"Lebensraum" (Espaço vital), Londres, 1939 |
O
espírito da II G.M. não está apenas nos arquivos históricos. Os desenhos do ilustrador e cartoonista polaco de origem judia, Arthur Szyk, é uma verdadeira crónica daquela
guerra. Os seus trabalhos eram publicados como capas e como as ilustrações em
mais diversos periódicos. Os seus cartoons podem ser considerados como as ilustrações
da própria história conturbada do século XX.
Arthur
Szyk nasceu em 1894 numa abastada família judia na cidade de Lodz, na altura parte do Império russo. Aos 15 anos estuda arte em Paris, em 1912-1914 publica os seus
primeiros cartoons com cariz social numa revista humorística polaca. Em 1914 Szyk participa numa viagem estudantil à Palestina. Viagem que seguramente o marcou em termos
de identificação nacional e cultural, fez pensar sobre a possibilidade de
existência de um estado judaico. No mesmo 1914 Arthur Szyk é mobilizado ao exército
imperial russo e é enviado à frente alemã, participando na batalha pelo
controlo da sua cidade natal, Lodz.
"A Kalevala moderna" (os letões do exército vermelho) |
A
derrota na I G.M. dita o desaparecimento do exército russo e surgimento da 2ª República polaca. Em 1919-1920, durante
a guerra polaco-soviética e da invasão da Polónia pelo Exército Vermelho, Szyk desempenha
as funções do diretor artístico do departamento da propaganda do exército
polaco, com escritório em Lodz.
Em
1921, após a derrota dos invasores soviéticos na batalha de Varsóvia, Szyk volta
ao Paris e durante alguns anos se dedica à ilustração
dos
livros franceses. Embora muitos de seus colegas artistas trabalham no estilo de
cubismo, surrealismo e da arte abstracta, ele prefere a arte gráfica clássica. O
seu trabalho é uma reminiscência de arte medieval em miniatura e dos gráficos de
renascimento: os temas históricos, composição complexa, atenção aos detalhes, plástica
dinâmica dos corpos, trabalho cuidado com a cor e uso das suas possibilidades
simbólicas, permitiram ao desenhador concentrar-se no essencial. Szyk fez
ilustrações para os documentos históricos (como ao Pacto da Liga das Nações) e
livros antigos, que foram muitas vezes ligados à história judaica.
Ele participou em diversas exposições na Europa e nos EUA.
Mais
tarde, em 1934, durante a sua visita
aos EUA, Szyk disse: “O artista, especialmente um artista judeu, não pode
permanecer neutro nas questões importantes de hoje. Ele não pode se esconder atrás das naturezas
mortas, abstrações e experimentos. Nossas vidas estão envolvidas em uma tragédia terrível, e eu decidi servir o meu povo
com toda a minha arte, talento e o conhecimento”. Ele acreditava no poder político da arte. Mas ele não aspirava
este tipo da carreira. A sua
actividade profissional, iniciada entre os artistas modernos e sua biografia, são, o mais certo, resultados da II G. M., que mudou o mundo e, em particular, o
mundo de Arthur
Szyck.
"Lex Faux Joueurs" (os batoteiros), Londres, 1939 |
Nas
vésperas da II G.M., em 1937, Szyk se muda para Londres. Com início da guerra,
os seus cartoons políticos são publicados num dos semanários londrinos, em
Londres se abrem as suas exposições, mais tarde os seus trabalhos são exibidos
nos EUA. Em 1940 o artista emigra primeiro para o Canadá e, em seguida, para os
Estados Unidos, onde fixa a sua residência. Em 1943, morre a sua mãe, primeiro,
confinada pelos nazis ao gueto de Lodz, e de lá transferida, muito provavelmente,
para algum campo de concentração. “Provavelmente” – porque a data e as
circunstâncias da sua morte até hoje permanecem desconhecidas.
"O polícia sénior Estalin", Londres, 1939 |
"O camarada Goering", Londres, 1939 |
Nos
Estados Unidos as caricaturas do Szyk ganham imensa popularidade. Eles aparecem
regularmente nas capas das principais revistas americanas («Collier´s» e «Time»).
Szyk se torna o membro do pessoal da «New York Post», e durante a guerra,
participa em mais de 25 exposições. Em 1948, o artista recebe a cidadania
americana. Ele cobre, como repórter, a proclamação do Estado de Israel e continua
se envolver em assuntos políticos, em particular, na questão da discriminação
contra a população negra dos EUA. Em 1951, a Comissão de Atividades
Antiamericanas iniciou uma investigação sobre Szyk, o artista foi suspeito de
ser simpatizante de ideias comunistas. Szyk negou qualquer envolvimento em
qualquer organização comunista, foi absolvido, mas alguns meses depois morreu
de ataque cardíaco. A sua obra artística continuou a sua missão: abrir os
olhos das pessoas aos dois maiores perigos do século XX, duas maiores
ideologias totalitárias: comunismo e nazismo (foram usados os textos e as
reproduções do catálogo da exposição alemã “Arthur Szyk Drawing Against National Socialism and Terror”, museu Deutshes Historisches Museum, Berlim, 2008 e as ilustrações
publicadas pelo blogueiro Solimon).
O auto-retrato do artista, 1946 |
A sua foto em 1951 |