No
dia 6 de dezembro Ucrânia celebra o Dia das Forças Armadas (FAU) – neste dia,
em 1991 foi adotada a Lei “Sobre a Defesa da Ucrânia”, a base do aniversário
das Forças Armadas. Ucrânia conquistou a sua independência em 1991, mas até
2014 o exército ucraniano permaneceu em grande parte soviético – acreditava-se
que Ucrânia não tinha inimigos, que estava cercada por “amigos e irmãos” e não
precisava do exército. No período 1991-2014, FAU reduziam constantemente o seu
armamento e, em 1996, Ucrânia abriu às mãos à sua capacidade nuclear.
Tudo
mudou em 2014, com o início da agressão militar híbrida russa no leste da
Ucrânia – em 2014-2015, Ucrânia e os ucranianos, de fa(c)to, responderam
novamente às perguntas – o que é um exército, para que serve, como deve
funcionar e como deve ser armado. Agora, no final de 2019, podemos dizer que o
exército ucraniano passou no teste do tempo com sucesso.
História
do exército ucraniano
A
formação das Forças Armadas da Ucrânia em seu sentido moderno (para proteger a
integridade territorial da Ucrânia e dos ucranianos como nação), coincide com o
fim da I G.M. e com o colapso do império russo, quando Ucrânia proclamou a sua
1ª república – República Popular da Ucrânia (UNR). Até 1921, a UNR foi
derrotada, e o território da Ucrânia foi dividido entre dois oponentes mais
fortes – a Polónia, por um lado, e a Rússia soviética, por outro. Durante
muitos anos, Ucrânia não teve nem independência, nem o seu exército.
Uma
nova etapa na formação das Forças Armadas começou em 1991, após a proclamação
da Independência em 24 de agosto de 1991. O Parlamento (Rada Suprema) da
Ucrânia tomou sob a sua jurisdição todas as unidades militares da antiga URSS,
localizadas em território ucraniano. Também em agosto de 1991, foi criado o
Ministério da Defesa da Ucrânia.
Sob
a jurisdição da Ucrânia ficaram 14 divisões de infantaria motorizada, 4 – de
blindados e 3 de artilharia; 8 brigadas de artilharia, 4 brigadas de forças
especiais, 9 brigadas de defesa aérea, 7 regimentos de helicópteros de combate,
3 exércitos aéreos e um exército especial de defesa anti-aérea. Naquela época,
Ucrânia possuía armas nucleares – tinha 176 mísseis intercontinentais equipados
com um total de 1272 ogivas nucleares, além de cerca de 2.500 armas nucleares
táticas. No total, em 1991, o número de tropas ucranianas totalizou cerca de um
milhão de pessoas.
Estado
das Forças Armadas da Ucrânia até 2014
Desde
1991 Ucrânia começou uma redução maciça e em larga escala dos diversos ramos do
seu exército. O primeiro estágio dessa redução ocorreu em 1991-1996 – pela
primeira vez na história da humanidade, um Estado abandonou voluntariamente a
posse de armas nucleares, e os números das tropas e de armamento também começou
a declinar acentuadamente.
A
segunda fase da redução das FAU ocorreu no meio da década de 2000, entre 2001 à
2014 Ucrânia teve 9 ministros da Defesa. As propriedades militares, máquinas e
equipamentos eram simplesmente vendidos, o valor aproximado da propriedade
militar da Ucrânia valia, aproximadamente, cerca de 90 biliões de dólares, uma
grande parte dessa propriedade foi vendida à um custo baixo, por vezes ao preço
de sucata. Por exemplo, em junho de 2006, foi assinado um acordo sobre a
destruição de 1.000 MANPADS, 1.500.000 armas de pequeno calibre e 133.000 toneladas
de munição em 10 anos.
Acreditava-se
que ninguém atacaria Ucrânia – a segurança de suas fronteiras era garantida
pelo Memorando de Budapeste (em troca da qual a Ucrânia concordou em desistir
de suas armas nucleares), e apenas “amigos e irmãos” cercavam o país.
Um
dos melhores exércitos da Europa
Tudo
mudou no início de 2014 – com o início da agressão armada russa no leste da
Ucrânia. O exército ucraniano não estava pronto para este cenário. A liderança
militar fugiu para a Rússia – junto com o ex-presidente Yanukovych, foi o
ministro da Defesa Pavel Lebedev, o chefe do Ministério do Interior/da
Administração Interna e várias figuras importantes escaparam por lá. O exército
era ineficaz – nas unidades de blindados de dez tanques, na melhor das hipóteses,
havia dois operacionais, não havia peças sobressalentes e combustível, não
havia fardamentos e apoio da retaguarda. As unidades das Forças Armadas que
operam em 2014 no leste da Ucrânia sofreram sérias perdas em equipamentos e
pessoal.
Desde
o início de 2015, começa a formação de um novo exército ucraniano – os
orçamentos militares aumentam significativamente, a composição e o número de
unidades são reformatados, o exército está equipado com novos equipamentos
militares e é finalmente desovietizado – todos os nomes soviéticos foram removidos
e as unidades de forças especiais, fuzileiros navais e tropas aerotransportadas
são redesenhadas de acordo com os padrões da NATO/OTAN. No final de 2018, as
Forças Armadas da Ucrânia começaram a introduzir elementos de um sistema
automatizado unificado de comando e controlo/e de tropas – o que permite
responder melhor às ataques e reduzir significativamente as perdas de pessoal.
Um
dos pontos importantes no novo exército ucraniano foi o controlo/e popular – os
voluntários e ativistas civis monitorizam quase todas as unidades das Forças
Armadas, impedindo, ou dificultando ao máximo, os roubos – todos os casos conhecidos
são anunciados imediatamente nas redes sociais e tornam-se públicos.
Essas
reformas sistémicas tornaram possível ao exército ucraniano se tornar um dos
exércitos mais poderosos da Europa – segundo especialistas, em 2017, as Forças
Armadas da Ucrânia estavam entre os 30 melhores exércitos do mundo (entre 126 nações)
e entre os 10 exércitos mais poderosos da Europa (incluindo os estados da
NATO/OTAN).
Adeus
23 de fevereiro
Anteriormente,
os militares ucranianos continuaram a celebrar a data militar soviética de 23
de fevereiro, como se fosse a data comemorativa ucraniana. Tudo isso mudou em
2014 – quando ficou claro quem é amigo e quem é inimigo da Ucrânia.
Parece
que a formação de um novo e forte exército ucraniano foi facilitada não apenas
pela guerra, mas também pelo entendimento dos ucranianos do fa(c)to de que
agora eles estão formando a força que realmente os protegerá – q e não
permitirá mais deportações ou fomes. Algo semelhante aconteceu no Israel após
II G.M., quando os israelitas perceberam que apenas as TSAHAL/IDF, unidos,
armados e treinados pelos próprios evitará o “abraço fraterno” na forma de
fornos de crematório.
Se/quando Ucrânia algum dia for admitida na NATO/OTAN, as FAU se tornarão uma parte digna
dela.
Fotos: Internet | Texto:
Maxim Mirovich