Moscovo
fica indignada com qualquer sugestão ucraniana de que a região de Kuban tenha
mais em comum com Ucrânia do que com a federação russa, suprimindo o facto de
que até a década de 1930 o ucraniano era a língua oficial, junto com o russo, e
que muitos cossacos de Kuban consideravam-se a ser ucranianos étnicos.
De
fato, como diz um artigo num portal histórico russo, tudo isso levanta a
questão: “Por que a Kuban se juntou à Rússia em 1924?” Uma pergunta que a
página responde, explicando que há mais motivos para que os ucranianos verem
esta região como ucraniana do que para os russos verem a Donbas como região russa
(http://russian7.ru/post/pochemu-kuban-v-1924-godu-prisoedinilas/).
O
entreposto cossaco de Kuban surgiu em 1696 quando um grupo dos cossacos de Don
participou da ocupação da região de Azov. Mais tarde, em 1708, esse grupo foi
conhecido pelo seu nome atual. No século XVIII, quando as forças russas se
deslocaram para o sul do império, a Kuban teve a maior presença russa, mas não
foi inteiramente russificada, e os cossacos de Kuban mantiveram a sua
identidade distinta.
Essa
identidade refletia suas raízes ucranianas e russas, embora “até o começo do
século XX, uma consciência do estatuto social dominasse no meio cossaco sobre a
ideia étnica. Isso começou a mudar no final do século XIX, quando o ministério
militar russo decidiu eliminar esse estatuto.
Mas
outra questão para resolver, eram as atitudes do crescente número de pessoas no
meio cossaco de Kuban que não estavam ligadas ao serviço militar, mas estavam
envolvidas em trabalhos intelectuais como jornalistas, educadores e assim por
diante. Influenciadas pelas forças nacionalizadoras em torno deles, esse grupo começou
a articular a ideia de “uma nação cossaca”.
Um
equilíbrio instável entre os dois foi mantido até ao golpe bolchevique que os
cossacos de Kuban rejeitaram. “A Rada (Conselho) de Kuban declarou a formação
de uma República Popular Independente do Kuban”, declarando que eles estavam
preparados para se unir à Rússia, mas apenas numa base federal. A questão
permanece em aberto, sobre que tipo da Rússia os cossacos tinham na mente. “Isso
não estava claro”.
Em
março de 1918, a Rada de Kuban teve que se retirar da cidade de Yekaterinodar (atual
Krasnodar) e se unir às
forças anti-bolchevique do Exército Voluntário russo do general Lavr Kornilov,
que após a sua morte foi substituído por general Anton Denikin. Os dois lados
assinaram um acordo de cooperação, mas como ainda não tinham forças
significativas, isso permaneceu mais uma declaração de intenções do que uma
descrição da realidade.
Ler mais: Ucranianos de Kuban |
A
situação mudou mais tarde naquele mesmo ano o Exército Voluntário russo ocupou
a maior parte da Kuban. Como resultado, os cossacos de Kuban se tornaram a
força de base mais importante das forças de Denikin. Mas muito rapidamente os
conflitos surgiram porque os cossacos viam a força de Denikin como
representante da velha ordem [czarista] e o pessoal de Denikin via os cossacos
quase como ucranianos.
Essas
atitudes reduziram as chances de cooperação, e só foram superadas quando já era
tarde demais, quando o Exército Vermelho estava entrando na Kuban e levando os
exércitos monárquicos “brancos” à emigração. Nos primeiros meses de 1920, as
instituições governamentais de Kuban foram “de fato liquidadas” pelos
bolcheviques e a região foi incorporada na Rússia soviética (futura RSFSR).
Mas
nos primeiros 12 anos de poder soviético, a língua ucraniana permaneceu oficial
ao lado do russo, e os cossacos de Kuban continuaram a se identificar em grande
parte como ucranianos em termos étnicos. Em 1924, Moscovo incluiu a Kuban na
região (kray) do Cáucaso do Norte o “que tornou possível a posterior
russificação” dos cossacos de Kuban. Em 1932, o ucraniano perdeu o seu estatuto
oficial naquela região.
Assim,
“durante o primeiro quartel do século XX, a Kuban evoluiu de uma região do
império russo com a posição especial do estatuto cossaco, para se tornar um
sujeito regional da RSFSR, passando por períodos específicos de estado cossaco
e pela experiência da autodeterminação nacional-cultural ucraniana no quadro da
sociedade soviética”.
Esta
história não significa que a Kuban deveria ser anexada à Ucrânia, da mesma
forma, que os reassentamentos étnicos organizados pelo Estaline após Holodomor
na Donbas não significam que aquela região deveria ser separada da Ucrânia. Mas
o que isso significa é que os argumentos ucranianos devem ser levados a sério,
em vez de serem ignorados, como se costuma a fazer.
1 comentário:
Querido anónimo que deixou este texto "... nessas redes sociais vc encontrar volorosas informacoes sobre brasileiros que estiveram ou que pretendem ir ao Donbass! Divista-se!"
a) os que realmente participaram, conhecemos os todos (mesmo os propagandistas);
b) os que "pretendem", não precisamos de conhecer, pois sabemos que eles nunca vão ;-)
Abraços
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