domingo, abril 08, 2018

A militar ucraniana Olga Benda – a vencedora do “Miss military fantasy”

A militar ucraniana Olga Benda ganhou o concurso da beleza militar feminina, organizado na rede Internet entre todas as militares ucranianas que servem nas Forças Armadas da Ucrânia (FAU) na zona de Operação Antiterrorista (OAT) no leste do país.

por: Iryna Koprovska, Censor.net.ua   
foto @babaandkit
No início de 2018, os militares da 72ª Brigada especial mecanizada dos “Cossacos Negros de Zaporizhia”, Olga Tarasevych e Olexiy Benda se casaram. Eles se conheceram na linha de frente, e quando Olga perdeu a sua perna esquerda, dissecada por um estilhaço do projétil, Olexiy, de 26 anos, estava permanentemente ao lado da sua amada no hospital. No entanto, esta história não é apenas sobre sentimentos fortes, testados pela guerra.
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Uma mulher frágil, de facto, ainda moça, soldado sénior Olga Benda inspira muitas pessoas com o seu exemplo, especialmente é admirada pelos homens. Tendo sobrevivido a uma ferida grave, ela rapidamente começou usar a prótese, faz desporto e encontrou um emprego que gosta.

Se alistou quando muitos homens se escondiam da mobilização...

Hoje em dia Olga caminha de forma absolutamente confiante. Os jeans da perna esquerda estão enrolados, expondo quase completamente a sua prótese. “Não é nenhum desejo de chocar transeuntes – explica Olga – Apenas deste jeito é mais simples de locomover. Os complexos não me atormentam, sim, eu me tornei deficiente, mas aprendi à viver com isso. Além disso, a decisão de ir para a linha da frente era a minha escolha consciente”.
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Em 2014 Olga viveu na cidade de Vinnytsia. Pouco antes se divorciou de seu primeiro marido e foi deixada sozinha com o filho recém-nascido nos braços.

Começou a primeira onda de mobilização e muitos dos homens que Olga conhecia pessoalmente estavam se escondendo do exército. – Eu tinha vergonha deles: como é possível trair a pátria, quando o inimigo está, nas portas da sua casa? Esta foi uma das razões pelas quais ela assinou o contrato com as FAU no início de 2016. Naquela época, o seu filho cresceu um pouco, Dmytro tinha um ano e sete meses. Deixei-o sob os cuidados da avó, minha mãe. Embora, confesso, a separação com meu filho tornou-se uma verdadeira tortura... Ao mesmo tempo, eu queria proteger Dmytrinho, garantir que ele cresceria num país independente e europeu. E para isso, pensei, preciso de fazer a minha contribuição pessoal.
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Olga fez o curso preparatório no Centro internacional de pacificação e segurança, foi enviada à 72ª OMBR, onde cozinhava, dado que antes do início da guerra russo-ucraniana ela trabalhou como cozinheira numa pizzaria, embora foi formada como secretária-operadora dos correios.

No outono de 2016 a sua 72ª Brigada foi movida para a linha da frente, aquartelada na zona industrial de Avdiivka, um dos locais mais quentes da guerra de Donbas. Acordava às 6 de manha e começava à cozinhar três vezes ao dia, para cerca de 70 pessoas, praticamente igual à um pequeno casamento.

“Filha, você não tem mais a perna esquerda”

Na manha do dia 14 de maio de 2017, no Dia da Mãe, as forças russo-terroristas, logo pela manha começaram alvejar as posições ucranianas. Os bombardeamentos não pareciam assim perigosos, para os casos mais sérios, a casa onde dormia Olga tinha uma cave.
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Foi acordada quando a casa e o quarto onde dormia foram diretamente alvejados. A janela, protegida pelos tijolos desapareceu completamente. A onda de explosão empurrou Olga fora da cama, entupiu a boca e nariz com a lama, ela não estava ouvir nada e acabou por perder os sentidos.

Quando voltou ao si, o bombardeamento russo ainda continuava, as posições ucranianas foram alvejados por obuses de 120 mm: “Obus perfurou o solo, levantando um pilar negro de terra na sua passagem, depois ocorreu um clarão amarelo. A onda de explosão me levantado no ar, eu me senti que bati com a cabeça em alguma coisa, depois fui empurrada e presa ao chão. Tive sorte que no momento da explosão estava deitada, e os estilhaços passaram diretamente sobre mim. Mas a minha perna esquerda estava ligeiramente mais alta que o nível do corpo, atingida por um estilhaço bastante grande”.

Perdendo os sentidos, começou se “desligar”, pensou que chegou o seu fim. Até que ouviu um grito: “Olga, você está viva?!” Gritava combatente “Sócrates”. Sem saber como, com a perna presa apenas por restos da pele rasgada consegui chegar até a porta, passou por cima do sofá que barrava a sua passagem e, literalmente, saltou aos braços do “Sócrates”.

Os bombardeamentos russos prosseguiam, debaixo do fogo Olga recebeu os primeiros socorros e apenas pedia: “Me passem água”. Os seus camaradas lhe passavam o cantil e escondiam os olhares...
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Depois vieram os médicos. A perna decepada não se dobrava, os militares da sua unidade ajudavam aos médicos, segurando a perna, e Olga via como tremiam as suas mãos... Ela foi levada para um hospital próximo, as estradas locais também não ajudavam, cheios de buracos. A viatura saltava e parecia que a sua perna estava prestes a se partir aos pedaços. “Valentina, por favor, agarra a perna!” – gritei Olga horrorizada para com a médica.

Preparado para a cirurgia, Olga pediu aos cirurgiões: “Façam tudo o que é possível”. Sabendo no fundo do coração que não haverá um milagre. Depois de se recuperar da anestesia, sentiu o calor na sua perna ferida e ficou feliz: eles a salvaram! “Poderá, por favor, colocar melhor a minha perna esquerda”, pediu à enfermeira, – ela está arder”. A mulher olhou para mim com um longo olhar: “Filha, você não tem mais a perna esquerda”, e abriu o cobertor. Chorou durante muito tempo...

Olga perdeu o pé e maior parte da perneira, não havia nenhuma chance de salvar os tecidos, explicaram os médicos. Não foi fácil aceitar o que aconteceu: o cérebro simplesmente se recusava a perceber. Ligou para mãe e disse: “Foi atingida um bocado, estou no hospital, já eu não tenho um pedaço de perna, mas não é mau, certo ..?” Ligou para Olexiy, seu namorado de há cinco meses. Ele é operador de morteiros na mesma 72ª brigada, mas estava numa posição diferente. O comandante do batalhão deu ao Olexiy umas férias e ele veio para o hospital no dia seguinte.

“O mais importante que você sobreviveu, é um milagre, e você deve saber que eu nunca te abandonarei”
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Olexiy dava lhe comer e enxugava as lágrimas quando Olga se lembrava da perna amputada: “O mais importante que você sobreviveu, é um milagre”, – dizia ele – “você manteve o joelho, será mais fácil se movimentar sobre a prótese. E você deve saber que eu nunca te abandonarei”. –“ Olexiy, eu não tenho pé. Você entende isso ?!” – “E daí? Simplesmente agora vamos andar um pouco mais devagar”.

Nós não tivemos uma bonita história de amor, cheia de romance. Apenas à primeira vista eles gostaram um do outro, cada vez que por algum motivo corávamos quando se encontravam. Depois confessaram seus sentimentos. Antes da minha lesão, nos encontramos apenas algumas vezes, depois houve longos meses de separação e comunicação no telefone. Eu sabia que Olexiy é o mais digno dos homens, confiava nele, mas confesso, duvidava que ele iria querer ligar o seu destino à mim. Quem precisa de uma mulher com deficiência, e com uma criança além disso? Acontece que eu subestimei o meu amado...
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Três dias após a amputação, Olga foi transportada ao hospital militar de  Dnipro, depois para o hospital militar de Kyiv. Lá, a jovem passou por outras cinco operações. Todo esse tempo, quando Olga estava fraca e indefesa, Olexiy tornou-se a sua enfermeira permanente: a penteava, lavava, carregava nos braços...

Para a grande alegria dos médicos, Olga se recuperou muito bem após o trauma. Um mês após a amputação ela foi enviada ao hospital militar de Irpin para a reabilitação. Lá, em apenas algumas semanas começou andar com a prótese. Ajudou bastante o facto de que Olga anteriormente estava seriamente engajada no atletismo, jogava voleibol.

Os médicos usavam o meu exemplo falando com militares homens com os membros amputados: vejam, como uma menina, não poupa a si mesma, aprende a andar com a prótese, – conta Olga. – Os rapazes ficavam com raiva, é claro, é desagradável ouvir isso. No entanto, eu tive a motivação mais forte: fiquei pensando sobre meu filho e sobre Olexiy.

“Eu não consigo me acostumar, agora tenho uma criança”

Mal de pé sobre a prótese, Olga foi para Avdiivka – para ver o seu amado e os camaradas de armas.
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Em seguida, Olga recebeu a proposta inesperada: “Eu decidi” – disse Olexiy, – que você e seu filho vão se mudar para Kyiv. Minha mãe está esperando por vocês com impaciência, já preparou o quarto. Eu disse a ela que você é a minha esposa, e considero Dmytro o meu filho...” Na capital ucraniana Olga ficou espantada como as autoridades de Kyiv cuidam dos filhos dos defensores da Ucrânia. Por exemplo, no jardim-de-infância, pela alimentação do Dmytrinho é pago apenas 1 UAH por mês (4 cêntimos do dólar).

Olena, mãe de Olexiy trata Olga se ela fosse a sua própria filha. A visitava constantemente nos hospitais e agora, a leva a fazer compras em shopping de Kyiv. “Você precisa de atualizar seu guarda-roupa”, diz ela. Olga estava muito preocupada que a sogra fosse contra a sua união, sabendo que ela tinha um filho do primeiro casamento. Mas ela, ao contrário, ficou encantada: “Hurra, agora sou uma avó!”
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O casamento foi muito tranquilo, na presença de apenas os noivos. Quando voltaram para casa, foram recebidos pelos pais de Olexiy com jantar solene e no dia seguinte, foram todos juntos para Vinnytsa, conhecer a família alargada da Olga.

Após o incidente, quando Olga perdeu a perna, o comando militar ucraniano proibiu às mulheres com menos de 25 anos de idade para servir nos pontos quentes, e os homens foram obrigados a deixar as casas privadas e usar apenas os abrigos especiais.

Se eu voltaria se alistar novamente, sabendo o que iria acontecer? Sem dúvida. Perdi meu pé na linha da frente. Mas também ganhei muito: conheci o meu confiado amado e os camaradas fiéis. A fraternidade militar é algo especial, muito forte. Numa vida civil, essa relação, provavelmente, não existe...

Nas vésperas do Ano Novo de 2018, Olga foi transferida para servir no Comissariado militar de Kyiv, no bairro de Sviatoshyn. Ela categoricamente não queria deixar o exército e pensou que trabalho no serviço militar será a sua melhor opção. Mas estava preocupada que pudesse ser rejeitada pela junta médica, por isso, se envolveu intensamente na sua reabilitação. Felizmente, tudo acabou como Olga queria: apesar da lesão, ela continua o seu serviço nas Forças Armadas da Ucrânia.
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– Eu realmente gosto do meu trabalho, admite Olga. – Todos os dias as novas pessoas, novos conhecidos, novas tarefas – é isso que eu amo tanto!

– Você tem tempo para desporto? Sabemos que você foi convidada para se juntar à equipa de veteranos de OAT em competições internacionais, por exemplo em “Invictus Games”, e que decorre a campanha de angariação de fundos para lhe adquirir as próteses desportivos especiais.
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Honestamente: estou tirar a carta de condição e treinos sérios foram temporariamente adiados. Mas tento me mover mais: vou a pé ao e do trabalho, eu mesma levo Dmytro ao jardim-de-infância. Agora ando muito bem sem muletas. Após receber a carta de condição voltarei ao desporto.

Blogueiro: um texto muito importante para usar, respondendo à questão constante dos falsos ingénuos sobre “à onde está a vossa esquecida amizade fraternal com os irmãos-russos”...

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