A
militar ucraniana Olga Benda
ganhou o concurso da beleza militar feminina, organizado na rede Internet entre
todas as militares ucranianas que servem nas Forças Armadas da Ucrânia (FAU) na
zona de Operação Antiterrorista (OAT) no leste do país.
por:
Iryna Koprovska, Censor.net.ua
foto @babaandkit |
No
início de 2018, os militares da 72ª Brigada especial mecanizada dos “Cossacos
Negros de Zaporizhia”, Olga Tarasevych e Olexiy Benda se casaram. Eles se conheceram na linha
de frente, e quando Olga perdeu a sua perna esquerda, dissecada por um
estilhaço do projétil, Olexiy, de 26 anos, estava permanentemente ao lado da
sua amada no hospital. No entanto, esta história não é apenas sobre sentimentos
fortes, testados pela guerra.
foto @babaandkit |
Uma
mulher frágil, de facto, ainda moça, soldado sénior Olga Benda inspira muitas
pessoas com o seu exemplo, especialmente é admirada pelos homens. Tendo
sobrevivido a uma ferida grave, ela rapidamente começou usar a prótese, faz desporto
e encontrou um emprego que gosta.
Se
alistou quando muitos homens se escondiam da mobilização...
Hoje
em dia Olga caminha de forma absolutamente confiante. Os jeans da perna
esquerda estão enrolados, expondo quase completamente a sua prótese. “Não é
nenhum desejo de chocar transeuntes – explica Olga – Apenas deste jeito é mais
simples de locomover. Os complexos não me atormentam, sim, eu me tornei
deficiente, mas aprendi à viver com isso. Além disso, a decisão de ir para a
linha da frente era a minha escolha consciente”.
foto @censor.net.ua |
Em
2014 Olga viveu na cidade de Vinnytsia. Pouco antes se divorciou de seu
primeiro marido e foi deixada sozinha com o filho recém-nascido nos braços.
Começou
a primeira onda de mobilização e muitos dos homens que Olga conhecia
pessoalmente estavam se escondendo do exército. – Eu tinha vergonha deles: como
é possível trair a pátria, quando o inimigo está, nas portas da sua casa? Esta
foi uma das razões pelas quais ela assinou o contrato com as FAU no início de
2016. Naquela época, o seu filho cresceu um pouco, Dmytro tinha um ano e sete
meses. Deixei-o sob os cuidados da avó, minha mãe. Embora, confesso, a
separação com meu filho tornou-se uma verdadeira tortura... Ao mesmo tempo, eu
queria proteger Dmytrinho, garantir que ele cresceria num país independente e
europeu. E para isso, pensei, preciso de fazer a minha contribuição pessoal.
foto @censor.net.ua |
Olga
fez o curso preparatório no Centro internacional de pacificação e segurança, foi
enviada à 72ª OMBR, onde cozinhava, dado que antes do início da guerra
russo-ucraniana ela trabalhou como cozinheira numa pizzaria, embora foi formada
como secretária-operadora dos correios.
No
outono de 2016 a sua 72ª Brigada foi movida para a linha da frente, aquartelada
na zona industrial de Avdiivka, um dos locais mais quentes da guerra de Donbas.
Acordava às 6 de manha e começava à cozinhar três vezes ao dia, para cerca de
70 pessoas, praticamente igual à um pequeno casamento.
“Filha,
você não tem mais a perna esquerda”
Na
manha do dia 14 de maio de 2017, no Dia da Mãe, as forças russo-terroristas,
logo pela manha começaram alvejar as posições ucranianas. Os bombardeamentos
não pareciam assim perigosos, para os casos mais sérios, a casa onde dormia
Olga tinha uma cave.
foto @babaandkit |
Foi
acordada quando a casa e o quarto onde dormia foram diretamente alvejados. A janela,
protegida pelos tijolos desapareceu completamente. A onda de explosão empurrou
Olga fora da cama, entupiu a boca e nariz com a lama, ela não estava ouvir nada
e acabou por perder os sentidos.
Quando
voltou ao si, o bombardeamento russo ainda continuava, as posições ucranianas
foram alvejados por obuses de 120 mm: “Obus perfurou o solo, levantando um pilar
negro de terra na sua passagem, depois ocorreu um clarão amarelo. A onda de explosão
me levantado no ar, eu me senti que bati com a cabeça em alguma coisa, depois
fui empurrada e presa ao chão. Tive sorte que no momento da explosão estava deitada,
e os estilhaços passaram diretamente sobre mim. Mas a minha perna esquerda
estava ligeiramente mais alta que o nível do corpo, atingida por um estilhaço bastante
grande”.
Perdendo
os sentidos, começou se “desligar”, pensou que chegou o seu fim. Até que ouviu um
grito: “Olga, você está viva?!” Gritava combatente “Sócrates”. Sem saber como,
com a perna presa apenas por restos da pele rasgada consegui chegar até a
porta, passou por cima do sofá que barrava a sua passagem e, literalmente, saltou
aos braços do “Sócrates”.
Os
bombardeamentos russos prosseguiam, debaixo do fogo Olga recebeu os primeiros
socorros e apenas pedia: “Me passem água”. Os seus camaradas lhe passavam o
cantil e escondiam os olhares...
foto @babaandkit |
Depois
vieram os médicos. A perna decepada não se dobrava, os militares da sua unidade
ajudavam aos médicos, segurando a perna, e Olga via como tremiam as suas mãos...
Ela foi levada para um hospital próximo, as estradas locais também não
ajudavam, cheios de buracos. A viatura saltava e parecia que a sua perna estava
prestes a se partir aos pedaços. “Valentina, por favor, agarra a perna!” –
gritei Olga horrorizada para com a médica.
Preparado
para a cirurgia, Olga pediu aos cirurgiões: “Façam tudo o que é possível”. Sabendo
no fundo do coração que não haverá um milagre. Depois de se recuperar da
anestesia, sentiu o calor na sua perna ferida e ficou feliz: eles a salvaram! “Poderá,
por favor, colocar melhor a minha perna esquerda”, pediu à enfermeira, – ela
está arder”. A mulher olhou para mim com um longo olhar: “Filha, você não tem
mais a perna esquerda”, e abriu o cobertor. Chorou durante muito tempo...
Olga
perdeu o pé e maior parte da perneira, não havia nenhuma chance de salvar os
tecidos, explicaram os médicos. Não foi fácil aceitar o que aconteceu: o
cérebro simplesmente se recusava a perceber. Ligou para mãe e disse: “Foi
atingida um bocado, estou no hospital, já eu não tenho um pedaço de perna, mas
não é mau, certo ..?” Ligou para Olexiy, seu namorado de há cinco meses. Ele é
operador de morteiros na mesma 72ª brigada, mas estava numa posição diferente.
O comandante do batalhão deu ao Olexiy umas férias e ele veio para o hospital
no dia seguinte.
“O
mais importante que você sobreviveu, é um milagre, e você deve saber que eu
nunca te abandonarei”
foto @censor.net.ua |
Olexiy
dava lhe comer e enxugava as lágrimas quando Olga se lembrava da perna amputada:
“O mais importante que você sobreviveu, é um milagre”, – dizia ele – “você manteve
o joelho, será mais fácil se movimentar sobre a prótese. E você deve saber que
eu nunca te abandonarei”. –“ Olexiy, eu não tenho pé. Você entende isso ?!” – “E
daí? Simplesmente agora vamos andar um pouco mais devagar”.
Nós
não tivemos uma bonita história de amor, cheia de romance. Apenas à primeira
vista eles gostaram um do outro, cada vez que por algum motivo corávamos quando
se encontravam. Depois confessaram seus sentimentos. Antes da minha lesão, nos
encontramos apenas algumas vezes, depois houve longos meses de separação e
comunicação no telefone. Eu sabia que Olexiy é o mais digno dos homens,
confiava nele, mas confesso, duvidava que ele iria querer ligar o seu destino à
mim. Quem precisa de uma mulher com deficiência, e com uma criança além disso?
Acontece que eu subestimei o meu amado...
foto @censor.net.ua |
Três
dias após a amputação, Olga foi transportada ao hospital militar de Dnipro, depois para o hospital militar de Kyiv.
Lá, a jovem passou por outras cinco operações. Todo esse tempo, quando Olga
estava fraca e indefesa, Olexiy tornou-se a sua enfermeira permanente: a
penteava, lavava, carregava nos braços...
Para
a grande alegria dos médicos, Olga se recuperou muito bem após o trauma. Um mês
após a amputação ela foi enviada ao hospital militar de Irpin para a
reabilitação. Lá, em apenas algumas semanas começou andar com a prótese. Ajudou
bastante o facto de que Olga anteriormente estava seriamente engajada no
atletismo, jogava voleibol.
–
Os médicos usavam o meu exemplo falando com militares homens com os membros
amputados: vejam, como uma menina, não poupa a si mesma, aprende a andar com a
prótese, – conta Olga. – Os rapazes ficavam com raiva, é claro, é desagradável
ouvir isso. No entanto, eu tive a motivação mais forte: fiquei pensando sobre
meu filho e sobre Olexiy.
“Eu
não consigo me acostumar, agora tenho uma criança”
Mal
de pé sobre a prótese, Olga foi para Avdiivka – para ver o seu amado e os
camaradas de armas.
foto @twitter |
Em
seguida, Olga recebeu a proposta inesperada: “Eu decidi” – disse Olexiy, – que você
e seu filho vão se mudar para Kyiv. Minha mãe está esperando por vocês com
impaciência, já preparou o quarto. Eu disse a ela que você é a minha esposa, e considero
Dmytro o meu filho...” Na capital ucraniana Olga ficou espantada como as
autoridades de Kyiv cuidam dos filhos dos defensores da Ucrânia. Por exemplo,
no jardim-de-infância, pela alimentação do Dmytrinho é pago apenas 1 UAH por
mês (4 cêntimos do dólar).
Olena,
mãe de Olexiy trata Olga se ela fosse a sua própria filha. A visitava
constantemente nos hospitais e agora, a leva a fazer compras em shopping de
Kyiv. “Você precisa de atualizar seu guarda-roupa”, diz ela. Olga estava muito
preocupada que a sogra fosse contra a sua união, sabendo que ela tinha um filho
do primeiro casamento. Mas ela, ao contrário, ficou encantada: “Hurra, agora
sou uma avó!”
foto @censor.net.ua |
O
casamento foi muito tranquilo, na presença de apenas os noivos. Quando voltaram
para casa, foram recebidos pelos pais de Olexiy com jantar solene e no dia
seguinte, foram todos juntos para Vinnytsa, conhecer a família alargada da
Olga.
Após
o incidente, quando Olga perdeu a perna, o comando militar ucraniano proibiu às
mulheres com menos de 25 anos de idade para servir nos pontos quentes, e os
homens foram obrigados a deixar as casas privadas e usar apenas os abrigos
especiais.
–
Se eu voltaria se alistar novamente, sabendo o que iria acontecer? Sem dúvida. Perdi
meu pé na linha da frente. Mas também ganhei muito: conheci o meu confiado amado
e os camaradas fiéis. A fraternidade militar é algo especial, muito forte. Numa
vida civil, essa relação, provavelmente, não existe...
Nas
vésperas do Ano Novo de 2018, Olga foi transferida para servir no Comissariado
militar de Kyiv, no bairro de Sviatoshyn. Ela categoricamente não queria deixar
o exército e pensou que trabalho no serviço militar será a sua melhor opção.
Mas estava preocupada que pudesse ser rejeitada pela junta médica, por isso, se
envolveu intensamente na sua reabilitação. Felizmente, tudo acabou como Olga
queria: apesar da lesão, ela continua o seu serviço nas Forças Armadas da
Ucrânia.
foto @censor.net.ua |
– Eu
realmente gosto do meu trabalho, admite Olga. – Todos os dias as novas
pessoas, novos conhecidos, novas tarefas – é isso que eu amo tanto!
–
Você tem tempo para desporto? Sabemos que você foi convidada para se juntar à
equipa de veteranos de OAT em competições internacionais, por exemplo em “Invictus
Games”, e que decorre a campanha de angariação de fundos para lhe adquirir as próteses
desportivos especiais.
foto @babaandkit |
–
Honestamente: estou tirar a carta de condição e treinos sérios foram
temporariamente adiados. Mas tento me mover mais: vou a pé ao e do trabalho, eu
mesma levo Dmytro ao jardim-de-infância. Agora ando muito bem sem muletas. Após
receber a carta de condição voltarei ao desporto.
Blogueiro:
um texto muito importante para usar, respondendo à questão constante dos falsos
ingénuos sobre “à onde está a vossa esquecida amizade fraternal com os irmãos-russos”...
Sem comentários:
Enviar um comentário