uso obrigatório do novo traje (comprado pelos fundos próprios do funcionário): uma peça de roupa clara em cima e calças, saia e sapatos pretos (à moda dos garçons de um restaurante).

Vinte funcionários do museu assinaram a carta aberta denunciando a situação, pedindo a abertura de um concurso público para escolha do novo diretor.

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domingo, abril 21, 2013

Ucranianos vencem nas TI e boxe


Ucraniano Andriy Konovalenko (16), da cidade de Stakhanov, inventou a maneira de transformar qualquer superfície em tabela interativa e irá participar na final da Imagine Cup.

A invenção se chama CamTouch e funciona na base do computador pessoal, retroprojetor, câmara Web e ponteiro laser. Retroprojetor projeta a imagem do computador à uma superfície. O programa desenhado pelo inventor ucraniano usa a câmara Web para seguir os movimentos do ponteiro laser e o sincroniza com o movimento do cursor no ecrã, permitindo mover as imagens.

O autor considera que a tecnologia poderá ser usada nos estabelecimentos de ensino. Com essa ideia Andriy Konovalenko ganhou o concurso nacional Imagine Cup, competição das TI organizada pela Microsoft e irá representar Ucrânia no final do certame.

Pugilistas ucranianos na final da WSB

Os pugilistas ucranianos da equipa “Atamanes Ucranianos” venceram os italianos dos “Dolce & Gabbana Itália Thunder por 6:4 e estão na final da competição mundial de boxe na versão da WSB.

Uma das vitórias mais importantes foi conseguida pelo Dmytro Mitrofanov, que venceu o legionário francês Michel Maurice Tavares pela decisão unânime de três referis: 48:47, 48:47 e 49:46 ao favor do atleta ucraniano.

A medalha de bronze dos JO de Londres, Oleksandr Gvozdyk, venceu o combate renhido contra o legionário argelino Abdelhafid Benchable por 48:47, 48:47 e 47:48. E no fim, o peso-pesado Rostislav Arkhipenko venceu o legionário franco-congolês Tony Yoka pelas 48:47 na decisão idêntica de três juízes, escreve Galsports.com

sexta-feira, abril 19, 2013

Ucranianos de Portugal: estatística de 2011


Em junho de 2012, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português, produziu o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2011 (ISBN 9789729877292). O relatório tem os dados bastante interessantes sobre a comunidade ucraniana de Portugal.

Os dados que se seguem são extraídos do relatório do SEF 2011 (em PDF):

A população estrangeira residente em Portugal, a 31 de Dezembro de 2011, totalizava 436.822 cidadãos (stock provisório), o que representa um decréscimo do stock da população residente de –1,90%, face ao ano transato. Como nacionalidades mais representativas surgem o Brasil, Ucrânia, Cabo Verde, Romênia, Angola e Guiné-Bissau.

O Brasil mantém-se como a comunidade estrangeira mais representativa, com um total de 111.445 residentes (25,5% de todos os estrangeiros-residentes), decrescendo face a 2010. A Ucrânia permanece como a segunda comunidade estrangeira mais representativa (48.022, homens – 25.883 e mulheres – 22.139, 11,0%), seguida de Cabo Verde (43.920 – 10,1%), Romênia (39.312 – 9,0%), Angola (21.563 – 4,9%) e Guiné-Bissau (18.487).

As atribuições de primeiros títulos de residência (equivalente ao DIRE em Moçambique)

Foram mais representativas nos casos do Brasil (12.896), Cabo Verde (4.610), Romênia (4.582), Ucrânia (1.761, dos quais 1.046 eram as mulheres), Guiné-Bissau (1.744), Reino Unido (1.692), Espanha (1.533), China (1.507), Angola (1.369) e São Tomé e Príncipe (1.322).

Nacionalidade

No quadro das competências do SEF no que refere à concessão da nacionalidade portuguesa, em 2011 foram formulados 28.643 pedidos de parecer. O SEF emitiu 29.228 pareceres para acesso à nacionalidade, 27.819 dos quais positivos. Dos pedidos de parecer formulados, relevam por nacionalidade, os relativos ao Brasil (7.155), Cabo Verde (4.364), Ucrânia (3.455), Angola (2.551) e Guiné-Bissau (2.258).

Fonte:

terça-feira, abril 16, 2013

A Dama de Ferro como libertadora



A ex-primeira ministra da Ucrânia, Yulia Timoshenko, escreve da prisão sobre o legado político-social da baronesa Margaret Thatcher.

por: Yulia Timoshenko *

A prisão sempre é um lugar de luto. Mas talvez saber da morte de Margaret Thatcher neste lugar seja odiosamente apropriado, pois me fez lembrar a sociedade aprisionada da minha juventude que Thatcher tanto se empenhou em libertar.

Para muitos de nós que cresceram na União Soviética ou em seus satélites do Leste Europeu, Margaret Thatcher nunca deixará de ser uma heroína. Ela não apenas abraçou a causa da liberdade – em especial, da liberdade econômica – do Reino Unido e do Ocidente. Ao proclamar Mikhail Gorbachov como alguém “com quem podemos negociar”, numa época em que quase todo dirigente democrático mantinha profunda desconfiança de suas políticas da Perestroika e da Glasnost, ela se tornou uma catalisadora decisiva da abertura dos Gulags que eram as nossas sociedades.

Na verdade, para todos os que buscavam construir uma sociedade livre a partir dos escombros do totalitarismo no antigo mundo comunista, a “Dama de Ferro” se tornou um ícone secular. Sua coragem e persistência – ou sua característica de “não voltar atrás” – foi um exemplo vivo para nós de um tipo de liderança que não se rende nos momentos de perigo político. Sua fidelidade a seus princípios e sua absoluta determinação de lutar, e de voltar a lutar, quando a causa era justa foram, certamente, fonte de inspiração para mim.

Margaret Thatcher entendia de liberdade, porque ela habitava suas próprias entranhas. Além disso, soube conciliar senso comum, valores familiares e a integridade fiscal que se tornou exemplo para todos os líderes que a sucederam.

Uma das verdadeiras alegrias da minha vida na política foi a oportunidade de ter um almoço tranquilo com Thatcher em Londres, alguns anos atrás, e de lhe expressar minha gratidão por reconhecer nossa oportunidade de ter liberdade e por tomar a iniciativa diplomática necessária para ajudar a concretizá-la.

Durante todo o meu mandato como primeira-ministra, mantive em mente uma de suas afirmações: “Não sou uma política de consenso; sou uma política de persuasão.” Seu rigoroso senso do verdadeiro dever de um político sempre me consolou durante períodos de dificuldade política, uma vez que nossa obrigação como dirigentes não é governar, e sim empregar nosso poder para melhorar a vida das pessoas e aumentar a amplitude da sua liberdade.

Quando Thatcher manifestou pela primeira vez sua crença no potencial das reformas pró-democracia de Gorbachov, eu era uma recém-formada de 24 anos em começo de carreira. Havia pouca esperança de que minha vida seria melhor do que a da minha mãe e, o que era pior, menos esperança ainda de que eu conseguiria construir uma vida melhor para minha filha pequena.

O fato de Thatcher abraçar a causa da nossa liberdade foi eletrificante para mim. A grande escritora dissidente Nadezhda Mandelstam prognosticara para nós um futuro no qual podíamos apenas “esperar contra a esperança”; mas aqui estava uma dirigente que vislumbrara um futuro para nós não de sordidez e de concessões de ordem moral, mas de liberdade e de oportunidades. Ainda balanço a cabeça ao me admirar de ela ter conseguido abraçar a abandonada esperança de libertação num momento em que mais ninguém – nem mesmo Gorbachov – podia sequer imaginá-la.

Mas, é claro, Thatcher entendia de liberdade, porque ela habitava suas próprias entranhas. Certamente, ela não era de voltar atrás, mas também não era de cumprir ordens ou de se conformar com a vida restrita que a sua sociedade parecia lhe reservar. Numa Grã-Bretanha em que a classe social ainda determinava, normalmente, o destino da pessoa, a filha de um dono de mercearia vinda do norte conseguiu chegar a Oxford e se destacar como estudante de química.

Depois disso, ousou ingressar na seara exclusivamente masculina da política. Quando se tornou a primeira mulher a ser primeira-ministra britânica, aqueceu as ambições de incontável número de jovens mulheres do mundo inteiro (inclusive as minhas). Pudemos sonhar grande devido ao exemplo dela.

E, na condição de mulher, Thatcher sabia que introduzia algo de singular nos corredores do poder. Como disse ao assumir, em 1979, “qualquer mulher que compreende os problemas de administrar um lar está mais próxima de compreender os problemas de administrar um país”. Essa fusão do senso comum entre os valores familiares e a integridade fiscal se constituiu num exemplo para todos os líderes eleitos que a sucederam.

Entendo, é claro, que muitos britânicos tenham se sentido desamparados pela revolução econômica e social desencadeada por Thatcher. Mas todo o propósito do thatcherismo, como eu o entendia de longe, era criar condições nas quais todos pudessem trabalhar arduamente e concretizar seus sonhos. É isso o que eu – e todos os democratas ucranianos – queremos para o nosso país: uma sociedade de oportunidades, sob o Estado de Direito, e não sob o jugo de compadres e oligarcas, numa Europa aberta.

Os registros históricos falam por si. Antes de Margaret Thatcher ser primeira-ministra, a Grã-Bretanha era considerada, em amplos círculos, como “o doente da Europa” - afligida pela regulamentação sufocante, alto desemprego, greves constantes e défices públicos crônicos.

Quando ela deixou o poder, 11 anos depois (foi a primeira-ministra de mandato mais longo desde que Lord Liverpool encerrou sua gestão, em 1827), a Grã-Bretanha estava entre as economias mais dinâmicas da Europa – e do mundo. Em decorrência disso, somos todos thatcheristas agora. (Tradução de Rachel Warszawski).

* Yulia Timoshenko, por duas vezes primeira-ministra da Ucrânia, é prisioneira política desde 2011.

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