quarta-feira, abril 18, 2018

A prostituição russa: beleza, solidão e Donbas em 10 fotografias (+16)

Três milhões de mulheres se dedicam à prostituição, é o saldo estatístico sobre o comércio sexual na Rússia. A fotógrafa frilancer russa Tatiana Vinogradova penetrou na intimidade das casas de dez prostitutas para fotografá-las ao natural e conhecer as suas histórias individuais.

por: Rodrigo Ayala Cárdenas, Culturacolectiva.com

Isto apela aos visitantes desta nação euro-asiática, que são atraídos pela possibilidade de ver, tocar e intimar com algumas das mulheres que, devido à pobreza que assola certas áreas deste imenso país, dedicam-se a uma prática ilegal. A Rússia é popular por causa da beleza exótica de suas mulheres loiras com pele leitosa, olhos azuis ou verdes e corpos esguios, uma imagem idílica que nem sempre corresponde à realidade.
Tatiana Vinogradova entrou na intimidade das casas de dez prostitutas para fotografá-las ao natural e conhecer as histórias individuais. Ela é uma fotógrafa freelancer radicada em São Petersburgo, que foi atraída pela vida secreta dessas mulheres e suas razões para se dedicarem a um comércio tão antigo, perigoso e difícil.
Cada imagem mostra a vulnerabilidade dessas mulheres de diferentes aparências, idades e personalidades. Mas o que é realmente angustiante e comovente, que se esconde por trás de seus corpos nus são as necessidades que as levaram a se enveredar por um ofício, controverso para alguns.
A história de Vera, de 45 anos e moradora de São Petersburgo, é uma prova clara da dureza da vida e dos esforços de uma mãe para ajudar os seus filhos. Ela trabalhou por 20 anos como cozinheira e depois como chefe de obras. Quando seu filho foi diagnosticado com esquizofrenia, seu mundo virou de cabeça para baixo. Uma mãe solteira com um salário insuficiente para pagar medicação e tratamento adequado, ela decidiu tentar a sorte em uma sauna pública que oferecia serviços sexuais aos seus clientes.
Uma infância dolorosa em que sua mãe a maltratou física e psicologicamente, e um casamento fracassado que terminou depois de oito anos de convivência, fizeram com que Vera pensasse na vida como numa luta constante. Ela vê seu trabalho da seguinte maneira: Os homens só precisam de sexo e eu preciso de dinheiro.
Este tipo de histórias de magnitude social trágica e dolorosa se opõem àquelas mais escandalosas que também envolvem prostitutas: em 2017, o presidente russo Vladimir Putin, falando de um escândalo envolvendo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, referiu-se a ao facto do seguinte modo: «Estava relacionado com as mulheres mais belas do mundo. Eu tenho dificuldade em imaginar que ele correu para um hotel para se encontrar com as nossas meninas de baixa responsabilidade social. Sem dúvida, eles são as melhoras do mundo, mas duvido que Trump caia nisso.


O evento mencionado foi aquele em que, de acordo com um espião britânico, Trump contratou os serviços de várias prostitutas em Moscovo para urinar na cama de uma habitação em que Barack Obama e sua esposa Michelle haviam ficado alojados durante a sua visita à Rússia em 2009.

É comum ver que as russas trabalharem como prostitutas, porque a situação económica às vezes não é muito boa e são os turistas que gostam de nos visitar. Somos uma atração e uma fantasia ao mesmo tempo. No meu caso, recebi 2.000 rublos (cerca de 60 dólares) pelos meus serviços e todos os turistas pagam sem problemas, diz Olga Kyliuchenko, trabalhadora do sexo numa boate conhecida de Moscovo.

No entanto, a prostituição em São Petersburgo é algo com muita história, que data de meados do século XIX. Foi em 1844 que foram estabelecidas as normas policiais e sanitárias para que a prática da prostituição se daria em condições ótimas, tanto para as mulheres como para aquelas que as procuravam. Havia matronas em cada bordel que se dedicavam à administração monetária e de saúde de suas funcionárias, que, na maioria dos casos, recebiam pagamentos miseráveis.
As prostitutas do império russo que passavam os controlos sanitários e pertenciam à folha de pagamento de um bordel obtinham um cartão amarelo para trabalhar livremente e protegidas por lei.

O escritor russo Alexandre Kuprin descreve, no seu conto [de suspense e espionagem] Stabscapitão Rybnikovum bordel da época, de seguinte forma: Aquele lugar era algo entre um bordel caro e clube chique: tinha uma entrada elegante, um urso empalhado na sala de espera, tapetes, cortinas de seda, lâmpadas em forma de teia de aranha e serventes de fraque e luvas. Lá os homens chegaram ao fim da noite quando os restaurantes fechavam. Naquele lugar se jogavam cartas, havia vinhos caros e sempre havia um grande estoque de mulheres bonitas e frescas, que eram mudadas com frequência.

[A foto de moça deitada no sofá com tapete barato com leopardos, ganhou o 3º prémio na nominação “Histórias fotográficas”, na categoria “Pessoas” no concurso de World Press Photo 2018.
Menina se chama Aliona e é natural de Donetsk. Cresceu no orfanato e quando começou a guerra russo-ucraniana, recebeu a proposta, de se mudar para São Petersburgo e se tornar a administradora, uma espécie de matrona, num prostíbulo ilegal local. Aliona, possivelmente, achou que não perderia nada em sair de Donbas e viajou ao São Petersburgo, onde rapidamente descobriu que foi enganada, obrigada à vida de uma simples trabalhadora de sexo. Nesta situação ela foi retratada pela Tatiana Vinogradova.


Caso absolutamente triste, se considerarmos a situação através do destino separado de uma pessoa singular. Mas na verdade, é uma ilustração diabolicamente precisa dos habitantes de Donbas (sem generalizar, claro) e da Rússia. Venha, Donbas, você será o administrador, você irá administrar outras prostitutas. Você é tão forte, Donbas, ninguém te coloca de joelhos, Donbas, você não faz promessas vazias, Donbass. E no final, claro, comem o seu cú ou a sua bunda].

Na sua série fotográfica Girls/Meninas, Tatiana Vinogradova trocou os bordéis das tapeçarias de veludo e das fragrâncias sufocantes do século XIX pelas casas onde essas mulheres vivem, que são o motivo de suas imagens. Todas elas foram expostas não apenas às lentes de uma câmara, mas às inclemências de uma ocupação que, na maioria dos casos, é exercida por uma necessidade angustiante.

Bónus
Foto do ano de World Press Photo: o manifestante José Victor Salazar Balsa – participante da ação de protesto contra o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas, em 3 de maio de 2017 – em chamas. Foto @Ronaldo Schemidt / AFP

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