sexta-feira, abril 20, 2018

A língua e identidade ucraniana eram predominantes na Kuban até a década de 1930

Moscovo fica indignada com qualquer sugestão ucraniana de que a região de Kuban tenha mais em comum com Ucrânia do que com a federação russa, suprimindo o facto de que até a década de 1930 o ucraniano era a língua oficial, junto com o russo, e que muitos cossacos de Kuban consideravam-se a ser ucranianos étnicos.

De fato, como diz um artigo num portal histórico russo, tudo isso levanta a questão: “Por que a Kuban se juntou à Rússia em 1924?” Uma pergunta que a página responde, explicando que há mais motivos para que os ucranianos verem esta região como ucraniana do que para os russos verem a Donbas como região russa (http://russian7.ru/post/pochemu-kuban-v-1924-godu-prisoedinilas/).

O entreposto cossaco de Kuban surgiu em 1696 quando um grupo dos cossacos de Don participou da ocupação da região de Azov. Mais tarde, em 1708, esse grupo foi conhecido pelo seu nome atual. No século XVIII, quando as forças russas se deslocaram para o sul do império, a Kuban teve a maior presença russa, mas não foi inteiramente russificada, e os cossacos de Kuban mantiveram a sua identidade distinta.

Essa identidade refletia suas raízes ucranianas e russas, embora “até o começo do século XX, uma consciência do estatuto social dominasse no meio cossaco sobre a ideia étnica. Isso começou a mudar no final do século XIX, quando o ministério militar russo decidiu eliminar esse estatuto.

Mas outra questão para resolver, eram as atitudes do crescente número de pessoas no meio cossaco de Kuban que não estavam ligadas ao serviço militar, mas estavam envolvidas em trabalhos intelectuais como jornalistas, educadores e assim por diante. Influenciadas pelas forças nacionalizadoras em torno deles, esse grupo começou a articular a ideia de “uma nação cossaca”.

Um equilíbrio instável entre os dois foi mantido até ao golpe bolchevique que os cossacos de Kuban rejeitaram. “A Rada (Conselho) de Kuban declarou a formação de uma República Popular Independente do Kuban”, declarando que eles estavam preparados para se unir à Rússia, mas apenas numa base federal. A questão permanece em aberto, sobre que tipo da Rússia os cossacos tinham na mente. “Isso não estava claro”.

Em março de 1918, a Rada de Kuban teve que se retirar da cidade de Yekaterinodar (atual Krasnodar) e se unir às forças anti-bolchevique do Exército Voluntário russo do general Lavr Kornilov, que após a sua morte foi substituído por general Anton Denikin. Os dois lados assinaram um acordo de cooperação, mas como ainda não tinham forças significativas, isso permaneceu mais uma declaração de intenções do que uma descrição da realidade.
Ler mais: Ucranianos de Kuban
A situação mudou mais tarde naquele mesmo ano o Exército Voluntário russo ocupou a maior parte da Kuban. Como resultado, os cossacos de Kuban se tornaram a força de base mais importante das forças de Denikin. Mas muito rapidamente os conflitos surgiram porque os cossacos viam a força de Denikin como representante da velha ordem [czarista] e o pessoal de Denikin via os cossacos quase como ucranianos.

Essas atitudes reduziram as chances de cooperação, e só foram superadas quando já era tarde demais, quando o Exército Vermelho estava entrando na Kuban e levando os exércitos monárquicos “brancos” à emigração. Nos primeiros meses de 1920, as instituições governamentais de Kuban foram “de fato liquidadas” pelos bolcheviques e a região foi incorporada na Rússia soviética (futura RSFSR).

Mas nos primeiros 12 anos de poder soviético, a língua ucraniana permaneceu oficial ao lado do russo, e os cossacos de Kuban continuaram a se identificar em grande parte como ucranianos em termos étnicos. Em 1924, Moscovo incluiu a Kuban na região (kray) do Cáucaso do Norte o “que tornou possível a posterior russificação” dos cossacos de Kuban. Em 1932, o ucraniano perdeu o seu estatuto oficial naquela região.

Assim, “durante o primeiro quartel do século XX, a Kuban evoluiu de uma região do império russo com a posição especial do estatuto cossaco, para se tornar um sujeito regional da RSFSR, passando por períodos específicos de estado cossaco e pela experiência da autodeterminação nacional-cultural ucraniana no quadro da sociedade soviética”.

Esta história não significa que a Kuban deveria ser anexada à Ucrânia, da mesma forma, que os reassentamentos étnicos organizados pelo Estaline após Holodomor na Donbas não significam que aquela região deveria ser separada da Ucrânia. Mas o que isso significa é que os argumentos ucranianos devem ser levados a sério, em vez de serem ignorados, como se costuma a fazer.

1 comentário:

Jest nas Wielu disse...

Querido anónimo que deixou este texto "... nessas redes sociais vc encontrar volorosas informacoes sobre brasileiros que estiveram ou que pretendem ir ao Donbass! Divista-se!"
a) os que realmente participaram, conhecemos os todos (mesmo os propagandistas);
b) os que "pretendem", não precisamos de conhecer, pois sabemos que eles nunca vão ;-)

Abraços