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O
conhecido psiquiatra e neuropatologista português, socialista António
Fernandes da Fonseca (1921-2014), se ofereceu, em 1977, ao serviço das autoridades da União Soviética. Pretendendo provar, que os dissidentes soviéticos, vítimas de
psiquiatria punitiva não eram “vítimas inocentes”.
Prof. António Fernandes da Fonseca |
Mas
nem todos os “amigos da URSS” eram obrigatoriamente pagos, por vezes as pessoas
pretendiam servir a ditadura soviética por razões ideológicas. Um dos casos é
do psiquiatra e neuropatologista português, deputado do PS, Professor António
Fernandes da Fonseca. No último dia da sua visita à URSS, em 1977, o Professor
informou o jornalista e representante do Comité Soviético da Paz (estrutura
habitualmente usada pelo KGB), Yuri Zhukov,
sobre os potenciais “perigos” do VI Congresso Mundial de Psiquiatria (Honolulu
– Havaí, 28/8 – 3/9 de 1977), onde os “ativistas anti-soviéticos americanos”
pretendiam “organizar uma campanha anti-soviética feroz”, baseada nas
“afirmações caluniosas” que URSS usava as clínicas psiquiátricas para o internamento
compulsivo dos dissidentes.
O dissidente ucraniano Leonid Plyushch (1939-2015) |
Prof.
Fonseca pretendia receber, da parte soviética, os dados relativos aos casos dos
dissidentes conhecidos, que ele pretendia compartilhar com “os psiquiatras
proeminentes dos outros países da língua oficial portuguesa”. Fernandes da
Fonseca estava decidido provar a “absurdidade das acusações americanas”, por isso
queria ver “o diagnóstico e os dados do tratamento” dos dissidentes, casos do
ucraniano Leonid Plyushch
ou russo Vladimir Bukovsky,
entre outros, para provar que eles não são “vítimas inocentes”.
Vladimir Bukovsky, após a sua deportação da URSS, em Cambridge, Inglaterra (1978) |
Em Portugal, os médicos
que colaboravam com PIDE-DGS foram ostracizados pela classe após 25 de abril.
Aqui temos um caso do médico português que ele próprio procurou os contatos com
uma ditadura para oferecer os seus serviços, tentando justificar os atropelos
da lei e as torturas terríveis, infringidas às pessoas cuja única culpa era o
delito de opinião. O psiquiatra estava disposto a divulgar os dados pessoais
dos prisioneiros de consciência, sem reparar na falta gritante da ética desta
intenção e não se importar com a violação clara do Juramento de Hipócrates do
caso. Após a queda do Murro de Berlim, António Fernandes da Fonseca nunca pediu
desculpa às vítimas do regime soviético. Dr. Fonseca faleceu em 16 de dezembro
de 2014 sem nunca aproveitar a oportunidade de pedir as desculpas públicas ou
mesmo privadas pela sua colaboração com o regime opressivo soviético no
encobrimento de crimes da ditadura comunista…
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