segunda-feira, maio 23, 2016

A história do centro secreto alemão de guerra química “Tomka”

Após a derrota na I G.M., o exército alemão não podia possuir os tipos modernos de armamento, muito menos as armas químicas, cujo uso no campo de batalha foi proibido pelo Protocolo de Genebra de 1925. Ajuda veio do seu novo aliado, a União Soviética. Tal como nos casos das escolas secretas de Luftwaffe e dos blindadosKama”, a URSS autorizou a criação do centro secreto de armas químicas, conhecido como “objeto Tomka” (Allgemeine erfahrene Institut).
O pessoal alemão do centro "Tomka" à se descontrair, 1928-1931
Objeto «Tomka» era o centro mais secreto do Reichswehr no território da URSS, situado na região de Saratov, nos arredores da cidade de Volsk (embora as primeiras experiências decorreram no polígono de «Podosinki», nos arredores de Moscovo). O centro foi construído em 1927 e entrou em funcionamento em 1928. Custou à Alemanha cerca de 1 milhão de marcos e foi criado para testar os métodos da utilização de substâncias tóxicas com auxílio da artilharia e aviação, assim como para desenvolver os meios e métodos de descontaminação de áreas contaminadas.
O pessoal alemão do interior do centro, 1928-1931
Tal como nos casos dos anteriores projetos secretos, a decisão da criação do centro surgiu na sequência direta do Tratado de Rapallo, e também, em violação grosseira do tratado de Versalhes. Segundo o acordo, assinado em Moscovo em 21 de agosto de 1926, a liderança soviética permitiu a criação na URSS de objetos de uso militar para testagem de equipamentos e treino de pessoal militar, a liderança alemã prometeu, por sua vez, colaborar na exportação de tecnologia alemã para o desenvolvimento da indústria de defesa soviética. O acordo entre as partes era anual e deveria ser prorrogado o mais tardar até o dia 31 de dezembro de cada ano em curso. Pontualmente as partes poderiam colocar no seu texto as adendas e as alterações. O acordo era absolutamente secreto, mesmo nos documentos internos as partes eram mencionadas apenas pelos códigos: Sociedade Pública de Controlo de Pragas e Uso de Fertilizantes Artificiais “M” (Moscovo) e a Sociedade Pública Alemã de Uso de Matérias-primas “B” (Berlim). Os direitos e obrigações entre os parceiros eram distribuídos de forma igual.
A gestão técnica estava nas mãos dos alemães e a gestão administrativa foi de responsabilidade da parte soviética. O primeiro diretor da “Tomka” foi o major-general Wilhelm Trepper (1928 – 1929), seguido pelo Dr. Eng. Leopold von Sicherer (1929 – 15.08.1933).
As partes tinham o direito de obter as amostras de todos os equipamentos usados e desenvolvidos no decorrer dos testes e dos seus desenhos técnicos. Além disso, o contrato previa que todos os relatórios de ensaios, desenhos técnicos ou fotografias, serão produzidos em duplicado e serão distribuídos, de forma igual, entre as partes. Todos os experimentos deveriam se realizar somente na presença do representante soviético ou do seu vice. A parte soviética garantia o uso e aproveitamento dos seus polígonos e assumia o compromisso de criar as condições de trabalho necessárias. Os alemães garantiam o “ensino dos “especialistas “M” em todos os ramos do trabalho experimental, no decorrer das experiências, sob a condição de que os especialistas “M”, não só em teoria, mas também na prática, irão fazer a parte dos trabalhos”.
Os químicos alemães desenvolviam os trabalhos experimentais da utilização de diversas substâncias químicas para os fins militares. O seu objetivo era a testagem dos agentes químicos em diferentes condições climáticas, bem como aprimoramento de métodos de seu uso em combate (obuses e bombas químicas, a pulverização com uso de dispositivos portáteis e aeronaves, etc.). Tudo, para conseguir o efeito máximo do seu uso no campo da batalha. Ao mesmo tempo, o centro se dedicava à preparação de especialistas militares de serviço químico.
Todo o equipamento usado veio, secretamente, da Alemanha. O pessoal permanente alemão da escola era composto por aproximadamente 25-29 pessoas. Além disso, periodicamente, da Alemanha vinham os oficiais que, após passarem por um determinado período de formação, regressavam ao seu país natal. Pelo centro “Tomka” passaram diversos artilheiros, médicos, toxicologistas, biólogos, químicos, meteorologistas e especialistas de pirotecnia do futuro Wehrmacht que faziam na URSS os seus curso de requalificação.
As primeiras experiências começaram no final de Setembro de 1926, antes da mudança do centro para a região de Saratov. Foram efetuados cerca de 40 voos, durante as quais das diferentes alturas era derramado o líquido com as propriedades físicas semelhantes ao gás mostarda. As experiências mostraram a viabilidade técnica do uso de gás mostarda pela aviação contra os alvos humanos, para a contaminação do território e das localidades (Dyakov Y. L., Bushueva T.S., “A espada fascista foi forjada na URSS” p.74). Na primavera de 1927 essas experiências foram repetidas com o uso do gás mostarda militar, que entretanto tinha chegado da Alemanha.
As gaiolas com pássaros e animais que serviam de cobaias durante as experiências
Na sua carta ao Estaline, datada de 31 de dezembro de 1926, o vice-chefe do Conselho Militar Revolucionário da URSS, Józef Unszlicht (fuzilado pela ordem do Estaline em 29 de julho de 1938 como “agente polaco”), escrevia:
Referindo-se aos resultados, é necessário dizer que estes testes já nos trouxeram grandes benefícios. Além do facto de que os [testes] nos deram o desconhecido antes método de pulverização, temos recebido tudo de uma vez, os resultados da pesquisa e a metodologia de trabalho, já que com cada um dos especialistas deles trabalhou o nosso especialista e assimilou toda a sua experiência em prática. Como resultado, os nossos especialistas, em contacto com a prática da mais alta preparação técnica de especialistas alemães, em pouco tempo aprenderam bastante.
Os nossos custos materiais, em comparação com os dos alemães, são insignificantes. A primeira parte dos testes, por terminar, nos custou, sem contar com o pagamento de nossos profissionais, cerca de 20 mil rublos. Aos [alemães] estes testes tinham custado,  provavelmente, algumas centenas de milhares, uma vez que todo o equipamento foi adquirido por eles, eles pagaram o transporte, e os seus especialistas custam lhes várias vezes mais caro do que os nossos”. (Idem, p.74).
Construção do centro
Embora, segundo o acordo, todas as despesas deveriam ser pagas em pé de igualdade, os custos reais soviéticos eram muito menores em relação aos dos alemães. Assim, em 1929 a URSS gastou a soma de 257 mil rublos, os alemães – 780 mil marcos (Sergey Gorlov, Absolutamente secreto... p. 224).
A vista geral do centro no fim da sua existência (foto sem créditos)
Em 1929, o centro “Tomka” já possuía uma base material e técnica bastante sólida. Dispunha de 4 laboratórios, 2 viveiros, câmara de descontaminação, estação de energia, garagem, barracas de habitação. Os custos alemães de manutenção do centro atingem 1 milhão de rublos em 1929.
Em 1932, o centro previa a realização de experiências de combate com munições químicas de artilharia com o gás mostarda, o fogo de artilharia com obuses de substâncias tóxicas, a contaminação dos solos, a explosão de obuses com substâncias químicas, os testes de bombas químicas aéreas do tipo FAB, experiências de descontaminação.
A Alemanha estava muitíssimo interessada no funcionamento do centro “Tomka”, não apenas por causa das restrições de tratado de Versalhes, mas também por causa de suas condições geográficas e demográficas, não podendo e não querendo realizar os testes químicos e militares em grande escala no seu próprio território. Em alguns casos, Alemanha condicionava o fornecimento de certos tipos de equipamentos militares à URSS à condição de poder continuar as suas experiências químicas em “Tomka”.
A União Soviética também beneficiou do programa, reabastecido significativamente os seus arsenais de armas químicas. No projeto de resolução do Conselho de Trabalho e da Defesa da URSS, denominado “Sobre o situação do ramo químico militar” (maio de 1931), se afirmava que artilharia soviética possuía [...] 420 mil novos obuses artilhados com a gás mostarda, fosgénio e difosgénio. [...] A força aérea possuía bombas de 8 e 32 quilos artilhadas com o gás mostarda (para a contaminação do terreno) e bombas de fragmentação químicas de 8 kg, artilhadas com o cloro de fenácilo (para atingir o pessoal inimigo).
Os serventes e funcionários russos do centro
A chegada do Hitler ao poder e fim da necessidade de esconder o seu programa de armamento, contribuíram para o encerramento da escola. Embora o Estado-maior do Reichswehr, analisando todo o período do funcionamento do centro, desde a sua abertura e até o encerramento, o resumiu de seguinte maneira: «A parte russa não está interessada para que nós possamos testar o dispositivo e adquirirmos a experiência relevante, – eles apenas querem obter as nossas novidades (agentes [químicos] de guerra, os equipamentos). A cooperação neste formato, claramente, não nós agrada». No dia 30 de maio de 1933, o Estado-maior do Reichswehr informava o seu adido militar em Moscovo: “Os nossos testes em “Tomka”, em 1933, apesar das promessas existentes ... não se realizarão”.

O fim do “Tomka” (26.07.1933 – 15.08.1933)

A rejeição final da continuação da cooperação foi recebida da URSS, através do embaixador alemão em Moscovo, apenas no início de 1933. Urgentemente foi formada a equipa de desmontagem que em junho de 1933 viajou à União Soviética.
A desmontagem significava: 1) o envio de material, principalmente aviões, para a Alemanha; 2) elaboração dos relatórios sobre os bens móveis e imóveis para as negociações; 3) a remoção do armazenamento e posterior destruição de substâncias  químicas; 4) a transferência dos equipamentos restantes em “Tomka” ao comandante soviético (à disposição do Exército Vermelho ficou o polígono de testes químicos, além disso, parte dos equipamentos foi usada no desenvolvimento do Instituto da Defesa Química).

Além de edifícios residenciais e comerciais, os alemães deixaram na URSS os 4 canhões do campo, a frota automóvel com um armazém de peças sobressalentes, os motores elétricos, um hangar para aeronaves (em forma de tenda), equipamentos de protecção, incluindo o vestuário, as máscaras de gás e equipamentos de oxigénio.

Fontes: @fonte; texto; fotos

Blogueiro: atualmente, os diversos estalinistas e esquerdistas da linha pró-soviética tentam justificar a validade do projeto, usando os argumentos da obtenção pela URSS do “saber-fazer” ocidental e a forma da cooperação, supostamente financeiramente favorável à União Soviética. Esquecendo o simples facto do que as vidas humanas que a mesma URSS perdeu na II G.M., graças às novas tecnologias de guerra, usadas pelo 3º Reich e aprendidas, parcialmente, na URSS, não podem, nem devem ser avaliados em termos de finanças públicas.

Além dos 26.6 milhões de mortos em combate e falecidos, a URSS tive durante a II G.M., no mínimo, 22 milhões de feridos, muitos deles sofreram ferimentos por mais que uma vez:
Com crânios rachados: 775.000 veteranos
Com 1 olho: 155.000
Cegos: 54.000
Com as faces deformadas: 501.342
Com pescoços torcidos: 157.565
Com lesões na coluna: 143.241
Com órgãos genitais danificados: 28.648
Com 1 mão: 3.147 mil
Sem as mãos: 1.010 mil
Com 1 perna: 3.255 mil
Sem as pernas: 1.121 mil
Com as mãos e pernas amputadas parcialmente: 418.905
Sem as mãos e sem as pernas, os chamados “samovares”: 85.942 (fonte).

Ver o filme documental Samovares”, 38´29´´ (2014):



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