terça-feira, maio 31, 2016

Arthur Szyk: arte na luta contra comunismo e nacional-socialismo

"Lebensraum" (Espaço vital), Londres, 1939
O espírito da II G.M. não está apenas nos arquivos históricos. Os desenhos do ilustrador e cartoonista polaco de origem judia, Arthur Szyk, é uma verdadeira crónica daquela guerra. Os seus trabalhos eram publicados como capas e como as ilustrações em mais diversos periódicos. Os seus cartoons podem ser considerados como as ilustrações da própria história conturbada do século XX.
Arthur Szyk nasceu em 1894 numa abastada família judia na cidade de Lodz, na altura parte do Império russo. Aos 15 anos estuda arte em Paris, em 1912-1914 publica os seus primeiros cartoons com cariz social numa revista humorística polaca. Em 1914 Szyk participa numa viagem estudantil à Palestina. Viagem que seguramente o marcou em termos de identificação nacional e cultural, fez pensar sobre a possibilidade de existência de um estado judaico. No mesmo 1914 Arthur Szyk é mobilizado ao exército imperial russo e é enviado à frente alemã, participando na batalha pelo controlo da sua cidade natal, Lodz.
"A Kalevala moderna" (os letões do exército vermelho)
A derrota na I G.M. dita o desaparecimento do exército russo e surgimento da 2ª República polaca. Em 1919-1920, durante a guerra polaco-soviética e da invasão da Polónia pelo Exército Vermelho, Szyk desempenha as funções do diretor artístico do departamento da propaganda do exército polaco, com escritório em Lodz.
Em 1921, após a derrota dos invasores soviéticos na batalha de Varsóvia, Szyk volta ao Paris e durante alguns anos se dedica à ilustração dos livros franceses. Embora muitos de seus colegas artistas trabalham no estilo de cubismo, surrealismo e da arte abstracta, ele prefere a arte gráfica clássica. O seu trabalho é uma reminiscência de arte medieval em miniatura e dos gráficos de renascimento: os temas históricos, composição complexa, atenção aos detalhes, plástica dinâmica dos corpos, trabalho cuidado com a cor e uso das suas possibilidades simbólicas, permitiram ao desenhador concentrar-se no essencial. Szyk fez ilustrações para os documentos históricos (como ao Pacto da Liga das Nações) e livros antigos, que foram muitas vezes ligados à história judaica. Ele participou em diversas exposições na Europa e nos EUA.
Mais tarde, em 1934, durante a sua visita aos EUA, Szyk disse: O artista, especialmente um artista judeu, não pode permanecer neutro nas questões importantes de hoje. Ele não pode se esconder atrás das naturezas mortas, abstrações e experimentos. Nossas vidas estão envolvidas em uma tragédia terrível, e eu decidi servir o meu povo com toda a minha arte, talento e o conhecimento”. Ele acreditava no poder político da arte. Mas ele não aspirava este tipo da carreira. A sua actividade profissional, iniciada entre os artistas modernos e sua biografia, são, o mais certo, resultados da II G. M., que mudou o mundo e, em particular, o mundo de Arthur Szyck.
"Lex Faux Joueurs" (os batoteiros), Londres, 1939
Nas vésperas da II G.M., em 1937, Szyk se muda para Londres. Com início da guerra, os seus cartoons políticos são publicados num dos semanários londrinos, em Londres se abrem as suas exposições, mais tarde os seus trabalhos são exibidos nos EUA. Em 1940 o artista emigra primeiro para o Canadá e, em seguida, para os Estados Unidos, onde fixa a sua residência. Em 1943, morre a sua mãe, primeiro, confinada pelos nazis ao gueto de Lodz, e de lá transferida, muito provavelmente, para algum campo de concentração. “Provavelmente” – porque a data e as circunstâncias da sua morte até hoje permanecem desconhecidas.
"O polícia sénior Estalin", Londres, 1939
"O camarada Goering", Londres, 1939
Nos Estados Unidos as caricaturas do Szyk ganham imensa popularidade. Eles aparecem regularmente nas capas das principais revistas americanas («Collier´s» e «Time»). Szyk se torna o membro do pessoal da «New York Post», e durante a guerra, participa em mais de 25 exposições. Em 1948, o artista recebe a cidadania americana. Ele cobre, como repórter, a proclamação do Estado de Israel e continua se envolver em assuntos políticos, em particular, na questão da discriminação contra a população negra dos EUA. Em 1951, a Comissão de Atividades Antiamericanas iniciou uma investigação sobre Szyk, o artista foi suspeito de ser simpatizante de ideias comunistas. Szyk negou qualquer envolvimento em qualquer organização comunista, foi absolvido, mas alguns meses depois morreu de ataque cardíaco. A sua obra artística continuou a sua missão: abrir os olhos das pessoas aos dois maiores perigos do século XX, duas maiores ideologias totalitárias: comunismo e nazismo (foram usados os textos e as reproduções do catálogo da exposição alemã “Arthur Szyk Drawing Against National Socialism and Terror, museu Deutshes Historisches Museum, Berlim, 2008 e as ilustrações publicadas pelo blogueiro Solimon).
O auto-retrato do artista, 1946
A sua foto em 1951

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