sábado, dezembro 07, 2019

Ucrânia celebra o Dia das suas Forças Armadas

No dia 6 de dezembro Ucrânia celebra o Dia das Forças Armadas (FAU) – neste dia, em 1991 foi adotada a Lei “Sobre a Defesa da Ucrânia”, a base do aniversário das Forças Armadas. Ucrânia conquistou a sua independência em 1991, mas até 2014 o exército ucraniano permaneceu em grande parte soviético – acreditava-se que Ucrânia não tinha inimigos, que estava cercada por “amigos e irmãos” e não precisava do exército. No período 1991-2014, FAU reduziam constantemente o seu armamento e, em 1996, Ucrânia abriu às mãos à sua capacidade nuclear.

Tudo mudou em 2014, com o início da agressão militar híbrida russa no leste da Ucrânia – em 2014-2015, Ucrânia e os ucranianos, de fa(c)to, responderam novamente às perguntas – o que é um exército, para que serve, como deve funcionar e como deve ser armado. Agora, no final de 2019, podemos dizer que o exército ucraniano passou no teste do tempo com sucesso.

História do exército ucraniano

A formação das Forças Armadas da Ucrânia em seu sentido moderno (para proteger a integridade territorial da Ucrânia e dos ucranianos como nação), coincide com o fim da I G.M. e com o colapso do império russo, quando Ucrânia proclamou a sua 1ª república – República Popular da Ucrânia (UNR). Até 1921, a UNR foi derrotada, e o território da Ucrânia foi dividido entre dois oponentes mais fortes – a Polónia, por um lado, e a Rússia soviética, por outro. Durante muitos anos, Ucrânia não teve nem independência, nem o seu exército.
Uma nova etapa na formação das Forças Armadas começou em 1991, após a proclamação da Independência em 24 de agosto de 1991. O Parlamento (Rada Suprema) da Ucrânia tomou sob a sua jurisdição todas as unidades militares da antiga URSS, localizadas em território ucraniano. Também em agosto de 1991, foi criado o Ministério da Defesa da Ucrânia.

Sob a jurisdição da Ucrânia ficaram 14 divisões de infantaria motorizada, 4 – de blindados e 3 de artilharia; 8 brigadas de artilharia, 4 brigadas de forças especiais, 9 brigadas de defesa aérea, 7 regimentos de helicópteros de combate, 3 exércitos aéreos e um exército especial de defesa anti-aérea. Naquela época, Ucrânia possuía armas nucleares – tinha 176 mísseis intercontinentais equipados com um total de 1272 ogivas nucleares, além de cerca de 2.500 armas nucleares táticas. No total, em 1991, o número de tropas ucranianas totalizou cerca de um milhão de pessoas.

Estado das Forças Armadas da Ucrânia até 2014

Desde 1991 Ucrânia começou uma redução maciça e em larga escala dos diversos ramos do seu exército. O primeiro estágio dessa redução ocorreu em 1991-1996 – pela primeira vez na história da humanidade, um Estado abandonou voluntariamente a posse de armas nucleares, e os números das tropas e de armamento também começou a declinar acentuadamente.
A segunda fase da redução das FAU ocorreu no meio da década de 2000, entre 2001 à 2014 Ucrânia teve 9 ministros da Defesa. As propriedades militares, máquinas e equipamentos eram simplesmente vendidos, o valor aproximado da propriedade militar da Ucrânia valia, aproximadamente, cerca de 90 biliões de dólares, uma grande parte dessa propriedade foi vendida à um custo baixo, por vezes ao preço de sucata. Por exemplo, em junho de 2006, foi assinado um acordo sobre a destruição de 1.000 MANPADS, 1.500.000 armas de pequeno calibre e 133.000 toneladas de munição em 10 anos.

Acreditava-se que ninguém atacaria Ucrânia – a segurança de suas fronteiras era garantida pelo Memorando de Budapeste (em troca da qual a Ucrânia concordou em desistir de suas armas nucleares), e apenas “amigos e irmãos” cercavam o país.

Um dos melhores exércitos da Europa

Tudo mudou no início de 2014 – com o início da agressão armada russa no leste da Ucrânia. O exército ucraniano não estava pronto para este cenário. A liderança militar fugiu para a Rússia – junto com o ex-presidente Yanukovych, foi o ministro da Defesa Pavel Lebedev, o chefe do Ministério do Interior/da Administração Interna e várias figuras importantes escaparam por lá. O exército era ineficaz – nas unidades de blindados de dez tanques, na melhor das hipóteses, havia dois operacionais, não havia peças sobressalentes e combustível, não havia fardamentos e apoio da retaguarda. As unidades das Forças Armadas que operam em 2014 no leste da Ucrânia sofreram sérias perdas em equipamentos e pessoal.
Desde o início de 2015, começa a formação de um novo exército ucraniano – os orçamentos militares aumentam significativamente, a composição e o número de unidades são reformatados, o exército está equipado com novos equipamentos militares e é finalmente desovietizado – todos os nomes soviéticos foram removidos e as unidades de forças especiais, fuzileiros navais e tropas aerotransportadas são redesenhadas de acordo com os padrões da NATO/OTAN. No final de 2018, as Forças Armadas da Ucrânia começaram a introduzir elementos de um sistema automatizado unificado de comando e controlo/e de tropas – o que permite responder melhor às ataques e reduzir significativamente as perdas de pessoal.

Um dos pontos importantes no novo exército ucraniano foi o controlo/e popular – os voluntários e ativistas civis monitorizam quase todas as unidades das Forças Armadas, impedindo, ou dificultando ao máximo, os roubos – todos os casos conhecidos são anunciados imediatamente nas redes sociais e tornam-se públicos.

Essas reformas sistémicas tornaram possível ao exército ucraniano se tornar um dos exércitos mais poderosos da Europa – segundo especialistas, em 2017, as Forças Armadas da Ucrânia estavam entre os 30 melhores exércitos do mundo (entre 126 nações) e entre os 10 exércitos mais poderosos da Europa (incluindo os estados da NATO/OTAN).

Adeus 23 de fevereiro

Anteriormente, os militares ucranianos continuaram a celebrar a data militar soviética de 23 de fevereiro, como se fosse a data comemorativa ucraniana. Tudo isso mudou em 2014 – quando ficou claro quem é amigo e quem é inimigo da Ucrânia.
Parece que a formação de um novo e forte exército ucraniano foi facilitada não apenas pela guerra, mas também pelo entendimento dos ucranianos do fa(c)to de que agora eles estão formando a força que realmente os protegerá – q e não permitirá mais deportações ou fomes. Algo semelhante aconteceu no Israel após II G.M., quando os israelitas perceberam que apenas as TSAHAL/IDF, unidos, armados e treinados pelos próprios evitará o “abraço fraterno” na forma de fornos de crematório.

Se/quando Ucrânia algum dia for admitida na NATO/OTAN, as FAU se tornarão uma parte digna dela.

Fotos: Internet | Texto: Maxim Mirovich

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