No dia 24 de abril de 1979
saiu da casa o jovem compositor ucraniano Volodymyr Ivasyuk
(30), cujas canções eram ouvidos e apreciados por toda a Ucrânia e mesmo União
Soviética. Nunca mais ele foi visto com vida…
Dois dias mais tarde os
seus pais fizeram a queixa na milícia (polícia) de segurança pública, que quase
nada fez para o encontrar. As buscas duraram entre 27 de abril e 11 de maio,
quando foi fechado o processo criminal № 239 que tinha título “Processo de
buscas pelo facto da morte do compositor V. Ivasyuk”.
O seu corpo foi
encontrado no dia 18 de maio, na mata nos arredores de Lviv. Ao lado acharam a
sua pasta vazia (as partituras musicais desapareceram), na mão estava o relógio,
nos bolsos permaneciam os trocos. O corpo estava parcialmente
sentado, parcialmente de pé, mas retirado da forca, não apresentava os sinais
de decomposição, a marca no pescoço era bastante recente.
A esposa do poeta Rostyslav
Bratun, Neonila conta como decorreu o reconhecimento do corpo. A casa mortuária
estava mal iluminada, a mãe do compositor, Sofia Ivanivna, reconheceu o filho
apenas pela marca de apêndice e de um sinal nas costas. A cara do Volodymyr estava
toda marcada, não tinha olhos, teve dedos partidos, todo o corpo em nódoas
negras. Ignorando tudo isso os investigadores apostaram na versão de “suicídio”,
descartando todas as outras.
Apesar de uma enorme popularidade
do compositor, o poder comunista estava se opor à sepultação do corpo no cemitério
de Lychakivske em Lviv. O seu melhor amigo, Rostyslav Bratun, recebeu o “conselho”
de não aparecer na cerimônia do enterro do compositor. Bratun desobedeceu a
ordem e discursou na campa do amigo. Em resultado ele foi forçado deixar o
cargo do chefe da Direção provincial da União dos Escritores de Lviv, durante
longos anos as suas obras não eram publicadas oficialmente.
O enterro do Volodymyr
Ivasyuk transformou-se numa manifestação pública, reunindo mais de 10 mil pessoas.
O caixão foi levado nas mãos até o cemitério. Simbolicamente, neste mesmo dia,
22 de maio, o corpo do poeta ucraniano Taras Shevchenko foi levado de São
Petersburgo à Ucrânia. A campa do compositor foi coberta de flores, que polícia
retirou naquele mesmo dia, mas no dia seguinte os cidadãos trouxeram mais. E
assim durante um mês. Na cidade de Lviv apareciam os panfletos, colados nas árvores
e edifícios, cuja tônica era: “Não enforcarão nos todos! Não nos matarão!”
A mãe do compositor,
Sofia Ivanivna, pediu ao 1º secretário do partido comunista de Lviv, a permissão
de erguer o monumento na campa do filho. Ele expulsou a senhora do seu
gabinete. Em breve, a sua campa foi destruída e incendiada, ato de vandalismo
repetido algumas vezes.
Do relatório do agente do
KGB da URSS «Sokol» (Falcão): «Com as suas alusões Rostyslav Bratun incutiu nos
presentes a certeza de que os funcionários da segurança estatal (KGB) poderiam matar
Ivasyuk». Do mesmo relatório: «Entre
os meios da intelligentsia de Lviv e Kyiv circulam os rumores de que, alegadamente,
os funcionários do KGB secretamente levaram Ivasyuk à floresta e o enforcaram».
Vinte dias após o
aparecimento do corpo do compositor, os jornais de Lviv publicaram a informação:
“Comissão de peritagem médica determinou que a causa da morte do V. M Ivasyuk é
o enforcamento auto infringido”. Mas essa deliberação escrita está ausente no
processo criminal, o vice-procurador que conduzia a investigação, afirma que a
deliberação foi emitida pelo secretário da casa mortuária, que emitiu o laudo
da morte. Logo à seguir, do gabinete do mesmo vice-procurador desapareceu o
cinto, que na versão dos investigadores foi usado para enforcamento.
A imprensa diretamente
subordinada ao partido comunista escreveu: “Ivasyuk estava mentalmente doente.
Nos últimos anos, ele experimentou a depressão e a crise criativa”. Também foi
publicado documento segundo o qual “Ivasyuk, como doente mental, estava sob a
supervisão da Cátedra de Psiquiatria do Instituto de Medicina de Lviv”. Depois
do fim da URSS se soube que o documento foi forjado pelo KGB.
Até agora não se sabe
onde o compositor estava entre os dias 24 de abril e 18 de maio. Existem os
rumores sobre um jovem casal que viu como foi detido Ivasyuk. Os jovens também morreram
em circunstâncias não esclarecidas. O pai do compositor recebeu a nota anônima onde
se afirmava que Volodymyr Ivasyuk foi levado por uma “Volga” (carros usados
pela KGB e polícia). Dois meses antes do seu desaparecimento o compositor foi
chamado para KGB, para falar dos honorários que deveria receber pela edição dos
seus discos no Canadá e nos EUA. KGB o “persuadia” entregar o dinheiro à “Fundação
Soviética da Paz” (uma das estruturas usadas pelo KGB para as suas operações no
estrangeiro), à troca da permissão de visitar os EUA. Compositor negou essa troca,
não pretendendo deixar Ucrânia.
Quando a morte do Volodymyr
Ivasyuk foi conhecida pelo seu amigo e apreciador da obra musical, tenente-general
da polícia criminal de Moscovo, Alexey Ekimyan, este tentou
desvendar o mistério da morte do amigo. Mas apesar de toda a sua influência no
sistema legal soviético, nada conseguiu saber sobre o caso.
Conhecido em toda a Ucrânia
já aos 20 anos, autor das canções mais populares, Volodymyr Ivasyuk não estava filiado na União dos Compositores da Ucrânia. As suas músicas eram tocadas nas
rádios da Ucrânia e da União Soviética, as suas canções representaram a URSS
nos festivais estrangeiros. Nos últimos anos ele estudava a música clássica,
mas muitos destes trabalhos desapareceram com a sua morte.
Durante uma década o
seu nome estava envolto em silêncio, apenas em 1988 o programa televisivo regional
“Chervona ruta” rompeu este tabu, começaram surgir alguns artigos sobre autor
desta famosa melodia. O monumento fúnebre do compositor, proibido pelo poder
comunista, foi erguido 20 anos após a sua morte, no 50º aniversário de nascimento
do Volodymyr Ivasyuk. Desde ai, o monumento já três vezes foi alvo das ações de
vandalismo.
As canções do Ivasyuk,
apesar da sua morte física, se tornaram o seu monumento imortal, eles são
cantados pelos ucranianos até os dias de hoje, escreve Triângulo
Ucraniano
Canção do Volodymyr Ivasyuk "Chervona Ruta"
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