O acidente no Central Nuclear ucraniano de Chornobyl (essa é a maneira correcta de pronunciar a palavra em ucraniano), aconteceu no dia 26 de Abril de 1986. Milhares de pessoas morreram (4.400 pelos dados oficiais), a zona de 30 km em redor do reactor foi declarada uma zona interdita e um sarcófago feito do betão armado foi construído, para não deixar escapar a radiação.
Milhões de ucranianos foram afectados, assim como as pessoas na vizinha Belarus. A radiação que escapou do reactor, provoca todo o tipo de cancros, e os níveis de morte ligados ao cancro, subiram na Ucrânia e Belarus, vertiginosamente. A capital ucraniana, Kyiv, fica à uma distância de apenas 180 km de Chornobyl! E mesmo assim, foi uma obra de Deus, porque o Ministério da Energia Atómica soviético, planeava construir o reactor na localidade de Boryspil (apenas 30 km da capital)!
O regime político do presidente Kuchma, recusava-se incluir a cidade de Kyiv na zona, abrangida pela programa de ajuda às pessoas atingidas pela catástrofe, por razões meramente económicas (população de Kyiv é de 2,6 milhões de habitantes). Várias pessoas viram baixar a qualidade das suas vidas, pois os centros médicos especializados em tratamentos ligados à radiologia, recusam-se de tratar os moradores de Kyiv, argumentando que os citadinos não tinham este direito legal!
A comunicação social portuguesa, ignorou quase por completo, o trágico aniversário da Catástrofe. Mas não devemos esquecer essa tragédia, para que não aconteça novamente.
Chornobyl em ucraniano, é uma palavra emblemática, pois significa absinto, uma planta extremamente amarga. Não fosse este o nome do Central, não seria visto como uma profecia, o que está escrito no livro de Apocalipse 8:10, que diz: “E caiu do céu uma grande estrela, ardendo como uma lâmpada, e ela caiu sobre um terço dos rios e sobre as fontes de águas. E o nome da estrela chama-se Absinto. E um terço das águas transformou-se em absinto, e muitos dos homens morreram por causa das águas, porque foram feitas amargas."
Às 09:30 de 27 de Abril de 1986, os monitores de radiação na Central Nuclear de Forsmark, perto de Uppsala, Suécia, detectaram níveis anormais de iodo e cobalto, motivando a evacuação dos funcionários da área devido a vazamento nuclear. Os especialistas não constataram nenhum problema na Central. O problema estava no ar. Foram verificados níveis anormais no norte e centro da Finlândia. Em Oslo, na Noruega, os níveis dobraram. Na Dinamarca, subiram cinco vezes.
Os suecos através da embaixada em Moscovo, interpelaram o Comité Estatal para o Uso da Energia Atómica da URSS e a Organização Internacional de Energia Atómica, devido a suspeita de que os ventos que traziam radioactividade à Escandinávia vinham da Ucrânia. Moscovo negou durante 2 dias qualquer anormalidade. Mas a presença de ruténio nas amostras analisadas na Suécia era emblemática, visto que o ruténio se funde a 2.255°C, sugerindo uma explosão grave. Só em 28 de Abril, no fim do dia, o Moscovo assumiu o acidente nuclear de Chornobyl. Quase 12 horas depois, às 09:02, o telejornal soviético apresentou uma breve declaração sobre: "uma explosão, incêndio e fusão do reactor na Central Nuclear Vladímir Lenin em Pripyat".
Um satélite americano, estacionado sobre a Ucrânia, fotografou o reactor 4 com o tecto destroçado e ainda em chamas, com fumaça vertendo do interior. Mas para dar a ideia de normalidade, os alunos das escolas em Kyiv e Minsk, foram obrigados a participar nos desfiles das comemorações do 1° de Maio. No dia 3 de Maio a nuvem radioactiva estava sobre o Japão e no dia 5 de Maio chegou aos EUA e Canadá. Mikhail Gorbachov, tão querido em todo o mundo, demorou 18 dias(!) para falar sobre o acidente, fazendo-o apenas em 14 de Maio.
A cidade de Pripyat, que abrigava o Central foi abandonada e o acidente inutilizou uma área equivalente a um Portugal e meio, 140.000 quilómetros quadrados. Por centenas ou até milhares de anos.
25 de Abril de 1986 era a data prevista para o início dos trabalhos de manutenção da unidade 4 da Central Nuclear de Chernobyl, nordeste da Ucrânia, em funcionamento desde Abril de 1984. Outros reactores do mesmo tipo (RBMK), estão na Lituânia: Ignalina (2) e na Rússia: cidades de Kursk (4); Sankt - Petersburgo (4) e Smolensk (3).
A Central de Chornobyl funcionava com quatro reactores de 1.000 MW, que entraram em funcionamento em 1978, 1979, 1982 e 1984. Cada um alimentava dois geradores de energia eléctrica. O projecto nuclear soviético conhecido pelo acróstico russo de RBMK (reactor de grande potência do tipo canal), reactor com urânio enriquecido refrigerado à água fervente, moderado a grafite, é um reactor evoluído a partir de um modelo militar, cujo objectivo é a produção de plutónio a partir do urânio em seu interior.
O núcleo do reactor é um cilindro de grafite com 11,8 m de diâmetro e 7 m de altura, o qual está num bloco de concreto de 22 X 22 X 26 m sobre uma estrutura metálica. Por baixo, existe um espaço, parcialmente cheio de água, que deve receber a mistura de água e vapor no caso de haver ruptura em um dos canais de circulação, causando condensação do vapor. O núcleo é protegido por uma blindagem, composta de ferro com cimento contendo bário.
O resfriamento do moderador é feito por meio da circulação, dentro do cilindro metálico, de uma mistura de hélio e nitrogénio. Por causa do esfriamento de neutrónios e da absorção de raios gama, em condições de funcionamento estável, o moderador chega à temperatura de 700ºC, podendo absorver 150 MW, equivalentes a 5% da potência total gerada pelo reactor. O sistema de controle e protecção consiste de 211 barras de controle, feitas de boro, absorvente de neutrónios, colocadas em canais separados dentro do moderador, de forma a poderem ser inseridas no núcleo. O moderador contém 1.661 canais para abrigar conjuntos de combustível, revestidos de zircaloy, uma liga de zircónio com 1% de nióbio. Cada
conjunto consiste de dois subconjuntos, que, por sua vez, contêm 18 elementos individuais, cada um com 3,6 kg de óxido de urânio em pastilhas, enriquecido a 2%. No caso de "queima completa" do combustível, a energia é de 20 MW dia por quilo de urânio e o combustível queimado contém 2,3 kg de plutónio por tonelada. O núcleo da unidade 4 tinha uma queima média de 1 kg a cada 10,3 dias.
Oposição belarusa relembra o aniversário da tragédia
Na capital de Belarus, cidade de Minsk, o dia 26 de Abril foi assinalado por uma marcha de oposição, denominada “O caminho de Chornobyl”. Na passagem da marcha junto à Administração presidencial, os manifestantes pacíficos foram atacados pela Polícia de Intervenção Rápida (OMON), que resultou na detenção dos 5 cidadãos da Ucrânia, membros da organização juvenil “Aliança nacional”, 14 cidadãos russos e 13 cidadãos de Belarus.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, emitiu uma nota de protesto dirigida à embaixada de Belarus em Kyiv, onde declara: “Maior inquietação, é desperta pelo facto, do que os representantes da embaixada da Ucrânia em Belarus, não foram autorizados de visitar os cidadãos ucranianos detidos, procedimento que viola a Convenção de Viena sobre relações consulares de 1963”.
O MNE ucraniano afirma que a sua embaixada em Minsk, faz todas as diligências possíveis, para defender os direitos e interesses dos cidadãos ucranianos e proceder a sua libertação.
Na cidade belarusa de Mohilew, o dia 26 de Abril foi também comemorado pela marcha pacifica, conduzida pela organização juvenil “Zubr” (Bisão europeu). Na marcha participaram cerca de duas dezenas de activistas, que montaram um cordão em frente da Câmara municipal da cidade.
Alguns minutos depois do início da marcha, os jovens foram atacados pela OMON e 14 activistas, homens e mulheres, foram detidos e conduzidos à esquadra de polícia do bairro de Lenin(!), da cidade. Posteriormente, os jovens foram advertidos à não participar nas futuras manifestações idênticas e postos em liberdade.
Declaração do Movimento “Zubr”, 27 de Abril de 2005, (abreviada)
O aniversário da Catástrofe de Chornobyl, foi comemorada pelo regime de Lukashenka com prisões em massa e espancamentos dos cidadãos de Belarus, Ucrânia e Rússia. <...> O último ditador europeu mostrou, até que ponto o seu medo das manifestações da rua, pacíficas e populares, é forte. Lukashenka meteu a si próprio numa insolação: ele está sozinho contra todos, e todos contra ele. A bandeira ucraniana rasgada pela OMON de Minsk, os cidadãos russos espancados – é a hospitalidade do ditador possuído.
Movimento “Zubr” afirma que Aleksándr Lukashenka e os seus comparsas já muito tempo não representam o povo de Belarus e brevemente terão que responder perante os tribunais nacionais e internacionais, pelas ilegalidades cometidas contra o povo de Belarus e contra os nossos vizinhos.
“Zubr” exige:
Libertação imediata dos participantes nacionais e estrangeiros do “Caminho de Chornobyl”, dissolver OMON de Minsk como organização criminosa e investigar as suas actividades de esmagamento dos direitos e liberdades dos cidadãos.
Estaremos juntos e Belarus ficará livre!
Movimento de resistência “Zubr”
Miensk, Belarus.
Nomes dos ucranianos, presos em Belarus:
Ihor Guz, Andriy Bokoch, Oleksander Mashlay, Oleksiy Panasyuk, Andriy Grymalyuk.
(Ігор Гузь, Андрій Бокоч, Олександр Машлай, Олексій Панасюк, Андрій Грималюк.)
Os ucranianos detidos, se encontravam em Belarus, para rubricar um acordo de cooperação entre a sua organização, “Aliança nacional” e a Frente Juvenil da Belarus.
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