Após
a derrota na I G.M., o exército alemão não
podia possuir os tipos modernos de armamento, muito menos as armas químicas,
cujo uso no campo de batalha foi proibido pelo Protocolo de Genebra
de 1925. Ajuda veio do seu novo aliado, a União Soviética. Tal como nos casos das
escolas secretas de Luftwaffe
e dos blindados “Kama”,
a URSS autorizou a criação do centro secreto de armas químicas, conhecido como
“objeto Tomka” (Allgemeine erfahrene Institut).
O pessoal alemão do centro "Tomka" à se descontrair, 1928-1931 |
Objeto
«Tomka» era o centro mais secreto do Reichswehr no território da URSS, situado
na região de Saratov, nos arredores da cidade de Volsk (embora as primeiras experiências
decorreram no polígono de «Podosinki», nos arredores de Moscovo). O centro foi
construído em 1927 e entrou em funcionamento em 1928. Custou à Alemanha cerca
de 1 milhão de marcos e foi criado para testar os métodos da utilização de
substâncias tóxicas com auxílio da artilharia e aviação, assim como para
desenvolver os meios e métodos de descontaminação de áreas contaminadas.
O pessoal alemão do interior do centro, 1928-1931 |
Tal
como nos casos dos anteriores projetos secretos, a decisão da criação do centro
surgiu na sequência direta do Tratado de Rapallo,
e também, em violação grosseira do tratado de Versalhes. Segundo o acordo,
assinado em Moscovo em 21 de agosto de 1926, a liderança soviética permitiu a criação
na URSS de objetos de uso militar para testagem de equipamentos e treino de
pessoal militar, a liderança alemã prometeu, por sua vez, colaborar na exportação
de tecnologia alemã para o desenvolvimento da indústria de defesa soviética. O
acordo entre as partes era anual e deveria ser prorrogado o mais tardar até o
dia 31 de dezembro de cada ano em curso. Pontualmente as partes poderiam
colocar no seu texto as adendas e as alterações. O acordo era absolutamente
secreto, mesmo nos documentos internos as partes eram mencionadas apenas pelos
códigos: Sociedade Pública de Controlo de Pragas e Uso de Fertilizantes Artificiais
“M” (Moscovo) e a Sociedade Pública Alemã de Uso de Matérias-primas “B” (Berlim).
Os direitos e obrigações entre os parceiros eram distribuídos de forma igual.
A
gestão técnica estava nas mãos dos alemães e a gestão administrativa foi de
responsabilidade da parte soviética. O primeiro diretor da “Tomka” foi o
major-general Wilhelm Trepper (1928 – 1929), seguido pelo Dr. Eng. Leopold von Sicherer
(1929 – 15.08.1933).
As
partes tinham o direito de obter as amostras de todos os equipamentos usados e
desenvolvidos no decorrer dos testes e dos seus desenhos técnicos. Além disso, o
contrato previa que todos os relatórios de ensaios, desenhos técnicos ou
fotografias, serão produzidos em duplicado e serão distribuídos, de forma igual,
entre as partes. Todos os experimentos deveriam se realizar somente na presença
do representante soviético ou do seu vice. A parte soviética garantia o uso e
aproveitamento dos seus polígonos e assumia o compromisso de criar as condições
de trabalho necessárias. Os alemães garantiam o “ensino dos “especialistas “M”
em todos os ramos do trabalho experimental, no decorrer das experiências, sob a
condição de que os especialistas “M”, não só em teoria, mas também na prática,
irão fazer a parte dos trabalhos”.
Os
químicos alemães desenvolviam os trabalhos experimentais da utilização de diversas
substâncias químicas para os fins militares. O seu objetivo era a testagem dos agentes
químicos em diferentes condições climáticas, bem como aprimoramento de métodos
de seu uso em combate (obuses e bombas químicas, a pulverização com uso de
dispositivos portáteis e aeronaves, etc.). Tudo, para conseguir o efeito máximo
do seu uso no campo da batalha. Ao mesmo tempo, o centro se dedicava à preparação
de especialistas militares de serviço químico.
Todo
o equipamento usado veio, secretamente, da Alemanha. O pessoal permanente alemão
da escola era composto por aproximadamente 25-29 pessoas. Além disso,
periodicamente, da Alemanha vinham os oficiais que, após passarem por um determinado
período de formação, regressavam ao seu país natal. Pelo centro “Tomka” passaram
diversos artilheiros, médicos, toxicologistas, biólogos, químicos,
meteorologistas e especialistas de pirotecnia do futuro Wehrmacht que faziam na
URSS os seus curso de requalificação.
As
primeiras experiências começaram no final de Setembro de 1926, antes da mudança
do centro para a região de Saratov. Foram efetuados cerca de 40 voos, durante
as quais das diferentes alturas era derramado o líquido com as propriedades
físicas semelhantes ao gás mostarda. As experiências mostraram a viabilidade
técnica do uso de gás mostarda pela aviação contra os alvos humanos, para a
contaminação do território e das localidades (Dyakov Y. L., Bushueva T.S., “A
espada fascista foi forjada na URSS” p.74). Na primavera de 1927 essas
experiências foram repetidas com o uso do gás mostarda militar, que entretanto
tinha chegado da Alemanha.
As gaiolas com pássaros e animais que serviam de cobaias durante as experiências |
Na
sua carta ao Estaline, datada de 31 de dezembro de 1926, o vice-chefe do
Conselho Militar Revolucionário da URSS, Józef Unszlicht
(fuzilado pela ordem do Estaline em 29 de julho de 1938 como “agente polaco”),
escrevia:
“Referindo-se
aos resultados, é necessário dizer que estes testes já nos trouxeram grandes
benefícios. Além do facto de que os [testes] nos deram o desconhecido antes método
de pulverização, temos recebido tudo de uma vez, os resultados da pesquisa e a
metodologia de trabalho, já que com cada um dos especialistas deles trabalhou o
nosso especialista e assimilou toda a sua experiência em prática. Como
resultado, os nossos especialistas, em contacto com a prática da mais alta
preparação técnica de especialistas alemães, em pouco tempo aprenderam bastante.
Os
nossos custos materiais, em comparação com os dos alemães, são insignificantes.
A primeira parte dos testes, por terminar, nos custou, sem contar com o
pagamento de nossos profissionais, cerca de 20 mil rublos. Aos [alemães] estes
testes tinham custado, provavelmente,
algumas centenas de milhares, uma vez que todo o equipamento foi adquirido por
eles, eles pagaram o transporte, e os seus especialistas custam lhes várias
vezes mais caro do que os nossos”. (Idem, p.74).
Construção do centro |
Embora,
segundo o acordo, todas as despesas deveriam ser pagas em pé de igualdade, os
custos reais soviéticos eram muito menores em relação aos dos alemães. Assim,
em 1929 a URSS gastou a soma de 257 mil rublos, os alemães – 780 mil marcos (Sergey
Gorlov, Absolutamente secreto... p. 224).
A vista geral do centro no fim da sua existência (foto sem créditos) |
Em
1929, o centro “Tomka” já possuía uma base material e técnica bastante sólida. Dispunha
de 4 laboratórios, 2 viveiros, câmara de descontaminação, estação de energia,
garagem, barracas de habitação. Os custos alemães de manutenção do centro atingem
1 milhão de rublos em 1929.
Em
1932, o centro previa a realização de experiências de combate com munições
químicas de artilharia com o gás mostarda, o fogo de artilharia com obuses de substâncias
tóxicas, a contaminação dos solos, a explosão de obuses com substâncias químicas,
os testes de bombas químicas aéreas do tipo FAB, experiências de descontaminação.
A
Alemanha estava muitíssimo interessada no funcionamento do centro “Tomka”, não
apenas por causa das restrições de tratado de Versalhes, mas também por causa
de suas condições geográficas e demográficas, não podendo e não querendo realizar
os testes químicos e militares em grande escala no seu próprio território. Em alguns
casos, Alemanha condicionava o fornecimento de certos tipos de equipamentos
militares à URSS à condição de poder continuar as suas experiências químicas em
“Tomka”.
A
União Soviética também beneficiou do programa, reabastecido significativamente os
seus arsenais de armas químicas. No projeto de resolução do Conselho de
Trabalho e da Defesa da URSS, denominado “Sobre o situação do ramo químico militar”
(maio de 1931), se afirmava que artilharia soviética possuía [...] 420 mil
novos obuses artilhados com a gás mostarda, fosgénio e difosgénio. [...] A
força aérea possuía bombas de 8 e 32 quilos artilhadas com o gás mostarda (para
a contaminação do terreno) e bombas de fragmentação químicas de 8 kg,
artilhadas com o cloro
de fenácilo (para atingir o pessoal inimigo).
Os serventes e funcionários russos do centro |
A
chegada do Hitler ao poder e fim da necessidade de esconder o seu programa de
armamento, contribuíram para o encerramento da escola. Embora o Estado-maior do
Reichswehr, analisando todo o período do funcionamento do centro, desde a sua
abertura e até o encerramento, o resumiu de seguinte maneira: «A
parte russa não está interessada para que nós possamos testar o dispositivo e
adquirirmos a experiência relevante, – eles apenas querem obter as nossas novidades
(agentes [químicos] de guerra, os equipamentos). A cooperação neste formato, claramente,
não nós agrada». No dia 30 de maio de 1933, o Estado-maior do Reichswehr
informava o seu adido militar em Moscovo: “Os nossos testes em “Tomka”, em 1933,
apesar das promessas existentes ... não se realizarão”.
O
fim do “Tomka” (26.07.1933 – 15.08.1933)
A
rejeição final da continuação da cooperação foi recebida da URSS, através do
embaixador alemão em Moscovo, apenas no início de 1933. Urgentemente foi
formada a equipa de desmontagem que em junho de 1933 viajou à União Soviética.
A
desmontagem significava: 1) o envio de material, principalmente aviões, para a
Alemanha; 2) elaboração dos relatórios sobre os bens móveis e imóveis para as
negociações; 3) a remoção do armazenamento e posterior destruição de substâncias químicas; 4) a transferência dos equipamentos
restantes em “Tomka” ao comandante soviético (à disposição do Exército Vermelho
ficou o polígono de testes químicos, além disso, parte dos equipamentos foi
usada no desenvolvimento do Instituto da Defesa Química).
Além
de edifícios residenciais e comerciais, os alemães deixaram na URSS os 4 canhões
do campo, a frota automóvel com um armazém de peças sobressalentes, os motores
elétricos, um hangar para aeronaves (em forma de tenda), equipamentos de
protecção, incluindo o vestuário, as máscaras de gás e equipamentos de
oxigénio.
Blogueiro:
atualmente, os diversos estalinistas e esquerdistas da linha pró-soviética tentam
justificar a validade do projeto, usando os argumentos da obtenção pela URSS do
“saber-fazer” ocidental e a forma da cooperação, supostamente financeiramente
favorável à União Soviética. Esquecendo o simples facto do que as vidas humanas
que a mesma URSS perdeu na II G.M., graças às novas tecnologias de guerra,
usadas pelo 3º Reich e aprendidas, parcialmente, na URSS, não podem, nem devem
ser avaliados em termos de finanças públicas.
Além
dos 26.6 milhões de mortos em combate e falecidos, a URSS tive durante a II G.M., no mínimo, 22 milhões de feridos, muitos deles sofreram ferimentos por mais que uma vez:
Com
crânios rachados: 775.000 veteranos
Com
1 olho: 155.000
Cegos:
54.000
Com
as faces deformadas: 501.342
Com
pescoços torcidos: 157.565
Com
lesões na coluna: 143.241
Com
órgãos genitais danificados: 28.648
Com
1 mão: 3.147 mil
Sem
as mãos: 1.010 mil
Com
1 perna: 3.255 mil
Sem
as pernas: 1.121 mil
Com
as mãos e pernas amputadas parcialmente: 418.905
Sem as mãos e sem as pernas, os chamados “samovares”:
85.942 (fonte).Ver o filme documental “Samovares”, 38´29´´ (2014):
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