Na década 1930, Checoslováquia e Lituânia eram principais aliados internacionais da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) na sua luta pela Independência e Soberania da Ucrânia. Os dois países tinham os diferendos territoriais com Polónia, por isso ambos praticavam a regra do “Realpolitik” – “Inimigo do meu inimigo é o meu amigo”.
[O diferendo polaco – lituano por causa do Vilnius se traduziu em paralisação total das relações bilaterais. Até 1926 dois países estiveram oficialmente em estado da guerra, restabelecendo as relações diplomáticas apenas em 1938. Antes dessa data não se registavam as trocas comerciais recíprocas, nem existiam vias de comunicação directas, pois Lituânia não aceitava a ocupação polaca do seu território. Frequentemente aconteciam os incidentes fronteiriços.]
Lituânia apoiava os ucranianos da Polónia nas décadas 1920 – 1930 para que a questão das minorias étnicas não seja esquecida. O que poderia influenciar o retorno à soberania lituana da capital histórica da Lituânia, cidade de Vilnius e os seus arredores, territórios ocupados pela Polónia em 1920, durante a acção militar do general Lucjan Żeligowski. A resistência ucraniana representada pela OUN, contava com o apoio aliado lituano no futuro conflito militar polaco – ucraniano pela libertação da Galiza Ocidental e da Volyn.
O cúmulo da cooperação lituana – ucraniana se deu na primeira metade dos anos 1930, quando República Lituana apoiava quase abertamente os ucranianos ao nível internacional. Antes disso Lituânia apostava no apoio politico e financeiro dos belarusos da Belarus Ocidental, territórios ocupados pela Polónia.
As prioridades da política externa da Lituânia perante os ucranianos mudaram no início dos anos 1930, após a denúncia pelos ucranianos à Liga das Nações da política repressiva das autoridades polacas na Galiza Ocidental durante a Acção de Pacificação. A situação da minoria ucraniana na Polónia debatida ao nível internacional reforçava, seguramente, o interesse sobre outros problemas nacionais e territoriais polacos, entre eles a questão do diferendo polaco – lituano sobre Vilnius.
O Consulado lituano em Genebra apoiava activamente o líder do OUN, coronel Yevhen Konovalets, que visitava frequentemente a cidade para informar a Liga das Nações da situação na Galiza Ocidental. Desde 1929, Konovalets possuía a cidadania lituana, por isso recebia a protecção do Cônsul lituano, em conflito com as autoridades socialistas da Genebra, que o tentavam deportar ao pedido da Polónia.
Passaporte lituano, № 25945, série OB, emitido ao Yevhen Konovalets em 4/02/1938 no Consuladoda Lituânia em Berlim |
[Segundo o arquivo da OUN, que Checoslováquia entregou a Polónia, os passaportes lituanos também possuíam os líderes da OUN – UVO (Organização Militar Ucraniana), Roman Sushko e Emil Sennyk. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Lituânia também ajudou Roman Sushko na obtenção dos vistos europeus e americanos, emitindo a declaração que confirmava a sua vinculação ao MNE lituano.]
Passaporte lituano, № 25945, série OB, emitido ao Yevhen Konovalets em 4/02/1938 no Consuladoda Lituânia em Berlim | Wikipédia |
Em 1930, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia Dovas Zaunis se encontrou em Genebra com Yevhen Konovalets. Eles tiveram uma prolongada conversa, sugerida pelos lituanos, que usaram como intermediário o representante da OUN na Lituânia, Osyp Sevryuk (pseudónimo “Ivan Bortovych”). O serviço secreto polaco informava que em 1931 o professor da Universidade de Kaunas, Mykolas Birziska, antigo Ministro da Educação da Lituânia em 1918-1919, visitou os centros de emigração ucraniana na Europa e nos EUA, ao pedido do Governo lituano, com intuito de reforçar a unidade lituana – belarusa – ucraniana.
Os serviços secretos polacos reportavam também que em 1932-1933 o auxílio financeiro lituano aos ucranianos aumentou, mas também o estatuto dessa ajuda elevou o seu nível, se tornando mais oficial. A questão ucraniana foi debatida nas reuniões do parlamento lituano, ucranianos recebiam a ajuda directa da União dos Atiradores da Lituânia (Lietuvos Šaulių Sąjunga) e da União da Libertação de Vilnius (Vilniui Vaduoti Sąjunga). O jornal desta organização, “Misu Vilnius” (O Nosso Vilnius) escrevia:
“A libertação dos ucranianos acontecerá quando Polónia seja colocada nos seus limites etnográficos reais, e consequentemente, Belarus e a parte ocupada da Lituânia também sejam liberadas. (...) Por isso não é nenhum paradoxo afirmar que Lviv livre auxiliará à criação da grande Lituânia livre e, através de Lviv haverá um caminha até Vilnius livre e vice-versa.”
Em 1932 começam ser editadas “Notícias da Associação Lituano – Ucraniana”, cuja redacção se situava no edifício do Clube da União dos Atiradores da Lituânia, com a entrada reservada apenas aos sócios. Regularmente e bissemanalmente se reunia a “Associação Lituano – Ucraniana”, cujos encontros eram frequentados pelos representantes oficiais lituanos. Os ucranianos receberam o acesso livre ao Rádio de Kaunas, que começou emitir os programas para os territórios ucranianos ocupados pela Polónia. Na mesma época, Lituânia publicava as revistas da OUN, “Surma” (Clarim) e “Nacionalista”, editadas na Checoslováquia.
Durante a década de 1930 o Governo lituano oferecia frequentemente o seu apoio financeiro ao OUN, situação que se alterou ligeiramente em 1938. As relações lituanas – ucranianas passaram pelo certo congelamento após a anexação da Áustria pela Alemanha nazi, que Polónia aproveitou para restabelecer as relações diplomáticas com Lituânia em Março do mesmo ano. No entanto as relações se mantiveram intactos, pois o Cônsul Geral da Lituânia nos Países Baixos, P. Penn, participou activamente na organização do enterro solene do líder da OUN, Yevhen Konovalets, assassinado pelo NKVD em 23 de Abril de 1938 na cidade holandesa de Roterdão. Além disso em Abril de 1938 a secreta polaca reportou a renovação da cooperação lituana – ucraniana, que se traduziu em auxílio da OUN aos nacionalistas belarusos fiéis à Lituânia.
Papel da URSS
Desde a guerra polaco – soviética de 1920 Lituânia cooperou com URSS, passando ao Moscovo as informações sobre Polónia. Em 28 de Setembro de 1926, quando Lituânia e URSS assinaram o Acordo de Não Agressão, os respectivos ministros dos negócios estrangeiros estabeleceram o “acordo de cavalheiros” sobre a troca recíproca de informações sobre os Países Bálticos e Lituânia. [...] Tendo a vontade, Moscovo poderia exigir o fim dos contactos lituano – ucranianos e o fim do auxílio lituano aos ucranianos. Mas isso não acontecia, provavelmente, por causa do carácter exclusivamente anti-polaco da ajuda lituana ao movimento nacionalista ucraniano na Polónia.
República Lituana se manifestava exclusivamente a favor da libertação da Ucrânia Ocidental da ocupação polaca e não fazia nenhum passo que poderia ser considerado pela URSS como apoio da Lituânia à luta dos ucranianos pela libertação da Ucrânia Oriental do poder moscovita. Os analistas do MNE polaco até sugeriram a possibilidade de que o apoio ao movimento ucraniano era não apenas lituano, mas também soviético. Eles baseavam as suas conclusões no carácter exclusivamente anti-polaco das intervenções nas reuniões da “Associação Lituano – Ucraniana” em Kaunas e não abordagem dos temas sobre Ucrânia Soviética. O MNE polaco também mencionava a manifestação de 1 de Novembro de 1932 em Kaunas em comemoração da proclamação da República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR), que pretendia demonstrar o desejo dos ucranianos de conseguir a Independência da Ucrânia Ocidental. Durante aquela manifestação nada foi dito sobre Ucrânia Soviética. No entanto, os polacos não possuíam nenhuma prova do envolvimento da URSS, o arquivo da contra inteligência do Estado-Maior do exército lituano foi, oficialmente, destruído pelos soviéticos em 1941, durante a ofensiva alemã contra Moscovo. O arquivo do NKVD continua inacessível aos historiadores... [...]
As “Notícias da Associação Lituano – Ucraniana”, editadas com apoio e conhecimento lituano em 1932-1935 (saíram 17 edições), apenas nas suas duas últimas edições continham a crítica da URSS, o que possivelmente originou o seu fecho. (“Notícias” eram editadas para o auditório primeiramente lituano, pois 70-80% dos textos eram em lituano e apenas os restantes em ucraniano). Possivelmente a crítica anti-soviética da imprensa nacionalista ucraniana também ditou o fim da edição na Lituânia das publicações da OUN “Surma” e “Nacionalista”. [...]
Nota sobre o autor: Dr. Klementiy Fedevych é historiador profissional graduado pela Universidade Estatal de Moscovo e Universidade Cento – Europeia de Budapeste. O Candidato ao Doutor em História, ele trabalha na sua tese de Doutoramento. Interesses históricos: história contemporânea da Europa Central e Oriental.
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/research/2011/07/19/46112
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