O
fotógrafo russo Andrey Lyzhenkov (1960)
retratou os últimos anos da existência da URSS em técnica de reportagem fotográfica,
usando as fotos em preto e branco. A sua especialidade era o quotidiano
soviético, absurdo da vida provincial da Rússia socialista.
Embora
os cidadãos da URSS possuíam um número considerável de máquinas fotográficas, a
maioria das pessoas fazia apenas os retratos familiares. Pouca gente se dedicava
ao quotidiano soviético — as películas, sua revelação e impressão das fotos não
era um processo muito barato, além disso, sempre existia o perigo real de
fotógrafo ser acusado de “retratar o quotidiano soviético de uma forma
distorcida”…
02.
Ano 1984 – uma festa infantil no jardim-de-infância. Na parede podemos ver os
retratos dos membros do Bureão Político do Comité Central do PCUS e alguma
citação sobre o partido comunista. A ideologia comunista era impingida às
crianças desde tenra idade, as crianças soviéticas eram obrigadas à conhecer os
dinossáurios do partido, as personagens infantis eram dispensáveis.
03.
Ano 1988, a comissão médica de recrutamento no Comissariado militar, todos nesta
foto estão visivelmente nervosos, o jovem pode ser chamado para servir no
Afeganistão e se for o filho dos pobres, não terá como evitar o cumprimento do seu
“dever internacionalista”.
04.
Praça central da cidade russa de Tula, fim da década de 1980. Palavra “Svobodnoe”
(Livre) atrás das grades, guardada pelas sentinelas silenciosas.
05.
Slogan “Cumpriremos as decisões do XXVII Congresso do PCUS”, junto às ruínas e montes de lixo.
06.
Ano 1990, a colónia penal na localidade de Aleksino. Na parede o jornal “Pravda”
e citação delirante do Lenine — “O poder soviético é o caminho para o
socialismo, encontrado pelas massas do povo trabalhador e, portanto, certo e,
portanto, invencível”. Neste absurdo a URSS viveu por quase 80 anos.
07.
Região de Tula, hospital distrital. Cama de rede, mobílias velhas, mas com
indispensável retrato do Lenine na parede.
08.
Ano 1985, o hospital de emergência em Tula. Camas, todas juntinhas, mobílias
velhas e gastas, mesa-de-cabeceira tosca, coberta pelo jornal...
09.
Ano 1988, arredores de Tula, a veterana reformada de kolkhoze soviético, a vida
simples de pobreza absoluta.
10.
A professora reformada do interior russo. Casinha tosca e torta, prestes à
cair, uma cerca torta. É tudo que a professora ganhou pela vida cheia de serviço
em prol da educação, mas também à ideologia dominante.
11.
Região de Tula, menino com triciclo, retrato da “meninice feliz soviética”.
12.
Ano 1989. Arredores de Tula, bairro “Bytovki”. Este casebre é casa de alguém, não
há água potável, é preciso a buscar, usando os baldes. Geralmente os fãs da
URSS explicam este tipo de fotos com a frase — “apenas 40 anos atrás o país se
recuperou de uma guerra devastadora, o que vocês querem?!!”
13.
Cemitério. O jovem na foto ou morreu no Afeganistão ou foi vítima das “relações
não estatutárias” no exército soviético. A sua lápide se rachou (do lado esquerdo superior) e depois foi
colada, a pobreza, e talvez a humildade dos seus pais não permitiu de exigir uma
nova pedra lapidar...
14.
Dispensário médico-laboral (LTP) feminino. A União Soviética reportava constantemente
as “novas vitórias contra o alcoolismo”, enquanto o número de LTPs e de centros
de “sobriedade forçada” crescia de ano para o ano. Na realidade, os chamados
LTPs eram uma espécie de cadeia, onde cidadão ficava detido entre 6 meses à 2
anos, obrigado à trabalhar, a fuga da LTP era considerada um crime.
15.
Fila das “massas trabalhadoras” para comprar pão ou algum bolo/tarte, o produto
mais banal, mas nem sempre disponível na União Soviética.
16.
Uma loja no interior, podem avaliara a sua oferta “abundante”.
Assim
a URSS vivia na década de 1980, isso é, tendo em conta que entre 1969 e 1990 a União
Soviética gastou nos países estrangeiros cerca de 400
milhões de dólares do seu “Fundo Internacional de ajuda às organizações
operárias de esquerda”…
Texto:
Maxim Mirovich
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