segunda-feira, abril 27, 2009

Chornobyl – 23 anos depois...

Dia 26 de Abril de 2009; passam 23 anos após o acidente na estação nuclear do Chornobyl. Lembro que alguns dias após o acidente, as aulas foram interrompidos na escola e nós disseram: “houve acidente nuclear, vão para casa, fecham as janelas”.

E assim foi para casa, no estádio da minha escola via os miúdos a jogarem futebol, digo-lhes que devem ir para casa, pois houve um acidente. Eles se riam, é pá, já sabemos disso há muito tempo.

Em casa fecho as janelas, mas o pai diz que não me devo preocupar, pois a nuvem radioactiva toda ela já foi para a Finlândia. Na escola todos os dias desaparecem as crianças, são pais com um certo poder económico mandam os filhos fora da Ucrânia. Quando ficamos uns cinco alunos, toda a escola é evacuada para a Crimeia. Fico lá 45 dias, depois vou visitar os familiares do meu pai na Rússia, lá pela primeira vez vejo a maneira chauvinista de como os russos tratam os ucranianos. Chamam me os nomes (por causa da pronúncia), eu nem me considerava ucraniano na altura, coisas da vida...

No dia 1 de Maio de 1986 em Kyiv é organizada a “Corrida da paz” de ciclismo, várias delegações ocidentais e até algumas socialistas recusam-se visitar a Ucrânia. Jornal “Pravda” soviético fala sobre a “descarada propaganda anti – soviética”. Os futebolistas do Dynamo Kyiv que jogam na Franca são bombardeados pelas perguntas dos jornalistas e também mostram que são bons cidadãos soviéticos, não dizem nada... A imprensa ocidental também exagera, se conta que alguns rádios relatam “centenas” de mortes nas ruas. Isso não aconteceu, morreram mais tarde largos milhares de pessoas, mas nas suas próprias casas, nos hospitais, por causa dos cancros (subiram em flecha), outras doenças crónicas, que tiveram o desenvolvimento rápido. “Pravda” também diz que radiação em doses pequenas até é benéfica (Sic!).

No Outono de 1986 os miúdos apanhavam os cogumelos e a fruta nos bosques, mas os graúdos já proibiam de queimar as folhas secas que caiam das arvores, pois fogo libertava os isótopos radioactivos, como chumbo 238, césio, estrôncio, etc. Na escola somos obrigados a trazer um par de sapatos, que devemos usar no edifício escolar, costumo esquecer estes sapatos em casa. A ginástica (uma herança soviética estúpida, que me enervava), e que era obrigatória antes do início das aulas é suprimida. Um grande alívio meu e da direcção da escola, pois alunas (principalmente elas), costumam a desmaiar...

As pessoas dizem que é preciso beber vinho tinto, o tinto retira a radiação do corpo, tinto desaparece das lojas, mas que tinto é este, a zurrapa barata, o vinho de verdade só bebe a elite soviética.

Aparecem os versos semi – clandestinos, do tipo “ucranianos é uma nação orgulhosa, vimos essa radiação no cu”, “esqueci em casa as cuecas de chumbo”, etc.

Dos bombeiros que apagavam as chamas radioactivas em Chornobyl sobreviveu uma única pessoa, mesma sorte tiveram os pilotos de helicópteros que sobrevoavam o Chornobyl e as pessoas que atiravam no inferno radioactivo os sacos com arreia e chumbo. Glória para as suas almas, é difícil escrever estas linhas, porra estou a chorar, 23 anos parece que foi ontem...

A maioria dos ucranianos encontrou uma solução simples na resolução da tragédia do Chornobyl, criaram um muro de separação e indiferença, não saber, nem querer saber. Os especialistas dizem que nós apenas sabemos cerca de 60% daquilo que se passa no interior do 4° bloco energético. Radiação atingiu quase toda a Ucrânia (e metade da Europa) com as manchas desiguais, uma mancha nas arredores do Chornobyl pode ser inofensiva e no centro de Kyiv bastante alarmante. Mas ninguém quer andar com o medidor da radiação portátil no bolso. Assim é muito mais tranquilo.

O jornal on-line Pravda Ucraniana escreve que o termo do uso seguro do sarcófago que cobriu o Chornobyl terminará em apenas 7 anos, em 2016. E que a reacção nuclear auto – sustentada poderá ter lugar em qualquer momento, nem que seja agora mesmo. Embora ainda não aconteceu por alguma razão...

Existe o plano de criar até o ano de 2012 o “Sarcófago-2”, a estrutura nova e moderna que cobrirá o sarcófago inicial e que garantirá a sua segurança nos próximos 100 anos. Mas o jornal “Ukrayina Moloda”, escreve que até agora nada foi feito, apenas o projecto final será concluído no fim do 2009. E não será possível concluir a obra daquela envergadura até 2012, ao mesmo tempo que os estádios ucranianos do Euro 2012, que já estão a ser construídos...

A página da empresa estatal ucraniana ChAES (que gere o Chornobyl) informa que o nível médio da radioactividade na zona do Chornobyl é o seguinte: junto ao edifício administrativo № 1 – 0,68 m/Sievert por ano, na praceta de observação em frente do Sarcófago – até 6,53 m/Sievert / ano, em zona local do Sarcófago até 40 m/Sievert / ano.
(Só para comparar, a radicação solar que a pessoa recebe por ano, em média é de 2,4 m/Sievert / ano, no entanto, se o corpo humano for exposto a radiação momentânea, então apenas 1 m/Sievert provoca as mudanças no sangue, 2 – 5 provoca queda do cabelo e leucemia, 3 m/Sievert significa a morte no período de 30 dias em 50% dos casos registados).

A empresa estatal também disponibiliza o número do telefone, que as pessoas podem usar, para obter a informação mais fresca sobre a situação no Chornobyl, este número é +380 44 79 2-58-24

Proponho dois vídeos que o blogueiro ucraniano ledilid fez ao bordo do helicóptero do Ministério das Situações de Emergência da Ucrânia, filmando a estação e a cidade do Chornobyl.

Ver vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=UgG0-w1gEnU
http://www.youtube.com/watch?v=MFbtzRbyz2I

Fonte & fotos:
http://ledilid.livejournal.com/374355.html

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